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Edição Janeiro/Fevereiro - 2018

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artigo<br />

Trem de passageiros:<br />

por que não?<br />

PEDRO MACHADO,<br />

Engenheiro civil e presidente da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp)<br />

Arecente recomendação do Ministério Público<br />

Federal (MPF) para anulação das Audiências<br />

Públicas agendadas pela Agência Nacional de<br />

Transportes Terrestres (ANTT) sobre a “Ferrogrão”<br />

(EF-170), trouxe à luz questões muito relevantes<br />

acerca da governança da nossa sociedade, bem colocadas<br />

em recente artigo publicado por Frederico Bussinger<br />

(‘Ferrogrão’ traz à baila uma governança engripada<br />

- www.antp.org.br em 18/11/2017).<br />

Gostaria de explorar rapidamente aqui outra questão<br />

igualmente importante e que necessariamente deve ser enfrentada,<br />

quando se trata dos grandes empreendimentos<br />

ferroviários atualmente na ordem do dia, sejam eles green<br />

field ou sejam renovações de concessões em curso.<br />

Tais empreendimentos devem ser previamente dotados<br />

de uma clara e inequívoca demonstração de seus benefícios<br />

a toda sociedade, em especial às suas respectivas<br />

partes interessadas lindeiras – aqueles que já vivem nas<br />

proximidades da ferrovia ou da futura ferrovia – que serão<br />

por elas, espera-se, positivamente afetados.<br />

Para os moradores das localidades lindeiras à Ferrogrão,<br />

Ferrovia Paraense, Ferrovia Norte-Sul ou da Malha<br />

Paulista, só para citar alguns exemplos, quais são os benefícios<br />

palpáveis e diretos trazidos pela sua implantação ou<br />

renovação da concessão do serviço?<br />

Isto precisa ser claramente demonstrado. Não basta divulgar<br />

a diminuição do “custo Brasil” com o aumento da<br />

eficiência logística ou com economia de energia e o crescimento<br />

econômico induzido por estes empreendimentos.<br />

64<br />

REVISTA FERROVIÁRIA | JANEIRO/FEVEREIRO DE <strong>2018</strong><br />

Na visão de muitos moradores lindeiros, que não possuem<br />

cereais ou minérios para transportar, eles vão apenas ganhar<br />

uma barreira física.<br />

Porém, existe a possibilidade de agregar a esses empreendimentos<br />

um benefício real muitas vezes esquecido.<br />

Na minha opinião, todas estas novas ferrovias deveriam<br />

trazer um par diário de trens de passageiros, numa modalidade<br />

de serviço similar ao existente na Estrada de Ferro<br />

Carajás ou na Estrada de Ferro Vitória a Minas – ambas da<br />

Vale – já no nascedouro do projeto.<br />

A Vale compreendeu muito bem o valor desses serviços<br />

como marketing social/empresarial, tanto é que não descuida<br />

deles. O recente investimento, na casa da centena de<br />

milhão de dólares, para renovar a frota de carros de passageiros<br />

nessas duas ferrovias, ao que se sabe, não foi fruto<br />

de obrigação contratual ou exigência do poder concedente.<br />

O trem de passageiros tem o condão de converter adversários<br />

em aliados que poderiam ir ao MPF ou ao poder<br />

concedente para pressionar favoravelmente a implantação<br />

desses importantes projetos ferroviários dos quais nosso<br />

país tanto necessita.<br />

E, do ponto de vista da racionalização do uso dos recursos<br />

para investimento, tem todo o sentido. Pois uma<br />

mesma infraestrutura pode e deve atender duas demandas,<br />

ou seja, o transporte de carga e o transporte de passageiros.<br />

Ainda mais num país como o nosso, com tantas<br />

carências, é descabido imaginar que teremos duas malhas<br />

ferroviárias segregadas, sendo uma para cargas e<br />

outra para passageiros.

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