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9 770101 783003<br />
00445
SUMÁRIO<br />
SEÇÕES<br />
05 Editorial<br />
06 Fora da Rede<br />
07 Circuito<br />
38 Nada se perde<br />
40 Soluções<br />
43 Nomes<br />
44 Empresas<br />
46 Consumidor<br />
48 Preços de Empate<br />
16 CAPA Veículos Elétricos<br />
Mesmo ainda um mercado incipiente no Brasil, onde competem<br />
com os veículos movidos a etanol na busca da meta da redução<br />
de emissões, os VE despertam o interesse de fabricantes,<br />
concessionárias e fornecedores de equipamentos e serviços.<br />
OPINIÃO<br />
50 Sérgio Guerreiro<br />
Entrevista<br />
10 Luiz Eduardo Barata conta que o ONS<br />
deve investir em modelos de previsão de<br />
vento e formação diária de preços, bem<br />
como reitera que preços devem subir com<br />
menos chuvas<br />
Gás Natural<br />
22 Consumo industrial se recupera<br />
lentamente e só deve alcançar os volumes<br />
pré-crise em alguns anos<br />
Tecnologia<br />
26 Distribuição terá que apostar em<br />
segurança cibernética se quiser evitar<br />
ataques virtuais às redes em um mundo<br />
digital sem volta<br />
Combustíveis<br />
32 RenovaBio já tem projeto de lei<br />
e possível viabilização deixa setor de<br />
biocombustíveis esperançoso por um<br />
crescimento mais sólido de negócios<br />
Consumidor<br />
34 Resposta de<br />
demanda é uma<br />
arma que pode<br />
ser alcançada<br />
pelo governo em<br />
momentos mais<br />
desfavoráveis<br />
de chuvas. O que<br />
se espera desse<br />
segmento<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 3
ISSN0101-7837<br />
Di re tor Presidente<br />
Celso Knoedt<br />
Di re tores<br />
Patrícia Quintão<br />
Rosely Máximo<br />
Edi tor Executivo<br />
Fabio Couto<br />
Re da to res<br />
Livia Neves<br />
Matheus Gagliano<br />
Amanda Magalhães (est.)<br />
Marcos Sardenberg (est.)<br />
Cor res pon den tes<br />
Lon dres - Ga briel Ra ma lho<br />
São Paulo - An to nio Car los Sil e Marcelo Furtado<br />
Revisão<br />
Liane Mo rais<br />
Programação Visual<br />
Ana Beatriz Leta<br />
Fotografia<br />
So ma fo to<br />
Capa<br />
Ale xan dre Ber sot<br />
Impressão<br />
Aerographic<br />
Planejamento de Circulação em Bancas<br />
Edicase - www.edicase.com.br<br />
Distribuição Exclusiva em Bancas<br />
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O MRE sobrevive?<br />
Com o recrudescimento da crise hídrica entre 2015 e 2016, o setor elétrico<br />
apresentou ao país mais uma sigla que é de uso interno dos profissionais<br />
de geração: GSF. O impasse sobre o risco hidrológico colocou uma<br />
conta que supera R$ 4 bilhões em suspenso e até o fechamento desta edição<br />
ainda não havia sido publicada a Medida Provisória que estabeleceria<br />
a solução definitiva para o passivo.<br />
Mas além desse ponto, o que se discute abertamente ou nos bastidores<br />
é sobre o futuro do mecanismo, criado como se fosse uma espécie de seguro<br />
para as hidrelétricas se resguardarem do risco de gerar menos do que foi<br />
contratado. O MRE foi criado para compensar usinas que geraram abaixo<br />
da garantia física com a produção de quem excedeu essa marca. Num sistema<br />
elétrico em que a hidreletricidade, num passado nem tão distante, tinha<br />
participação de 90%, o GSF possuía toda a razão de existir.<br />
Mas com a formação de uma base térmica relevante, associada à entrada<br />
de fontes renováveis de energia, com custo variável zero e operação volátil,<br />
como é o caso de eólicas e solares, o MRE passou a ser questionado duramente<br />
sobre a eficácia em preservar as hidrelétricas.<br />
Há quem defenda, pura e simplesmente, o fim do mecanismo, já que a<br />
tendência de se gerar abaixo da garantia física é irreversível, entre outros<br />
pontos, segundo os defensores de tal argumento. O problema é que as hidrelétricas<br />
vêm enfrentando há anos vazões abaixo da média histórica, fato<br />
associado ao aumento dos usos múltiplos e urbanização acelerada dos respectivos<br />
entornos, o que força a uma revisão completa da garantia física –<br />
algo que vem se revelando mais complexo do que se imagina.<br />
Sem contar que desde já há quase oito anos não se conecta ao sistema<br />
uma hidrelétrica com reservatório de armazenamento – todas têm sido a<br />
fio d’água, o que reduz a garantia física média do condomínio hidrelétrico.<br />
Belo Monte, por exemplo, tem garantia física inferior à metade da potência<br />
total instalada – independente do fato de que a configuração da usina tenha<br />
sido a melhor possível do ponto de vista ambiental. Na ótica da operação<br />
diária, esse é um aspecto que sempre será considerado.<br />
A revisão do marco legal do setor elétrico pode ser o caminho para que<br />
se discuta qual o futuro do MRE, mas o aspecto mais relevante desse debate<br />
deve ser o fato de que o consumidor não deve ser desconsiderado ao<br />
se haver uma definição. Afinal de contas, quem paga a conta já vem sendo<br />
penalizado sistematicamente pelos desajustes profundos que foram produzidos<br />
pelo setor elétrico nos últimos anos.<br />
4 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
FORA DA REDE<br />
Pedras no caminho<br />
A diluição do capital da Eletrobras está<br />
tão mais difícil do que se esperava que as<br />
chances de que a privatização não saia mais já<br />
não podem ser desprezadas.<br />
Reconstrução de linha de<br />
transmissão de Furnas:<br />
risco de privatização<br />
não acontecer não é<br />
desprezível<br />
Pedras no telhado<br />
Caso a operação não se concretize, já há<br />
nome e sobrenome para se atribuir à responsabilidade,<br />
mesmo que a privatização seja<br />
travada por motivos políticos.<br />
Efeito Orloff<br />
Em Minas Gerais, a preocupação com as finanças da Cemig é grande. E o<br />
temor com o sucessor de Fernando Pimentel, se não for reeleito governador,<br />
aumenta na mesma proporção. O risco é de que se queira replicar a proposta<br />
de privatização da Eletrobras na empresa mineira.<br />
Medo de gato<br />
Mesmo estando em um dos maiores mercados consumidores do país, a<br />
Light não parece estar despertando grandes atenções de potenciais compradores.<br />
Uma das possíveis explicações é a alta incidência de perdas comerciais,<br />
ainda maior com a crise econômica nos últimos anos. A volta da<br />
violência em comunidades elevou ainda mais a desconfiança, já que em muitas<br />
comunidades as equipes de ligação não conseguem entrar.<br />
Revés<br />
O acordo firmado com o Cade em processo que investigava cartel na<br />
venda de botijões de GLP no Nordeste não deve ser suficiente para afastar<br />
risco de reprovação da compra da Liquigás pela Ultragaz. A empresa do<br />
grupo Ultra espera parecer do Cade para concluir o negócio, mas o órgão<br />
de defesa da concorrência vê risco de redução da competição em algumas<br />
regiões do país, como no próprio Nordeste.<br />
Na boca do povo<br />
Contratar a cantora Ivete Sangalo foi<br />
um dos acertos da campanha da Abradee<br />
e da Aneel para estimular o consumo<br />
consciente de economia. A cantora<br />
possui credibilidade perante o público<br />
em geral, tem baixa rejeição de imagem<br />
e passa a mensagem de forma simpática,<br />
segundo observadores do setor. A expectativa<br />
é que a campanha ganhe mais<br />
tempo e novas peças, já que o verão eleva<br />
acentuadamente o consumo no país.<br />
Campanha<br />
da Abradee:<br />
expectativa<br />
por mais<br />
peças no<br />
futuro<br />
Lupa<br />
O CMSE está se reunindo semanalmente para acompanhar as condições<br />
de abastecimento da energia elétrica no país. Mesmo que não haja risco de<br />
desabastecimento, a preocupação procede porque a economia vem dando<br />
sinais de (lenta) recuperação. Por outro lado, a formação do fenômeno<br />
La Niña traz uma certa tranquilidade, porque as temperaturas tendem a ser<br />
mais amenas no verão.<br />
6 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Primeiro híbrido do mundo a integrar energia eólica,<br />
solar e armazenamento em desenvolvimento<br />
A australiana Windlab e a Vestas estão desenvolvendo o projeto Kennedy<br />
Energy Park fase I, de 60,2 MW , o primeiro em grande escala do mundo a contar<br />
com produção de energias eólica e solar, além de bateria para armazenamento.<br />
Projetado para ajudar a atender a demanda de energia australiana, a fase I da<br />
Kennedy deve também pavimentar o caminho para que a Austrália consiga enfrentar<br />
os desafios de estabilidade da rede.<br />
A Kennedy fase I incluirá 43,2 MW de turbinas eólicas Vestas V136-3,6 MW,<br />
15 MW de energia solar e armazenamento em bateria íon-lítio de 2 MW/4<br />
MWh, tudo gerenciado por um sistema de controle personalizado da Vestas<br />
que irá operar toda a usina híbrida.<br />
Aerogerador da Vestas:<br />
primeiro parque híbrido em<br />
grande escala do mundo<br />
em desenvolvimento<br />
conta com sistema de<br />
armazenamento<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 7
Carros elétricos carregados nas ruas<br />
de Paris: previsão é de ampliação para<br />
mais de 100 estações em 2018<br />
Europa ganhará 400 estações<br />
de recarga de VEs até 2020<br />
Ford, BMW, Daimler e Volkswagen,<br />
incluindo as marcas Audi e Porsche, formaram<br />
uma joint-venture chamada IONI-<br />
TY para desenvolver e instalar uma rede<br />
de recarga de veículos elétricos em toda<br />
a Europa. A previsão é que sejam abertas<br />
cerca de 400 estações de recarga de alta<br />
potência até 2020. Os sócios fundadores<br />
terão participação igualitária na empresa e<br />
outros fabricantes serão convidados para a<br />
expansão da rede.<br />
Ainda em 2017, 20 estações serão<br />
inauguradas, localizadas nas principais estradas<br />
da Alemanha, Noruega e Áustria,<br />
em intervalos de 120 km. Em 2018, a previsão<br />
é de que a rede seja ampliada para<br />
mais de 100 estações, que permitirão a recarga<br />
simultânea de vários clientes e diferentes<br />
marcas de veículos. A rede terá capacidade<br />
de até 350 KW por ponto.<br />
Ex-prefeito de Nova York adere<br />
à redução de eletricidade a carvão<br />
O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg destinou US$ 50<br />
milhões para entidades parceiras globais que atuam na redução da<br />
geração de energia com o uso do carvão mineral. Esses recursos se<br />
somam aos US$ 64 milhões que Bloomberg, bilionário dono da agência<br />
de notícias que leva seu nome, destinou para a campanha Beyond<br />
Coal nos EUA.<br />
Sol ajuda a produzir água<br />
e oxigênio... na Lua<br />
Integrantes de uma rede internacional de pesquisas em energia<br />
termossolar, liderados pelo pesquisador Thorsten Denk, apresentaram<br />
à comunidade acadêmica um reator capaz de produzir água, hidrogênio<br />
e oxigênio a partir de minérios encontrados no solo lunar<br />
usando apenas energia solar.<br />
O conceito desenvolvido pela SolarPaces prevê o uso de um minério<br />
de titânio denominado ilmenita, que já é capaz de produzir<br />
cerca de 700 gramas de água. Denk calcula que poderá produzir 2,5<br />
kg de oxigênio a cada quatro horas, desde que o reator possa ser suprido<br />
com 10 kW produzidos por coletores termossolares.<br />
8 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Tapete solar<br />
A britânica Renovagen<br />
criou uma matriz fotovoltaica<br />
de alta potência que desenrola<br />
como um tapete, criando uma<br />
mini central de abastecimento<br />
solar instantânea. A tecnologia<br />
foi desenvolvida para chegar<br />
rapidamente a locais que sofreram<br />
desastres ou necessitam<br />
de suporte humanitário.<br />
Chamada de Roll-Array,<br />
o “tapete solar” é facilmente<br />
rebocável por um veículo<br />
4×4. Quando conectado à<br />
parte de trás do carro, os painéis<br />
solares flexíveis são retirados<br />
de um carretel que se<br />
abre em minutos. A empresa<br />
afirma que os painéis poderão<br />
gerar até 100kWp, equivalente<br />
à dez vezes mais energia<br />
do que outros painéis solares<br />
transportáveis do mercado<br />
atual.<br />
Alemanha desenvolve maior<br />
turbina eólica do mundo (até agora)<br />
A Max Bögl Wind apresentou a que é considerada até o momento a turbina<br />
eólica mais alta do mundo. O aerogerador possui altura de torre de 178<br />
metros, ou 264,5 metros quando se considera o ponto mais alto da pá eólica.<br />
A fabricante forneceu os aerogeradores para um parque eólico localizado próximo<br />
a Stuttgart.<br />
As nacelles foram produzidas pela GE, com potência nominal de 3,4 MW<br />
cada. O parque eólico de Gaildorf demandou investimentos da ordem de 70<br />
milhões de euros e está localizado próximo a uma hidrelétrica com reservatório<br />
subterrâneo, a 200 metros de profundidade.<br />
Mercado de microrredes atingirá<br />
US$ 23 bilhões em 2021<br />
Até 2021, o mercado mundial de microrredes deve dobrar em relação ao<br />
patamar de US$ 12 bilhões atingido em 2016, para cerca de US$ 23 bilhões, registrando<br />
uma taxa de crescimento anual de 14%, de acordo com análise de<br />
mercado feita pela GlobalData. Entre 2017 e 2021, espera-se que o mercado<br />
avance do ciclo de teste e demonstração para a comercialização de projetos.<br />
De acordo com a análise, os principais impulsionadores deste mercado são<br />
a resiliência, confiabilidade e credenciais ambientais de microrredes. Já os desafios<br />
incluem quadros legislativos e regulatórios, falta de aceitação do usuário<br />
final e altos custos associados à tecnologia.<br />
Tapete solar: nova tecnologia é<br />
capaz de gerar energia em cinco<br />
minutos de instalação<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 9
entrevista com<br />
LUIZ EDUARDO BARATA<br />
10 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Não há risco de<br />
racionamento, mas a conta<br />
de luz vai ficar mais cara,<br />
até que os reservatórios<br />
sejam recompostos. Esse<br />
mantra tem sido repetido<br />
pelo diretor-geral do ONS,<br />
Luiz Eduardo Barata, diante<br />
do que pode ser considerado<br />
o momento mais crítico<br />
da hidrologia brasileira,<br />
quando se trata de<br />
armazenamento hidrelétrico.<br />
Barata é muito claro: o<br />
país precisa rever a cultura<br />
de consumo de energia,<br />
sinalizando claramente<br />
que a era da energia<br />
barata e farta, oriunda das<br />
hidrelétricas acabou.<br />
Por outro lado, ele conta<br />
que o ONS prepara estudos<br />
para a adoção de um<br />
CMO diário, na direção<br />
da formação de preços<br />
horários da energia, bem<br />
como na melhor previsão<br />
de ventos, a fim de mitigar<br />
a volatilidade das eólicas,<br />
que deve fechar 2017 com<br />
13 GW de capacidade<br />
instalada, sendo grande<br />
parte desse bloco no<br />
Nordeste. Veja os principais<br />
trechos da entrevista à<br />
Brasil Energia.<br />
FÁBIO COUTO<br />
Os reservatórios das hidrelétricas há anos estão no limite, com baixos níveis<br />
de armazenamento. Qual será a estratégia do ONS para recuperá-los?<br />
Essa solução não será isolada, do operador nacional. É uma solução integrada<br />
operador-planejador. Para alterar esse quadro substancialmente,<br />
é preciso alterar a matriz em relação à de hoje. Felizmente, já temos uma<br />
matriz diversificada, com hidrelétricas, termelétricas e renováveis intermitentes.<br />
Mas as últimas hidrelétricas que entraram em operação têm uma característica<br />
diferente daquelas que entraram até 2010, (Belo Monte, usinas<br />
do Madeira) sem capacidade de reservação.<br />
O que isso provoca? Não temos a capacidade de recuperar, ficamos<br />
mais dependentes dos períodos pluviométricos e das condições climáticas.<br />
Nos últimos anos, temos identificado mudanças nas condições do clima,<br />
sobretudo na região Nordeste, que tinha [definido] seu período seco, seu<br />
período chuvoso – eles continuam, mas o volume de chuvas que temos<br />
visto nos últimos anos tem feito com que as vazões na bacia do Rio São<br />
Francisco sejam sempre piores do que nos anos antecedentes.<br />
Durante um tempo esse fenômeno ficou muito concentrado na Bacia do<br />
São Francisco, mas isso se estendeu mais recentemente para as bacias do Tocantins,<br />
do Araguaia e principalmente a do Grande Paranaíba, que é o formador<br />
do Rio Paraná. Por essa razão, nossos reservatórios continuam baixos.<br />
Houve um atraso [do início] da estação chuvosa este ano. Ela começa a<br />
se delinear no finalzinho de setembro, começo de outubro, e este ano, só<br />
tivemos mesmo a presença dessa chuva em novembro.<br />
Quando esse quadro mudará?<br />
Esse quadro só vai ser modificado quando modificarmos a matriz. Fora<br />
isso, serão medidas de gestão mesmo. E estamos pensando em operar o sistema<br />
utilizando tanto quanto possível os recursos térmicos em função dos<br />
seus custos variáveis unitários. Só excepcionalmente é que saímos dessa<br />
regra. E o que verificamos é que ao longo de todo o período seco tivemos<br />
que usar muito as térmicas. E isso está sendo com muito relacionamento<br />
entre o operador e o planejador. Temos trabalhado de forma bastante integrada<br />
para ter alguma participação na definição da matriz, que não pode<br />
ser montada exclusivamente a partir do custo mais baixo. Mas tem que<br />
levar em conta uma série de atributos que deem conforto para o operador.<br />
Há algum risco de desabastecimento ou racionamento no país?<br />
Temos sempre manifestado que não há risco de desabastecimento – pelo<br />
