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Cinco histórias sobre como o esporte ajuda a mudar vidas<br />

Por Natália Becattini<br />

Projeto Dream Football, idealizado pelo ex-jogador português Luis Figo<br />

Dream Football<br />

A sensação de sentir a<br />

bola tocar os pés, o balanços das redes<br />

e os gritos alucinados das torcidas<br />

estão nos sonhos da maior parte<br />

dos meninos brasileiros. Para três garotos<br />

do Morro do Vidigal, no Rio de<br />

Janeiro, esse sonho ficou um pouco<br />

mais próximo.<br />

Rafael Rodriguez, de 14 anos, Mikhael<br />

Andrade, de 12, e Kaio Santana,<br />

de 10, foram os primeiros<br />

selecionados para o projeto Dream<br />

Football, idealizado pelo ex-jogador<br />

português Luis Figo, e passaram<br />

uma semana em uma escolinha do<br />

Inter de Milão, na Itália.<br />

Para serem selecionados,<br />

os garotos tiveram que mostrar<br />

talento e paixão pela bola em um<br />

combate um a um. Rafael derrotou<br />

todos os adversários, com direito até<br />

a gol de bicicleta. Mikhael, aprendeu<br />

o esporte na escolinha do Morro do<br />

Vidigal, onde treina duas vezes por<br />

semana, mesmo com a dificuldade<br />

da família para pagar as mensalidades.<br />

Já Kaio joga bola desde os três<br />

anos e fez 27 gols durante o tempo<br />

em que ficou na Itália, o que chamou<br />

a atenção de um treinador.<br />

Além do esporte, os meninos<br />

tiveram a oportunidade de<br />

aprender algumas palavras de italiano<br />

e de conviver com meninos do<br />

mundo inteiro. Com certeza uma<br />

experiência que vai marcá-los para<br />

sempre.<br />

Projeto Skateistan ultrapassou as barreiras do preconceito<br />

O projeto, que já está em<br />

sua terceira edição, vai levar mais<br />

três garotos para a Itália esse ano. O<br />

objetivo não é apenas desenvolver o<br />

talento esportivo desses jovens, mas<br />

dar a eles uma chance de acreditar<br />

em sonhos e na possibilidade de superação.<br />

Skate e Educação<br />

O skatista Oliver Percovich,<br />

nascido e criado em Papuá<br />

Nova Guiné, acredita tanto no seu<br />

esporte que acha que ele tem o poder<br />

de transformar a realidade de um<br />

lugar. Por isso, ele se mudou para o<br />

Afeganistão e montou o Skateistan,<br />

um projeto que usa o skate para ajudar<br />

crianças afegãs a construir novas<br />

visões de mundo, enxergar oportunidades<br />

e entender o potencial de<br />

mudança que existe dentro delas.<br />

O objetivo dele era trabalhar<br />

principalmente com crianças<br />

de rua, mas as portas do projeto<br />

estavam abertas para meninos e<br />

meninas de qualquer etnia, religião e<br />

situação social. Hoje, seis anos após a<br />

implantação do projeto, a escola tem<br />

cerca de 400 alunos e ensina muito<br />

mais que o esporte. As crianças têm<br />

acesso a aulas e workshops sobre<br />

temas variados e um plano de educacional<br />

ajuda a reinserir crianças<br />

refugiadas no ambiente escolar.<br />

O que Oliver não esperava<br />

quando começou é que o Skateistan<br />

iria atrair tanto a atenção das<br />

meninas. Cerca de 40% dos novos<br />

skatistas treinados por ele são garotas.<br />

Um dado animador em um país<br />

onde as mulheres enfrentam restrições<br />

gravíssimas e num esporte que<br />

é de domínio masculino até mesmo<br />

no ocidente.<br />

Para receber as meninas,<br />

uma nova pista teve que ser construída<br />

para que elas pudessem treinar<br />

longe dos garotos e novos projetos<br />

educacionais foram pensados exclusivamente<br />

para atender as necessidades<br />

delas. A iniciativa deu tão certo<br />

que acabou sendo exportada para o<br />

Camboja.<br />

Basquete Iraniano<br />

Mesmo enfrentando o<br />

preconceito e as dificuldades diárias<br />

de um país extremamente conservador<br />

e devastado pela guerra, um<br />

