Espresso 56
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Fala, Barista!<br />
“Amo ver como as pessoas<br />
se apaixonam por café”<br />
Lidiane Santos é um dos nomes fortes da cena cafeeira de Pernambuco e,<br />
depois de se tornar barista e professora, agora segue em novo espaço<br />
com os desafios da torra<br />
Texto Cíntia Marcucci Fotografia Eudes Santana<br />
No meio do caminho de Lidiane tinha um cappuccino. Ela já<br />
tinha começado seu percurso na cultura do café quando o cappuccino<br />
virou um latte e não a deixou tirar o certificado de barista do Centro<br />
de Preparação do Café, em São Paulo. Mas ela voltou no mês seguinte,<br />
porque desistir não estava nos planos.<br />
“Meu cappuccino de novo não ficou perfeito. É fato que não<br />
tenho perfil de competidora, mas de barista e de conhecedora de<br />
café!”, conta ela, que voltou para casa naquele junho de 2011 com<br />
o diploma nas mãos e a confiança que precisava para repassar seus<br />
conhecimentos.<br />
A verdade é que o nome de Lidiane Santos tem muito a ver com<br />
o desenvolvimento da cena cafeeira do Recife. Quando ela começou<br />
a se interessar por café, em 2009, não havia cursos nem muitas<br />
opções por lá. “Eu sou de Gravatá, que é uma cidade turística a 80<br />
quilômetros do Recife, e minha família tem uma confeitaria. Muita<br />
gente entrava lá procurando por café e não encontrava. Um dia<br />
eu dei um basta nisso e procurei entender como ter um bom café.<br />
Meu desafio era fazer com que os moradores, não só os turistas,<br />
frequentassem o local para beber café e conhecessem mais sobre<br />
a bebida; não queria só apertar botões”, lembra.<br />
Ela foi a São Paulo, fez um primeiro curso no Coffee Lab com<br />
a barista Regina Machado e na volta deu início à viagem cafeeira<br />
sem volta: cautelosa, antes alugou uma máquina automática. Viu<br />
que daria certo, comprou uma máquina e logo depois passou para<br />
uma profissional. Com o tempo e a boa administração da Arte<br />
Café Gravatá, ela deixou o emprego de pedagoga em uma escola.<br />
Assinou a <strong>Espresso</strong> – sim, estas páginas fazem parte da história<br />
de Lidiane e agora ela faz parte da nossa história também – e<br />
começou a fazer todos os cursos que conseguia e ir a todas as<br />
feiras e eventos possíveis.<br />
Visitou fazendas, foi convidada para dar treinamentos por<br />
representantes de fazendas e produtos e um dia já estava sendo<br />
procurada por uma universidade de Gastronomia para dar aulas na<br />
disciplina de serviço de café e chás. “Mas quem era Lidiane? Eu não<br />
era ninguém, por isso fui atrás de me certificar.” Então foi reprovada<br />
por aquele famigerado cappuccino-latte no primeiro curso de<br />
certificação. Mas nada que uma segunda tentativa não resolvesse.<br />
Nova torrefação pernambucana<br />
No final das contas, a ideia de estudar café tirou Lidiane da sala<br />
de aula para levá-la... à sala de aula. Trocou crianças por adultos.<br />
Atua na universidade ou no Kaffe, o espaço que Lidiane recém-<br />
-inaugurou para vender equipamentos, utensílios, grãos e para fazer<br />
a própria torra, além de degustações da bebida. Lá ela forma<br />
baristas, e ensina o que sabe a pessoas apaixonadas por café e a<br />
quem tem interesse em aprender um pouco mais. Da universidade<br />
saem chefs mais entrosados com a bebida.<br />
“Hoje o mercado do Recife já tem mais de trinta cafeterias autorais,<br />
mas ainda há muito espaço para quem quer trabalhar bem<br />
com o café. Acho que o barista tem responsabilidade com muita<br />
gente. Ele precisa ter amor, precisa ter informação, técnica e comprometimento<br />
para que o trabalho do produtor chegue à xícara<br />
de quem consome a bebida da melhor maneira possível”, conta<br />
ela, que, hoje, além das aulas e dos cuidados com o espaço Kaffe,<br />
no Recife, que toca junto com o marido Eudes Santana, volta aos<br />
finais de semana e feriados prolongados para ajudar na Arte Café<br />
de Gravatá, tocada pela sua família.<br />
As metas de Lidiane agora são aperfeiçoar seu processo de torra<br />
e ter grãos consistentes. Para testar os cafés e para o dia a dia,<br />
ela prefere uma extração na hario v60, que, segundo ela, é a que<br />
possibilita o melhor de um café. E, quando quer se dar um carinho<br />
especial, prepara o café no seu xodó, a chemex. “Foi a primeira<br />
peça especial de café que comprei e tenho muito carinho por ela.<br />
A primeira a gente não vai esquecer, não é mesmo?”<br />
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