menos não no horizonte de nossa responsabilidade, de cinco anos. Todas as<br />
avaliações mostram que não há risco de desabastecimento. Anualmente, colocamos<br />
volumes consideráveis de geração. O problema é que essa geração,<br />
que é hidrelétrica, depende das chuvas, que às vezes não vêm com a mesma<br />
intensidade que gostaríamos que viesse. Por outro lado, essas avaliações<br />
mostram que nós vamos ter uma operação mais custosa, porque vamos ter<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 11
entrevista com<br />
LUIZ EDUARDO BARATA<br />
que despachar térmicas, térmicas e<br />
térmicas. E quanto mais térmicas,<br />
aumenta o custo de operação, e a<br />
consequência são tarifas mais caras<br />
e custos da energia para o mercado<br />
livre mais caro.<br />
Por essa razão, nós temos [afirmado]<br />
em todos os fóruns, chamamos a<br />
atenção para o aumento dos custos e<br />
das tarifas, o que requer um uso mais<br />
racional e consciente da energia. E<br />
as pessoas só fazem isso quando tiverem<br />
informação. Por essa razão estamos<br />
dando essas informações com<br />
frequência. Não é terrorismo, as contas<br />
de luz, com as bandeiras, trazem<br />
esse sinal. Só que muita gente, por<br />
incrível que pareça, não sabe que<br />
existem as bandeiras ou não sabe lê-<br />
-las. A bandeira está lá, informando<br />
para usar menos [energia] porque a<br />
sua conta será menor. E se muitos<br />
usarem menos, podemos até mudar<br />
o patamar da bandeira.<br />
Já é possível ver uma mudança<br />
de consumo, de hábito, por parte<br />
do consumidor?<br />
Isso foge do meu conhecimento:<br />
o que nós fizemos no CMSE, no<br />
relacionamento com o governo, e<br />
com o regulador, foi chamar a atenção<br />
para a necessidade [de reduzir<br />
o consumo], e isso resultou na campanha<br />
da Aneel de estímulo ao uso<br />
consciente da energia. Agora, uma<br />
opinião pessoal, mudança de hábito<br />
não é algo que acontece num estalar<br />
de dedos. É preciso uma campanha<br />
consistente, duradoura, para<br />
que a gente possa ter resultados<br />
palpáveis. Temos que passar essa<br />
mensagem de forma eficiente.<br />
O consumidor residencial, por<br />
exemplo, foi estimulado nos últimos<br />
anos, a comprar mais eletrodomésticos,<br />
como ar condicionado. Não fica<br />
mais difícil convencê-lo a reduzir<br />
o uso do ar condicionado?<br />
Exatamente, estimular a comprar<br />
o ar para não usar, é verdade… Por<br />
isso que é importante, queria que a<br />
campanha fosse mais longa. Não é<br />
que não se quer o uso do ar condicionado.<br />
A gente percebe em vários lugares<br />
que não se dá para ficar porque o<br />
ar está forte demais. Vê pessoas ligarem<br />
o ar condicionado lá em cima e<br />
colocar casaco. Muita gente em casa<br />
pode colocar o ar condicionado com<br />
22°C, 23°C, mas coloca a 17°C e se<br />
cobre todo, às vezes com duas mantas,<br />
porque o frio está insuportável.<br />
A campanha tem foco no consumidor<br />
residencial, mas o industrial e<br />
o comercial também poderiam mudar<br />
hábitos. Como incluir esses consumidores?<br />
Nesse momento, o foco num<br />
contexto global não é o da produção,<br />
porque o sinal que queremos<br />
dar para a economia, é do aumento<br />
da produção, do crescimento do<br />
PIB, então, a ideia não é investir<br />
na eficiência energética do lado da<br />
indústria, a menos que exista um<br />
programa especial, como é o plano<br />
da resposta de demanda.<br />
O que torna essa campanha um<br />
pouco mais difícil, porque uma das<br />
preocupações da área econômica<br />
do governo e do setor de energia é<br />
de não atrapalhar o crescimento da<br />
economia que se anuncia. E obviamente<br />
nós não queremos isso. Precisamos<br />
ter cuidado de dizer que a<br />
economia não vai ser afetada por<br />
uma dessas medidas. Eu diria que<br />
o ideal, neste momento, é que todo<br />
o esforço se concentrasse sobre<br />
o segmento residencial e aonde fosse<br />
possível. Quem quiser gastar, ele<br />
gasta, não há risco de faltar energia.<br />
É o que acontece quando há entressafra,<br />
produção de carne, trigo,<br />
você tem o produto. Quando a carne<br />
está cara, você não deixa de comer<br />
carne, mas come menos. É exa-<br />
Centro de Operações<br />
do ONS: previsores<br />
aperfeiçoados para<br />
ajudar na operação de<br />
eólicas<br />
12 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
tamente essa mensagem que a gente<br />
está tentando passar neste momento.<br />
As fontes intermitentes exigem<br />
um certo tipo de operação. Como<br />
o ONS está se preparando para<br />
operar essas fontes, com grande<br />
crescimento na matriz, e qual será<br />
o papel das hidrelétricas com o uso<br />
maior delas?<br />
Nós estamos investindo nos<br />
previsores, principalmente de eólicas,<br />
que é nossa maior participação.<br />
Solar já tem alguma<br />
participação, 400 MW, mas<br />
ainda é pouco perto da participação<br />
eólica, que possui<br />
12 mil MW. O investimento<br />
grande está sendo feito nos<br />
previsores de eólicas, justamente<br />
para tentar mitigar os<br />
efeitos das intermitências das<br />
usinas em atividade. A gente<br />
não consegue, obviamente, evitar a<br />
intermitência, a volatilidade, ela é<br />
inerente à fonte, mas a gente pode<br />
mitigar com previsores melhores.<br />
No futuro, nosso aprimoramento<br />
será completo em nossa cadeia<br />
de modelos. O que pretendemos<br />
é que a partir de 2019 tenhamos<br />
uma política diária. Nós já vamos<br />
calcular (o CMO) pelo modelo integrado<br />
até o day after, com preços,<br />
custos marginais médios horários.<br />
Nós estamos trabalhando de<br />
forma integrada, com a CCEE, a<br />
EPE, a Aneel, o MME, de modo<br />
que a gente isso esteja pronto em<br />
março do ano que vem.<br />
Tem um outro projeto que começará<br />
a ser feito no ano que vem,<br />
junto com a EPE, para introduzir<br />
Chamamos a atenção<br />
para o aumento dos custos e das<br />
tarifas, o que requer um uso mais<br />
racional e consciente da energia.<br />
E as pessoas só fazem isso quando<br />
tiverem informação<br />
um limite de energias renováveis<br />
intermitentes. Isso vai ser muito<br />
importante para nós, o limite de<br />
penetração das renováveis na rede<br />
sem dificultar a operação do sistema.<br />
É um trabalho que vai durar<br />
dois anos, mas vai nos ajudar para<br />
o futuro. A penetração eólica no<br />
sistema é baixa. Alemanha e Espanha<br />
são países que possuem participação<br />
acima de 50%. Eles foram<br />
botando, botando, botando, e agora<br />
estão precisando introduzir medidas<br />
mitigatórias.<br />
Para nós é bom que podemos fazer<br />
isso de forma antecipada e fazer depois<br />
nos dá essa vantagem. Ajudaria-<br />
-nos saber a quantidade de térmicas e<br />
hidrelétricas necessárias, em função do<br />
volume de renováveis que vamos ter.<br />
A previsão é que em 2021 as eólicas<br />
superem 16 GW, mais que uma Belo<br />
Monte, mais que uma Itaipu.<br />
Agora, o desempenho das eólicas<br />
na região Nordeste tem sido excepcional.<br />
Fatores de capacidade altíssimas,<br />
muito superiores aos dos projetos. Nós<br />
estamos muito impressionados com a<br />
resposta das eólicas. Mas a gente sabe<br />
que elas têm a volatilidade intraday e a<br />
volatilidade intra-ano. Temos que considerar<br />
esses fatores, todas as fontes,<br />
com seus atributos, tanto os positivos,<br />
quanto os negativos, que são desvantagens,<br />
senão, não se viabiliza fonte nenhuma.<br />
Temos que construir a matriz<br />
levando isso em conta.<br />
Quais são os entraves que ainda<br />
existem para a adoção da gestão de<br />
demanda no país e no que a ferramenta<br />
ajudaria na operação do sistema?<br />
Eu não vejo entraves ainda. Estamos<br />
na etapa final de audiência pública<br />
e a Aneel está preparando<br />
uma resolução que vai estabelecer<br />
o modus operandi da resposta<br />
de demanda. Para nós, não<br />
vai ajudar muito na operação<br />
do ponto de vista da energia,<br />
mas na potência, quando houver<br />
queda substancial da geração<br />
pela intermitência do vento.<br />
Ao invés de compensar com<br />
geração térmica ou com importação<br />
de Tucuruí, compensa-se com<br />
programas de redução de demanda,<br />
até porque a premissa não prejudica<br />
a economia do consumidor.<br />
Existe uma certa fantasia de que<br />
o grande consumidor industrial deixa<br />
de produzir para vender no mercado<br />
livre, isso não é fato, ele não faz<br />
isso. Ele deixa de consumir quando<br />
ele não produz, não deixa de ganhar<br />
dinheiro no negócio dele para ganhar<br />
no mercado livre. Isso está provado<br />
no mundo inteiro, quantas vezes ele<br />
pode reduzir o consumo sem prejudicar<br />
seu negócio. Para isso, ele tem<br />
que mexer em processos. Esse é um<br />
custo que terá que ser ressarcido, mas<br />
o consumidor não troca a produção<br />
quando ele consegue produzir gastando<br />
menos energia.<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 13
entrevista com<br />
LUIZ EDUARDO BARATA<br />
Esses consumidores que vão participar<br />
desse projeto piloto são todos<br />
representados na Abrace, que tem<br />
nos ajudado muito nesse trabalho, já<br />
têm essa experiência nas suas plantas<br />
no exterior; na América do Norte,<br />
na Europa e até mesmo na América<br />
do Sul. Isso nos ajudou muito para<br />
formatar o programa, tratando basicamente<br />
de potência de demanda e<br />
não de energia. E por que a gente<br />
não começa por energia?<br />
Porque se para a potência já foi<br />
essa demora toda, imagina se começasse<br />
pela energia. Então, a estratégia<br />
que resolvemos adotar é ir step by<br />
step. Eles podem promover a redução<br />
da demanda num horizonte de<br />
um dia, no dia anterior, day ahead,<br />
ou intraday, desde que informem, no<br />
programa da semana, aquela capacidade.<br />
É um instrumento que a gente<br />
passa a utilizar. Não será imposto,<br />
será do interesse [do consumidor], ele<br />
sabe quanto custa a redução dele versus<br />
quanto custa a geração térmica.<br />
Se o custo dele for maior do que gerar<br />
térmica, a gente não vai fazer isso<br />
com ele, vai gerar térmica. É uma ferramenta<br />
voltada principalmente para<br />
o período seco, apesar de ser possível<br />
disponibilizar no período chuvoso.<br />
Quais são os maiores desafios,<br />
hoje, no setor de transmissão?<br />
Eu diria que estamos numa situação<br />
bem melhor do que há algum<br />
tempo, porque houve um esforço,<br />
tanto do poder concedente quanto do<br />
regulador, de implementar aprimoramentos<br />
nos modelos que fizeram com<br />
que os últimos leilões fossem bem sucedidos.<br />
Esse é um primeiro ponto.<br />
A gente espera um futuro diferente<br />
do que tivemos, cheio de problemas,<br />
com empreendedores que ficaram<br />
com portfólios bem maiores do que a<br />
capacidade de implementar, e causaram<br />
atrasos grandes na transmissão. A<br />
ampliação dos prazos de implantação<br />
dos empreendimentos, a melhoria do<br />
WACC, esses dois fatores, aumentaram<br />
muito a atratividade do negócio,<br />
e está trazendo bons players.<br />
Um outro ponto que vale ressaltar<br />
é que o MME tem buscado realizar<br />
um relacionamento muito próximo<br />
com os organismos ambientais. A gente<br />
sente que tem havido uma resposta<br />
bem melhor dos órgãos ambientais.<br />
No caso dos linhões de Belo<br />
Monte, há algum risco de atraso?<br />
Neste caso, não. A data contratual<br />
do bipolo 1 é o início de março.<br />
Mas ela terá antecipação, está<br />
confirmada para dezembro. A linha<br />
está totalmente construída, está<br />
em testes, e os resultados foram<br />
excepcionais. De fato, havia um temor<br />
muito grande porque na construção<br />
da linha haviam trechos que<br />
estavam com problemas, todos os<br />
desafios foram superados e o bipolo<br />
1 deve estar entrando [em operação]<br />
até o dia 19/12. O empreendedor<br />
é o BMTE e tem cumprido<br />
todos os compromissos assumidos.<br />
O outro, o bipolo 2, é da XRTE,<br />
a data deles é novembro de 2019,<br />
mas também trabalham com a perspectiva<br />
de antecipar [a entrada em<br />
operação comercial] para o início de<br />
2019. E tem havido um esforço do<br />
MME junto aos órgãos ambientais a<br />
fim de viabilizar essa antecipação.<br />
Como o ONS está avaliando a<br />
expansão da GD?<br />
O que a gente tem visto no exterior,<br />
especialmente na Europa e nos EUA,<br />
é que esse foi um negócio que deslanchou.<br />
No Brasil, ainda não, acho que<br />
porque nos últimos três anos vivemos<br />
uma crise econômica muito grande.<br />
Temos dois tipos de GD: uma ainda<br />
centralizada, em que se instalam sítios<br />
de eólicas e solares nas redes de distribuição<br />
e a GD realmente distribuída,<br />
que é aquela atrás do medidor. Eu<br />
acredito que vamos caminhar primeiro<br />
para a GD concentrada. E isso inclui a<br />
cogeração, que é voltada para consumidores<br />
comerciais e industriais e para<br />
níveis maiores de consumo.<br />
Acho que temos que criar mecanismos<br />
para quem quiser usar GD<br />
no teto, mas não acredito em uma<br />
expansão como aconteceu na Europa<br />
e nos EUA, porque o payback ainda<br />
está alto. Payback de sete anos, R$<br />
15 mil, não é para qualquer consumidor<br />
que possa pagar. Além disso, o<br />
consumidor residencial, para usar, só<br />
pode residir em casa. Não pode usar<br />
em prédios, só um andar pode.<br />
A GD atrás do medidor nos EUA<br />
é muito difundida porque a capacidade<br />
econômica dos consumidores<br />
justifica, e existem programas<br />
nos quais o empreendedor coloca o<br />
[painel solar no] teto [e é remunerado<br />
com a economia de energia].<br />
Mas como eu disse, não são tantos<br />
tetos que temos, porque a grande<br />
maioria das nossas cidades é verticalizada.<br />
E quanto mais verticalizada<br />
for a cidade, menor é o impacto<br />
da GD sobre o consumo geral [da<br />
unidade consumidora]. n<br />
14 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
MAPA DE CONCESSÕES GTD<br />
DE ENERGIA ELÉTRICA<br />
HIDRELÉTRICAS, TERMELÉTRICAS, EÓLICAS E AS LINHAS DE TRANSMISSÃO,<br />
EM OPERAÇÃO E EM PROJETO, LOCALIZADAS GEOGRAFICAMENTE.<br />
NOVO<br />
O MAPA TRAZ:<br />
• Localização, potência e os concessionários das 250 maiores<br />
usinas de geração em operação.<br />
• O trajeto de 136 mil km de linhas de transmissão em operação<br />
e das linhas em projeto<br />
• Áreas geográficas das 71 concessionárias de distribuição do país,<br />
com número de municípios atendidos e unidades consumidoras.<br />
• Dados atualizados sobre consumo e oferta por região<br />
• Ranking das concessionárias por número de consumidores<br />
e por consumo de energia<br />
85cm x 115 cm<br />
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Veículos Elétricos<br />
Eles estão<br />
chegando<br />
Caminho traçado globalmente levará a crescimento de veículos elétricos<br />
no Brasil, incluindo soluções para o atendimento ao novo mercado<br />
LÍVIA NEVES<br />
O<br />
mundo parece ter tomado<br />
uma decisão sobre<br />
os veículos a combustão:<br />
eles estão com os dias<br />
contados. Em 2017, diversos países<br />
como Reino Unido, França e<br />
Índia estabeleceram datas limites<br />
para a venda deste tipo de veículo<br />
– ainda que algumas sejam<br />
distantes, indo de 2025, no caso<br />
da Noruega até 2050. O movimento<br />
está diretamente associado<br />
às metas estabelecidas no<br />
Acordo de Paris, para limitar a<br />
2°C o aumento da temperatura<br />
global até 2100, em comparação<br />
com os níveis pré-industriais.<br />
Embora o setor energético não<br />
seja o principal emissor no Brasil,<br />
que tem mais a contribuir no combate<br />
ao desmatamento, das emissões<br />
associadas à energia é justamente<br />
no transporte que o país precisa<br />
diminuir suas emissões de CO 2<br />
.<br />
“É na mobilidade que está a grande<br />
contribuição que o Brasil pode dar<br />
dentro do setor energético” avalia o<br />
especialista da EPE, Luciano Oliveira,<br />
mencionando a participação do<br />
país no Acordo de Paris.<br />
No ano passado, o setor energético<br />
brasileiro emitiu 423 milhões<br />
de toneladas do gás para a atmosfera,<br />
o que representa 19% do total<br />
de emissões no país. E o setor<br />
de transportes corresponde a 48%<br />
deste total, de acordo com relatório<br />
do Observatório do Clima lançado<br />
em outubro.<br />
Apesar de o país contar com uma<br />
oferta de biocombustível, para a qual<br />
as montadoras inclusive adaptaram<br />
modelos “flex”, a tendência global de<br />
produção de veículos elétricos deve<br />
forçar a adoção dessa tecnologia localmente.<br />
As políticas estabelecidas<br />
por países têm levado montadoras a<br />
investir na eletricidade como propulsora<br />
de seus novos modelos.<br />
16 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Grandes fabricantes mundiais,<br />
como a Toyota, a Honda, a Ford,<br />
a BMW e a Renault, já comercializam<br />
modelos híbridos em diversos<br />
países, enquanto modelos<br />
elétricos começam a ganhar mercado.<br />
A Toyota fabrica o modelo<br />
híbrido (que utiliza dois motores,<br />
um a gasolina e outro elétrico)<br />
