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entrevista com<br />
LUIZ EDUARDO BARATA<br />
Esses consumidores que vão participar<br />
desse projeto piloto são todos<br />
representados na Abrace, que tem<br />
nos ajudado muito nesse trabalho, já<br />
têm essa experiência nas suas plantas<br />
no exterior; na América do Norte,<br />
na Europa e até mesmo na América<br />
do Sul. Isso nos ajudou muito para<br />
formatar o programa, tratando basicamente<br />
de potência de demanda e<br />
não de energia. E por que a gente<br />
não começa por energia?<br />
Porque se para a potência já foi<br />
essa demora toda, imagina se começasse<br />
pela energia. Então, a estratégia<br />
que resolvemos adotar é ir step by<br />
step. Eles podem promover a redução<br />
da demanda num horizonte de<br />
um dia, no dia anterior, day ahead,<br />
ou intraday, desde que informem, no<br />
programa da semana, aquela capacidade.<br />
É um instrumento que a gente<br />
passa a utilizar. Não será imposto,<br />
será do interesse [do consumidor], ele<br />
sabe quanto custa a redução dele versus<br />
quanto custa a geração térmica.<br />
Se o custo dele for maior do que gerar<br />
térmica, a gente não vai fazer isso<br />
com ele, vai gerar térmica. É uma ferramenta<br />
voltada principalmente para<br />
o período seco, apesar de ser possível<br />
disponibilizar no período chuvoso.<br />
Quais são os maiores desafios,<br />
hoje, no setor de transmissão?<br />
Eu diria que estamos numa situação<br />
bem melhor do que há algum<br />
tempo, porque houve um esforço,<br />
tanto do poder concedente quanto do<br />
regulador, de implementar aprimoramentos<br />
nos modelos que fizeram com<br />
que os últimos leilões fossem bem sucedidos.<br />
Esse é um primeiro ponto.<br />
A gente espera um futuro diferente<br />
do que tivemos, cheio de problemas,<br />
com empreendedores que ficaram<br />
com portfólios bem maiores do que a<br />
capacidade de implementar, e causaram<br />
atrasos grandes na transmissão. A<br />
ampliação dos prazos de implantação<br />
dos empreendimentos, a melhoria do<br />
WACC, esses dois fatores, aumentaram<br />
muito a atratividade do negócio,<br />
e está trazendo bons players.<br />
Um outro ponto que vale ressaltar<br />
é que o MME tem buscado realizar<br />
um relacionamento muito próximo<br />
com os organismos ambientais. A gente<br />
sente que tem havido uma resposta<br />
bem melhor dos órgãos ambientais.<br />
No caso dos linhões de Belo<br />
Monte, há algum risco de atraso?<br />
Neste caso, não. A data contratual<br />
do bipolo 1 é o início de março.<br />
Mas ela terá antecipação, está<br />
confirmada para dezembro. A linha<br />
está totalmente construída, está<br />
em testes, e os resultados foram<br />
excepcionais. De fato, havia um temor<br />
muito grande porque na construção<br />
da linha haviam trechos que<br />
estavam com problemas, todos os<br />
desafios foram superados e o bipolo<br />
1 deve estar entrando [em operação]<br />
até o dia 19/12. O empreendedor<br />
é o BMTE e tem cumprido<br />
todos os compromissos assumidos.<br />
O outro, o bipolo 2, é da XRTE,<br />
a data deles é novembro de 2019,<br />
mas também trabalham com a perspectiva<br />
de antecipar [a entrada em<br />
operação comercial] para o início de<br />
2019. E tem havido um esforço do<br />
MME junto aos órgãos ambientais a<br />
fim de viabilizar essa antecipação.<br />
Como o ONS está avaliando a<br />
expansão da GD?<br />
O que a gente tem visto no exterior,<br />
especialmente na Europa e nos EUA,<br />
é que esse foi um negócio que deslanchou.<br />
No Brasil, ainda não, acho que<br />
porque nos últimos três anos vivemos<br />
uma crise econômica muito grande.<br />
Temos dois tipos de GD: uma ainda<br />
centralizada, em que se instalam sítios<br />
de eólicas e solares nas redes de distribuição<br />
e a GD realmente distribuída,<br />
que é aquela atrás do medidor. Eu<br />
acredito que vamos caminhar primeiro<br />
para a GD concentrada. E isso inclui a<br />
cogeração, que é voltada para consumidores<br />
comerciais e industriais e para<br />
níveis maiores de consumo.<br />
Acho que temos que criar mecanismos<br />
para quem quiser usar GD<br />
no teto, mas não acredito em uma<br />
expansão como aconteceu na Europa<br />
e nos EUA, porque o payback ainda<br />
está alto. Payback de sete anos, R$<br />
15 mil, não é para qualquer consumidor<br />
que possa pagar. Além disso, o<br />
consumidor residencial, para usar, só<br />
pode residir em casa. Não pode usar<br />
em prédios, só um andar pode.<br />
A GD atrás do medidor nos EUA<br />
é muito difundida porque a capacidade<br />
econômica dos consumidores<br />
justifica, e existem programas<br />
nos quais o empreendedor coloca o<br />
[painel solar no] teto [e é remunerado<br />
com a economia de energia].<br />
Mas como eu disse, não são tantos<br />
tetos que temos, porque a grande<br />
maioria das nossas cidades é verticalizada.<br />
E quanto mais verticalizada<br />
for a cidade, menor é o impacto<br />
da GD sobre o consumo geral [da<br />
unidade consumidora]. n<br />
14 Brasil Energia, nº 445, dezembro 2017