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Julho 2018<br />
<strong>#15</strong><br />
Projeto 15.indd 1 11/07/2018 05:55:08
Sim! O Hempadão foi pra Califórnia.<br />
Em visita à meca da can<strong>na</strong>bis no mundo a<br />
gente passou por uma plantação local de<br />
maconha, uma fábrica de canetas vaporizadores,<br />
dispensários de erva recreativa e<br />
ainda uma Can<strong>na</strong>bis Cup. Tudo isso fruto<br />
de uma parceria que visa o turismo canábico.<br />
Você vai poder entender melhor <strong>na</strong>s<br />
duas matérias sobre a viagem que estão<br />
aí dentro.<br />
Fora isso, tem um relato da última Marcha<br />
da Maconha de São Paulo feito pelo<br />
nosso camarada Jefferson Dias. Trata-se,<br />
sem dúvidas, da maior Marcha do país,<br />
por isso merece um registro especial aqui<br />
<strong>na</strong> <strong>Hempada</strong>.<br />
Viajar é sempre uma marola especial,<br />
mas confesso que passear por Oakland,<br />
Berckely, Santa Rosa, Sacramento e San<br />
Francisco foi um mergulho incrível <strong>na</strong> contracultura<br />
mundial. Os retratos da NorCal<br />
High TimesCan<strong>na</strong>bis Cup mostram bem<br />
como o evento esteve repleto de boas<br />
energias e perso<strong>na</strong>gens que pareciam ter<br />
re<strong>na</strong>scido da década de 60 do século<br />
passado (vide foto ao lado).<br />
Mais uma parte importante da fanzine<br />
que se encontra <strong>na</strong> sua mão é a entrevista<br />
do rapper e músico Mc Eltin, patrimônio<br />
canábico cultural de Floripa. Conversamos<br />
com o brother numa entrevista descontraída<br />
falando sobre tudo um pouco.<br />
Nossa estadia por lá foi cinco estrelas e<br />
a parceria é eter<strong>na</strong> com o Mr. Ganja e<br />
toda sua trupe.<br />
Dessa vez a revista tá mais pesada.<br />
Chegamos ao número de 52 pági<strong>na</strong>s. A<br />
<strong>Hempada</strong> tá crescendo e você é responsável<br />
direto por essa façanha, afi<strong>na</strong>l, está<br />
até aqui, lendo mais um editorial. Obrigado<br />
pela atenção. Nossa redação não<br />
<strong>Hempada</strong> | 2 <br />
para de produzir conteúdo pra imprimir<br />
nessas folhas. E nessa busca, é incrível a<br />
quantidade (e qualidade) de amigos encontrados.<br />
Só Jah sabe dessa coisa de<br />
“veiculação e vínculo” que acontece.<br />
Essa edição não seria possível sem a<br />
sagacidade, sabedoria e paciência de<br />
pessoas como Larrisa Uchida, Fer<strong>na</strong>nda e<br />
Cody Ballard, Bia GanjaHouseWife e todos<br />
os patroci<strong>na</strong>dores da viagem. Agora<br />
o passageiro é você. Aperte uns cinco e...<br />
boa leitura.<br />
índice<br />
Marcha da Maconha SP<br />
Strain do Mês<br />
Entrevista com MC Eltin<br />
Cozinherva<br />
Hempadão <strong>na</strong> Califórnia<br />
NorCal Can<strong>na</strong>bis Cup<br />
expediente<br />
Redação: João Henriques, Cadu Oliveira,<br />
Kauan Benthien, Jefferson Dias, Baco Paez.<br />
Capista: Lissandro Garrido<br />
Can<strong>na</strong>biComix: Felipe Navarro<br />
Revisão de Texto: Laura Lock<br />
Tiragem: 1000<br />
Contato: hempadao@gmail.com<br />
04<br />
10<br />
14<br />
22<br />
28<br />
44<br />
Errata:<br />
Na edição #14, a matéria sobre o 420 Garopaba<br />
foi publicada com dois erros graves, tendo XXXX no<br />
lugar do nome dos artistas Rafa @fishacrew e o DJ<br />
Zion. Perdão a sequela.<br />
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assine e receba em casa:<br />
apoia.se/<br />
HEMPADAO<br />
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Marcha da<br />
Maconha<br />
SP-2018<br />
fotos e texto por Jefferson Dias<br />
No sábado 26 de maio<br />
aconteceu a décima Marcha<br />
da Maconha de São<br />
Paulo, organizada pela<br />
DAR (Desentorpecendo a Razão) e<br />
ACUCA (Assossiação Cultural Cannábica<br />
de São Paulo), a marcha se<br />
concentrou no MASP, Avenida Paulista<br />
e seguiu para a Praça da Sé<br />
passando pela Av. Brigadeiro Luís<br />
Antônio.<br />
O ato aconteceu durante a greve<br />