mais vendido do mundo, o Prius,<br />
mas existem fábricas que se dedicam<br />
exclusivamente à mobilidade<br />
elétrica, como a badalada Tesla e<br />
a acessível BYD, esta última com<br />
modelos híbridos.<br />
Além do combate às mudanças<br />
climáticas, a preocupação com a poluição<br />
em grandes centros urbanos<br />
e o episódio que acabou conhecido<br />
como “dieselgate”, envolvendo o<br />
uso de tecnologias para fraudar testes<br />
de emissões, também impactam<br />
essas diretrizes governamentais.<br />
A questão da poluição é um dos<br />
principais motivadores para esse<br />
tipo de política na China, que é o<br />
maior mercado global para os veículos<br />
elétricos. No ano passado, foram<br />
vendidos 336 mil VEs no gigante<br />
asiático, de um total de 750 mil,<br />
de acordo com relatório “Global EV<br />
Outlook 2017”, da Agência Internacional<br />
de Energia (IEA, na sigla<br />
em inglês). Esse montante, entretanto,<br />
correspondeu a apenas 1,5%<br />
do mercado chinês no ano passado.<br />
Em participação de mercado, aponta<br />
a IEA, o líder global é sem dúvidas<br />
a Noruega, onde os carros elétricos<br />
corresponderam a 29% das vendas<br />
em 2016. Ambos os países têm<br />
políticas de incentivo à tecnologia.<br />
No Brasil, onde há correções<br />
em curso para dar tratamento<br />
Eletroposto Celesc<br />
e Certi: começo<br />
da formação de<br />
infraestrutura de recarga<br />
tributário isonômico para os veículos<br />
elétricos e um início de<br />
infraestrutura de recarga, ainda<br />
muito restrito à P&D, a frota<br />
de veículos elétricos é de apenas<br />
7.701 veículos, de acordo com o<br />
Denatran, de um total de 97 milhões<br />
de veículos. Só neste ano,<br />
até outubro, foram emplacados<br />
2.706 veículos elétricos, de acordo<br />
com a Anfavea, correspondente<br />
a 0,15% dos 1,773 milhão<br />
de veículos emplacados.<br />
Os números globais e os brasileiros<br />
podem ser ainda tímidos,<br />
mas o quadro atual, com políticas<br />
de descontinuidade de veículos<br />
a gasolina e diesel e anúncios<br />
de planos das montadoras, oferece<br />
um crescimento projetado significativo.<br />
Um estudo da Bloomberg<br />
New Energy Finance (BNEF), divulgado<br />
em julho deste ano projeta<br />
que VEs corresponderão a mais<br />
de 50% das vendas de novos automóveis<br />
em 2040. Até lá, devem representar<br />
33% de todos os veículos<br />
leves circulando nas estradas.<br />
Baterias e primeira<br />
fábrica brasileira<br />
A previsão baseia-se na análise<br />
das possíveis reduções futuras<br />
do preço das baterias de íons de lítio,<br />
que já caiu 73% desde 2010.<br />
Os avanços no processo de fabricação<br />
e a duplicação da densidade<br />
de energia da bateria serão responsáveis<br />
pela queda de 70% do valor<br />
dos veículos até 2030. Também foi<br />
levado em consideração o número<br />
de novos modelos de VEs que as<br />
montadoras planejam lançar.<br />
Neste horizonte, os veículos<br />
elétricos deslocariam o consumo<br />
equivalente a oito milhões de barris<br />
de combustível por dia no transporte,<br />
adicionando 5% ao consumo<br />
global de eletricidade. Até<br />
2016, as baterias representavam<br />
48% do custo total dos VEs, mas<br />
essa proporção deve cair para me-<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 17
Veículos Elétricos<br />
Carros elétricos da BYD em Fortaleza:<br />
início da formação do mercado de<br />
compartilhamento no país<br />
nos de 25% a partir de 2025, segundo<br />
a BNEF.<br />
De acordo com o relatório da<br />
IEA, empresas como GM e LG<br />
anunciaram recentemente baterias<br />
a um custo variando de US$ 180/<br />
kWh a US$ 200/kWh para novos<br />
modelos EV. Ainda de acordo com<br />
a avaliação da agência, os ganhos<br />
de escala reforçam a expectativa de<br />
que os preços continuem caindo.<br />
O Brasil deve receber sua primeira<br />
fábrica brasileira de baterias<br />
comerciais (há no país pesquisas<br />
de desenvolvimento da tecnologia,<br />
como as conduzidas pela Itaipu<br />
Binacional) em 2018. A fabricante<br />
chinesa de veículos elétricos<br />
BYD planeja construir no país uma<br />
fábrica para equipar os ônibus elétricos<br />
que já comercializa por aqui<br />
– a companhia forneceu neste ano<br />
60 ônibus elétricos para a cidade<br />
de São Paulo.<br />
O diretor de Marketing, Novos<br />
Negócios e Sustentabilidade<br />
da companhia no Brasil, Adalberto<br />
Maluf, menciona que um dos indicativos<br />
de criação de um ambiente<br />
favorável para o mercado no país é<br />
a Rota 2030. A política do governo<br />
federal para o setor automotivo,<br />
esclarece, deverá estabelecer tratamento<br />
tributário isonômico para<br />
veículos elétricos – atualmente taxados<br />
com alíquota máxima de IPI<br />
de 25%, por não terem classificação<br />
própria.<br />
“A perspectiva é de subir o IPI<br />
para todo mundo, todos vão pagar<br />
25%, sem diferenciação. Poderão<br />
ter até 15% de crédito tributário,<br />
que será reduzido para cada item:<br />
2% para eficiência energética, 2%<br />
para itens de segurança, etc. Para o<br />
elétrico isto vai ser bom, porque é<br />
mais eficiente”, comenta Maluf.<br />
Assim como deve ser observado<br />
no mundo, a expectativa é que o<br />
ganho de escala com a fábrica contribua<br />
para a competitividade dos<br />
veículos no Brasil. “Com essa nova<br />
fábrica de baterias, acreditamos<br />
até que o preço vai cair um pouco,<br />
a gente vai ganhar mais escala para<br />
produzir os veículos elétricos, inicialmente<br />
nas frotas públicas, que<br />
é o nosso foco, ônibus, táxis, empresas,<br />
que rodam bastante e têm<br />
onde carregar os veículos, em seus<br />
centros, garagens, são nichos prioritários,<br />
onde o mercado começa”,<br />
cita o diretor.<br />
Outro nicho observado pela<br />
BYD para as baterias são as energias<br />
renováveis e serviços para o setor<br />
elétrico. No mundo, e possivelmente<br />
no Brasil a expansão dos veículos<br />
elétricos é praticamente indissociável<br />
destes segmentos. “As<br />
baterias vão ajudar não só a desenvolver<br />
os veículos elétricos como<br />
energia renovável, para uso estacionário,<br />
de armazenamento, tanto<br />
em parques como também instalações<br />
de transmissão e soluções<br />
para o usuário final”. O executivo<br />
cita, inclusive, que os ônibus elétricos<br />
fornecidos para a prefeitura de<br />
São Paulo acompanham sistemas<br />
fotovoltaicos para recarga. A avaliação<br />
é de que as soluções de geração<br />
de energia renovável, veículos elétricos<br />
e armazenamento serão cada<br />
vez mais integradas.<br />
Maluf, da BYD: ambiente<br />
favorável com Rota 2030<br />
18 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Serviços para a rede<br />
Com isso, há outro segmento<br />
sendo transformado com o crescimento<br />
dos veículos: a distribuição<br />
da energia elétrica. Assim como geração<br />
distribuída, armazenamento<br />
e dispositivos digitais inteligentes,<br />
os veículos elétricos são uma das<br />
tecnologias que estão mudando a<br />
forma como as redes elétricas entregam<br />
e recebem energia.<br />
Este pode ser um novo negócio<br />
para as distribuidoras e os veículos<br />
poderiam inclusive prestar alguns<br />
tipos de serviços ligados ao gerenciamento<br />
de carga e demanda.<br />
Mas também são um desafio,<br />
já que há diversos tipos de recarga<br />
dos veículos, das mais rápidas,<br />
que exigem mais da rede elétrica,<br />
às mais lentas.<br />
Algumas distribuidoras brasileiras<br />
estão se posicionando para estudar<br />
esses impactos. A Enel Ceará,<br />
por exemplo, tem projeto de<br />
P&D e parceria com a Serttel toca<br />
um projeto de compartilhamento<br />
de carros e Fortaleza. Já a CPFL estuda<br />
impactos dos veículos na rede<br />
e modelos de negócios dos eletropostos<br />
em São Paulo.<br />
A Celesc, em Santa Catarina,<br />
desenvolveu um modelo próprio<br />
de eletroposto, que testa em corredor<br />
de elétrico de 150 km. A distribuidora<br />
identificou que uso de baterias<br />
é oportunidade para que os<br />
eletropostos, e não só os veículos,<br />
prestem serviços ancilares à rede.<br />
Essas oportunidades levaram a<br />
Aneel a realizar uma audiência pública,<br />
encerrada em julho, para estruturar<br />
a regulação que definirá<br />
os tipos de serviços prestados pe-<br />
Espaço para todos<br />
Mesmo com a penetração de<br />
veículos elétricos puxada pela<br />
tendência global, biocombustíveis<br />
também devem ganhar relevância<br />
na matriz brasileira, com o potencial<br />
de captura de carbono na<br />
produção de etanol, caso o país<br />
busque fazer sua parte para cumprir<br />
com as metas do Acordo de<br />
Paris. Essa é uma das conclusões Embaixador José Marcondes (à dir.): trabalho<br />
de estudo realizado pelo programa<br />
de planejamento energético da<br />
conjunto com etanol de segunda geração<br />
Coppe/UFRJ, que analisou a evolução<br />
da matriz de acordo com o<br />
“orçamento” de emissão de CO2<br />
do qual o país dispõe para cumprir<br />
com as metas do Acordo de Paris.<br />
“Nosso modelo aponta o menor<br />
custo dentro do cenário de<br />
emissões restritas, com as tecnologias<br />
e custos conhecidos” explica<br />
o professor do programa de pós-<br />
Schaeffer, da Coppe/UFRJ:<br />
captura de carbono necessária para<br />
-graduação, Roberto Schaeffer. Segundo<br />
o pesquisador, o modelo ro-<br />
manter “orçamento” de emissões<br />
dado é sensível à eletrificação da<br />
mobilidade, o que desloca o uso do etanol para outros modais, como a aviação.<br />
“O modelo entende que é mais barato ter veículos leves elétricos, mas que<br />
é necessária a captura de carbono para manter o ‘orçamento’ de emissões, então<br />
prevê produção de biodiesel da cana, bioquerosene para aviação, bunkers<br />
de navegação”, detalha. Schaeffer observa que a Coppe vem trabalhando para<br />
tentar quantificar o impacto econômico de não adotar tecnologias para mitigar<br />
e combater as mudanças climáticas.<br />
Na avaliação do professor, não há necessariamente um antagonismo entre<br />
a mobilidade elétrica e os biocombustíveis, que acabarão oferecendo<br />
soluções para segmentos onde fizerem mais sentido ou sejam mais facilmente<br />
incorporados.<br />
O grupo projetou um modelo global de emissões para definir qual seria o limite<br />
brasileiro. Para limitar o aquecimento a 2°C, o país poderia emitir mais 23,6<br />
gigatoneladas de CO 2<br />
até o final do século. Para se manter neste cenário, alguns<br />
segmentos do setor energético deveriam apresentar emissões negativas, aponta<br />
o modelo desenvolvido pela Coppe, caso da produção de biocombustíveis a<br />
partir da cana, que capturam CO 2<br />
.<br />
O estudo da Coppe não está isolado da percepção dos formuladores de<br />
políticas. O chefe brasileiro de negociação na COP 23, embaixador José Marcondes,<br />
lembrou que o evento brasileiro na conferência discutirá justamente os biocombustíveis.<br />
“Vamos discutir como iremos trabalhar com etanol celulósico, de<br />
segunda geração”, disse, mencionando o RenovaBio.<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 19
Veículos Elétricos<br />
De volta para o futuro?<br />
A eletricidade como combustível é uma tecnologia mais que centenária:<br />
nos últimos anos do século 19 já existiam modelos elétricos, mas autonomia<br />
e durabilidade eram problemas que tornaram a solução inviável<br />
para a escala comercial e colocou a combustão interna como o padrão<br />
para o deslocamento em todo o mundo.<br />
Mas mesmo sendo renegada, a tecnologia do motor elétrico nunca foi<br />
abandonada. As baterias de íon-lítio estão evoluindo como nunca se viu<br />
e os modelos comercialmente vendidos nada devem aos seus similares a<br />
gasolina, etanol e diesel. Antes relegada a ser usada em carrinhos de golfe<br />
e transporte em áreas fechadas, o motor elétrico tornou-se a queridinha<br />
da indústria automotiva.<br />
Salões de automóveis também têm dedicado mais espaço para esses<br />
modelos. Séries e filmes de TV têm dedicado espaço para merchandisings<br />
de modelos elétricos. Na série cômica Curb Your Enthusiasm, da HBO,<br />
o protagonista Larry David dirigiu um Toyota Prius por todas as oito temporadas.<br />
Na nona, atualmente em exibição, David, conhecido por ter sido<br />
o criador da série Seinfeld, nos anos 90, “testou” um Tesla, modelo puramente<br />
elétrico.<br />
Cena da série Curb Your Enthusiasm, da HBO:<br />
Tesla aposta no merchandising na TV para popularizar tecnologia<br />
los pontos de recarga e determinará<br />
a comunicação constante dos operadores<br />
dos postos com a agência.<br />
De acordo com a Aneel, as contribuições<br />
recebidas estão em fase de<br />
análise e a expectativa é que a proposta<br />
de regulamentação seja apreciada<br />
pela diretoria no primeiro semestre<br />
de 2018.<br />
Na nota técnica que subsidia<br />
a audiência, a Aneel estudou dois<br />
modelos de negócios: no primeiro,<br />
com retorno mais rápido, o prestador<br />
do serviço paga para a distribuidora<br />
apenas o que consome, e<br />
no segundo, com retorno mais longo,<br />
há um custo fixo por recarga,<br />
que também remunera a rede.<br />
Como apontam os exercícios realizados<br />
pela área técnica da Aneel,<br />
não há por enquanto incentivo financeiro<br />
aparente para investir em<br />
postos de recarga para veículos elétricos.<br />
Entretanto, conforme também<br />
aponta a nota técnica, globalmente<br />
os fabricantes de veículos elétricos<br />
e empresas privadas estão liderando<br />
o aporte de recursos para<br />
o desenvolvimento inicial da infraestrutura,<br />
etapa que “precede a disseminação<br />
em larga escala dos VEs”.<br />
Para o responsável por Pesquisa<br />
e Desenvolvimento da Enel Brasil,<br />
Paulo Maisonnave, a expansão do<br />
uso de veículos elétricos representa<br />
muito mais uma oportunidade para<br />
as empresas de energia do que um<br />
desafio. Há interesse, por exemplo,<br />
em fornecer a estrutura de recarga<br />
para estabelecimentos que desejem<br />
oferecer este serviço. Para ele, a operação<br />
dos eletropostos ainda não é<br />
um negócio atrativo isoladamente,<br />
mas a instalação pode ser um diferencial<br />
para empreendimentos comerciais<br />
como shoppings e hotéis.<br />
Outras oportunidades podem<br />
se abrir conforme a tecnologia evolua<br />
e a regulação preveja novos modelos<br />
de negócios. O diretor e sócio<br />
da consultoria PSR, Rafael Kelman,<br />
cita a possibilidade de que as baterias<br />
dos veículos injetem energia na<br />
rede, podendo prestar serviços ancilares<br />
à rede. Mas isso depende da<br />
instalação de eletropostos que sejam<br />
bidirecionais, uma tecnologia<br />
ainda em desenvolvimento.<br />
A própria Enel desenvolve projeto<br />
na Itália com o chamado<br />
V2G (da expressão em inglês “vehicle<br />
to grid”, ou veículo para a rede),<br />
que permite esse uso inteligente<br />
dos carros. n<br />
20 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
MAPA BRASIL - RENOVÁVEIS<br />
EDIÇÃO ATUALIZADA<br />
DADOS E LOCALIZAÇÃO DE 523 USINAS DE BIOMASSA, 369 PARQUES EÓLICOS,<br />
448 PCHS E 39 PLANTAS SOLARES<br />
BIOMASSA EÓLICA PCH SOLAR<br />
E MAIS:<br />
• Mapa georreferenciado com as LTs e subestações<br />
• Ranking dos maiores investidores por tipo de usina<br />
• Gráfi co das usinas em operação, construção e outorgadas<br />
• Evolução dos preços por fonte desde 2004<br />
• Capacidade a ser adicionada até 2020 por fonte renovável<br />
• Participação das renováveis na matriz energética brasileira<br />
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Gás natural<br />
Lenta<br />
retomada<br />
A recuperação da demanda pós-crise vai demorar.<br />
Mercado estima que ainda vai levar anos para o<br />
consumo voltar aos níveis de 2014<br />
MATHEUS GAGLIANO<br />
Com a economia brasileira<br />
em processo de recuperação<br />
lenta e gradual,<br />
depois de três anos de recessão,<br />
o setor industrial começa a recuperar<br />
o ânimo, com a elevação<br />
paulatina da atividade produtiva.<br />
As indústrias, um dos segmentos<br />
que mais se ressentiram da crise,<br />
começou a recuperar o ânimo,<br />
com uma elevação paulatina da<br />
atividade produtiva.<br />
Na mesma linha, os índices<br />
de consumo de gás natural pelas<br />
indústrias nos últimos meses estão<br />
acompanhando o ritmo e já<br />
começam a mostrar que há uma<br />
luz no fim do túnel, com a recuperação<br />
paulatina desse setor,<br />
já que os volumes consumidos<br />
pelo segmento vêm crescendo<br />
pouco a pouco. No começo<br />
do ano, o volume voltado para<br />
o consumo industrial estava na<br />
casa de 24 milhões de m³/dia,<br />
superando a marca de 27 milhões<br />
de m³/dia em março, chegando<br />
a pouco mais de 28 milhões<br />
de m³/dia em agosto. Até<br />
setembro, o acumulado do ano<br />
está em 27,034 milhões de m³/<br />
dia, em média, de acordo com<br />
dados da Associação Brasileira<br />
das Empresas Distribuidoras de<br />
Gás Canalizado (Abegás).<br />
Obviamente, tudo dependerá<br />
do ritmo da atividade industrial,<br />
entretanto um crescimento robusto,<br />
para além da média histórica,<br />
de fato, ainda é um horizonte ainda<br />
distante, visto que a crise derrubou<br />
os níveis para os patamares<br />
