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um modo inteiramente proporcionado<br />
àquilo que se tem diante de si.<br />
Esse é o sentido da calma.<br />
Não perder o governo<br />
de si mesmo<br />
A ira, bem como o temor de si, são<br />
sentimentos opostos à calma, porque<br />
é um outro elemento que entra aí. A<br />
calma deve ter por objeto colocar o<br />
homem em presença de coisas que<br />
sejam agradáveis ou, pelo menos,<br />
não desagradáveis, e não introduzam<br />
no homem o temor, porque este,<br />
de si, convida muito facilmente a<br />
perder a calma, é até implicitamente<br />
contrário à calma. Quando o indivíduo<br />
tem um susto, maior ou menor,<br />
devido a algum mal que o ameaça,<br />
próximo ou remoto, provável ou menos<br />
provável, mas de uma coisa que<br />
para ele constitui uma ameaça, aquilo<br />
lhe faz perder a calma.<br />
Portanto, a atitude perfeitamente<br />
proporcionada do homem, diante<br />
de uma grave ameaça, o faz perder a<br />
calma. Mas notem que a linguagem<br />
corrente comporta uma aplicação<br />
contraditória disso que estou dizendo.<br />
Por exemplo, afirmando: “Durante<br />
a maior luta, “X”<br />
não perdeu a calma.”<br />
Então, nesse caso, é<br />
calma ou não?<br />
Tem dois sentidos a<br />
palavra calma. Um é<br />
a calma que não é colocada,<br />
exatamente,<br />
nem diante de objeto<br />
de ira, nem de pavor,<br />
medo, apreensão. Outro<br />
é o modo de ter ira,<br />
apreensão, pelo qual<br />
o indivíduo não perca<br />
em nada o governo de<br />
si. Isto também pode<br />
chamar-se calma, mas<br />
é em um outro sentido<br />
da palavra. Como a<br />
calma é um inteiro governo<br />
de si, o fato de o<br />
indivíduo se encontrar numa situação<br />
que está pondo-o em tensão, se<br />
conserva o governo de si, tem calma.<br />
Esta luta já não é a calma no sentido<br />
pleno da palavra, mas a conservação<br />
da calma dentro da alma. É<br />
até o que a calma tem de mais nobre,<br />
a inteira proporção com a verdade.<br />
Mas já não é propriamente a calma;<br />
é calma por uma acomodação, uma<br />
adequação de linguagem.<br />
Um mártir que<br />
entra na arena<br />
Quer dizer, trata-se da calma de<br />
uma pessoa posta numa situação onde<br />
é quase inevitável que a sensibilidade<br />
efervesça. Mas é uma efervescência<br />
reduzida, pelo império<br />
da vontade, estritamente a seus primeiros<br />
borbulhares. Além disso não<br />
passa. Em outros termos, há alguma<br />
coisa que, conforme a circunstância,<br />
o indivíduo não consegue vencer,<br />
porque não é natural que vença.<br />
Mas, sem embargo, ele conserva<br />
a vitória sobre aquilo em todo o limite<br />
em que é humano mantê-la.<br />
Vou dar um exemplo comum, mas<br />
muito ilustrativo: um mártir que entra<br />
na arena e vê, por exemplo, um<br />
leão ali que vai comê-lo. Salvo uma<br />
ação superior da graça, o instinto de<br />
conservação se apresenta imediatamente<br />
e produz um certo efeito, que<br />
o indivíduo pode nobremente impedir<br />
que tome conta de si, mas um primeiro<br />
trauma de perturbação é inevitável<br />
que ele sinta. O que o indivíduo<br />
pode é manter aquele princípio<br />
de perturbação nos limites necessários,<br />
impossíveis de transpor. Então,<br />
ele tem a calma por excelência que é<br />
esta: até diante do leão está calmo.<br />
No caso do mártir, existe a calma<br />
no esplendor de seu ser, mas não<br />
no seu bem-estar. Essa seria a ideia.<br />
Aqui entra algo que é muito importante:<br />
a calma supõe, portanto, que<br />
o indivíduo tenha a atração ou a repulsa<br />
da coisa exatamente no limite<br />
que a razão indica, e que está na natureza<br />
das coisas. Inclusive que está<br />
na natureza do temperamento dele,<br />
porque certas peculiaridades individuais<br />
se introduzem nisso, legitimamente.<br />
Entra algo de pessoal, não é uma<br />
coisa impessoal. Mas esse elemento<br />
pessoal, no homem normal, é sempre<br />
tal que não impõe que o indiví-<br />
IABI (CC3.0)<br />
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