grupo de mulheres encontrou no<br />

basquete um aliado na superação<br />

dos preconceitos.<br />

O time, que começou dentro da<br />

Universidade Americana de Sulaimani,<br />

no norte do país, rapidamente<br />

se tornou o principal motivo de<br />

união entre mulheres de diferentes<br />

religiões, etnias e culturas.<br />

A história das garotas foi retratada<br />

em um documentário, que mostra<br />

como as relações dentro da quadra<br />

rapidamente evoluíram para uma<br />

forte amizade e cumplicidade diante<br />

da luta diária travada por elas na<br />

sociedade iraquiana. Elas comemoram<br />

cada vitória, choraram juntas a<br />

perda do técnico, superaram a perda<br />

de pessoas queridas. O esporte deu<br />

a elas a perseverança diante de um<br />

cenário caótico e ensinou a construir<br />

pontes e compartilhar valores.<br />

Corredores sobre duas rodas<br />

Um dia, em sua casa em<br />

Cingapura, o fotógrafo Nicholas Leong<br />

pensou:<br />

“Se os quenianos costumam ganhar<br />

todas as corridas com os pés, imagine<br />

o que eles fariam com bicicletas?”<br />

Sem conseguir se livrar dessa ideia,<br />

ele embarcou para o Quênia e começou<br />

a recrutar atletas para a Kenyan<br />

Riders, um empreendimento social<br />

criado por Nicholas com o objetivo<br />

de formar um time de ciclistas de elite<br />

no país. No início, os treinamentos<br />

eram realizados de forma bastante<br />

precária. Quem participava do projeto<br />

não tinha nem mesmo sapatos<br />

adequados e as bicicletas eram velhas<br />

e pesadas. Hoje, a iniciativa já conta<br />

com a participação de 26 pessoas,<br />

Atletas quenianos treinam para competição<br />

Basquete: um aliado na superação dos preconceitos no Irã.<br />

entre ciclistas, técnicos, mecânicos e<br />

fisioterapeutas.<br />

Uma das metas é fazer<br />

com que um atleta queniano vença<br />

o Tour de France, competição que é<br />

realizada há mais de 100 anos e nunca<br />

foi vencida por ciclistas negros (a<br />

participação de negros não chega a<br />

levantar os dedos de uma mão). No<br />

entanto, para Nicholas, o valor da<br />

vitória não vai estar na medalha de<br />

ouro, mas sim no empoderamento<br />

que a conquista vai gerar para aquelas<br />

pessoas. Ele acredita que o feito<br />

vai dar aos participantes do projeto<br />

a força para contar para o mundo<br />

Jornada Haitiana do Esporte Pela Paz, no Haiti<br />

todo que, sim, tudo é possível para<br />

eles e para a África.<br />

Corrida para reconstruir<br />

um país<br />

Bel Air, um dos bairros<br />

mais pobre de Porto Príncipe, acordou<br />

um dia para ver um cenário<br />

diferente do normal. Ao invés de<br />

encarar apenas as imensas pilhas<br />

de lixo, o esgoto e os escombros do<br />

terremoto que devastou o Haiti em<br />

2010, as pessoas saíram de suas casas<br />

para observar os sorrisos contentes<br />

de quem se preparava para correr<br />

a Jornada Haitiana do Esporte Pela<br />

Paz.<br />

O evento, que teve apoio<br />

de atletas e do exército brasileiro,<br />

contou com a participação de 390<br />

haitianos e 190 estrangeiros que<br />

correram 6 km pelas ruas e vielas da<br />

capital do país mais pobre das Américas.<br />

Cada um dos participantes<br />

corria com um objetivo em comum:<br />

levar um pouco de otimismo e alegria<br />

para a cidade devastada.<br />

O resultado final pouco<br />

importava, fato significativo em um<br />

país tão acostumado com derrotas.<br />

O primeiro a cruzar a linha de<br />

chegada, no entanto, foi o amador<br />

haitiano Baptiste Jean Robert, de 42<br />

anos. Ele afirmou que nunca havia<br />

visto nas ruas de Porto Príncipe uma<br />

festa como aquela, que permitiu que<br />

as pessoas corressem sem medo da<br />

violência e da devastação que assolam<br />

o país.

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