de uma década atrás.<br />
Depois do segmento termelétrico,<br />
o industrial é o setor mais preponderante<br />
para o gás. No entanto,<br />
diferentemente da geração térmica,<br />
onde a demanda é diretamente<br />
relacionada às ordens de despacho<br />
do ONS, o comportamento do<br />
consumidor industrial é mais estável,<br />
menos volátil.<br />
Sinais de mudança<br />
Um exemplo de que o sinal<br />
mudou está nos dados nacionais<br />
de consumo da Abegás, segundo<br />
os quais em setembro a demanda<br />
cresceu 5,34% na comparação<br />
com o mesmo mês do ano passado<br />
– 27,7 milhões de m³/dia,<br />
em média, contra 26,3 milhões<br />
de m³/dia.<br />
O gerente de Planejamento Estratégico<br />
e Competitividade da<br />
Abegás, Marcelo Mendonça confirma<br />
que esse é, sim, um processo<br />
paulatino, acompanhando o<br />
ritmo da retomada industrial. A<br />
previsão dele é que o setor pos-<br />
22 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Fábrica de automóveis da GM:<br />
retomada da atividade econômica<br />
puxa alta na demanda de gás natural<br />
sa melhorar ao longo do ano que<br />
vem, com taxas de crescimento<br />
superiores ante 2017, mas não arrisca<br />
projetar qual o nível de retomada<br />
que virá pela frente.<br />
“É difícil saber a estimativa de<br />
volume a ser consumido porque<br />
tem a questão econômica. Então<br />
depende desse fator externo<br />
que não dá para prever”, comenta<br />
Moreira.<br />
O nível de utilização da capacidade<br />
instalada, medida pela<br />
Confederação Nacional da Indústria<br />
(CNI) aponta que em agosto<br />
deste ano chegou a 74,2%, abaixo<br />
do patamar de 81,2% referente à<br />
média de 2014, antes da crise que<br />
começou em 2015.<br />
“Com a expectativa de maior<br />
crescimento do PIB e incremento<br />
da atividade econômica, a Petrobras<br />
acredita e vem se planejando<br />
para o crescimento do consumo<br />
industrial”, disse a companhia em<br />
nota à Brasil Energia.<br />
Ou seja, tudo depende dos<br />
indicadores da atividade industrial<br />
e ainda assim, não deverá<br />
ocorrer crescimento expressivo<br />
pelos próximos três anos. O diretor<br />
técnico da Gas Energy, Rivaldo<br />
Moreira Neto, avalia que,<br />
mesmo com a retomada industrial,<br />
a possibilidade é que, em<br />
2020, o consumo do segmento<br />
industrial retorne aos patamares<br />
pré-crise. Para o consultor,<br />
ainda falta muito para<br />
que as indústrias ampliem suas<br />
compras de gás de fato, uma<br />
vez que os patamares de consumo<br />
voltaram aos níveis do<br />
biênio 2006/07. “Não estamos<br />
avançando nenhuma casa além<br />
nos últimos anos e a perspectiva<br />
é somente recuperar o espaço<br />
perdido”, destaca.<br />
O executivo da GasEnergy salienta<br />
que antes mesmo da crise,<br />
os patamares de consumo de gás<br />
já não eram tão bons, mas a retração<br />
da indústria, acabou por<br />
colocar uma pá de cal nos planos<br />
de ampliação do consumo.<br />
Dados divulgados pelo consultor<br />
mostram que de 2001 a 2009,<br />
as indústrias vinham apresentando<br />
crescimento constante, saindo<br />
de 15 milhões de m³/dia para 26<br />
milhões de m³/dia. Quando veio<br />
a crise global de 2008, o mercado<br />
como um todo sentiu os efeitos<br />
e aí houve uma retração para<br />
22 milhões de m³/dia.<br />
A recuperação só veio em 2011<br />
e, desde então, não houve ampliação<br />
significativa, mantendo-<br />
-se apenas um ritmo praticamente<br />
estável. Então, quando chegou<br />
a 2016, o consumo voltou para a<br />
casa de 25 milhões de m³/dia.<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 23
Gás natural<br />
A diretora de Energia da Associação<br />
Brasileira de Grande Consumidores<br />
Industriais de Energia<br />
(Abrace), Camila Schoti, confirma<br />
que no período pré-crise o<br />
horizonte era muito mais otimista<br />
levando os industriais a projetarem<br />
que, em 15 anos, o consumo<br />
gasífero poderia triplicar,<br />
caso o preço caísse pela metade.<br />
Mas como a atividade econômica<br />
estagnou, esse otimismo acabou<br />
se perdendo.<br />
“Com preços competitivos havia<br />
espaço para crescimento da demanda,<br />
decorrente da substituição<br />
do combustível”, avaliou ela.<br />
Depois do segmento<br />
termelétrico, o industrial é o<br />
setor mais importante para o gás.<br />
No entanto, demanda é mais<br />
Para ela, o aumento do consumo<br />
passa ainda pela competitividade<br />
do preço do gás no futuro.<br />
Nos últimos anos, com o<br />
descolamento do valor do insumo<br />
produzido no país em relação<br />
ao gás importado, houve um desestímulo<br />
por parte dos empresários<br />
a pensarem em uma substituição<br />
do combustível nos processos<br />
produtivos.<br />
Renegociação de contratos<br />
Há um outro complicador. O<br />
cenário que começa a se desenhar<br />
para os grandes consumidores é<br />
nebuloso, diante da renegociação<br />
dos contratos de fornecimento.<br />
Schoti aponta que os agentes vêm<br />
falando em um aumento de 30%<br />
no valor da molécula de gás com<br />
esse reposicionamento, o que pode<br />
afetar a indústria.<br />
Além disso, há ainda a questão<br />
da flexibilidade do uso, no qual os<br />
agentes podem ter de arcar com<br />
estável, menos volátil, como o térmico<br />
uma penalidade de 70% do preço<br />
do gás caso haja uma ultrapassagem<br />
do volume contratado, de<br />
acordo com a executiva.<br />
Por exemplo: se uma empresa<br />
contrata 100 mil m³/dia de gás<br />
mas acaba usando 104 mil m³/dia,<br />
incidiria essa penalidade de 70%.<br />
“Para alguns processos produtivos,<br />
acaba ficando inviável. Existem necessidades<br />
que precisam dessa flexibilidade”,<br />
ressaltou.<br />
A Associação Técnica Brasileira<br />
das Indústrias de Vidro (Abividro)<br />
é uma das entidades que<br />
também agrega consumidores de<br />
gás em larga escala. O superintendente<br />
Lucien Belmonte vê outro<br />
problema: falta de perspectiva<br />
de oferta, embora seja esperado<br />
um volume maior, principalmente<br />
com a exploração do pré-<br />
-sal. A elevação da disponibilidade,<br />
neste caso, precisa estar bem<br />
definida, a fim de garantir previsibilidade<br />
para os produtores industriais.<br />
“Esse aumento esperado<br />
da oferta é de suma importância<br />
para o barateamento da molécula”,<br />
sublinhou.<br />
O executivo explicou que permaneceriam<br />
incógnitas a transparência<br />
sobre as tarifas de distribuidoras<br />
estatais estaduais – São Paulo<br />
e Rio de Janeiro são exceções,<br />
pois as companhias já são privadas<br />
e com a atuação de uma agência reguladora.<br />
“Outros entes sequer têm agência<br />
reguladora. Então vemos um<br />
mercado que anda de lado e não<br />
vemos uma rápida recuperação a<br />
curto prazo e ainda com ocorrência<br />
de inseguranças econômicas e<br />
regulatórias”, analisou Belmonte.<br />
A oportunidade se deu com o programa<br />
Gás para Crescer, enquanto<br />
tentativa governamental de fomentar<br />
um mercado mais competitivo e<br />
promover a entrada de novos agentes<br />
supridores, segundo Belmonte.<br />
Mas o projeto ainda é tímido ao desatar<br />
o nó das incertezas relativas<br />
24 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
aos estados e à atuação da Petrobras,<br />
com seu novo papel.<br />
Para os industriais, a questão<br />
será mais clara se o projeto de privatização<br />
das distribuidoras – que<br />
é a tendência esperada – deixar<br />
transparente quais as tarifas que serão<br />
praticadas e se haverá um processo<br />
de revisão tarifária consistente<br />
que dê previsibilidade aos consumidores.<br />
A Petrobras explicou que a revisão<br />
dos contratos com as distribuidoras<br />
ocorre a pedido dela próprias<br />
devido a dificuldades apresentadas<br />
pelas companhias em virtude da<br />
queda do consumo provocada pela<br />
crise.<br />
Uma das saídas para tornar o<br />
cenário melhor é o novo projeto<br />
de lei baseado no Gás para Crescer.<br />
Mas o consultor José Roberto<br />
Faveret, do escritório de advocacia<br />
Faveret Lampert, avalia que o programa<br />
poderia ter sido mais ousado<br />
no sentido de dar mais liberdade<br />
aos grandes consumidores em<br />
suprirem suas necessidades. Para<br />
ele, a nova proposta deveria oferecer<br />
chance para que as indústrias<br />
não só possam comprar gás das comercializadoras,<br />
mas consigam viabilizar<br />
sua própria estrutura para<br />
suprirem a si mesmas.<br />
Ele explica, por exemplo, que<br />
os grandes consumidores industriais<br />
poderiam ser autorizados a<br />
construírem seus próprios dutos<br />
de transferência de gás para movimentar<br />
a molécula ou então obter<br />
autorização para construir terminais<br />
de regaseificação de gás natural<br />
liquefeito (GNL).<br />
“A intermediação da distribuidora<br />
agrega pouco valor ao consumidor<br />
e gera muito custo”, avaliou.<br />
Distribuidoras tentam expandir<br />
A importância do segmento pode<br />
ser exemplificada no plano de<br />
expansão da Gas Brasiliano, distribuidora<br />
que atua no interior do<br />
estado de São Paulo. Nos próximos<br />
cinco anos, a empresa pretende<br />
aportar recursos de R$ 250 milhões<br />
na expansão em sua área de<br />
concessão e o diretor presidente da<br />
companhia, Walter Fernando Piazza<br />
Junior, explicou que os planos<br />
serão ancorados na indústria.<br />
A companhia realizou um estudo<br />
para verificar a viabilidade dessa<br />
expansão e percebeu que o gás é<br />
capaz de atender aos pólos produtivos<br />
do interior paulista, como a<br />
canavieira, implementos agrícolas,<br />
fabricantes de alimentos e de calçados.<br />
Até o fim deste ano, a Gas Brasiliano<br />
pretende levar o insumo até<br />
o município de Jaú, onde existe o<br />
pólo calçadista.<br />
“Esse é um setor que estava se<br />
perdendo em função da falta do<br />
gás. Com a chegada, pode retomar<br />
seu vigor e tende a crescer”, afirmou<br />
Piazza.<br />
No setor alimentício, o gás pode<br />
substituir o gás liquefeito do petróleo<br />
(GLP) em fritadeiras, fornos<br />
e assadeiras.<br />
Já o setor de calçados pode usar<br />
o gás natural em processos como<br />
nas injetoras de soldas dos sapatos,<br />
no forno de conformação, no forno<br />
de secagem e também como geração<br />
de energia, sendo este último<br />
por meio de turbinas de cogeração,<br />
dando a possibilidade de diminuição<br />
de gastos com a conta de luz. n<br />
Piazza, da GasBrasiliano: expansão para<br />
polos industriais em SP<br />
Belmonte, da Abividro: baixa<br />
perspectiva de mais oferta<br />
Camila, da Abrace: demanda maior passa<br />
pela competitividade<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 25
Distribuição<br />
Usina nuclear na Europa:<br />
Alemanha teve caso de<br />
ataque que desativou<br />
empreendimento durante dias<br />
O ônus da modernidade<br />
Empresas de energia terão que investir em cybersegurança diante da<br />
inexorável digitalização das redes, o que pode atrair ameaças virtuais<br />
MARCO SARDENBERG<br />
O<br />
setor de energia elétrica<br />
no Brasil está se preparando<br />
para a modernidade,<br />
com a digitalização dos equipamentos,<br />
a adoção da internet das<br />
coisas e as redes inteligentes. Num<br />
país de dimensões continentais e<br />
energia universalizada, o segmento<br />
de distribuição é o elo entre os consumidores<br />
e a energia elétrica. São<br />
mais de 64 milhões de unidades<br />
consumidoras e centenas de milhões<br />
de quilômetros de redes que<br />
vão se tornar digitais.<br />
Isso significa que equipamentos<br />
como disjuntores e transformadores<br />
vão atuar como um computador<br />
ou um smartphone. Serão<br />
equipamentos que vão se conectar<br />
à internet, enviando milhares de<br />
dados e informações por segundo,<br />
permitindo mais eficiência na operação,<br />
com menos custos e maior<br />
qualidade.<br />
Mas esse crescente avanço da digitalização<br />
aumenta os pontos de entrada<br />
para possíveis ataques cibernéticos.<br />
Em outras palavras, as redes<br />
de distribuição passam a ser alvos de<br />
hackers (não os “do bem”, que invadem<br />
redes em busca de vulnerabilidades,<br />
para alertar a comunidade cibernética),<br />
daqueles que buscam tirar<br />
proveito financeiro das ações.<br />
26 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Energia elétrica é o segmento da<br />
indústria mais visado para ataques<br />
cibernéticos, segundo o Repository<br />
of Industrial Security Incidents<br />
(RISI), lgado à Security Incidents<br />
Organization. O risco é maior até<br />
mesmo que nos setores de petróleo,<br />
transporte e água.<br />
“Certamente a Internet das Coisas<br />
é um caminho sem volta e junto<br />
aos grandes recursos que a conectividade<br />
trouxe, há uma questão sobre<br />
a vulnerabilidade dos sistemas<br />
e redes. Toda vez que você disponibiliza<br />
informações, aumenta o grau<br />
de conectividade de dispositivos,<br />
e isso, naturalmente, expõe a ataques,<br />
sim”, explica Julio Oliveira,<br />
gerente de Engenharia de Automação<br />
da ABB.<br />
Esse é um tema que não está<br />
sendo discutido apenas no Brasil,<br />
pelo contrário: o potencial de crescimento<br />
de negócios ligados à cybersegurança<br />
de empresas em missão<br />
crítica, como é o caso de empresas<br />
de energia, é muito elevado.<br />
Um estudo da Control Risks<br />
com base em entrevistas com quase<br />
500 executivos em vários países<br />
indica que um terço das empresas<br />
de negócios e TI ignoram riscos de<br />
ameaças relativas à segurança cibernética<br />
(veja quadro).<br />
Um dos segmentos é o de tecnologias<br />
de redes de comunicações<br />
baseadas em ethernet, um padrão<br />
que permite níveis mais elevados<br />
de segurança.<br />
Quando se tem teleproteção<br />
de linhas de transmissão cujos dados<br />
não são confidenciais, mas que<br />
precisam ter a garantia de que as<br />
informações cheguem inalteradas<br />
no seu destino, é preciso ter a segurança<br />
de que os dados chegarão<br />
íntegros e no tempo certo, explica<br />
Paul Schwyter, gerente global de<br />
produto para redes e segurança cibernética<br />
da ABB.<br />
O diretor-executivo da CGI no<br />
Brasil, Marco Affonso, ressalta que<br />
há espaço, por exemplo, para que<br />
medidores eletrônicos possam ser<br />
fraudados por invasores, que podem<br />
adulterar dados, reduzindo<br />
contas de energia. Mas os problemas<br />
podem ser ainda maiores: riscos<br />
de apagar bairros ou mesmo cidades<br />
inteiras passam a ser um risco<br />
real. Ou pior: assim como acontece<br />
com sequestradores de dados,<br />
que pedem dinheiro para liberar<br />
acessos a computadores, por exemplo,<br />
vulnerabilidades podem abrir<br />
espaço para sequestros de redes.<br />
O diretor-executivo da Kaspersky<br />
Lab Brasil, Roberto Rebouças,<br />
ressalta que a prevenção passa pelo<br />
total envolvimento de funcionários<br />
das empresas, com atualização de<br />
anti-virus, políticas de uso de equipamentos<br />
digitais, senhas, conexão<br />
de pen-drives e cia. Affonso, da<br />
CGI, lembra que um caso de invasão<br />
foi causado por um funcionário<br />
de usina que conectou um pen drive<br />
infectado - ou seja, não foi preciso<br />
usar a rede para infectar o empreendimento.<br />
Mas o meio mais comum de infecção<br />
de redes é o phishing. Quem<br />
não associa o nome à pessoa, são<br />
aqueles emails de bancos que pedem<br />
para clicar em links para atualizar<br />
sistemas de segurança, com<br />
inclusão de senha. O phishing não<br />
infecta um computador imediatamente,<br />
mas quando o usuário clica<br />
nesse link, permite a instalação<br />
de um programa que aciona um vírus<br />
que deleta arquivos ou permite<br />
que o hacker assuma o controle à<br />
distância.<br />
Oliveira, da ABB, diz ainda que<br />
as distribuidoras podem ficar totalmente<br />
sem ação caso um ataque<br />
Oliveira, da ABB: risco de distribuidoras<br />
ficarem paralisadas após ataque<br />
Kraemer, de Itaipu: parte<br />
do processo de modernização passa<br />
pela segurança cibernética<br />
Oliveira, da ABB: risco de distribuidoras<br />
ficarem paralisadas após ataque<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 27
Distribuição<br />
cibernético se concretize. “A principal<br />
consequência de ter informação<br />
roubada ou adulterada é a<br />
indisponibilidade do serviço tanto<br />
para distribuidora como para a<br />
transmissora. Quando existe um<br />
ataque, com essa informação, o invasor<br />
passa a ter o controle sobre os<br />
sistemas que controlam o grid elétrico<br />
e passam a tomar para si autoridade<br />
de fazer esse controle”, diz.<br />
Nos últimos quatro anos foram<br />
registrados sete casos de invasão cibernética<br />
no setor elétrico nos Estados<br />
Unidos, Israel, Austrália, Coréia<br />
do Sul, Canadá. Em duas oportunidades,<br />
dezembro de 2015 e dezembro<br />
de 2016, os ataques foram<br />
concentrados na Ucrânia, quando<br />
diversas localidades, inclusive a capital<br />
Kiev, sofreram com o apagão.<br />
“O caso da Ucrânia é usado nos<br />
principais fóruns energéticos como<br />
exemplo de que o grid elétrico está<br />
exposto a esse tipo de ataque. É<br />
preciso que as políticas de cybersegurança<br />
evoluam rápido para evitar<br />
