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O que e a vida_ - Erwin Schrodinger

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são equalizadas, substâncias <strong>que</strong> tendem a formar compostos químicos o fazem e<br />

a temperatura se torna uniforme por condução térmica. Depois disso, todo o<br />

sistema míngua para um bloco inerte e morto de matéria. É atingido um estado<br />

permanente, no qual não ocorre nenhum evento observável. O físico dá a esse<br />

estado o nome de equilíbrio termodinâmico ou estado de "entropia máxima”.<br />

Na prática, um estado desse tipo é atingido muito rapidamente. Na teoria, muito<br />

fre<strong>que</strong>ntemente não se trata de equilíbrio absoluto nem verdadeiramente de<br />

entropia máxima. Mas, a partir de então, a aproximação até o estado de<br />

equilíbrio é muito lenta. Pode levar qual<strong>que</strong>r coisa como horas, anos ou séculos...<br />

Para dar um exemplo - um no qual a aproximação é ainda muito rápida: se um<br />

copo é cheio com água pura e um segundo com água com açúcar e ambos são<br />

colocados juntos em uma caixa hermeticamente fechada a temperatura<br />

constante, parece a princípio <strong>que</strong> nada acontece e se cria a impressão de<br />

completo equilíbrio. Mas, depois de um dia, mais ou menos, nota-se <strong>que</strong> a água<br />

pura, em virtude da sua pressão de vapor mais alta, vagarosamente evapora e se<br />

condensa sobre a solução. Esta transborda. Só depois <strong>que</strong> a água pura evaporou<br />

totalmente é <strong>que</strong> o açúcar atinge seu objetivo de ficar igualmente distribuído por<br />

toda a água líquida disponível.<br />

Essas lentas aproximações do equilíbrio não poderiam jamais ser confundidas<br />

com manifestações de <strong>vida</strong>, e não as levaremos aqui em consideração. Referime<br />

a elas para me livrar da acusação de imprecisão.<br />

Ela se alimenta de "entropia negativa”<br />

E por evitar o rápido decaimento no estado inerte de “equilíbrio" <strong>que</strong> um<br />

organismo parece tão enigmático. Assim é <strong>que</strong>, desde os mais remotos tempos<br />

do pensamento humano, afirma-se <strong>que</strong> uma força especial não-física ou<br />

sobrenatural (v/s viva, enteléquia) opera no organismo, e, em alguns recantos,<br />

ainda se afirma isso.<br />

Como um organismo vivo evita o decaimento? A resposta óbvia é: comendo,<br />

bebendo, respirando e (no caso das plantas) assimilando. O termo técnico é<br />

metabolismo. A palavra grega<br />

<strong>que</strong>r dizer troca<br />

ou câmbio. Câmbio do quê? Originariamente, a ideia básica era, sem dú<strong>vida</strong>,<br />

troca de material. (Por exemplo, a palavra alemã para metabolismo é<br />

Stoffwechsel [Stoff (matéria), Wechsell (troca)]) É absurdo <strong>que</strong> a troca de material<br />

deva ser o essencial. Qual<strong>que</strong>r átomo de nitrogênio, oxigênio, enxofre etc. é tão<br />

bom quanto qual<strong>que</strong>r outro de seu tipo. O <strong>que</strong> se ganharia em trocá-los? Por<br />

algum tempo, no passado, nossa curiosidade foi silenciada por nos dizerem <strong>que</strong><br />

nos alimentávamos de energia. Em algum país muito avançado (não me lembro<br />

se na Alemanha, nos EUA ou em ambos), pode-se encontrar nos cardápios de

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