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SETOR<br />
preços da Petrobras,<br />
onde os preços<br />
internos da gasolina são<br />
corrigidos conforme as oscilações<br />
dos preços do barril de<br />
petróleo, registrando quedas<br />
consecutivas. Com a perda de<br />
competitividade, as usinas são<br />
obrigadas a reduzirem os valores<br />
do etanol, comercializando,<br />
muitas vezes, abaixo do custo<br />
de produção, na disputa pela<br />
preferência do consumidor.<br />
De 15 de outubro de 2016<br />
até meados de julho de <strong>2017</strong>,<br />
o preço da gasolina já acumula<br />
uma redução de 16,8% e o do<br />
diesel, 16,7%, considerando<br />
as oscilações para baixo e para<br />
cima. Só este ano a redução<br />
foi de 15,6%. “Com o preço da<br />
gasolina em queda, sem a diferenciação<br />
ambiental e em<br />
plena safra, onde a oferta de<br />
etanol é maior, a forte pressão<br />
sobre os preços arrasta-os<br />
para baixo, e afeta fortemente<br />
a liquidez das empresas. Principalmente<br />
em um cenário<br />
onde as usinas precisam fazer<br />
caixa”, afirmou o presidente da<br />
Alcopar, Miguel Tranin, ressaltando<br />
que a pressão de valores<br />
menores para açúcar e etanol<br />
pode acabar com a incipiente<br />
recuperação financeira de muitas<br />
usinas brasileiras iniciada<br />
com os dois anos de déficit<br />
global de açúcar (2015 e<br />
2016). Pode ainda desacelerar<br />
negociações entre usinas e potenciais<br />
investidores e levar ao<br />
fechamento de mais empresas<br />
endividadas no setor.<br />
Para a presidente da União<br />
da Indústria de Cana-de-Açúcar,<br />
Elizabeth Farina, o momento<br />
pelo qual o setor passa<br />
é "ruim e preocupante", e o<br />
segmento ainda não conseguiu<br />
se recuperar das cicatrizes<br />
da longa crise enfrentada.<br />
E alertou que esse cenário<br />
deve dificultar investimentos<br />
em expansão da capacidade<br />
de produção, que<br />
seriam importantes para ajudar<br />
o país a cumprir seus<br />
compromissos internacionais<br />
de redução de emissões.<br />
“As empresas do setor sucroenergético<br />
ainda buscam<br />
restabelecer suas condições<br />
produtivas, após anos operando<br />
com margens negativas,<br />
devido à política brasileira<br />
de precificação da gasolina.<br />
Como esperar que haja investimento<br />
em aumento de capacidade<br />
para atender às metas<br />
brasileiras nessas condições?",<br />
questionou Farina.<br />
16,8%<br />
é quanto o preço<br />
da gasolina já caiu<br />
desde o final de 2016<br />
As dificuldades do setor sucroenergético<br />
se deram logo<br />
após a crise financeira mundial<br />
em 2008, que pegou o setor no<br />
contrapé de um período de altos<br />
investimentos. Na sequência -<br />
entre 2010 e 2014 - houve uma<br />
combinação de preços baixos<br />
do açúcar e do etanol no Brasil,<br />
que complicaram a situação.<br />
Para controlar a inflação, o governo<br />
brasileiro manteve o<br />
preço da gasolina congelado<br />
por anos, reduzindo as margens<br />
nas vendas de etanol, enquanto<br />
um excesso global de açúcar,<br />
que durou anos, depreciou seu<br />
valor no mercado internacional.<br />
Como consequência, mais de<br />
80 usinas pararam de funcionar<br />
no País, segundo estimativas da<br />
Unica, e muitas outras foram levadas<br />
a recuperação judicial. O<br />
banco Itaú BBA estima que 15%<br />
O momento é delicado para<br />
o setor, por isso, diz Miguel<br />
Tranin, mais do que nunca as<br />
empresas necessitam de uma<br />
política interna que reconheça<br />
os benefícios ambientais e sociais<br />
do etanol e defina qual<br />
matriz energética o País deseja.<br />
“O RenovaBio prevê isso. É<br />
extremamente necessário que<br />
o programa seja regulamentado<br />
com urgência através de<br />
Medida Provisória para que<br />
entre em funcionamento o<br />
quanto antes. Já passou o<br />
A mais longa crise<br />
das usinas brasileiras estão lutando<br />
com dívidas excessivas.<br />
A Archer Consulting calcula que<br />
a dívida total do setor era de 86<br />
bilhões de reais ao final da última<br />
safra, número que chegou<br />
a quase 100 bilhões de reais.<br />
"Quem chegou em março de<br />
<strong>2017</strong> numa situação saudável,<br />
permanecerá assim. Mas para<br />
quem chegou numa situação<br />
com grandes desafios que não<br />
sejam operacionais, o preço<br />
atual com certeza não ajudará",<br />
afirmou o diretor de Agronegócios<br />
do Itaú BBA, Pedro Barreto.<br />
A agência de classificação de<br />
riscos Fitch Ratings apontou em<br />
nota que "os resultados positivos<br />
dependem amplamente de<br />
um ambiente de operações<br />
bem-sucedido, preços mais<br />
altos do açúcar e do etanol, e<br />
RenovaBio é a solução<br />
tempo de se tomar uma medida<br />
que dê um norte para o<br />
setor que tem trazido tantos<br />
benefícios ao ambiente e às<br />
comunidades, principalmente<br />
onde as unidades industriais<br />
estão inseridas”, afirma.<br />
livre acesso a financiamentos,<br />
dada a natureza de capital intensivo<br />
do negócio", ressaltando<br />
que mercados internacionais de<br />
bônus não oferecem muitas alternativas<br />
para as usinas e o financiamento<br />
no mercado de<br />
capital doméstico não é opção<br />
realista para a maioria.<br />
Algumas empresas, mais duramente<br />
atingidas, foram adquiridas<br />
por players com<br />
estruturas mais sólidas de capital,<br />
mas há várias usinas à<br />
venda e poucos compradores<br />
interessados. Barreto vê as negociações<br />
para fusões e aquisições<br />
se esfriando na atual<br />
situação, já que a distância<br />
entre o que os vendedores querem<br />
pelos ativos e o que os<br />
compradores estão dispostos a<br />
pagar tende a aumentar se os<br />
preços do açúcar caem.<br />
De imediato, ressalta Tranin,<br />
outras medidas emergências<br />
se fazem necessárias como o<br />
aumento da Cide sobre a gasolina<br />
aos níveis anteriores, reconhecendo<br />
o benefício ambiental<br />
do etanol, ou a elevação<br />
do PIS/ Confins sobre o combustível<br />
fóssil e retomar o imposto<br />
cobrado sobre o etanol<br />
importado, que era 20%.<br />
É preciso ainda, acrescenta,<br />
que seja aplicado aos importadores<br />
o mesmo nível de exigências<br />
feitas aos produtores<br />
de etanol pela ANP (Agência<br />
Nacional de Petróleo, Biocombustíveis<br />
e Gás Natural) quanto<br />
a estocagem, a produção de<br />
anidro atrelada ao ano anterior<br />
e a obrigatoriedade de solicitação<br />
e autorização da ANP para<br />
alterações na planta industrial.<br />
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<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>