dos caminhõneiros e, em meio à<br />
crise da falta de combustíveis nos<br />
postos e pouca circulação de ônibus<br />
em toda a cidade, mesmo assim contou<br />
com cerca de 100.000 pessoas.<br />
Com apoio da CET e Polícia Militar,<br />
sem repressão e exercitando o<br />
direito de manifestação, um número<br />
muito grande de participantes reivindicou<br />
mais uma vez a legalização<br />
de maconha tanto para uso medici<strong>na</strong>l<br />
quanto para recreativo.<br />
Cheguei no MASP por volta das<br />
15hs ainda com a Avenida Paulista<br />
aberta para o trânsito. Muitas pessoas<br />
continuavam a chegar enquanto o<br />
vão livre já estava lotado.<br />
Além dos organizadores a marcha<br />
contou com grupos como Medici<strong>na</strong>l,<br />
Resistência 420, Esquerda<br />
<strong>Hempada</strong> | 4 <br />
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Projeto 15.indd 5 11/07/2018 05:55:12
Canábica, Cultivadores, Psicodélico,<br />
Feminista, Respire, É de Lei, entre<br />
outros. Conversei com uma integrante<br />
do grupo Mãesconha, com<br />
participação de 150 mães. Depois<br />
de dois anos trocando informações<br />
sobre maconha para uso medici<strong>na</strong>l<br />
e recreativo, o grupo se transformou<br />
em associação e reivindica o uso da<br />
can<strong>na</strong>bis para tratamentos de convulsões<br />
sistêmicas em crianças, dentre<br />
outros sintomas.<br />
Alguns partidos políticos como<br />
PSOL, PT, PCB, PSTU e PCO apoiam<br />
a marcha, inclusive o curioso Tucan<strong>na</strong>bis,<br />
grupo do PSDB.<br />
Os dois sentidos da avenida<br />
já estavam interditados e tomados<br />
por manifestantes antes das 16hs e<br />
mesmo depois do horário oficial de<br />
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partida as pessoas não paravam de<br />
chegar.<br />
Ao fazermos o trajeto observei a<br />
reação das pessoas que estavam em<br />
shoppings, restaurantes e lojas da<br />
região. A maioria com uma reação<br />
de simpatia, muitas filmando e fotografando<br />
com celular e outras ainda<br />
acompanhando a marcha.<br />
Famílias com crianças, idosos,<br />
pessoas de meia idade e muitos jovens<br />
faziam parte da marcha, o público<br />
variado mostra a abrangência<br />
da reivindicação.<br />
A proibição do uso da maconha e<br />
a violência gerada pelo tráfico afetam<br />
negativamente toda sociedade.<br />
O uso de drogas é mile<strong>na</strong>r e sua<br />
repressão ineficaz. Hoje a proibição<br />
não se justifica pois sabemos<br />
<strong>Hempada</strong> | 7 <br />
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do baixíssimo potencial maléfico em<br />
comparação com o tabaco e álcool,<br />
até com alimentos nocivos que<br />
estão nos mercados e ainda seu<br />
potencial como medicamento, funcio<strong>na</strong>ndo<br />
melhor que muitas drogas<br />
compradas em farmácia. Tudo isso<br />
enquanto os lucros gerados pelo<br />
tráfico continuam a ser alvo de grupos<br />
violentos e corruptos.<br />
Tal debate pode ser estendido<br />
para diversos tipos de atrasos mantidos<br />
e que geram lucros para grupos<br />
que muitas vezes estão dentro<br />
do próprio governo. São reivindicações<br />
legítimas e visam a adequação<br />
das leis a uma sociedade mais justa,<br />
eficiente e igualitária. H<br />
<strong>Hempada</strong> | 8 <br />
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Projeto 15.indd 9 11/07/2018 05:55:16
por Kauan Benthien<br />
Blue<br />
Berry<br />
Beck com sabor<br />
de fruta!<br />
Essa variedade de maconha é mais uma que sofreu com a proibição, perdendo sua descendência<br />
exata no meio da caça aos growers. Felizmente o cultivador norte americano chamado DJ Short é a<br />
referência mais antiga da Blueberry. Essa híbrida que quase sempre é indica, se tornou conhecida pela<br />
potência, cheiro e sabor bem doces. Com essas qualidades a Blueberry ganha o coração (e a mente)<br />
de quem gosta de um camarão forte no THC e que não fica devendo no paladar.<br />
