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Previz2 - 11.07 VRamalho

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neira de se ser um grande angolano. Ser como o Victor Ramalho. Conjuga na sua personalidade<br />

cordial todos os elementos de generosa abertura e coragem física que se herdam das vivências<br />

africanas. Num percurso que é marcado por um empenhado envolvimento na vida publica têm<br />

sido constantes as ocasiões em que essa cordialidade e arrojo conseguiram resultados práticos<br />

bem visíveis.<br />

Como jornalista da RTP fiz a cobertura do I Congresso de Quadros Angolanos no Exterior. Foi uma<br />

iniciava que o Victor Ramalho imaginou quando o conflito em Angola, parecia irremediavelmente<br />

cristalizado numa guerra sem quartel em que as superpotências iam medindo forças à custa<br />

do povo angolano. Victor Ramalho, usando sem receios os poderosos meios diplomáticos que<br />

lhe conferia ser um dos mais próximos conselheiros do Presidente Mário Soares, organizou sob<br />

o engenhoso titulo de um “Encontro” no “Exterior” o mais amplo e consequente debate sobre o<br />

que estava a acontecer no “Interior” de Angola. O Congresso dos Quadros Angolanos em Abril<br />

de 1990 foi, provavelmente, o mais decisivo acontecimento na preparação do terreno para a paz<br />

entre o MPLA e a UNITA.<br />

Nessa altura o cenário nos campos de batalha era caótico e inconclusivo. Progressos e regressos<br />

dos combatentes no terreno mediam-se pelo poder do armamento que Moscovo e Washington<br />

canalizavam para a UNITA e MPLA via Cuba e África do Sul. As forças governamentais<br />

ostentavam poderosas máquinas de guerra soviéticas mobilizando em batalhas cada vez mais<br />

de guerra clássica tanques T 62 de modelo idêntico aos que guarneciam na altura as fronteiras<br />

do Pacto de Varsóvia. Angola era um campo de testes de armamento letal com soviéticos e americanos<br />

num constante braço de ferro. Washington ia equipando Savimbi com armamento cada<br />

vez mais sofisticado. Os misseis anti-aéreos Stinger passaram a ser usados com regularidades<br />

abatendo cargueiros Antonov e o ocasional MIG 23 enquanto a Norte do Cuíto Cadaval artilheiros<br />

sulafricanos iam explorando os alcances das suas mais recentes peças de artilharia pesada<br />

de campanha as G5 que chegaram a enviar obuses a cinquenta quilómetros de distancia para<br />

dentro das fronteiras angolanas. A Angola ocupada por Russos, cubanos e sul-africanos era um<br />

mundo distópico e perigoso onde se matava e morria com facilidade e sem saber ao certo porquê.<br />

Poucos tiveram a imaginação e o empenho para vislumbrar uma possibilidade de poder haver<br />

Mário um dialogo Crespo de paz naquele inferno. MPLA e UNITA não se falavam nessa altura. Desde as<br />

matanças mútuas em Luanda no pós independência na década de 70 que o Norte e o sul de<br />

Angola se tinham dividido. Angolanos dos dois lados reivindicavam legitimidades que a história<br />

viria a provar que só poderiam ser afirmadas em conjunto. Victor Ramalho entendeu isso e com<br />

o esprito de iniciativa que lhe é característico actuou empenhando-se a fundo na busca de pontes<br />

de entendimento entre as duas partes. É da<br />

Faltam<br />

mais elementar<br />

ajustes<br />

justiça reconhecer que muito do<br />

que correu bem no processo de pacificação de Angola se deve à diplomacia de envolvimento<br />

empenhado desenvolvida por Victor Ramalho. Seria lúcido procurar o seu conselho e aplicar num<br />

terreno diplomático que ainda é movediço os seus conhecimentos, que têm pouco paralelo em<br />

Portugal e na Europa.<br />

Já como Presidente da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, Victor Ramalho organizou<br />

em Lisboa um monumental encontro de dirigentes africanos dos países africanos de<br />

língua portuguesa que tinham como elemento comum a passagem pela Casa dos Estudantes do<br />

Império onde, na verdade, nos anos 50 e 60 nas universidades de uma capital imperial a viver<br />

na ditadura nasceram as energias intelectuais que levariam à descolonização.<br />

Depois há o Victor Ramalho amigo e camarada. Nada exemplifica melhor a sua coragem como a<br />

maneira enérgica com que se interpôs entre manifestantes da CGTP e Vital Moreira. 2009 foi um<br />

ano quente para o Partido Comunista Português com as deserções de militantes distintos, entre<br />

os quais, o mais destacado era seguramente o constitutionalista de Coimbra. Não fora a ação<br />

de Victor Ramalho que fisicamente desencorajou os mais aguerridos sindicalistas comunistas, o<br />

incidente não se teria ficado pela boçalidade dos insultos de um bando ululante dirigidos a Vital<br />

Moreira. Mas ficou. Vendo as imagens do incidente do Primeiro de Maio de 2009 entende-se porquê.<br />

O meu amigo, Victor Ramalho é um Homem mesmo muito grande.<br />

Mário Crespo<br />

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