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Revista Dr. Plinio 233

Agosto de 2017

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um modo inteiramente proporcionado<br />

àquilo que se tem diante de si.<br />

Esse é o sentido da calma.<br />

Não perder o governo<br />

de si mesmo<br />

A ira, bem como o temor de si, são<br />

sentimentos opostos à calma, porque<br />

é um outro elemento que entra aí. A<br />

calma deve ter por objeto colocar o<br />

homem em presença de coisas que<br />

sejam agradáveis ou, pelo menos,<br />

não desagradáveis, e não introduzam<br />

no homem o temor, porque este,<br />

de si, convida muito facilmente a<br />

perder a calma, é até implicitamente<br />

contrário à calma. Quando o indivíduo<br />

tem um susto, maior ou menor,<br />

devido a algum mal que o ameaça,<br />

próximo ou remoto, provável ou menos<br />

provável, mas de uma coisa que<br />

para ele constitui uma ameaça, aquilo<br />

lhe faz perder a calma.<br />

Portanto, a atitude perfeitamente<br />

proporcionada do homem, diante<br />

de uma grave ameaça, o faz perder a<br />

calma. Mas notem que a linguagem<br />

corrente comporta uma aplicação<br />

contraditória disso que estou dizendo.<br />

Por exemplo, afirmando: “Durante<br />

a maior luta, “X”<br />

não perdeu a calma.”<br />

Então, nesse caso, é<br />

calma ou não?<br />

Tem dois sentidos a<br />

palavra calma. Um é<br />

a calma que não é colocada,<br />

exatamente,<br />

nem diante de objeto<br />

de ira, nem de pavor,<br />

medo, apreensão. Outro<br />

é o modo de ter ira,<br />

apreensão, pelo qual<br />

o indivíduo não perca<br />

em nada o governo de<br />

si. Isto também pode<br />

chamar-se calma, mas<br />

é em um outro sentido<br />

da palavra. Como a<br />

calma é um inteiro governo<br />

de si, o fato de o<br />

indivíduo se encontrar numa situação<br />

que está pondo-o em tensão, se<br />

conserva o governo de si, tem calma.<br />

Esta luta já não é a calma no sentido<br />

pleno da palavra, mas a conservação<br />

da calma dentro da alma. É<br />

até o que a calma tem de mais nobre,<br />

a inteira proporção com a verdade.<br />

Mas já não é propriamente a calma;<br />

é calma por uma acomodação, uma<br />

adequação de linguagem.<br />

Um mártir que<br />

entra na arena<br />

Quer dizer, trata-se da calma de<br />

uma pessoa posta numa situação onde<br />

é quase inevitável que a sensibilidade<br />

efervesça. Mas é uma efervescência<br />

reduzida, pelo império<br />

da vontade, estritamente a seus primeiros<br />

borbulhares. Além disso não<br />

passa. Em outros termos, há alguma<br />

coisa que, conforme a circunstância,<br />

o indivíduo não consegue vencer,<br />

porque não é natural que vença.<br />

Mas, sem embargo, ele conserva<br />

a vitória sobre aquilo em todo o limite<br />

em que é humano mantê-la.<br />

Vou dar um exemplo comum, mas<br />

muito ilustrativo: um mártir que entra<br />

na arena e vê, por exemplo, um<br />

leão ali que vai comê-lo. Salvo uma<br />

ação superior da graça, o instinto de<br />

conservação se apresenta imediatamente<br />

e produz um certo efeito, que<br />

o indivíduo pode nobremente impedir<br />

que tome conta de si, mas um primeiro<br />

trauma de perturbação é inevitável<br />

que ele sinta. O que o indivíduo<br />

pode é manter aquele princípio<br />

de perturbação nos limites necessários,<br />

impossíveis de transpor. Então,<br />

ele tem a calma por excelência que é<br />

esta: até diante do leão está calmo.<br />

No caso do mártir, existe a calma<br />

no esplendor de seu ser, mas não<br />

no seu bem-estar. Essa seria a ideia.<br />

Aqui entra algo que é muito importante:<br />

a calma supõe, portanto, que<br />

o indivíduo tenha a atração ou a repulsa<br />

da coisa exatamente no limite<br />

que a razão indica, e que está na natureza<br />

das coisas. Inclusive que está<br />

na natureza do temperamento dele,<br />

porque certas peculiaridades individuais<br />

se introduzem nisso, legitimamente.<br />

Entra algo de pessoal, não é uma<br />

coisa impessoal. Mas esse elemento<br />

pessoal, no homem normal, é sempre<br />

tal que não impõe que o indiví-<br />

IABI (CC3.0)<br />

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