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Romeu Valadão, o motociclista que conquistou o Brasil<br />

Por Fábio Barbosa<br />

Mineiro de Arcos (MG),<br />

considerado cidadão de<br />

Lagoa da Prata, Romeu<br />

Valadão é um exemplo a<br />

ser seguido. Aos 61 anos,<br />

o piloto que fez história<br />

no enduro brasileiro é<br />

desprovido de vaidades e<br />

compartilha sua vasta experiência<br />

com quem tiver<br />

interesse. Com tantos títulos<br />

e um currículo invejável<br />

ele conta com muita<br />

humildade uma trajetória<br />

que surpreende.<br />

Filho de Silvia Maria Valadão<br />

e Sebastião Galdino<br />

Valadão, Romeu sempre<br />

gostou de atividades físicas.<br />

No colégio, jogava<br />

futebol, handebol, corria e<br />

ainda nadava. Nessa época,<br />

nem imaginava o futuro,<br />

mas se destacava nas<br />

olimpíadas escolares. O<br />

tempo passou, ele continuou<br />

praticando esportes<br />

e mudou para Belo Horizonte.<br />

“Nunca pensei em<br />

competir com motocicleta.<br />

Sempre gostei mesmo é de<br />

mecânica. Minha primeira<br />

motocicleta comprei com<br />

26 anos de idade e comprei<br />

por achar ela muito<br />

interessante, era uma off<br />

roud, chamada Zanella<br />

125 cilindradas”, conta.<br />

Ao comprar este veículo,<br />

ele descobriu uma paixão.<br />

A finalidade era apenas<br />

o uso diário para se locomover<br />

na capital, porém,<br />

um convite mudaria tudo.<br />

Romeu Valadão e sua moto, companheira de todas as horas<br />

“Um belo dia estava parado,<br />

num sábado, encontrei<br />

dois amigos que me convidaram<br />

para um trilha. Eu<br />

nem imaginava, mas fui<br />

com eles e não parei mais”,<br />

revela.<br />

A experiência na primeira<br />

trilha foi tão intensa que<br />

vieram muitas outras em<br />

seguida. “Quando tomei<br />

gosto, vi que era aquilo que<br />

queria. Comprei uma outra<br />

motocicleta, a DT 180<br />

cilindradas que na época<br />

era a melhor do mercado”,<br />

lembra Romeu que começou<br />

a competir em menos<br />

de oito meses. As primeiras<br />

provas oficiais foram<br />

em Nova Lima (MG), região<br />

considerada berço do<br />

enduro. “Não tínhamos<br />

apoio de fábricas e pouco<br />

dinheiro. Reuníamos um<br />

grupo e alugávamos um caminhão<br />

para ir aos municípios<br />

de minas nas provas<br />

de enduro de regularidade”,<br />

destaca. A competição<br />

do Enduro do Milho, em<br />

Patos de Minas, em 1984,<br />

foi decisiva na carreira de<br />

Romeu, ficou em décimo<br />

lugar. Uma conquista meteórica,<br />

seguida de um segundo<br />

lugar em Barbacena<br />

e em Lagoa da Prata. Nas<br />

três primeiras provas, com<br />

mais de 300 competidores,<br />

o motociclista iniciante<br />

já despontava e chamava<br />

atenção. A primeira vitória<br />

veio no mesmo ano, no<br />

Enduro de Lavras.<br />

Não demorou e vieram<br />

convites das fábricas. De<br />

janeiro a março de 1985,<br />

Romeu correu pela Honda.<br />

Ganhou destaque e recebeu<br />

uma proposta da equipe<br />

Shell Yamaha, que na<br />

época era uma das maiores<br />

equipes do país. “Foi um<br />

ano de muitas corridas e<br />

disputas. Tive três primeiros<br />

lugares, cinco segundos<br />

lugares e dois terceiros.<br />

Sempre estive entre<br />

os dez primeiros”, recorda<br />

com orgulho. Com todo o<br />

apoio e estrutura que precisava,<br />

o motociclista era o<br />

campeão do momento. Em<br />

1988, durante o Enduro da<br />

Independência, a mais importante<br />

prova de Minas<br />

Gerais, Romeu conheceu<br />

seu grande amor, Claudine<br />

de Castro Bernardes<br />

Valadão. Da união, nasceram<br />

duas meninas, Silvia e<br />

Clara. A esposa tornou-se<br />

uma parceira e grande incentivadora.<br />

Em 1989, já consagrado<br />