Aparência: 4.6<br />
O contraste de cores é bem evidente <strong>na</strong> mistura<br />
dos cabelos laranjas com os diferentes tons de verde.<br />
Essa variedade de maconha costuma ter muitas<br />
folhas secas crescendo em volta do camarão,<br />
o que acaba fazendo com que cultivadores <strong>na</strong><br />
pressa (ou <strong>na</strong> preguiça) não limpem direito o bud,<br />
cortando parte do aspecto visual.<br />
Sabor: 4.8<br />
O sabor da Blueberry é muito doce no deguste. Uma<br />
mistura de Mirtilo com frutas vermelhas que não fica<br />
só <strong>na</strong> hora de fumar. Quando você abre a sacola<br />
dos camarões, o aroma é a mesmo de abrir um pote<br />
de Blueberry fresca. Difícil de acreditar que essa flor<br />
tem um cheiro tão bom, é de enlouquecer!<br />
Leveza: 4.2<br />
O trim dessa flor não veio muito bom, o que poderia<br />
prejudicar demais pra carburação ficar mais suave e<br />
agradável. Apesar disso, a impressão que ficou é de<br />
<strong>Hempada</strong> | 10 <br />
que o flush foi bem feito já que não rolou tosse e a<br />
cinza estava bem branca.<br />
Custo Benefício: 4.9<br />
A do<strong>na</strong> dessa empresa de Toronto preza por produto<br />
de qualidade com preço acessível. Por conta<br />
disso a marola ficou barata e muito mais gostosa!<br />
Onda/Brisa: 4.5<br />
A brisa desse camarão costuma ser bem relaxante,<br />
servindo de equilíbrio para o alto nível de THC. A<br />
mescla de efeitos sativa e indica tor<strong>na</strong>m a Blueberry<br />
uma excelente opção tanto para o dia quanto pra<br />
noite. Desse jeito a gente fica até mal acostumado!<br />
Procedência:<br />
Bloom High Tea Society -<br />
Toronto, Ca<strong>na</strong>da<br />
Preço: $7/g<br />
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Fato Curioso:<br />
Flush é o momento em que o cultivador<br />
para de alimentar a planta e deixa ela só<br />
com água por um certo tempo, pra soltar<br />
todos os nutrientes. Isso colabora <strong>na</strong> queima,<br />
gosto e cheiro da erva e como bom<br />
maconheiro que sou, prefiro um fumo<br />
suave e saboroso sem precisar tossir.<br />
<strong>Hempada</strong> | 11 <br />
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o espectro da proibição<br />
impede de ver o óbvio<br />
a beleza do alívio<br />
ou calor do afago<br />
foto: Leo Karan<br />
texto: Baco Paez<br />
cristais de medici<strong>na</strong><br />
doces mágicos<br />
lounges fantásticos<br />
sem riscos<br />
o lastro do preconceito<br />
castiga liberdades<br />
atrasa o desenvolver da espécie<br />
e a economia de ideias<br />
flores com resi<strong>na</strong><br />
chocolates ativados<br />
dispensários<br />
vitrines a fio<br />
A perscpectiva futura, anima<br />
mas por aqui segue sempre devagar.<br />
A luz acima da linha do equador<br />
está acesa para o verde,<br />
e não vai parar.<br />
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an<br />
aez<br />
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Floripa:<br />
A Ilha da Magia<br />
do MC Eltin<br />
texto por João Henriques<br />
fotos: Cadu Oliveira<br />
A<br />
proibição da maconha<br />
não vai acabar ape<strong>na</strong>s<br />
com a luta <strong>na</strong> esfera política,<br />
mudando as leis e<br />
retirando a querida erva<br />
da ilegalidade. O front da resistência<br />
cultural é fundamental para ganhar<br />
corações e mentes que são enga<strong>na</strong>dos<br />
há décadas com os mitos sobre<br />
a can<strong>na</strong>bis. Neste contexto, viajamos<br />
até Floripa para conversar com Mc<br />
Eltin, dono de um setlist recheado de<br />
músicas canábicas e a cabeça lotada<br />
de ca<strong>na</strong>binóides aptos para contribuir<br />
com novas canções enfumaçadas.<br />
Pra quem não conhece, vale a<br />
pe<strong>na</strong> um roteiro básico entre as enfumaçadas<br />
canções: A mais famosa delas,<br />
País da Ganja, possui mais de 15<br />
milhões de visualizações no Youtube.<br />
No processo de composição, o Mr<br />
Ganja conta que não é muito a praia<br />