danos como os que ocorreram na<br />
Ucrânia”, alerta Oliveira. Um outro<br />
caso ocorreu na Alemanha, em<br />
abril do ano passado, cujo incidente<br />
ocorreu durante testes preparatórios<br />
da operação. A RWE, operadora<br />
da usina, não considerou como<br />
ameaça um computador não<br />
conectado à internet e avaliou que<br />
o malware afetou apenas os sistemas<br />
operacionais do computador,<br />
não a ferramenta SCADA que interage<br />
com os combustíveis nucleares.<br />
A usina ficou fora de operação<br />
por vários dias.<br />
O diretor técnico da GTX Tecnologia,<br />
Rafael Paz, salienta que<br />
existem diferenças entre redes de<br />
TI corporativas e redes de tecnologia<br />
da automação (TA). Segundo<br />
ele, TAs estão inseridas em cená-<br />
Instalações da Iberdrola: empresa<br />
sofreu reflexos do wannacry<br />
28 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
ios de missão crítica, cujas eventuais<br />
falhas podem causar perdas<br />
financeiras consideráveis, além de<br />
risco de vida.<br />
Redes de TI corporativas visam<br />
à proteção de dados da companhia,<br />
enquanto redes de tecnologia da<br />
automação buscam garantir a disponibilidade<br />
completa da rede, devido<br />
às conexões com os órgãos reguladores,<br />
além de garantir a operação<br />
e a segurança do empreendimento.<br />
“Os dados que trafegam na<br />
rede não são sigilosos, pois tratam-<br />
-se por exemplo de informações<br />
sobre geração de usinas, que são<br />
amplamente divulgadas e compartilhadas”,<br />
explica Paz.<br />
Geração brasileira<br />
já se mobiliza<br />
Responsável pelo fornecimento<br />
de cerca de 17% da energia consumida<br />
no Brasil, a usina hidrelétrica<br />
de Itaipu passará, nos próximos<br />
10 anos, por um processo de modernização<br />
de seus equipamentos,<br />
o que deve demandar um investimento<br />
de aproximadamente US$<br />
500 milhões, de acordo com o diretor-geral<br />
brasileiro Luiz Fernando<br />
Vianna. Tal modernização será<br />
acompanhada pela área de segurança<br />
cibernética da usina.<br />
“Atualmente, até pela parte da<br />
preocupação de Itaipu com o processo<br />
de modernização de seus<br />
equipamentos, estão sendo tomadas<br />
todas as medidas de segurança<br />
para que se possa fazer essa<br />
inovação com absoluta segurança,<br />
pois sabemos que isso é fundamental”,<br />
comenta Luiz Felipe<br />
Kraemer Carbonell, chefe da assessoria<br />
de informações da Itaipu<br />
Binacional brasileira.<br />
Dentro do parque tecnológico<br />
de Itaipu está um laboratório de<br />
simulação, já em operação, que<br />
faz simulações de seguranças de<br />
rede voltadas para empresas de<br />
produção de energia. O ambiente<br />
também servirá para o desenvolvimento<br />
de sistemas que identificam<br />
vulnerabilidades. São soluções<br />
que aumentam o poder de reação<br />
para evitar ataques de hackers, como<br />
o que ocorreu em maio deste<br />
ano e que infectou (com o vírus<br />
WannaCry) computadores de<br />
mais de cem países.<br />
“Itaipu está atenta a esses incidentes<br />
que tem acontecido no<br />
mundo inteiro e tem tomado varias<br />
iniciativas para aumentar sua proteção<br />
relacionada a qualquer tipo<br />
de incidente cibernético”, ressalta<br />
Kraemer.<br />
Na medida em que a preocupação<br />
das empresas do setor energético<br />
aumenta, o mercado está cada<br />
vez mais digital. O tema vem crescendo<br />
em importância nos últimos<br />
tempos, diante da digitalização cada<br />
vez maior das redes, com a adoção<br />
de smart grid, já que a tecnologia,<br />
na prática é uma rede de dados,<br />
onde no lugar de computadores<br />
estarão equipamentos digitais<br />
de distribuição.<br />
De acordo com o relatório “Digitalização<br />
de Sistemas de Energia”<br />
da Bloomberg New Energy Finance<br />
(BNEF), O mercado de digitalização<br />
no setor energético deve<br />
crescer US$ 64 bilhões até 2025.<br />
A mudança mais significativa deve<br />
ocorrer para as tecnologias de<br />
Riscos<br />
ignorados<br />
A empresa de consultoria de<br />
riscos Control Risk fez um estudo<br />
sobre a relação das empresas em<br />
todo o mundo com a segurança<br />
cibernética, com entrevistas com<br />
482 executivos. Confira abaixo os<br />
números apurados pela empresa:<br />
a 46% dos entrevistados<br />
acreditam que o alto escalão de<br />
executivos de suas empresas não<br />
dão a devida importância ao tema<br />
“segurança cibernética”<br />
a 45% afirmam que avaliar e<br />
gerenciar riscos cibernéticos são<br />
seus maiores desafios em relação<br />
à segurança cibernética<br />
a 35% disseram que sua organização<br />
já sofreu com uma brecha<br />
de segurança cibernética infringida<br />
por terceiros<br />
a 43% afirmam que ataques<br />
cibernéticos resultaram na utilização<br />
indevida de dados sigilosos<br />
e 41% afirmou que informações<br />
de clientes foram perdidas<br />
a 53% das organizações<br />
avaliam as medidas de segurança<br />
cibernéticas de parceiros e<br />
provedores apenas por meio de<br />
cláusulas contratuais<br />
gerenciamento de energia doméstica,<br />
que passarão de US$ 1 bilhão<br />
em 2017 para US$ 11 bilhões em<br />
2025. Dessas tecnologias, a que<br />
mais vai alavancar o setor será a de<br />
medidores inteligentes, crescendo<br />
44% entre este ano e 2025, para<br />
US$ 26 bilhões. n<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 29
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Combustíveis<br />
Euforia sustentável<br />
RenovaBio, proposta de política pública para<br />
biocombustíveis, começa a tramitar no Congresso e<br />
desencadeia esperança de dias melhores para segmento<br />
ANTÔNIO CARLOS SIL,<br />
FÁBIO COUTO E MARCELO FURTADO<br />
O<br />
passo dado pelo governo<br />
para a bioenergia animou<br />
o segmento, que<br />
começa a ver as oportunidades de<br />
negócio que o programa pode representar<br />
de forma geral. O programa<br />
vai tramitar na Câmara dos Deputados<br />
por meio de projeto de lei<br />
em regime de urgência, o que desobriga<br />
de aprovação nas comissões.<br />
O RenovaBio é considerado um<br />
dos pilares para o cumprimento da<br />
meta de descarbonização da matriz<br />
energética estabelecida no Acordo<br />
de Paris.<br />
Caso seja implantado na forma<br />
como está planejado hoje, o programa<br />
RenovaBio não só vai alavancar<br />
a produção de combustíveis<br />
renováveis no Brasil, com destaque<br />
para o etanol, como também<br />
contribuirá significativamente para<br />
a expansão da cogeração com biomassa<br />
de cana, na avaliação da Associação<br />
da Indústria da Cogeração<br />
de Energia (Cogen).<br />
Ainda subaproveitada, devido<br />
às regras do setor que desestimulam<br />
investimentos maiores na expansão<br />
da oferta ao sistema, a produção<br />
de energia em usinas de cana<br />
vem, ao longo dos últimos anos,<br />
possibilitando preservar o armaze-<br />
Colheita de cana-de-açúcar: potencial<br />
de aumento de produção cresce<br />
exponencialmente com RenovaBio<br />
32 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
namento nas hidrelétricas. Isso tem<br />
evitado um uso mais intensivo de<br />
termelétricas movidas a combustíveis<br />
fósseis, altamente poluentes, e<br />
mais demandadas em épocas de estiagem<br />
prolongada como agora.<br />
Um dos fatores que impediram<br />
a maior geração de energia pela<br />
biomassa da cana é o risco hidrológico,<br />
uma vez que a safra recorde<br />
deste ano implicaria em produção<br />
acima da garantia física, o que colocaria<br />
essas usinas como credoras na<br />
CCEE, recorda o diretor técnico da<br />
Abraceel, Alexandre Lopes – o passivo<br />
em aberto por causa do GSF<br />
gira em torno de R$ 4,5 bilhões.<br />
Em 2016, para se ter uma ideia,<br />
a bioeletricidade permitiu manter<br />
15% a mais de água nos reservatórios<br />
das hidrelétricas da região Sudeste/Centro-Oeste,<br />
lembra Leonardo<br />
Caio Filho, diretor de Tecnologia<br />
e Regulação da Cogen.<br />
Das 378 usinas de cana-de-açúcar<br />
em operação no Brasil, explica<br />
o especialista, somente 166 tem<br />
condições de injetar excedentes de<br />
energia no Sistema Interligado Nacional<br />
(SIN). A capacidade instalada<br />
atual desse parque exportador<br />
estaria em 13 mil MW – pouco<br />
mais que uma usina do porte<br />
de Belo Monte (PA, 11.233 MW)<br />
-, conforme dados da mais recente<br />
versão do Plano Decenal de Energia<br />
(PDE 2026). A projeção apresentada<br />
no cenário de referência do estudo,<br />
realizado pela EPE, é de mais<br />
3,9 mil MW, elevando a potencial<br />
do parque para 16,9 mil MW.<br />
Aí é que se encaixa o raciocínio<br />
da Cogen em relação às expectativas<br />
promissoras do RenovaBio,<br />
explica Caio. Porque para<br />
chegar a 2030 com uma capacidade<br />
de oferta de etanol da ordem<br />
de 52 bilhões de litros, o dobro<br />
da produção atual, será necessário<br />
colher mais 220 milhões de<br />
toneladas de cana por safra que,<br />
se forem devidamente aproveitados<br />
para a geração de bioeletricidade,<br />
podem acrescentar mais 4<br />
mil MW, perfazendo, portanto,<br />
um potencial de 19,9 mil MW daqui<br />
a 13 anos.<br />
“Até 2030, a estimativa é de que<br />
o RenovaBio impulsione um investimento<br />
de R$ 500 bilhões, com a<br />
geração de mais de um milhão de<br />
novos empregos”, destaca Arnaldo<br />
Jardim, secretário da Agricultura<br />
e Abastecimento do estado de São<br />
Paulo. Para ele, é possível, a partir<br />
do programa, formar agilmente<br />
uma legislação que estabeleça políticas<br />
públicas de médio prazo para<br />
incentivar a produção de biocombustíveis.<br />
Em parceria com outros agentes<br />
do setor, a Cogen se movimenta na<br />
direção do MME, Aneel e EPE para<br />
tentar obter condições regulatórias<br />
mais favoráveis ao crescimento da<br />
cogeração com biomassa, em suas<br />
diversas categorias. Entre os aprimoramentos<br />
buscados, como forma<br />
de incentivo, figura uma remuneração<br />
mais adequada a quem se<br />
dispõe a produzir bioeletridade, levando<br />
em conta todas as externalidades<br />
positivas que traz ao sistema<br />
elétrico nacional.<br />
Já a Associação Brasileira de<br />
Biotecnologia Industrial (ABBI)<br />
visualiza que o RenovaBio tem<br />
potencial de investimentos em<br />
120 novas biorrefinarias em 20<br />
anos. “Elevará o valor produzido<br />
por hectare, utilizando resíduos<br />
agrícolas, como o bagaço e palha<br />
da cana-de-açúcar, milho, eucalipto<br />
e outros grãos, para a produção<br />
de biocombustíveis de 2ª<br />
geração”, analisa Bernardo Silva,<br />
presidente da ABBI.<br />
Toda a euforia em torno do RenovaBio,<br />
especialmente no atingimento<br />
das metas, está relacionado,<br />
entre outros pontos à modelagem<br />
que se baseia na emissão,<br />
por produtores e importadores de<br />
biocombustíveis, dos chamados<br />
CBios, os créditos de descarbonização,<br />
que precisarão ser comprados<br />
pelos distribuidores de combustíveis<br />
como forma de compensação<br />
caso estes não estejam<br />
cumprindo as metas também impostas<br />
pelo RenovaBio de aumento<br />
de comercialização de biocombustíveis<br />
(etanol, biodiesel, biometano,<br />
bioqueresene).<br />
Para Alessandro Gardemann,<br />
presidente da Associação Brasileira<br />
de Biogás e Biometano (Abiogás), a<br />
expectativa é a de que esse mercado<br />
de créditos incentivará a indústria<br />
de biogás e biometano a não só<br />
produzir mais para atender a demanda<br />
em crescimento de forma<br />
mandatória aos distribuidores como<br />
para suportar a própria movimentação<br />
financeira em torno dos<br />
CBios.<br />
“As usinas de açúcar e álcool,<br />
para terem CBios mais valiosos,<br />
podem aproveitar toda sua vinhaça<br />
para gerar biometano e deixar de<br />
lado o diesel que usam na produção<br />
e colheita de cana”, diz. n<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 33
Consumidor<br />
Pagar para<br />
não consumir<br />
Programa piloto de Resposta da Demanda<br />
será adotado no Norte e Nordeste e<br />
prevê leilões para remunerar consumidores<br />
industriais que reduzirem carga<br />
MARCELO FURTADO<br />
Em 2018, a partir de resolução<br />
Aneel prometida para<br />
ser publicada ainda em<br />
dezembro, começa a rodar o primeiro<br />
projeto piloto de resposta<br />
da demanda (RD) para consumidores<br />
industriais do país. Método<br />
comum em muitos mercados maduros<br />
de energia, trata-se de sistemática<br />
de redução de consumo feito<br />
de forma programada pelo operador<br />
do sistema, por meio de leilões<br />
com antecedência de um dia<br />
ou no próprio dia em que haverá<br />
a demanda diminuída pelo grande<br />
consumidor, o qual será remunerado<br />
via CCEE pela energia “vendida”,<br />
ou melhor, deixada de ser consumida<br />
e ofertada nos certames.<br />
Para os principais agentes do setor,<br />
que há muito tempo discutem a<br />
introdução da RD, a experiência piloto,<br />
de 18 meses e que depois deve<br />
ser incorporada ao sistema, tem<br />
capacidade de começar a inverter<br />
o modelo nacional apenas baseado<br />
no despacho pelo custo, pelo qual<br />
a operação visa atender de qualquer<br />
forma a demanda, seja ela qual for,<br />
aumentando a oferta muito frequentemente<br />
fora da ordem de mérito.<br />
Além disso, a resposta da demanda,<br />
como planejado, torna o consumidor<br />
ativo no sistema, por meio de incentivo<br />
financeiro, agindo antes que ele<br />
precise reduzir o consumo por conta<br />
de preços altos das tarifas.<br />
Segundo o diretor-geral do<br />
ONS, Luiz Eduardo Barata, o conceito<br />
do projeto é de permitir que<br />
os consumidores possam rever<br />
processos produtivos, em busca de<br />
menor demanda, sendo ressarcidos<br />
pela iniciativa. No entanto, Barata<br />
nega que a ideia seja incentivar<br />
que o consumidor deixe de focar<br />
no processo produtivo para vender<br />
energia no mercado livre.<br />
“Ele deixa de consumir quando<br />
ele não produz, não deixa de ganhar<br />
dinheiro no negócio dele para<br />
ganhar no mercado livre”, disse<br />
o executivo (confira a entrevista com<br />
Barata na página 10).<br />
“Os programas de resposta da<br />
demanda têm a capacidade de reduzir<br />
o custo global de atendimento,<br />
porque podem reduzir o despacho<br />
de usinas térmicas caras e também<br />
porque, se considerados na<br />
formação de preço, reduzem a volatilidade<br />
de preços do mercado de<br />
curto prazo”, avalia Camila Schoti,<br />
diretora de energia da Associação<br />
Brasileira de Grandes Consumidores<br />
Industriais de Energia e de Consumidores<br />
Livres (Abrace), entidade<br />
muito interessada na implantação<br />
da metodologia.<br />
Aliás, a justificativa imediata da<br />
Aneel para implantar o projeto é<br />
ajudar a reduzir a operação na ponta<br />
de térmicas fora da ordem de mé-<br />
34 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Fábrica da Albras, no<br />
Pará: projeto piloto será<br />
voltado para consumidores<br />
do Norte e Nordeste<br />
rito nos mercados Norte e Nordeste,<br />
alvos do piloto, que a princípio será<br />
voltado apenas para consumidores<br />
livres de alta tensão A1, embora<br />
algumas contribuições à audiência<br />
pública do programa (43/2017) tenham<br />
sugerido a expansão do projeto<br />
ao mercado cativo também. A<br />
região escolhida se explica também<br />
por conta da alta dependência<br />
da geração eólica no Nordeste, que<br />
em base diária chega a representar<br />
56% da carga. A intermitência da<br />
fonte tem obrigado o ONS a despachar<br />
térmicas para atender a variação<br />
da carga ao longo do dia. Qualquer<br />
economia nesse sentido é muito<br />
bem-vinda no Nordeste.<br />
Como será<br />
De forma geral, e apesar de a resolução<br />
ainda não estar pronta até<br />
o fechamento desta edição, a operação<br />
piloto se dará com a publicação<br />
mensal pelo ONS em seu site<br />
na internet da grade dos períodos<br />
dos dias da semana em que poderá<br />
haver despacho de redução da carga.<br />
Com esses dados, os consumidores<br />
habilitados deverão entregar<br />
até às 12:00 horas da quinta-feira<br />
as ofertas de preço e quantidade de<br />
energia para a semana que podem<br />
reduzir (cinco produtos com volume<br />
padrão médio de 1 MW médio,<br />
mas com 5 MW médios mínimos<br />
de oferta de redução, em períodos<br />
de 1 h, 2h, 3h, 4h e 7h). Diariamente,<br />
até às 12:00 horas do dia<br />
anterior ao despacho precisarão<br />
confirmar a quantidade ofertada<br />
com nova declaração.<br />
Os leilões serão em dois modelos:<br />
o day-ahead, com aviso prévio<br />
para despacho no dia anterior à redução<br />
da carga (até às 18h), e o intraday,<br />
com aviso no mesmo dia da<br />
redução da carga (até às 9h). Ganharão<br />
os leilões os consumidores<br />
que ofertarem CVU menores em<br />
comparação ao da térmica que será<br />
substituída no dia.<br />
Para fazer os despachos de redução<br />
de carga o ONS vai analisar<br />
suas programações diárias de produção<br />
e considerar nessa análise as<br />
ofertas semanais dos consumidores<br />
industriais habilitados. A redução<br />
ocorrerá sempre que o custo total<br />
da operação com as ofertas vencedoras<br />
