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<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />
É preciso dizer que na ovação não<br />
entrava delírio nenhum. Tratava-se<br />
de vê-la como uma constatação de<br />
que eu tinha merecido aquilo por<br />
uma coisa muitíssimo grande que<br />
fizera, e fora reconhecida pelos<br />
outros. Havia aquela permuta<br />
de afeto com um reconhecimento<br />
que me engrandecia<br />
aos olhos de Deus. Entrava<br />
um pouco o amor-próprio<br />
também, mas não era<br />
nenhum delírio. O que estava<br />
presente mais do que tudo<br />
era o prazer gastronômico.<br />
Conto isso para explicar um<br />
pouquinho o que é morar na<br />
calma e como alguém deveria<br />
construir o seu plano de felicidade<br />
terrena.<br />
Evidentemente, esse sonho era<br />
perigoso e eu o abandonei porque<br />
percebi que poderia facilmente degenerar<br />
para outra coisa, que era o<br />
inebriar-me com as multidões; e levaria<br />
à vaidade. Mas Nossa Senhora<br />
me ajudou e não cheguei até lá.<br />
Secundo Pia (CC3.0)<br />
Necessidade do sofrimento<br />
Deve-se dizer o seguinte: esse estado<br />
de alma ligado à inocência não<br />
se mantém sem que em outras circunstâncias<br />
da vida a pessoa sofra, e<br />
sofra muito. Quer dizer, essa calma<br />
não se sustenta se, ao mesmo tempo,<br />
a propósito de outros temas ou<br />
aspectos, a pessoa não sofra. Esse é<br />
um ponto capital.<br />
Se o ser humano não gasta sua vitalidade<br />
no esforço, na luta, no trabalho<br />
e, portanto, em coisas que o<br />
fazem sofrer, ele borbulha demais<br />
e extrapola. É mais ou menos como<br />
uma pessoa que não pode ficar sem<br />
se mover, porque aquela vitalidade<br />
represada produz efeitos danosos no<br />
organismo; assim também não pode<br />
permanecer nesse estado sem passar<br />
por dores enormes, suportando dentro<br />
da calma, num outro sentido da<br />
palavra, isto é, em meio a ameaças<br />
Santo Sudário<br />
ou a dores atuais aguentar deliberadamente,<br />
pondo-se dentro do sofrimento<br />
e cuidando de viver.<br />
Por fim, resta a pergunta: Essa<br />
calma pode ser recuperada? A resposta<br />
é simples: Com a oração sim,<br />
sem a oração não. Porém, ela deve<br />
ser profundamente desejada, considerada<br />
como uma meta da vida espiritual.<br />
Eu não sei a que grandeza<br />
chegaria o gênero humano se tantas<br />
capacidades de tantas pessoas não<br />
se perdessem em torcidas inúteis, e<br />
os recursos pessoais fossem todos<br />
aproveitados dentro dessa calma.<br />
Seria uma coisa fantástica!<br />
Figura comunicativa da calma<br />
por excelência: Nosso Senhor Jesus<br />
Cristo! Aquilo é a calma, em todos<br />
os sentidos e gradações possíveis<br />
da palavra. Ele o tempo inteiro teve<br />
calma, não deixou de sentir calma. E<br />
a figura d’Ele – inclusive o sudário<br />
de Turim – comunica calma.<br />
A calma de Nossa Senhora<br />
Toda solenidade implica em calma.<br />
É, aliás, uma das muitas razões<br />
pelas quais a Revolução Industrial se<br />
revoltou contra as solenidades, as cerimônias,<br />
o trato cerimonioso, respeitoso.<br />
O respeito é, dentro da calma,<br />
a constatação de um valor maior e<br />
dá origem à homenagem.<br />
Para encerrar esta parte em<br />
que tratamos da verdadeira<br />
calma, eu recomendaria que<br />
todos pedissem para si a Nossa<br />
Senhora uma calma como<br />
Ela e Nosso Senhor tiveram.<br />
Ao receber a Anunciação<br />
do Anjo, a Santíssima Virgem<br />
ficou perplexa, deu seu assentimento<br />
e, ato contínuo, concebeu<br />
do Espírito Santo. Se estava próxima<br />
a hora do almoço, Ela se levantou<br />
e principiou a fazer a refeição<br />
com toda a calma. E, ao mesmo<br />
tempo em que, por exemplo, preparava<br />
ovos para São José e para Si mesma,<br />
começava a entrar em uma oração<br />
altíssima com o Verbo de Deus,<br />
presente dentro d’Ela. Essa é a calma!<br />
A alma perturbada é aquela que<br />
perdeu o leme e não sabe para onde<br />
voltar-se, e é sacudida por ventos<br />
desordenados que ela não consegue<br />
dirigir. Nosso Senhor, no Horto das<br />
Oliveiras, não teve perturbação.<br />
A falsa calma<br />
Passemos agora a tratar da falsa<br />
calma para fazer a distinção entre<br />
esta e a verdadeira calma.<br />
Essa calma que estou descrevendo<br />
é cheia de frescor e de mobilidade<br />
para aceitar a variedade, sem ficar<br />
atarraxada numa determinada coisa,<br />
com exclusão de outras. Uma espécie<br />
de flexibilidade de toda a alma, por<br />
onde, diante de tudo o que acontece,<br />
vai aceitando ou recusando e se modelando<br />
na alegria e no bem-estar da<br />
vida. Essa é a calma boa.<br />
A calma ruim tende para qualquer<br />
coisa de melancólico, de amuado, de<br />
fechado e de desconfiado, numa atitude<br />
perante a vida como quem diz:<br />
“Vida, tu és tal que perante ti eu só<br />
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