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Linguística românica<br />
e cápere; e o uso de metáforas físicas para representar operações do pensamento é<br />
com<strong>um</strong> (por exemplo, o nosso pensar e o mais erudito ponderar provêm de verbos<br />
que significam “pesar”, “colocar dois pesos na balança” etc.).<br />
Em s<strong>um</strong>a, a comparação permitiu que os romanistas fizessem conjecturas<br />
bastante exatas sobre as formas latinas originárias. É até certo ponto casual que<br />
essas formas resultantes de conjecturas baseadas na comparação sejam efetivamente<br />
confirmadas mediante prova doc<strong>um</strong>ental, isto é, que sejam encontradas nos<br />
textos latinos que sobreviveram até nossos dias. Às vezes, a prova doc<strong>um</strong>ental<br />
é possível. Por exemplo, as formas port. velho, esp. viejo, fr. vieil, it. vecchio,<br />
rom. vechi apontam para <strong>um</strong>a forma veclus (que se explica a partir de veculus e<br />
vetulus, esta última diminutivo da forma clássica vetus, “velho”). Veclus é atestada<br />
no Appendix Probi, <strong>um</strong> glossário que data provavelmente ao século IV d.C., e que<br />
registra <strong>um</strong>a série de coisas que <strong>um</strong>a pessoa culta não deveria escrever, por serem<br />
consideradas erradas. Outras vezes ainda, formas que haviam sido propostas como<br />
resultado de reconstituição acabaram sendo encontradas em textos. É o caso da<br />
forma anxia, da qual derivam o port. ânsia e seus cognatos. Muitas vezes, por fim,<br />
as formas resultantes de reconstituição permanecem não atestadas; neste último<br />
caso, os romanistas, à imitação do que faziam os indo-europeístas, antepõem à<br />
palavra <strong>um</strong> asterisco. Seja como for, segundo <strong>um</strong>a estimativa reproduzida em<br />
Vidos (1968), as formas com asterisco não passam de 10% do total de materiais<br />
com que os romanistas têm trabalhado, e é importante lembrar que elas não são<br />
menos importantes ou menos seguras do que as formas atestadas: as línguas românicas<br />
tomadas em seu conjunto n<strong>um</strong>a visão comparativa são a melhor fonte<br />
para o conhecimento de sua própria origem, <strong>um</strong> fato que ressalta quando se leva<br />
em conta a precariedade das fontes escritas do latim não literário.<br />
As conclusões que se tiram da comparação das línguas românicas são tanto<br />
mais seguras quanto maior for o número de línguas românicas que trazem evidências<br />
em seu favor, e quanto mais afastadas no espaço forem essas línguas. O<br />
sardo e o romeno, que se situam hoje nos limites do território em que o latim foi<br />
falado, e se desenvolveram por assim dizer à parte, sem comunicação com as<br />
outras regiões de fala latina, constituem <strong>um</strong>a espécie de teste da Antiguidade e<br />
do caráter panromânico das regularidades apontadas pela comparação.<br />
O campo em que o método comparativo deu os resultados mais sistemáticos<br />
é o da Fonética; em Morfologia e em Sintaxe, sua aplicação exige a manipulação<br />
de dados mais complexos, e seus resultados sempre foram menos espetaculares.