Fides 20 N2 - Revista do Centro Presbiteriano Andrew Jumper
Revista Fides Reformata 20 N2 (2015)
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Leandro Lima, O Poder da Arte Literária no Apocalipse<br />
<strong>do</strong> inimigo, o dragão que se lhe opõe, e explican<strong>do</strong> assim, espiritualmente, a<br />
para<strong>do</strong>xal realidade <strong>do</strong> cristianismo <strong>do</strong> primeiro século, que enfrentava a perseguição<br />
incipiente <strong>do</strong> Império Romano. Ao se considerar a arte da narrativa<br />
<strong>do</strong> texto <strong>do</strong> Apocalipse, não só o livro fica muito mais extraordinário para o<br />
leitor, como seus significa<strong>do</strong>s teológicos e morais se tornam mais acessíveis.<br />
palavras-chave<br />
Análise literária; Arte da narrativa; Uso <strong>do</strong> Antigo Testamento no Novo<br />
Testamento; Apocalipse; Apocalipse como literatura; Apocalipse 12.<br />
introdução<br />
Não é mistério para ninguém que o livro de Apocalipse é sui generis em<br />
seu estilo literário. Sua complexidade tem desafia<strong>do</strong> os estudiosos ao longo<br />
<strong>do</strong>s séculos. Alguém que o lesse pela primeira vez, por certo perceberia que<br />
há uma grande história nele. Alguns poderiam ver uma trama capaz de fazer<br />
empalidecer muitas das grandes obras literárias aclamadas no mun<strong>do</strong>, com<br />
cenas de batalhas e personagens fantásticos descritos de mo<strong>do</strong> a fazer sombra<br />
em superproduções. Porém, muitos leitores e estudiosos cristãos quan<strong>do</strong> o<br />
abordam, por vezes parecem ignorar completamente esses fatos. Talvez considerem<br />
profano pensar que há uma história com certos traços fictícios num<br />
livro inspira<strong>do</strong> e canônico. O fato é que a maioria <strong>do</strong>s leitores e também <strong>do</strong>s<br />
comentaristas apressa-se em tirar significa<strong>do</strong>s teológicos e morais das passagens<br />
sem prestar atenção ao “instrumento” por meio <strong>do</strong> qual esses conceitos são<br />
transmiti<strong>do</strong>s, que é justamente a literatura, no caso, a literatura apocalíptica.<br />
Uma análise <strong>do</strong>s principais estu<strong>do</strong>s sobre o Apocalipse revela que a<br />
identificação <strong>do</strong>s aspectos literários presentes no processo de construção <strong>do</strong><br />
texto narrativo não é a principal preocupação da maioria <strong>do</strong>s estudiosos. 1 Entre<br />
os comentários que trouxeram contribuições sobre aspectos literários está<br />
o sempre menciona<strong>do</strong> trabalho de Charles, 2 que, entretanto, frequentemente<br />
viu em alguns aspectos literários (como as repetições) marcas de redação ou<br />
1 Evidentemente que há exceções. Desde Vitorino de Pettovio, no século IV, algum tratamento<br />
literário tem si<strong>do</strong> da<strong>do</strong> ao livro, especialmente por parte daqueles que seguin<strong>do</strong> o beatus viram no livro<br />
uma história recapitulada. Porém, mais de quinze séculos depois, o trabalho é ainda muito incipiente.<br />
O méto<strong>do</strong> histórico-crítico, certamente o mais pratica<strong>do</strong> entre os exegetas bíblicos nos séculos 19 e <strong>20</strong>,<br />
entende que a análise literária focaliza a história das formas bíblicas, procuran<strong>do</strong> identificar as fontes ou<br />
as formas como os materiais oriun<strong>do</strong>s de várias tradições foram agrupa<strong>do</strong>s. O pressuposto dessa análise<br />
é que a compilação dessas formas foi realizada para atender demandas religiosas específicas de certas<br />
épocas, feita muitas vezes de forma abrupta, sem preocupações estéticas. Houve, sem dúvida, nesse tipo<br />
de análise, um menosprezo <strong>do</strong> texto bíblico como ele se apresenta. Alter generaliza esse tipo de estu<strong>do</strong><br />
como uma tentativa de fazer “escavações” onde o teólogo-arqueólogo usa a pá, e de certo mo<strong>do</strong>, destrói<br />
o próprio texto. ALTER, Robert. The Art of Biblical Narrative. Rev. ed. New York: Basic Books, <strong>20</strong>10.<br />
2 CHARLES, R. H. A Critical and Exegetical Commentary on the Revelation of St. John. Edinburgh:<br />
T. & T. Clark, 19<strong>20</strong>.<br />
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