dele esse lance de transmitir uma lição<br />
de vida para o público ouvinte. “Não<br />
gosto de afirmar <strong>na</strong>da <strong>na</strong>s músicas e<br />
não curto muito ensi<strong>na</strong>r os outros a<br />
viver. Quando estou cantando uma<br />
música eu sou um <strong>na</strong>rrador,” explica.<br />
Infelizmente a militância cultural<br />
pela erva incomoda os caretas e fecha<br />
algumas portas. Na entrevista, Eltin<br />
lembrou que já foi alvo de sátiras,<br />
acusado de falar ape<strong>na</strong>s de maconha:<br />
“O preconceito contra o músico<br />
que fala de maconha não é tão escancarado,<br />
mas existe. Já deixei de tocar<br />
em algumas casas e não tenho mais<br />
espaço nos eventos promovidos pela<br />
prefeitura. Além disso, não consigo<br />
monetizar os vídeos no Youtube. Mas<br />
sou um militante e me mantenho informado<br />
sobre o universo canábico”.<br />
<strong>Hempada</strong> | 14 <br />
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Entre uns tapas e outros, o músico<br />
nos revelou que prefere o sabor do<br />
haxixe. “É o que eu mais gosto de fumar.<br />
Além de durar um pouco mais,<br />
tem um sabor mais concentrado. Também<br />
gosto de fazer um mix com tabaco.<br />
É tudo de bom”.<br />
Desde o lançamento de País da<br />
Ganja, em 2012, a legalização segue<br />
no plano dos sonhos do usuário<br />
brasileiro, mas outras conquistas<br />
importantes foram alcançadas. Eltin<br />
fala entusiasmado do avanço no<br />
Brasil da maconha desti<strong>na</strong>da ao uso<br />
medici<strong>na</strong>l, ao lembrar que “agora<br />
tem mãe com licença para cultivar a<br />
can<strong>na</strong>bis em casa. Aqui a ganja chegou<br />
no patamar para iniciar uma discussão<br />
séria sobre a legalização”.<br />
Questio<strong>na</strong>do sobre uma aposta para<br />
quando a legalização do uso recreativo<br />
vai se tor<strong>na</strong>r realidade no nosso<br />
país, a resposta não foi muito otimista:<br />
“Acho que vai demorar mais<br />
uns 15 anos”, cravou.<br />
No início da carreira, Eltin deixou<br />
a paradisíaca Florianópolis para viver<br />
por um período <strong>na</strong> Cidade Desespero<br />
do Rio de Janeiro, onde participou<br />
de diversas batalhas e do saudoso<br />
festival Hutúz. Apesar dos tiros que<br />
escutava <strong>na</strong> favela da Mangueira,<br />
fez uma bagagem de bons relacio<strong>na</strong>mentos<br />
com grandes nomes do rap<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, com destaque para o Mc<br />
Marechal, com quem dividiu o mesmo<br />
teto por alguns meses. “Foi uma<br />
experiência muito foda morar com<br />
ele. Além disso, a casa era muito<br />
bem frequentada por pessoas como<br />
Marcelo D2, Black Alien e Carlos<br />
Dafé. Aprendi muito com essa convivência,”<br />
recorda o Mr. Ganja.<br />
Entusiasta do estilo de vida tranquilo<br />
que encontramos <strong>na</strong> capital catarinense,<br />
Eltin sabe que perde espaço no<br />
cenário cultural por viver fora do eixo<br />
Rio-SP. “Floripa é uma das menores ca-<br />
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pitais do Brasil. Quando lancei meu<br />
som, ninguém de Santa Catari<strong>na</strong> tinha<br />
um destaque <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.” Para enfrentar<br />
este isolamento, o músico agora<br />
também atua <strong>na</strong> produção, de sons<br />
e eventos, dentro e fora da Ilha.<br />
Além disso, o rapper está numa<br />
catarse incrível de publicações no<br />
seu ca<strong>na</strong>l do YouTube, com média<br />
de um lançamento por sema<strong>na</strong>,<br />
neste ano de 2018.<br />
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A chegada da filha Manu, hoje com<br />
4 anos, fez de Eltin um sujeito mais caseiro,<br />
o que casou perfeitamente com<br />
estilo de vida tranquilo que Floripa pode<br />
oferecer. Adepto da hashtag #papaimaconheiro,<br />
o músico também faz o<br />
enfrentamento contra o preconceito que<br />
