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Retratos de Viseu nos 60's e a carreira musical da Banda POP Os Tubarões de Viseu, Portugal.

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os tubarões ’66 109<br />

.depoimento.<br />

Ledinha e Kinga<br />

Como caçadores do tempo,<br />

os personagens são também<br />

pastores que escolhem<br />

prados férteis, presenciando<br />

a essencialidade da vida.<br />

Entre a fantasia e o mais real<br />

dos momentos, reabrimos o<br />

frasco onde ficou guardado o<br />

perfume dos altos pinheirais<br />

emproados e majestosos. Extrair<br />

das profundezas da criação<br />

as grandes alegrias é como<br />

desvendar os segredos da alma, é<br />

revelar o refúgio do passado, que,<br />

desavisado, transcende aos anos.<br />

E se um doce assobio criar um<br />

eco pouco ouvido e vier aguçar os<br />

sentimentos para arfar o fio às<br />

conversas de uma época?<br />

Ah! se sobre as pontes férteis da<br />

paixão pudermos buscar a poesia<br />

e contemplar, com lucidez, nossa<br />

história de vida.<br />

Viseu, Abril de 1966.<br />

Chegamos às terras lusas para<br />

ficar durante 10 meses. O Casal de<br />

Vil de Soito parecia calmo demais<br />

para duas meninas urbanas e<br />

festeiras. O nosso período de<br />

“europeização” que se iniciava,<br />

com certeza teria sido monótono<br />

se não fossem “Os Tubarões”.<br />

Foi no dia (na noite, melhor<br />

dizendo) 28 de Maio que ouvimos<br />

“Quero que tudo o mais vá pró<br />

inferno”, música de Roberto Carlos<br />

e que nos foi oferecida pelos<br />

Tubarões. Mais inesquecível do<br />

que a canção foi, após o show,<br />

conhecermos os componentes do<br />

Conjunto e, em especial, Eduardo<br />

e Luís por quem nos apaixonamos<br />

(e, apesar dos dois terem<br />

namoradas “firmes”, começámos a<br />

namorar).<br />

Fechando os olhos nos permitimos<br />

reencontrar com o passado onde<br />

há saudade da adolescência, dos<br />

amores vividos.<br />

Durante os meses que se seguiram<br />

àquela noite perdemos muito<br />

poucos ensaios dos “Tubarões”.<br />

Na verdade o melhor eram<br />

os “pós-ensaios” quando<br />

namorávamos até a hora de<br />

voltar ao Casal de Vil de Soito.<br />

Ensaios, pós-ensaios, lanches na<br />

pastelaria Horta, “às 10 p’ras 3”.<br />

Que vendaval de lembranças,<br />

meu Deus!<br />

Houve uma época em que<br />

levávamos nossos primos aos<br />

ensaios. Numa tarde um deles<br />

passou mal e, enrolando-se<br />

– literalmente – na cortina que<br />

separava o salão do “quarto de<br />

banho” sujou todo o local.<br />

A senhora responsável pela<br />

limpeza quando foi fazer a<br />

inspeção para se certificar de que<br />

estava tudo pronto para a sessão<br />

de cinema, teve a verdadeira visão<br />

do inferno.<br />

A “culpa” caiu nos “Tubarões”,<br />

todos os membros tornaram-se<br />

suspeitos e, acreditamos que, por<br />

pouco eles não ficaram proibidos<br />

de lá ensaiar.<br />

Falando em suspeitos, lembramos<br />

que só poderiam mesmo ser eles,<br />

já que era proibido entrar no<br />

recinto qualquer pessoa que não<br />

fossem os integrantes do grupo.<br />

Para nós, que estávamos sendo<br />

preparadas para seguir os passos<br />

das Meninas Exemplares da<br />

Condessa de Ségur, ir aos ensaios<br />

– escondido – era uma aventura<br />

e tanto.<br />

Em Agosto, na praia da Figueira<br />

da Foz, um fim de semana com<br />

“Os Tubarões”!<br />

O namoro à luz de velas, as lúdicas<br />

histórias contadas ao som de, ora<br />

um fado, ora de um rock. Ingénuas,<br />

acreditávamos que esses<br />

momentos reais não acabariam<br />

nunca.<br />

Definitivamente, Viseu sem<br />

Eduardo e Luís não tinha a menor<br />

graça.<br />

Ainda podemos ouvir o som da<br />

maré alta despertando em raios<br />

luminosos nas areias daquela<br />

praia perdidamente lusa. Já se<br />

faz distante essa passagem por<br />

paisagens enevoadas na nossa<br />

lembrança. Esquecer, jamais.<br />

Ah! se o cheiro dos rosmaninhos<br />

pudesse nos alcançar...!<br />

Ah! se esse lamento percorresse<br />

os oceanos, sem margens ...!<br />

Veríamos que ainda podemos<br />

sonhar!

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