for inferior a 90% do custo<br />
total do despacho das térmicas fora<br />
da ordem de mérito.<br />
“Não será imposto, será do interesse<br />
[do consumidor], ele sabe quanto<br />
custa a redução dele versus quanto<br />
custa a geração térmica. Se o custo<br />
dele for maior do que gerar térmica,<br />
a gente não vai fazer isso com ele, vai<br />
gerar térmica”, salienta Barata.<br />
Aliás, esse mecanismo do projeto<br />
piloto que determina o despacho<br />
do RD apenas quando ele atingir<br />
10% de redução, na opinião da<br />
Abrace pode frear sua aplicação por<br />
conta do custo elevado com o despacho<br />
térmico, que no Brasil custa<br />
aproximadamente R$ 3 bilhões<br />
ao mês. Para a associação, que realizou<br />
simulações com ofertas prováveis<br />
com base de dados de 2015<br />
e que no melhor cenário apontaram<br />
redução de 2,2% da RD em relação<br />
às térmicas, a conclusão é de<br />
que o gatilho para o despacho de<br />
redução deve ser flexibilizado, ou<br />
seja, ele deve ser disparado sempre<br />
que o custo total da operação com<br />
as ofertas vencedoras for inferior ao<br />
custo total da operação com o despacho<br />
térmico independente da ordem<br />
do mérito. O ONS também é<br />
contra o gatilho de 10%, considerando<br />
seu possível uso, se necessá-<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 35
Consumidor<br />
rio, apenas na aplicação do programa<br />
definitivo após o piloto.<br />
Segundo a Abrace, na fase piloto,<br />
o potencial de contribuição ao programa<br />
é de 990,5 MW médios, sendo<br />
190 MW médios do Nordeste e<br />
800 MW médios no Norte. É uma<br />
sugestão da associação, aliás, expandir<br />
o programa para consumidores<br />
com nível de tensão A3. De acordo<br />
com Camila, de imediato consumidores<br />
com carga de 250 MW no<br />
Nordeste já tem condições de fazer<br />
rapidamente a adaptação operacional<br />
para fazer as ofertas nos leilões.<br />
“E muitos outros em pouco tempo<br />
também podem aderir”, diz.<br />
Remuneração<br />
O cronograma do programa<br />
prevê sua primeira contabilização<br />
em janeiro pela CCEE e a liquidação<br />
das remunerações já em<br />
fevereiro de 2018, segundo revelou<br />
Carlos Dornellas, gerente-executivo<br />
de Monitoramento, Gestão<br />
de penalidades e Informações<br />
da CCEE. Nesse ponto, porém, é<br />
aguardada a definição da resolução<br />
da Aneel para saber se os consumidores<br />
do programa piloto terão<br />
priorização ou não sobre o rateio<br />
da inadimplência da liquidação financeira<br />
da CCEE.<br />
A proposta de resolução da<br />
Aneel não prevê priorização, atitude<br />
apoiada pela CCEE que, segundo<br />
Dornellas, vê como falta de isonomia<br />
de tratamento a outros que<br />
estão também sofrendo com a alta<br />
inadimplência do mercado de curto<br />
prazo (MCP). “Há muitos pleitos<br />
e não seria justo não conceder<br />
aos demais”, diz. Para ele, o melhor<br />
Dornellas, da CCEE: Espera sobre<br />
prioridade de consumidores na<br />
liquidação financeira<br />
Medeiros, da Abraceel:<br />
comercializadores como<br />
agregadores de carga<br />
é esperar que seja logo implementada<br />
a medida provisória que fará<br />
acordo com as elétricas protegidas<br />
judicialmente contra perdas causadas<br />
pelo risco hidrológico do setor,<br />
fonte da inadimplência nas liquidações<br />
da CCEE.<br />
Mas outros não veem dessa forma<br />
e até temem que essa falta de<br />
prioridade na liquidação afete o<br />
andamento do projeto piloto. “Sugerimos<br />
que criem um mecanismo<br />
como o usado para liquidação<br />
de energia de reserva porque, caso<br />
contrário, a oferta de resposta da<br />
demanda pode ser pequena ou nula”,<br />
afirma Camila, da Abrace. Para<br />
ela, sem garantia de recebimento,<br />
a indústria, que não tem a venda<br />
de energia como seu core business,<br />
não vai querer participar dos leilões<br />
e nem se arriscar a ser credora.<br />
O ONS também tem opinião<br />
contrária a sujeitar os participantes<br />
do programa piloto ao rateio da<br />
inadimplência do MCP. Em sua contribuição<br />
à audiência pública o operador<br />
“entende que, ao menos durante<br />
a fase piloto, quando se deseja<br />
conhecer a capacidade de os consumidores<br />
participarem do PDP ofertando<br />
redução de demanda, os consumidores<br />
não deveriam participar<br />
do processo de rateio. Ressalta-se<br />
ainda que o consumidor não é um<br />
agente de geração e seu negócio não<br />
é produção de energia, mas sim o de<br />
oferecer voluntariamente sua redução<br />
de demanda (...). Se não for garantido<br />
a ele a remuneração, é provável<br />
que não vá participar das ofertas”,<br />
ressalta o texto do operador.<br />
Além das liquidações, a CCEE vai<br />
também fazer a gestão e o monitoramento<br />
da redução de consumo para<br />
efetuar o pagamento aos consumidores.<br />
Para isso, farão o baseline do<br />
consumo histórico dos participantes,<br />
para aferir se realmente houve a<br />
redução equivalente ao ofertado ao<br />
operador. Além disso, a câmara também<br />
fará a análise das informações e<br />
sua divulgação, através do site na internet.<br />
Depois da fase piloto, caberá<br />
também à CCEE usar os dados da<br />
RD para a formação de preços.<br />
Agregador de carga<br />
Pela nota técnica da Aneel do<br />
programa piloto (100/2017-SRG/<br />
Aneel), somente os consumidores livres<br />
de alta tensão A1 localizados no<br />
36 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
ENTENDA COMO FUNCIONA<br />
Norte e Nordeste podem participar<br />
da primeira experiência. A Abrace<br />
gostaria que ele fosse estendido<br />
até os consumidores A3 e envolvesse<br />
o mercado cativo. Mas a própria<br />
CCEE acredita que pelo menos nos<br />
18 meses da fase piloto esse limite,<br />
principalmente a consumidores livres<br />
e parcialmente livres, faz sentido,<br />
porque a câmara teria dificuldades<br />
técnicas para gerir a liquidação<br />
dos cativos, por não ter informações<br />
deles para realizar a contabilização<br />
e liquidação, segundo ressaltou Carlos<br />
Dornellas.<br />
Outra alternativa sugerida para<br />
ampliar o alcance do programa<br />
foi dada pela Associação Brasileira<br />
dos Comercializadores de Energia<br />
(Abraceel). Dessa vez, a ideia,<br />
segundo explica o presidente da<br />
Abraceel, Reginaldo Medeiros, é<br />
permitir que os comercializadores<br />
participem como agregadores de<br />
carga, figura que existe na maioria<br />
dos mercados maduros de energia<br />
em programas de RD.<br />
Nesse caso, os comercializadores<br />
poderiam ir ao mercado para<br />
constituir portfólio de cargas habilitadas<br />
para resposta da demanda,<br />
não importando se fossem livres ou<br />
cativos. A oferta, com as cargas reunidas<br />
de vários consumidores, dentro<br />
dos limites mínimos estabelecidos<br />
de 5 MW médios, participaria<br />
dos leilões como um único produto.<br />
“Isso geraria economias de escala”,<br />
diz Medeiros.<br />
Para o dirigente, com a intermediação<br />
de um agente na busca<br />
por consumidores haveria mais liquidez<br />
de produtos e a oferta seria<br />
maior nos leilões, melhorando<br />
a competitividade e diminuindo os<br />
custos globais do sistema. “Também<br />
simplificaria a operação para<br />
o ONS e CCEE, pois monitoramento,<br />
contabilização, liquidação e<br />
eventuais penalidades seriam para<br />
apenas um bloco de oferta”, completa.<br />
Além disso, segundo o presidente<br />
da Abraceel, tornaria mais<br />
possível a participação dos consumidores<br />
regulados, pois a operação<br />
seria com base nos dados do<br />
agregador, integrante da CCEE.<br />
Dornellas, porém, acredita que pelo<br />
menos na fase piloto seria melhor<br />
não abrir ainda o escopo para<br />
os comercializadores. “É melhor<br />
entendermos melhor com funciona<br />
na prática a RD, o que precisa ser<br />
feito o mais rápido possível como<br />
forma de otimizar o despacho do<br />
sistema”, finaliza. n<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 37
NADA SE PERDE<br />
Resíduos e descartes para a geração de energia<br />
por Marcelo Furtado<br />
WTE: Brasil deveria seguir o exemplo da China<br />
Usina de WTE<br />
Shenzen, na China,<br />
a maior do mundo:<br />
planejamento<br />
baniu aterros<br />
sanitários no país<br />
asiático<br />
Para tornar mais viável a implantação de usinas de waste-<br />
-to-energy a partir do lixo doméstico no país, o Brasil deveria<br />
seguir o caminho da China, que depois de um planejamento<br />
iniciado há 15 anos para banir seus aterros sanitários hoje incinera<br />
34.3% dos seus resíduos domésticos em 190 usinas, o<br />
equivalente a 200 mil t por dia de lixo, gerando 80 GWh de<br />
energia por dia (potência média de 3,3 GW).<br />
O modelo da China – que por sua vez apenas seguiu o realizado<br />
uma década antes pelos mais desenvolvidos europeus<br />
– se explica tanto pela similaridade do problema causado por<br />
aterros e lixões em ambos os países, com contaminações gravíssimas<br />
de solo e geração incontrolável de chorume, como<br />
pelas dificuldades enfrentadas para implantação das usinas,<br />
também lá similares de início às vividas hoje pelos pioneiros<br />
interessados em colocar em operação o WTE no Brasil (a saber:<br />
a URE Barueri, em São Paulo, que adia constantemente<br />
sua implantação).<br />
Segundo explica Sérgio Guerreiro, o presidente da Waste<br />
to Energy Research and Technology Council (WTERT) Brasil,<br />
associação internacional ligada a universidades e empresas da<br />
área, para viabilizar as usinas, além do planejamento e aumento<br />
de restrição ambiental e legal a aterros, a China mexeu no<br />
custo operacional das unidades nas duas pontas do negócio:<br />
na taxa cobrada para a incineração do lixo e no valor da energia<br />
vendida. “É o mesmo problema daqui: as cidades são resistentes<br />
a pagar o valor necessário para a destruição do lixo<br />
e o preço da energia, com os impostos, não cobre o investimento”,<br />
explica Guerreiro.<br />
Para fechar a conta, os chineses conseguiram diminuir a taxa<br />
do lixo, para não onerar a população das cidades, que precisariam<br />
pagar por isso com aumento de impostos, a no máximo<br />
US$ 20 a tonelada incinerada. Na outra ponta, fixaram o<br />
valor da energia a uma média mínima de US$ 100/MWh. Na<br />
sua análise, com a conversão para o real estes seriam os valores<br />
ideais para deixar projetos como o de Barueri em pé: de<br />
R$ 50 a R$ 60/t para a destinação do lixo e R$ 350/MWh para<br />
a energia. Vale acrescentar que o projeto paulista se baseia<br />
em R$ 110/t e a energia a R$ 311/MWh (que foi negociada<br />
com a Cemig em contrato de fornecimento de 15 anos).<br />
O valor cobrado pela destinação do lixo, para Guerreiro,<br />
precisa ser equacionado com as cidades do entorno (aliás há uma<br />
intenção de Barueri, intermediada pelo governo estadual, de negociar<br />
um preço factível pelo serviço com o consórcio de cidades<br />
vizinhas, o Cioeste). No caso brasileiro, assim como foi para o<br />
chinês, trata-se aí de equação fundamental, tendo em vista que<br />
a situação econômica não suportaria aumento de impostos municipais<br />
para custear o valor cobrado pelo WTE. “Hoje as cidades<br />
estão com as finanças quebradas e devem até para os aterros,<br />
que cobram metade do valor de uma usina”, diz.<br />
Já pelo lado da energia, para Guerreiro, a solução seria isentar<br />
de PIS e Cofins e outros encargos a energia gerada do lixo, que<br />
tem papel muito superior ao de apenas agregar carga ao sistema.<br />
“Não se pode encarar o WTE como uma simples nova alternativa<br />
energética, concorrendo com outras fontes, mas como uma<br />
solução para o grave problema ambiental que é o lixo, como aliás<br />
todos os países desenvolvidos fazem”, explica. Na mesma linha,<br />
o limite de descontos no fio para usinas até 30 MW, na sua opi-<br />
38 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
nião, não faz sentido. “Na Europa, na<br />
China e nos Estados Unidos, o mais<br />
comum é ter usinas para tratar de<br />
2 mil a 3 mil t/dia, com capacidade<br />
para até 70 MW”, completa. O motivo<br />
é óbvio: quanto maior a capacidade<br />
da planta de WTE, maiores<br />
serão os ganhos de escala. O projeto<br />
de de Barueri tem capacidade<br />
para tratar 825 t/dia e potência<br />
instalada de 20 MW.<br />
Barreiras culturais<br />
Além das questões financeiras<br />
que precisam ser resolvidas para<br />
manter em pé os projetos de<br />
WTE, Guerreiro também vê barreiras<br />
culturais e até mesmo ideológicas<br />
para serem superadas no<br />
Brasil. Acostumado a ouvir inverdades<br />
sobre a tecnologia país afora,<br />
a última delas, diz, tem encontrado<br />
eco até em alguns pesquisadores.<br />
Para estes, a maioria biólogos,<br />
seria um sacrilégio mandar<br />
resíduos orgânicos para os incineradores,<br />
o que é largamente feito<br />
no Exterior. Na verdade, a Europa,<br />
através de norma diretiva para a<br />
comunidade (2008/98/CE), diz o<br />
contrário: os orgânicos precisam<br />
ser removidos antes de irem para<br />
os aterros, justamente para evitar<br />
a geração de chorume e contaminação<br />
dos solos. Já os incineradores<br />
não têm limitações e são a solução<br />
seguinte, para a hierarquia oficial<br />
de tratamento de resíduos europeia,<br />
depois da redução de geração<br />
de resíduos, da reciclagem e<br />
da compostagem anaeróbica e aeróbica<br />
de materiais separados na<br />
fonte, ou seja, qualquer lixo já contaminado<br />
(a maior parte dele) o caminho<br />
é o forno do WTE.<br />
Usina no México<br />
Enquanto o Brasil não se decide, a cidade<br />
do México começou a implantar neste<br />
ano aquela que será uma das maiores usinas de<br />
waste to energy do mundo. A francesa Veolia<br />
ganhou concorrência por meio da qual ela<br />
vai construir e operar por 30 anos uma usina<br />
que vai destruir 1.6 milhão de toneladas ano<br />
de resíduos domésticos da capital mexicana,<br />
o equivalente a um terço de todo o lixo da<br />
megalópole. Serão gerados 965 GWh de eletricidade<br />
anualmente, consumidos pelo sistema<br />
do metrô da cidade. A previsão é a planta<br />
entrar em operação em 2020 e sua construção<br />
vai empregar 3 mil trabalhadores.<br />
“Busão” verde<br />
A SPTrans, empresa responsável pelo<br />
transporte urbano em São Paulo, está preparando<br />
edital de renovação de frota (há 15 mil<br />
ônibus na cidade) com base em metas de reduções<br />
de emissões de gases do efeito estufa.<br />
Inicialmente, o foco era incentivar o uso de<br />
veículos a biodiesel, em um programa de substituição<br />
gradual. Mas depois de uma aproximação<br />
com a Abiogás a SPTrans decidiu não mais<br />
especificar um combustível renovável no edital,<br />
abrindo espaço para a participação de ônibus<br />
movidos a biometano.<br />
Saída à paulista<br />
O governo de São Paulo formata um programa<br />
de gestão de lixo doméstico, com metodologia<br />
de implantação e intermediação financeira<br />
para qualquer cidade interessada do<br />
estado, que deverá estimular o aproveitamento<br />
energético dos resíduos. A ideia é fomentar<br />
soluções regionalizadas nos cerca de<br />
60 consórcios intermunicipais que contemplem<br />
centrais comuns de tratamento de resíduos<br />
que produzam combustíveis derivados<br />
de resíduos urbanos (CDRUs) ou mesmo centrais<br />
térmicas. O objetivo é facilitar o acesso a<br />
soluções que para municípios de menor porte<br />
(92% dos 645 municípios paulistas têm menos<br />
de 50 mil habitantes) são muito caras. Em consórcios,<br />
e com o apoio do estado, a saída parece<br />
facilitada.<br />
Lixo Gerando Energia<br />
PARA UMA<br />
ECONOMIA<br />
CIRCULAR<br />
SUSTENTÁVEL<br />
Visite-nos para uma consulta inicial:<br />
babcock.com/energia<br />
ENERGIA | AMBIENTAL<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 39
SOLUÇÕES por Marcelo Furtado<br />
Embasa economiza R$ 12 milhões<br />
O PROBLEMA<br />
Embora grandes consumidores<br />
de energia, poucas<br />
companhias de saneamento<br />
fazem parte do mercado livre. A<br />
explicação mais plausível é o fato de boa<br />
parte delas estarem nas mãos dos estados,<br />
reconhecidamente mais lentos e despreocupados<br />
em tomar decisões para melhorar<br />
a competitividade operacional. Algumas<br />
dessas empresas, porém, começam a acordar<br />
para os ganhos em aderir ao Ambiente<br />
de Contratação Livre (ACL). E esse foi o<br />
caso da Empresa Baiana de Águas e Saneamento,<br />
a Embasa..<br />
A SOLUÇÃO<br />
Em 2015, a concessionária<br />
estadual baiana<br />
começou os estudos de<br />
viabilidade para migração, contratou<br />
consultoria em 2016 e entrou para o<br />
mercado livre, em parte de suas unidades,<br />
em janeiro de 2017.<br />
O RESULTADO<br />
Os primeiros sete meses<br />
no ACL de seis unidades<br />
consumidoras gerou<br />
economia de R$ 12 milhões na conta.<br />
40 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
em 10 meses no ACL<br />
Estação de tratamento da<br />
Embasa: economia de<br />
R$ 12 milhões em sete meses<br />
Boa parte das companhias estaduais<br />
de saneamento do país,<br />
responsáveis por mais de 70%<br />
dos serviços de água e esgoto no<br />
país, sofrem com problemas de<br />
