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Revista Dr. Plinio 233

Agosto de 2017

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<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

É preciso dizer que na ovação não<br />

entrava delírio nenhum. Tratava-se<br />

de vê-la como uma constatação de<br />

que eu tinha merecido aquilo por<br />

uma coisa muitíssimo grande que<br />

fizera, e fora reconhecida pelos<br />

outros. Havia aquela permuta<br />

de afeto com um reconhecimento<br />

que me engrandecia<br />

aos olhos de Deus. Entrava<br />

um pouco o amor-próprio<br />

também, mas não era<br />

nenhum delírio. O que estava<br />

presente mais do que tudo<br />

era o prazer gastronômico.<br />

Conto isso para explicar um<br />

pouquinho o que é morar na<br />

calma e como alguém deveria<br />

construir o seu plano de felicidade<br />

terrena.<br />

Evidentemente, esse sonho era<br />

perigoso e eu o abandonei porque<br />

percebi que poderia facilmente degenerar<br />

para outra coisa, que era o<br />

inebriar-me com as multidões; e levaria<br />

à vaidade. Mas Nossa Senhora<br />

me ajudou e não cheguei até lá.<br />

Secundo Pia (CC3.0)<br />

Necessidade do sofrimento<br />

Deve-se dizer o seguinte: esse estado<br />

de alma ligado à inocência não<br />

se mantém sem que em outras circunstâncias<br />

da vida a pessoa sofra, e<br />

sofra muito. Quer dizer, essa calma<br />

não se sustenta se, ao mesmo tempo,<br />

a propósito de outros temas ou<br />

aspectos, a pessoa não sofra. Esse é<br />

um ponto capital.<br />

Se o ser humano não gasta sua vitalidade<br />

no esforço, na luta, no trabalho<br />

e, portanto, em coisas que o<br />

fazem sofrer, ele borbulha demais<br />

e extrapola. É mais ou menos como<br />

uma pessoa que não pode ficar sem<br />

se mover, porque aquela vitalidade<br />

represada produz efeitos danosos no<br />

organismo; assim também não pode<br />

permanecer nesse estado sem passar<br />

por dores enormes, suportando dentro<br />

da calma, num outro sentido da<br />

palavra, isto é, em meio a ameaças<br />

Santo Sudário<br />

ou a dores atuais aguentar deliberadamente,<br />

pondo-se dentro do sofrimento<br />

e cuidando de viver.<br />

Por fim, resta a pergunta: Essa<br />

calma pode ser recuperada? A resposta<br />

é simples: Com a oração sim,<br />

sem a oração não. Porém, ela deve<br />

ser profundamente desejada, considerada<br />

como uma meta da vida espiritual.<br />

Eu não sei a que grandeza<br />

chegaria o gênero humano se tantas<br />

capacidades de tantas pessoas não<br />

se perdessem em torcidas inúteis, e<br />

os recursos pessoais fossem todos<br />

aproveitados dentro dessa calma.<br />

Seria uma coisa fantástica!<br />

Figura comunicativa da calma<br />

por excelência: Nosso Senhor Jesus<br />

Cristo! Aquilo é a calma, em todos<br />

os sentidos e gradações possíveis<br />

da palavra. Ele o tempo inteiro teve<br />

calma, não deixou de sentir calma. E<br />

a figura d’Ele – inclusive o sudário<br />

de Turim – comunica calma.<br />

A calma de Nossa Senhora<br />

Toda solenidade implica em calma.<br />

É, aliás, uma das muitas razões<br />

pelas quais a Revolução Industrial se<br />

revoltou contra as solenidades, as cerimônias,<br />

o trato cerimonioso, respeitoso.<br />

O respeito é, dentro da calma,<br />

a constatação de um valor maior e<br />

dá origem à homenagem.<br />

Para encerrar esta parte em<br />

que tratamos da verdadeira<br />

calma, eu recomendaria que<br />

todos pedissem para si a Nossa<br />

Senhora uma calma como<br />

Ela e Nosso Senhor tiveram.<br />

Ao receber a Anunciação<br />

do Anjo, a Santíssima Virgem<br />

ficou perplexa, deu seu assentimento<br />

e, ato contínuo, concebeu<br />

do Espírito Santo. Se estava próxima<br />

a hora do almoço, Ela se levantou<br />

e principiou a fazer a refeição<br />

com toda a calma. E, ao mesmo<br />

tempo em que, por exemplo, preparava<br />

ovos para São José e para Si mesma,<br />

começava a entrar em uma oração<br />

altíssima com o Verbo de Deus,<br />

presente dentro d’Ela. Essa é a calma!<br />

A alma perturbada é aquela que<br />

perdeu o leme e não sabe para onde<br />

voltar-se, e é sacudida por ventos<br />

desordenados que ela não consegue<br />

dirigir. Nosso Senhor, no Horto das<br />

Oliveiras, não teve perturbação.<br />

A falsa calma<br />

Passemos agora a tratar da falsa<br />

calma para fazer a distinção entre<br />

esta e a verdadeira calma.<br />

Essa calma que estou descrevendo<br />

é cheia de frescor e de mobilidade<br />

para aceitar a variedade, sem ficar<br />

atarraxada numa determinada coisa,<br />

com exclusão de outras. Uma espécie<br />

de flexibilidade de toda a alma, por<br />

onde, diante de tudo o que acontece,<br />

vai aceitando ou recusando e se modelando<br />

na alegria e no bem-estar da<br />

vida. Essa é a calma boa.<br />

A calma ruim tende para qualquer<br />

coisa de melancólico, de amuado, de<br />

fechado e de desconfiado, numa atitude<br />

perante a vida como quem diz:<br />

“Vida, tu és tal que perante ti eu só<br />

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