campeão mineiro e nacional,<br />

veio uma oportunidade<br />

internacional. Romeu<br />

Valadão e o amigo Helder<br />

Rabelo foram convidados<br />

para uma competição na<br />

Europa, o V Enduro 12<br />

Horas, promovido pela<br />

Unicef, organizado pela<br />

Federação Italiana de Motociclismo.<br />

A dupla percorreu<br />

400 quilômetros<br />

correndo em duas YZ<br />

Yamaha 250 cc, conquistando<br />

o sexto lugar na categoria.<br />

O resultado foi tão<br />

Romeu com as filhas<br />

bom que eles foram convidados<br />

para o Enduro de<br />

San Remo.<br />

“Realmente a carreira de<br />

Romeu Valadão é de deixar<br />

água na boca em qualquer<br />

um. Há cinco anos<br />

participando do enduro,<br />

o piloto já competiu 124<br />

provas, ficou em primeiro<br />

lugar 54 vezes e o restante<br />

foram segundos e terceiros<br />

lugares”, destacou o jornal<br />

Diário da Tarde em uma<br />

matéria exclusiva em 14 de<br />

maio de 1990. “Pilotar mudou<br />

completamente minha<br />

vida, tive muito incentivo<br />

e os resultados vieram.<br />

Tudo dependia de mim e<br />

da motocicleta. Mas com o<br />

apoio da família e amigos,<br />

todo mundo na torcida, foi<br />

bem mais fácil”, destaca<br />

o piloto que lembra das<br />

amizades que fez neste<br />

período e da importância<br />

do esporte em sua<br />

vida. “O retorno financeiro<br />

foi muito bom, mudou minha<br />

vida. O mais importante<br />

foram o amigos que<br />

fiz e até hoje tenho. Onde<br />

chego ainda sou reconhecido,<br />

é uma grande satisfação<br />

pessoal”, revela.<br />

Em 1992, após anos de<br />

vitórias, Romeu decidiu<br />

parar. “Toda corrida exige<br />

muito do piloto, resistência<br />

física, determinação,<br />

preparo e concentração.<br />

E a esta altura da minha<br />

vida, o foco estava mudando.<br />

Era minha hora de parar”,<br />

ressalta o motociclista<br />

que guarda em casa, em<br />

inúmeros álbuns, os recortes<br />

de todas as matérias<br />

que saíram sobre<br />

sua carreira.<br />

Em todo o tempo<br />

que pilotou,<br />

Romeu<br />

Túlio Malta, campeão de Enduro de Regularidade<br />

não teve acidentes. Uma<br />

exceção quase rara no esporte.<br />

A única situação que<br />

ele sofreu foi uma queda<br />

sobre uma cerca de arame<br />

esfarpado fazendo o levantamento<br />

de uma prova em<br />

Lagoa da Prata. O legado<br />

do piloto é reconhecido até<br />

hoje. Tanto que o apelidavam<br />

de “Precisão Suíça”,<br />

numa referência a pontualidade<br />

dele na provas. Não<br />

passava nenhum minuto a<br />

mais ou menos nos pontos<br />

de fiscalização. Estas histórias<br />

e tantas outras lhe<br />

rendem convites até hoje,<br />

como abrir provas de enduro.<br />

Mas a vida está mais<br />

sossegada.<br />

“Hoje tenho uma Suzuki<br />

250 e faço trilhas. Pedalo<br />

bastante também, gosto<br />

muito. Tenho ainda uma<br />

oficina montada na casa<br />

dos meus pais para mexer<br />

na minha motocicleta, afinal<br />

sempre gostei de mecânica”,<br />

revela Romeu que<br />

ainda lembra a importância<br />

da fé para sua carreira:<br />

“Sempre rezei antes de<br />

todas as provas, isso foi e é<br />

muito importante”.<br />

Com um sorriso no rosto,<br />

o campeão lagopratense de<br />

coração mantem firme a<br />

teoria de que quando fazemos<br />

o que gostamos, nossas<br />

vitórias são consequências.<br />

Com esforço e muita<br />

dedicação, Romeu Valadão<br />

venceu a maior prova, a da<br />

vida. Conquistou muito<br />

mais que títulos, a experiência<br />

necessária para ser<br />

alguém que inspira. Essa<br />

raça e força é o que guia<br />

ele desde a infância. “Na<br />

dúvida, acelere”, encerra<br />

com bom humor a nossa<br />

entrevista.

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