gestão e eficiência. Prova disso é<br />
que 35 milhões de habitantes ainda<br />
não têm acesso à água tratada<br />
e 100 milhões estão excluídos<br />
dos serviços de coleta de esgoto,<br />
sendo que do volume coletado<br />
apenas 42% são tratados.<br />
Essa ineficiência externa, logicamente,<br />
se reflete na gestão interna<br />
operacional das companhias,<br />
que são muito pouco competitivas<br />
quando se analisam os custos<br />
principais de uma empresa do setor.<br />
Em sua maioria, elas gastam<br />
mal com mão de obra, com matéria-prima,<br />
equipamentos e sistemas<br />
para tratamento, captação e distribuição<br />
e, logicamente, com energia,<br />
que responde pelo menos pelo<br />
segundo ou mesmo pelo primeiro<br />
fator de custo operacional.<br />
Aos poucos, porém, algumas<br />
companhias começam a fazer<br />
a lição de casa para melhorar a<br />
gestão e, no caso da energia, vão<br />
atrás de medidas de eficiência<br />
energética e, em raros mas importantes<br />
exemplos, buscam soluções<br />
mais complexas para economizar<br />
com a conta. Isso nos<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 41
SOLUÇÕES<br />
últimos anos significa principalmente estudar a<br />
migração para o mercado livre de energia, algo que<br />
pode ser considerado muito novo para o setor de<br />
saneamento.<br />
Um exemplo disso ocorreu na Empresa Baiana<br />
de Águas e Saneamento, a Embasa, companhia do<br />
governo da Bahia que atende 11,9 milhões de pessoas<br />
com água e 4,8 milhões com esgotamento sanitário,<br />
em 366 municípios. A partir de 2015, segundo<br />
explica o coordenador de política energética,<br />
Thiago Oliveira, a equipe técnica de energia começou<br />
a fazer estudos de viabilidade internamente.<br />
Em maio de 2016, foi contratada consultoria especializada<br />
que conduziu o assessoramento na migração<br />
e gestão junto à CCEE.<br />
A migração de fato começou em janeiro de 2017<br />
em seis unidades consumidoras. Três entraram como<br />
consumidoras livres (acima de 3 MW) – Pedra do Cavalo,<br />
ETA Principal e ETA Bolandeira – três como especiais<br />
(500 kW até 3 MW) – ETA de Feira de Santana,<br />
Espaço Alpha-Camaçari e R7-Cabula.<br />
Com contratos firmados para cinco anos, na<br />
média das unidades migradas nos primeiros meses<br />
o custo da energia ficou em R$ 200/MWh, contra<br />
uma média de R$ 250 a R$ 300/MWh das tarifas<br />
cobradas pela Coelba. Isso deu uma economia de<br />
janeiro a outubro de 2017 nas seis unidades de R$<br />
12 milhões. Para Oliveira, os ganhos de até 20%<br />
nos gastos são ainda mais significativos ao se considerar<br />
que a companhia no mercado cativo ainda<br />
tem descontos de 15% nas tarifas. Se não tivesse,<br />
portanto, a comparação seria ainda mais favorável<br />
à migração.<br />
E a margem para lucrar ainda mais no ACL no<br />
futuro é muito grande. A Embasa tem hoje uma carga<br />
média de 88 MW médios, sendo que somente<br />
29 MW médios foram migrados. “Como o PLD hoje<br />
está inviável para a migração, estamos apenas monitorando<br />
os preços de médio e longo prazos para<br />
tomar novas decisões”, diz Oliveira. Os 59 MW médios<br />
restantes atualmente são classificados como<br />
consumidores especiais (carga inferior a 3 MW e<br />
tensão de fornecimento em 13,8 KV) e, portanto, só<br />
Em 2016, a Embasa em 2016<br />
registrou um consumo de<br />
758,3 GWh e um gasto com energia<br />
elétrica de pouco mais de R$ 211<br />
milhões. Em 2017, a estimativa é<br />
se atingir 769 GWh, para uma<br />
despesa de R$ 226 milhões.<br />
podem adquirir energia de fontes renováveis. “Esse<br />
é um ponto ainda motivador para migrarmos no futuro<br />
mais unidades”, completa.<br />
A economia obtida em 2017 ficou muito acima<br />
do projetado em razão do acionamento de bandeiras<br />
tarifárias, que não foram consideradas nos estudos<br />
de viabilidade. Somente com esse item a Embasa<br />
deixou de gastar R$ 4,024 milhões neste ano.<br />
Outra grande vantagem para a empresa ao migrar<br />
para o ACL, continua o coordenador, foi a possibilidade<br />
de operar no horário de ponta sem diferença<br />
de custos. A exceção nesse caso é a ETA de Feira<br />
de Santana que, por ser A4-Verde, tem diferenciação<br />
no encargo da ponta. Mas ainda assim obtém-se<br />
40% de desconto nesse encargo e 50% de desconto<br />
na tarifa de demanda por causa da migração. Isso<br />
fez com que se aumentasse o tempo de operação<br />
das unidades operacionais em 14%, aumentando o<br />
volume de água ofertado sem elevar os custos.<br />
A Embasa em 2016 registrou um consumo de<br />
758,3 GWh e um gasto com energia elétrica de pouco<br />
mais de R$ 211 milhões. Em 2017, a estimativa é<br />
se atingir 769 GWh, para uma despesa de R$ 226 milhões.<br />
Atualmente energia elétrica é a segunda maior<br />
despesa da companhia, ficando atrás somente das despesas<br />
com pessoal. n<br />
42 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
NOMES<br />
Wagner Fortes foi promovido<br />
na State Grid para o<br />
cargo de subgerente de Meio<br />
Ambiente. Ele ocupava o cargo<br />
de coordenador ambiental<br />
na companhia, onde está desde<br />
junho do ano passado. Fortes<br />
é bacharel em Ciências Biológicas<br />
pela UFF-RJ, com mestrado<br />
em Biologia Marinha e<br />
Oceanografia Biológica, também<br />
pela UFF, e MBA em Gestão<br />
de Projetos pelo Ibmec-RJ.<br />
Ele já atuou na Concremat e na<br />
Ambientare Soluções em Meio<br />
Ambiente.<br />
Encerrado em novembro<br />
o mandato de José Juhrosa<br />
Junior na diretoria da Aneel,<br />
posto que ocupava há quatro<br />
anos e poderia ser reconduzido,<br />
mas os sinais do governo,<br />
até o momento não são pela<br />
recondução. Juhrosa cumprirá<br />
período de quarentena obrigatória.<br />
Marco Delgado, diretor<br />
da Abradee, e Rodrigo<br />
Limp, consultor legislativo da<br />
Câmara dos Deputados, entre<br />
outros nomes, estão cotados<br />
para a vaga.<br />
O diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, Luiz<br />
Fernando Vianna (esq.), assumiu uma vaga criada<br />
no conselho de administração do ONS voltada para<br />
o representante de notório saber, para a sociedade<br />
civil. Dois novos assentos foram<br />
criados a partir de um decreto do<br />
MME publicado em agosto, passando de 14 para 16<br />
membros. O outro novo integrante do conselho é a<br />
EPE, que terá como representante o presidente da instituição,<br />
Luiz Augusto Barroso (dir.).<br />
O Presidente da EDP Brasil, Miguel Setas, foi condecorado<br />
com o Grande Oficialato da Ordem do Mérito<br />
Empresarial da República Portuguesa, na classe comercial.<br />
O executivo, que está no Brasil há dez anos,<br />
recebeu a distinção pelas mãos do embaixador de<br />
Portugal no Brasil, Jorge Cabral, em novembro.<br />
O novo diretor da ANP Dirceu Amorelli Júnior foi empossado em novembro<br />
no Rio de Janeiro, depois de ter sua sabatina aprovada<br />
pelos senadores. Amorelli assumiu as superintendências<br />
de Promoção de Licitações, Participações Governamentais<br />
e de Segurança Operacional e Meio-<br />
-Ambiente, além do Núcleo de Fiscalização da Medição<br />
da Produção de Petróleo e Gás Natural.<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 43
EMPRESAS<br />
Usina do<br />
Complexo<br />
Parnaíba: Eneva<br />
paga US$ 54,5 mi<br />
por campo de<br />
Azulão e deve<br />
implantar térmica<br />
Eneva adquire campo<br />
de gás e estuda térmica<br />
A Eneva adquiriu da Petrobras<br />
o campo de gás natural de Azulão,<br />
no Amazonas, por US$ 54,5<br />
milhões. A operação depende de<br />
aprovação pela ANP e pelo Cade.<br />
A empresa estuda implementar<br />
uma termelétrica na proximidade<br />
do campo, recorrendo à tecnologia<br />
reservoir-to-wire, assim como<br />
acontece com as usinas do Complexo<br />
Parnaíba, no Maranhão. A<br />
operação faz parte do plano de<br />
desinvestimentos da Petrobras.<br />
Cade tem mais 90 dias para<br />
concluir venda da Liquigás<br />
O Cade deve analisar até março a venda da Liquigás pela Petrobras para<br />
a Ultragaz, do grupo Ultra. A subsidiária de GLP da petroleira estatal já teve<br />
parecer contrário da superintendência-geral do conselho, e a definição está<br />
nas mãos do tribunal do órgão.<br />
BNDES abre data room de<br />
distribuidoras da Eletrobras<br />
O BNDES abriu no fim de novembro o data room das distribuidoras da<br />
Eletrobras, em versão física e virtual. O processo deve ocorrer até abril e<br />
envolve as distribuidoras Amazonas Energia, Boa Vista Energia, Ceron, Eletroacre,<br />
Ceal e Cepisa.<br />
44 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
ONS tem nova estrutura organizacional<br />
O ONS anunciou a nova estrutura organizacional da instituição, a<br />
fim de promover aumento da eficiência e eficácia operacional. Entre<br />
as mudanças, a diretoria-geral deixa de ter responsabilidades<br />
sobre temas operacionais, passando a ter foco sobre orientação estratégica<br />
e articulação institucional.<br />
EDP vai estudar inteligência<br />
artificial no setor elétrico<br />
A EDP iniciou em novembro projeto de P&D para sistemas de<br />
inteligência artificial aplicados à distribuição. A empresa investirá<br />
R$ 8,3 milhões para pesquisar os impactos da automação de processos<br />
com o uso de robôs de última geração. O projeto contará com<br />
a participação da EY (antiga Ernest & Young) e da USP.<br />
O plano inclui a implantação de um observatório de tecnologias<br />
disruptivas, no qual serão analisados impactos na formação e gestão<br />
da força de trabalho.<br />
EDF inicia operação de<br />
usina solar de 400 MWp...<br />
A EDF EN colocou em operação comercial a<br />
usina solar Pirapora, que disputa com a Enel, que<br />
vai iniciar operação de uma unidade no Piauí com<br />
quase 1 milhão de painéis, o título de maior usina<br />
solar da América do Sul. A usina possui 400 MWp<br />
de capacidade instalada, mas inicialmente serão<br />
operados cerca de 280 MWp.<br />
... e Canadian Solar contabiliza<br />
1 milhão de paineis nacionais<br />
Com a entrega do parque solar da EDF, a Canadian<br />
Solar contabilizou a marca de 1 milhão de<br />
módulos nacionalizados, com o comissionamento<br />
dos primeiros 284 MWp para o projeto Pirapora.<br />
ABB lança plataforma global<br />
de serviços digitais no Brasil<br />
A ABB lançou oficialmente no Brasil sua plataforma<br />
de serviços digitais, a Ability - que já<br />
havia sido anunciada globalmente há alguns meses.<br />
A empresa espera faturar globalmente cerca<br />
de US$ 20 bilhões por ano - a fatia da América<br />
Latina para essa receita ficaria abaixo de<br />
10%.<br />
O Brasil é visto como um país promissor para<br />
a empresa, diante do potencial de digitalização<br />
de redes. Segundo o presidente global da<br />
ABB, Ulrich Spiesshofer, o crescimento virá nos<br />
segmentos de energia renovável, mobilidade<br />
elétrica e geração de energia, além de setores<br />
industriais que ainda não possuem elevado grau<br />
de automação, como mineração.<br />
Gastrading recorre à Justiça<br />
para garantir térmica<br />
A Gastrading entrou com uma ação judicial contra a<br />
Câmara Municipal de Peruíbe (SP) para tentar garantir a<br />
construção de térmica a gás de 1,7 GW de capacidade<br />
instalada, vinculada a um terminal de regaseificação de<br />
gás natural liquefeito (GNL) no litoral paulista. No início<br />
de novembro, os vereadores aprovaram projeto de lei<br />
que proíbe a construção de empreendimentos que possam<br />
causar impactos ambientais na região.<br />
Segundo a Gastrading, a proposta fere o processo de<br />
licenciamento ambiental, que é realizado desde 2015. A<br />
dona do projeto trava uma queda de braço com a administração<br />
municipal porque uma parcela da cidade avalia<br />
que a construção da térmica e do terminal de GNL pode<br />
causar danos ambientais na região, de atração turística,<br />
por causa das praias e da visitação ecológica. A fase de audiências<br />
públicas ainda não foi concluída.<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 45
CONSUMIDOR por Fabio Couto<br />
Rede de supermercados no Paraná<br />
investe em fotovoltaica e LED<br />
A rede de supermercados Condor inaugurou em<br />
novembro uma unidade em Curitiba equipada com<br />
um sistema de microgeração solar composto por mais<br />
de 1.400 paineis, capazes de gerar mais de 50 MWh/<br />
mês. A unidade é capaz de suprir o equivalente a 35%<br />
do consumo da loja. A nova unidade conta ainda com<br />
iluminação composta por lâmpadas LED com sistema<br />
dimerizável (que ajusta a luminosidade em função da<br />
luz natural) e sistema de captação de água da chuva.<br />
Filial do Supermercados<br />
Condor: R$ 40 milhões em<br />
loja sustentável<br />
STF deve julgar ação sobre<br />
seletividade do ICMS<br />
Uma ação do escritório Gaia Silva Gaede Advogados está à espera<br />
de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, relativa à seletividade<br />
da cobrança do ICMS sobre tarifas de energia elétrica e serviços de<br />
telecomunicações. A ação indica que, de acordo com a Constituição,<br />
produtos e serviços essenciais deveriam ter menor carga tributária, enquanto<br />
produtos mais supérfluos possuem alíquotas mais baixas. Rio de<br />
Janeiro e Santa Catarina são dois estados apontados pelo escritório como<br />
exemplos de cobrança elevada do tributo.<br />
TVs terão Selo Procel<br />
O Programa Nacional de Conservação de<br />
Energia Elétrica (Procel) lançou o Selo Procel<br />
para televisores que estejam no modo ativo.<br />
O programa estima que o potencial técnico<br />
de economia com a concessão do Selo Procel<br />
para televisores no modo ativo é de aproximadamente<br />
544 GWh/mês ou 6.524 GWh/<br />
ano. O montante corresponde a um consumo<br />
de 3,3 milhões de residências brasileiras.<br />
A medida acontece no momento em que o<br />
setor elétrico realiza campanha de conscientização<br />
do uso da energia, diante do baixo nível<br />
de armazenamento dos reservatórios.<br />
Fatura de energia:<br />
cobrança de ICMS nas<br />
contas de luz questionada<br />
Sil recebe certificação por<br />
consumo de energia renovável<br />
A Comerc e a Sinerconsult certificou em<br />
novembro a Sil Fios e Cabos Elétricos por<br />
consumir voluntariamente energia renovável<br />
ao longo de 2016, evitando o lançamento de<br />
651,54 toneladas de CO2. A certificação refere-se<br />
ao consumo pela fábrica da empresa<br />
em Guarulhos (SP). A Sil afirmou que tem como<br />
meta aumentar o consumo de energia renovável<br />
na operação diária.<br />
46 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Light investe R$ 20 milhões<br />
em projetos de<br />
eficiência energética<br />
A Light disponibilizou, em chamada<br />
pública, cerca de R$ 20 milhões, destinados<br />
prioritariamente para projetos<br />
diferenciados, inovadores e com múltiplos<br />
usos finais para projetos de eficiência<br />
energética, com recursos do Programa<br />
de Eficiência Energética (PEE) da<br />
Aneel.<br />
A empresa lançou também um sistema<br />
informatizado, construído em cooperação<br />
com a Abradee, que reduzirá<br />
significativamente o tempo de tramitação<br />
dos projetos na distribuidora. O<br />
prazo para recebimento dos projetos<br />
encerra-se em janeiro.<br />
ÍNDICES DE PREÇOS FUTUROS | BBCE<br />
Boletim Semanal da Curva Forward<br />
Os índices apresentados neste boletim são calculados com base nas métricas do<br />
Pool de preços apuradas semanalmente pela Dcide utilizando as referências da<br />
curva Forward de energia elétrica dos agentes mais comercialmente ativos.<br />
Índice Dcide<br />
23-11-2017 / Semana 47<br />
Fonte: BBCE<br />
Unesp ganha programa<br />
de gestão energética<br />
A Unesp e a Secretaria de Energia<br />
de São Paulo assinaram em novembro<br />
protocolo de intenções para a criação<br />
de um programa de gestão energética<br />
que prevê economia anual de R$ 5<br />
milhões para a universidade. O programa<br />
prevê estudos de viabilidade para<br />
a migração da universidade para o mercado<br />
livre e para a adoção de medidas<br />
de eficiência energética. A Unesp gasta<br />
R$ 28 milhões com energia elétrica<br />
por ano.<br />
Índices Curva Forward<br />
1 Reflete o preço de referência da energia, na respectiva fonte, de Dezembro/2017 a Fevereiro/2018 (trimestre móvel)<br />
1 Reflete 2 Reflete o preço o preço de médio referência de referência da energia de energia, na respectiva na respectiva fonte fonte, de de janeiro 2019 a 2022 março/2015 (longo prazo). (trimestre móvel)<br />
2 Reflete Fonte: o Pesquisa preço médio de preços de referência Dcide 21-11-2017. de energia na respectiva fonte de 2016 a 2019 (longo prazo)<br />
Fonte: Dcide<br />
Na 47ª semana de 2017, os índices Trimestrais registraram novamente importantes quedas para ambas<br />
as fontes de energia Convencional e Incentivada 50%, enquanto os índices de Longo Prazo registraram<br />
pequenas variações negativas para ambas as fontes de energia.<br />
PREÇO (R$/MWh)<br />
PLD Médio SE/CO<br />
Índice<br />
R$/MWh<br />
Variação<br />
Semanal<br />
Variação<br />
Mensal<br />
Variação<br />
Anual<br />
Convencional Trimestre¹ 195,73 -8,07% -37,28% 24,58%<br />
Convencional Longo Prazo² 158,67 -0,68% -1,70% 3,07%<br />
Incentivada 50% Trimestre¹ 256,74 -6,57% -29,41% 38,09%<br />
Incentivada 50% Longo Prazo² 204,23 -1,42% -1,63% 8,88%<br />
