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O que e a vida_ - Erwin Schrodinger

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entendimento preliminar, grosseiro mas não completamente errôneo, pode ser<br />

encontrado nas considerações <strong>que</strong> seguem.<br />

Foi explicado no capítulo 1 <strong>que</strong> as leis da física, tais como as conhecemos, são<br />

leis estatísticas. 2 Elas têm tudo a ver com a tendência natural das coisas para<br />

caírem na desordem.<br />

Porém, para conciliar a elevada durabilidade da substância hereditária com seu<br />

diminuto tamanho, tivemos de escapar à tendência para a desordem através da<br />

“invenção de uma molécula", de fato, uma molécula incomumente grande, uma<br />

obra-prima de ordem altamente diferenciada, salvaguardada pela vara de<br />

condão da teoria quântica. As leis do acaso não são invalidadas por essa<br />

“invenção", mas seu resultado é modificado. O físico está familiarizado com o<br />

fato de <strong>que</strong> as leis da física clássica são modificadas pela teoria quântica,<br />

especialmente a temperaturas baixas. Existem muitas instâncias disso. A <strong>vida</strong><br />

parece ser uma delas, uma particularmente evidente. A <strong>vida</strong> parece ser<br />

comportamento bem ordenado e regrado da matéria, não exclusivamente<br />

baseado na tendência desta de passar da ordem para a desordem, mas baseado<br />

parcialmente em uma ordem existente <strong>que</strong> é mantida.<br />

Para o físico - mas apenas para ele - espero esclarecer meu ponto de vista ao<br />

dizer: o organismo vivo parece ser um sistema macroscópico cujo<br />

comportamento, em parte, se aproxima da<strong>que</strong>la conduta puramente mecânica<br />

(em contraste com a termodinâmica) para a qual todos os sistemas tendem<br />

conforme a temperatura se aproxima do zero absoluto, quando a desordem<br />

molecular é remo<strong>vida</strong>.<br />

O não-físico acha difícil de acreditar <strong>que</strong> mesmo as leis ordinárias da física, <strong>que</strong><br />

ele considera os protótipos da precisão inviolável, devam estar baseadas na<br />

tendência estatística da matéria de cair na desordem. Dei exemplos no capítulo 1.<br />

O princípio geral aí envolvido é a famosa Segunda Lei da Termodinâmica<br />

(princípio da entropia) e sua igualmente famosa fundamentação estatística. Nos<br />

itens seguintes tentarei esboçar o aporte do princípio da entropia para o<br />

comportamento de larga escala do organismo vivo, es<strong>que</strong>cendo, por ora, tudo o<br />

<strong>que</strong> se sabe sobre cromossomos, herança etc.<br />

A matéria viva se esquiva do decaimento para o equilíbrio<br />

Qual a característica particular da <strong>vida</strong>? Quando se pode dizer <strong>que</strong> uma porção<br />

de matéria está viva? Quando ela "faz alguma coisa”, como mover-se, trocar<br />

material com o meio etc., e isso por um período muito mais longo do <strong>que</strong><br />

esperaríamos <strong>que</strong> uma porção de matéria inanimada o fizesse nas mesmas<br />

circunstâncias. Quando um sistema não-vivo é isolado ou colocado em um<br />

ambiente uniforme, usualmente todo o movimento cessa depressa, como<br />

resultado de vários tipos de fricção; diferenças de potencial químico ou elétrico

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