PLD da semana (SE ponderado) 449,83 -6,61% -15,73% <br />
164,76%<br />
600 O índice Trimestral para a fonte Convencional, que agrega os produtos de Dezembro/2017 a<br />
Fevereiro/2018 (Índice Convencional Trimestre), foi medido como R$ 195,73/MWh, apresentando reduções<br />
500<br />
de 8,07% na semana, 37,28% em relação ao índice medido no mesmo período do mês anterior, porém com<br />
400 aumento de 24,58% quando comparado ao número índice do mesmo período no ano passado. De forma<br />
similar, o índice Incentivada 50% Trimestre foi medido como R$ 256,74/MWh, registrando quedas de 6,57%<br />
300<br />
na semana, e de 29,41% no mês, mas ainda com avanço 38,09% quando comparado ao mesmo período no<br />
200 ano de 2016.<br />
100<br />
O preço de referência para energia Convencional nos próximos quatro anos (2019 a 2022+) foi medido<br />
0 como R$ 158,67/MWh (Índice Convencional Longo Prazo), apresentando variações negativas de 0,68% na<br />
semana, e de 1,7% no mês, mas com aumento de 3,07% quando comparado ao número índice do mesmo<br />
período no ano passado. De forma semelhane, o índice de energia Incentivada 50% Longo Prazo, foi<br />
medido como R$ 204,23/MWh, e registrou variações negativas de 1,42% na semana, e de 1,63% em relação<br />
ao mês anterior, porém ficando 8,88% acima na comparação anual do índice.<br />
jan/16<br />
fev/16<br />
mar/16<br />
abr/16<br />
mai/16<br />
jun/16<br />
jul/16<br />
ago/16<br />
set/16<br />
out/16<br />
nov/16<br />
dez/16<br />
jan/17<br />
fev/17<br />
mar/17<br />
abr/17<br />
mai/17<br />
jun/17<br />
jul/17<br />
ago/17<br />
Se considerados apenas os preços dos componentes comuns aos índices de Longo Prazo desta semana<br />
e de seus pares no ano anterior, temos variações anuais superiores às apontadas na tabela, com<br />
crescimento anual de 6,05% para fonte Convencional e de 11,37% para a fonte Incentivada 50%.<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 47<br />
A disponibilização deste relatório é feita exclusivamente a critério da Dcide Ltda. e qualquer reprodução<br />
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INDICADORES<br />
Os preços de empate do mercado livre<br />
PREÇOS DE EMPATE [R$/MWH] (Julho)<br />
A4 AZUL A4 VERDE<br />
Fonte: Tradener<br />
A3a<br />
CONCESSIONÁRIA<br />
Incentivadas<br />
Incentivadas<br />
Incentivadas<br />
Convencional<br />
Convencional<br />
Convencional<br />
50% 100% 50% 100% 50% 100%<br />
AES SUL 258,07 299,74 341,42 258,07 310,38 362,70 - -<br />
AME 261,49 297,27 333,05 261,49 306,37 351,25 - -<br />
AMPLA 245,36 308,48 371,60 245,36 323,23 401,11 245,36 308,48<br />
EDP - SP (BANDEIRANTE) 292,97 325,79 358,61 292,97 333,63 374,29 292,97 325,79<br />
BRAGANTINA (ESS) 241,72 291,23 340,74 241,72 302,79 363,87 241,72 291,23<br />
CEAL 255,38 306,44 357,51 255,38 318,26 381,14 - -<br />
CEB 283,45 319,69 348,65 290,74 326,46 362,19 290,74 319,69<br />
CEEE 219,66 263,83 308,00 219,66 274,03 328,41 - -<br />
CELESC 283,45 322,17 360,90 283,45 331,37 379,30 283,45 322,17<br />
CELG 232,96 277,91 322,86 232,96 288,41 343,86 232,96 277,91<br />
CELPA 251,65 348,65 445,64 251,65 370,41 489,16 251,65 348,65<br />
CELPE 238,29 289,96 341,64 238,29 301,68 365,08 - -<br />
CEMAR 230,70 310,03 389,36 230,70 328,18 425,66 230,70 310,03<br />
CEMIG 252,28 294,48 336,68 252,28 304,00 355,72 252,28 294,48<br />
CEPISA 268,83 311,42 354,02 268,83 321,26 373,70 268,83 311,42<br />
CERON 261,95 296,31 330,67 261,95 304,12 346,28 261,95 296,31<br />
CPFL SANTA CRUZ 240,63 277,32 314,00 240,63 286,01 331,38 240,63 277,32<br />
COELBA 220,37 284,56 348,74 220,37 299,53 378,68 220,37 284,56<br />
COELCE 254,67 295,70 336,74 254,67 305,20 355,74 - -<br />
COPEL 255,30 298,08 340,87 255,30 308,28 361,25 255,30 298,08<br />
COSERN 228,21 276,59 324,97 228,21 287,74 347,27 - -<br />
CPFL PAULISTA 258,54 293,97 329,39 258,54 302,27 345,99 258,54 286,88<br />
CPFL PIRATININGA 288,89 317,28 345,66 288,89 324,14 359,39 - -<br />
ESCELSA 271,04 332,79 394,55 271,04 347,19 423,35 271,04 332,79<br />
ELEKTRO 279,16 330,81 382,46 279,16 343,04 406,91 279,16 330,81<br />
ELETROPAULO 244,59 270,15 295,71 244,72 276,74 308,76 244,59 270,15<br />
EMG 264,68 324,64 384,60 264,68 338,58 412,48 - -<br />
EMT (EX CEMAT) 266,42 319,08 371,73 266,42 331,23 396,05 266,42 319,08<br />
EMS (EX ENERSUL) 249,39 309,34 369,30 249,39 323,11 396,83 249,39 309,34<br />
ENF 256,18 322,12 388,06 256,18 337,19 418,20 - -<br />
EPB 235,05 301,30 367,55 235,05 316,48 397,90 - -<br />
ESE 230,99 282,92 334,85 230,99 294,99 358,98 - -<br />
ETO 246,15 336,96 427,77 246,15 357,93 469,72 246,15 336,96<br />
LIGHT 271,45 313,82 356,19 271,45 324,18 376,92 271,45 313,82<br />
RGE 239,13 280,89 322,66 239,13 290,50 341,88 - -<br />
SULGIPE 222,06 307,11 392,15 222,06 326,69 431,31 - -<br />
SULGIPE 222,06 307,11 392,15 222,06 326,69 431,31 - - -<br />
Observações: Considerado Fator de Carga 0,75 (Ponta e Fora Ponta)para tarifa Azul e 0,55 (Ponta e Fora Ponta) para Tarifa Verde.<br />
As tarifas contemplam a incidência de PIS/COFINS de 5%; Não incluí ESS.<br />
A Brasil Energia publica mensalmente, em parceria<br />
com a comercializadora independente de energia Tradener,<br />
a tabela atualizada dos preços de empate para o<br />
mercado livre. O preço de empate é uma referência usada<br />
para se avaliar a atratividade do ambiente de contratação<br />
livre em relação ao regulado. É o valor exato<br />
no qual o custo da energia para o consumidor livre seria<br />
igual ao do cativo. Ao decidir migrar para o mercado<br />
livre, portanto, o consumidor deve considerar apenas<br />
ofertas de energia que estejam abaixo desse valor.<br />
A tabela abaixo é atualizada sempre que há mudanças<br />
nas tarifas das distribuidoras listadas, seja em função de<br />
reajustes anuais ou de revisões ordinárias e extraordinárias.<br />
Para consultá-la, basta selecionar a distribuidora e o<br />
subgrupo tarifário. Podem migrar para o mercado livre<br />
os consumidores com demanda entre 500 kW e 3 MW,<br />
desde que usem exclusivamente fontes incentivadas, e<br />
aqueles com demanda maior que 3 MW, sem restrições.<br />
48 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
Entenda as tarifas<br />
Classes tarifárias<br />
A1: 230 kV ou mais<br />
A2: 88 a 138 kV<br />
A3: 69 kV<br />
A3a: 30 a 44 kV<br />
A4: 2,3 a 25 kV<br />
Tarifas<br />
Convencional: tarifa de consumo de energia elétrica e de demanda<br />
de potência não variam, independentemente das horas de utilização<br />
do dia e dos períodos do ano.<br />
Horo-sazonal azul: tarifa de consumo varia de acordo com as horas<br />
de utilização do dia e dos períodos do ano; e tarifa de demanda de<br />
potência, de acordo com as horas de utilização do dia.<br />
Horo-sazonal verde: tarifa de consumo varia de acordo com as<br />
horas de utilização do dia e dos períodos do ano, mas tarifa de<br />
demanda de potência é única.<br />
Incentivadas<br />
Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs),<br />
usinas solares, eólicas, térmicas a biomassa<br />
e cogeração qualificada que tenham menos<br />
de 30 MW de potência recebem desconto<br />
de 50% nas tarifas de Uso do Sistema<br />
de Transmissão (TUST) e de Distribuição<br />
(TUSD). Usinas que entraram em operação<br />
antes de 2003 e movidas a biogás têm<br />
direito a 100% de desconto.<br />
A3a VERDE A3 A2<br />
Vigência<br />
Incentivadas<br />
Incentivadas<br />
Incentivadas<br />
Convencional<br />
Convencional<br />
Convencional<br />
(Fim)<br />
50% 100% 50% 100% 50% 100%<br />
- - - 258,07 278,58 299,08 258,07 281,83 305,59 18-abr-18 18-abr-18<br />
- - - 261,49 285,96 310,44 - - - 31-out-18 31-out-17<br />
245,36 331,43 417,50 245,36 284,56 323,76 245,36 266,80 288,24 14-mar-18 14-mar-18<br />
292,97 333,63 374,29 - - - 292,97 312,21 331,46 22-out-18 22-out-17<br />
241,72 309,24 376,75 241,72 261,24 280,77 241,72 257,88 274,04 11-jul-18 11-jul-18<br />
- - - 255,38 278,57 301,76 - - - 27-set-18 27-set-17<br />
290,74 326,46 362,19 - - - 290,74 305,20 319,67 21-out-18 21-out-17<br />
- - - 219,66 232,47 245,29 219,66 232,91 246,16 21-nov-17 21-nov-17<br />
283,45 331,37 379,30 283,45 308,34 333,24 283,45 301,67 319,89 21-ago-18 21-ago-17<br />
232,96 288,41 343,86 232,96 257,02 281,09 232,96 249,48 266,00 21-out-18 21-out-17<br />
251,65 370,41 489,16 251,65 278,41 305,16 251,65 284,50 317,34 6-ago-18 6-ago-17<br />
- - - 238,29 253,24 268,20 - - - 28-abr-18 28-abr-18<br />
230,70 328,18 425,66 230,70 258,05 285,40 - - - 27-ago-18 27-ago-17<br />
252,28 304,00 355,72 252,28 278,32 304,37 252,28 264,62 276,97 27-mai-18 27-mai-18<br />
268,83 321,26 373,70 268,83 291,90 314,97 - - - 27-set-18 27-set-17<br />
261,95 304,12 346,28 261,95 265,64 269,33 - - - 29-nov-17 29-nov-17<br />
240,63 286,01 331,38 240,63 257,84 275,04 - - - 21-mar-18 21-mar-18<br />
220,37 299,53 378,68 220,37 243,01 265,65 220,37 243,46 266,55 21-abr-18 21-abr-18<br />
- - - 254,67 268,61 282,55 - - - 21-abr-18 21-abr-18<br />
255,30 308,28 361,25 255,30 275,86 296,42 255,30 274,02 292,73 23-jun-18 23-jun-18<br />
- - - 228,21 248,36 268,50 228,21 244,79 261,37 21-abr-18 21-abr-18<br />
258,54 278,53 298,51 258,54 289,92 321,30 258,54 277,09 295,64 7-abr-18 7-abr-18<br />
- - - - - - 288,89 306,98 325,07 22-out-18 22-out-17<br />
271,04 347,19 423,35 271,04 309,26 347,48 271,04 290,79 310,55 6-ago-18 6-ago-17<br />
279,16 343,04 406,91 279,16 300,24 321,33 279,16 299,69 320,23 26-ago-18 26-ago-17<br />
244,72 276,74 308,76 - - - 244,59 260,09 275,59 3-jul-18 3-jul-18<br />
- - - 264,68 289,14 313,60 264,68 288,90 313,11 21-jun-18 21-jun-18<br />
266,42 331,23 396,05 266,42 290,03 313,64 266,42 291,61 316,79 7-abr-18 7-abr-18<br />
249,39 323,11 396,83 249,39 303,25 357,10 249,39 280,92 312,46 7-abr-18 7-abr-18<br />
- - - - - - - - - 21-jun-18 21-jun-18<br />
- - - 235,05 258,21 281,38 - - - 27-ago-18 27-ago-17<br />
- - - 230,99 255,11 279,22 - - - 21-abr-18 21-abr-18<br />
246,15 357,93 469,72 - - - 246,15 271,67 297,19 3-jul-18 3-jul-18<br />
271,45 324,18 376,92 - - - 271,45 291,47 311,49 14-mar-18 14-mar-18<br />
- - - 239,13 258,30 277,47 239,13 263,29 287,45 18-jun-18 18-jun-18<br />
- - - 222,06 242,14 262,22 - - - 21-mai-18 21-mai-18<br />
- - - 222,06 242,14 262,22 - - - 21-mai-18<br />
Preços de empate do mercado livre em relação ao cobrado pelas 35 distribuidoras com mercado acima de 1TWh.<br />
Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017 49
Opinião Sergio Guerreiro<br />
Retomada da atividade industrial depende de<br />
investimentos em fontes alternativas de energia<br />
Em resposta à perspectiva de retomada<br />
da economia, ao longo dos próximos<br />
dez anos a indústria brasileira deverá<br />
registrar expansão anual média da ordem<br />
de 2,2%, o que demandará investimentos<br />
adicionais no fortalecimento do<br />
sistema elétrico e em tecnologias que levem<br />
robustez e flexibilidade ao grid. No<br />
que concerne ao sistema gerador, em<br />
partes o País tem caminhado em direção<br />
à diversificação de sua matriz energética<br />
ao, gradualmente, introduzir novas<br />
fontes de energia que funcionem de<br />
modo complementar às usinas hidrelétricas<br />
e termelétricas, que hoje compreendem<br />
cerca de 90% do parque gerador<br />
em operação. A questão, contudo, é se<br />
de fato o ritmo adotado está em acordo<br />
com as necessidades do Brasil.<br />
Com objetivo de evitar episódios<br />
como o ocorrido em janeiro de 2015 –<br />
quando o consumo de energia superou<br />
a oferta no horário de ponta – é preciso<br />
investir em fontes de geração que funcionem<br />
de modo complementar à geração<br />
hídrica, atualmente a predominante<br />
no País. Trata-se, portanto, de remodelar<br />
o sistema elétrico brasileiro de modo<br />
que as principais fontes de geração estejam<br />
baseadas nas centrais hidrelétricas e<br />
eólicas, tendo como back-up pequenas<br />
centrais termelétricas prontas para acionamento<br />
a fim de atender à demanda<br />
excedente no horário de ponta. Trata-<br />
-se de um raciocínio lógico e alinhado à<br />
realidade brasileira e, principalmente, à<br />
perspectiva de retomada econômica.<br />
Ainda que não tenha sido o consumo<br />
da indústria o motivador do desbalanceamento<br />
energético no episódio citado,<br />
é inegável a sua participação no<br />
atual modelo de consumo brasileiro.<br />
Estudo realizado pela Empresa de Pesquisa<br />
Energética (EPE) junto à Câmara<br />
de Comercialização de Energia Elétrica<br />
(CCEE) indica que a indústria responde<br />
por quase um terço de todo o consumo<br />
de eletricidade no País. Em vista<br />
disso e dentro de um cenário que indica<br />
retomada do crescimento econômico<br />
e consequente aumento da atividade<br />
industrial, investimentos concretos na<br />
expansão do sistema elétrico são preponderantes,<br />
o que inclui a realização<br />
de leilões que estimulem a participação<br />
de fontes alternativas de energia em alinhamento<br />
com uma agenda pré-definida<br />
e transparente junto ao governo.<br />
Em outras palavras, isso significa<br />
priorizar projetos de geração de médio<br />
prazo, com início da operação levando<br />
dois anos, em média, após a contratação.<br />
O imperativo, nesse caso, não é somente<br />
a instalação do projeto em uma perspectiva<br />
de médio prazo, mas a sua entrada<br />
em operação em alinhamento com<br />
o momento de retomada econômica e<br />
expansão da atividade industrial. Em resumo,<br />
trata-se de investir nas bases que<br />
sustentarão e darão continuidade à expansão<br />
da economia e da indústria brasileira<br />
ao longo dos próximos anos.<br />
Sob outro aspecto, também é preciso<br />
ter em perspectiva a baixa dos reservatórios<br />
brasileiros e a incerteza sobre a<br />
retomada do regime regular de chuvas.<br />
Em setembro os reservatórios que abastecem<br />
as regiões Sudeste e Centro-Oeste<br />
do País apresentavam cerca de 30%<br />
de sua capacidade de armazenamento.<br />
Em situação mais crítica, os reservatórios<br />
da região Nordeste estavam pouco<br />
acima dos 10%, colocando o País novamente<br />
em situação delicada, principalmente<br />
se levada em consideração a elevação<br />
das temperaturas e a proximidade<br />
do verão, período que historicamente<br />
registra alta no consumo de energia.<br />
Embora esta seja também a época do<br />
ano em que há maior incidência de<br />
chuvas, a indústria definitivamente não<br />
pode trabalhar baseada em incertezas<br />
decorrentes de eventos climáticos.<br />
A fim de manter o nível dos reservatórios,<br />
o governo anunciou recentemente<br />
a importação de energia da Argentina<br />
e do Uruguai. Trata-se de uma atitude<br />
coerente com o momento, que exige a<br />
economia da água disponível caso o período<br />
de estiagem perdure. Contudo, essa<br />
é uma medida pontual e incapaz de<br />
sustentar o sistema elétrico sob uma visão<br />
de médio e longo prazos, sobretudo<br />
diante de um cenário de reaquecimento<br />
da economia e perspectiva de ampliação<br />
da atividade industrial.<br />
Nesse sentido, diferentes empresas<br />
têm se dedicado ao desenvolvimento<br />
de sistemas de armazenamento de<br />
energia que funcionem de modo complementar<br />
a outras fontes de geração,<br />
mas em especial a eólica. Tendo em<br />
mente a intermitência da força dos ventos,<br />
baterias de armazenamento surgem<br />
como uma solução possível para<br />
eliminar um dos principais empecilhos<br />
para o avanço da fonte de modo mais<br />
acelerado. Projetos atualmente em andamento<br />
indicam a construção de células<br />
eletroquímicas com output inicial<br />
de 20MW e capacidade de 200 MW/h.<br />
Se utilizado em grande escala, o sistema<br />
adicionaria inteligência e flexibilidade<br />
ao grid ao evitar o “desperdício” de<br />
energia em momentos em que a geração<br />
eólica é maior que a demanda.<br />
Naturalmente, outras soluções ligadas<br />
à transmissão e distribuição também<br />
devem ser avaliadas a fim de evitar perdas<br />
no sistema elétrico como um todo.<br />
Contudo, independentemente do foco<br />
de análise, é preciso ter claro que o investimento<br />
contínuo no grid é um ponto<br />
preponderante para a retomada do crescimento<br />
do parque industrial brasileiro<br />
– principalmente considerando as indústrias<br />
eletrointensivas, aquelas que demandam<br />
mais energia em seus processos<br />
habituais, como a siderurgia, petroquímica<br />
e de papel e celulose, para citar<br />
alguns exemplos apenas.<br />
Focar na diversificação de fontes geradoras<br />
e buscar novos meios de fortalecer<br />
o sistema elétrico são algumas das<br />
medidas necessárias para suportar a expansão<br />
da indústria no decorrer dos<br />
próximos anos e manter o balanceamento<br />
adequado entre oferta e demanda.<br />
Isso, em resumo, representa um fator<br />
preponderante para suportar a continuidade<br />
da retomada e expansão econômica<br />
do País.<br />
Sergio Guerreiro é CEO da unidade<br />
Bearings da Thyssenkrupp para o Brasil,<br />
fornecedora de rolamentos de grande<br />
porte para o setor eólico.<br />
50 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017
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representa a 5ª economia do Brasil. Agora, o<br />
catarinense pode produzir melhor, economizar<br />
mais e preservar o meio ambiente. É o gás natural<br />
transformando o nosso desenvolvimento com<br />
sustentabilidade e tecnologia.<br />
www.scgas.com.br