busca desqualificar a capacidade do<br />
usuário da erva cuidar de uma criança.<br />
“Gosto de desmistificar isso. Sou muito<br />
preocupado com o desenvolvimento<br />
dela e quero ser sempre presente. Ela<br />
ainda não entende o que é ganja, mas<br />
estou pronto para ter esta conversa com<br />
ela”. Na roti<strong>na</strong> do lar, Eltin conta que<br />
segue a tradição familiar de manter uma<br />
peque<strong>na</strong> horta de legumes e temperos<br />
no quintal. “Aprendi com meu pai, que é<br />
colono, e acredito que isto tem relação<br />
com o estilo de vida de Floripa.”<br />
Novas letras<br />
para novos tempos:<br />
O fortalecimento do empoderamento<br />
feminino nos últimos anos também<br />
alterou o processo de composição de<br />
Eltin, que não faz cerimônia para fazer<br />
<strong>Hempada</strong> | 18 <br />
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autocrítica das canções que escreveu e,<br />
atualmente, podem ser consideradas machistas<br />
e/ou homofóbicas. “Essas músicas<br />
foram baseadas em experiências de vida<br />
mal compreendidas, mas amadureci muito<br />
quando comparado ao período que<br />
comecei a escrever, há 10 anos. Agora<br />
faço questão de retratar uma mulher independente,<br />
que decide o próprio rumo.<br />
Temos que aprender essa nova visão e<br />
fazer ela acontecer.”, disse.<br />
Durante a entrevista lembramos que<br />
esse movimento autocrítica de letras<br />
que são consideradas ofensivas para<br />
LGBTs e mulheres também já afetou músicos<br />
como Criolo e Mano Brown, que<br />
tiveram a humildade de reconhecer os<br />
erros alterando as letras ou abolindo as<br />
canções polêmicas dos setlists atuais.<br />
Eltin segue no ritmo acelerado<br />
de produção musical sem deixar de<br />
aproveitar a calmaria proporcio<strong>na</strong>da<br />
pela vida <strong>na</strong> Ilha da Magia. Já era<br />
madrugada quando o beck desta entrevista<br />
chegou ao fim. Foi o momento<br />
de desligar o gravador, fazer o mix<br />
e preparar mais uma vela, pra fechar<br />
com chave de hash. H<br />
<strong>Hempada</strong> | 19 <br />
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Fotos dos Leitores<br />
@franciscoblaublau<br />
@artlp60<br />
@maismagnifica<br />
@reidocamarao421<br />
Mande a sua:<br />
HEMPADAO<br />
@GMAIL.COM<br />
@prensa420<br />
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420<br />
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Cozinherva<br />
receita @Ganja_House_Wife<br />
SalmãoMaluco<br />
Ingredientes:<br />
- 3 peras<br />
- 3 postas de Salmão<br />
- 1/4 de uma colher de sopa de Kief<br />
- Queijo Gorgonzola<br />
- Azeite<br />
- 3g de flores de can<strong>na</strong>bis<br />
- Mel<br />
- Manteiga<br />
<strong>Hempada</strong> | 22 <br />
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Modo de Fazer:<br />
Primeiro nossa chefe canábica preparou<br />
o Azeite de can<strong>na</strong>bis com 3g de<br />
flores. Devidamente ativado, o azeite<br />
serviu para preparar o caldo junto<br />
com mel a gosto, manteiga e 1/4 da<br />
colher de sopa com kief, cozinhando<br />
ao fogo baixo. Depois, bastou servir<br />
as postas de salmão com fatias fi<strong>na</strong>s<br />
de pera embebidas no caldo e gorgonzola<br />
por cima em um tabuleiro<br />
para ser levado ao forno no tempo de<br />
cozimento do peixe.<br />
Como fazer o azeite:<br />
Colocar um copo de azeite dentro de um<br />
compartimento com água quente - não fervendo.<br />
Jogar a maconha no azeite sem<br />
estar totalmente dichavada. E deixá-la por<br />
pelo menos uma hora. Mexendo vez ou<br />
outra. Depois basta passar o azeite para<br />
outro recipiente coando as flores utilizadas.<br />
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Começou!<br />
Faixa Verde<br />
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)<br />
vai desenvolver um projeto de<br />
pesquisa para o uso medici<strong>na</strong>l da maconha.<br />
O trabalho prevê investimento<br />
de R$ 3,4 milhões, sendo os R$ 400<br />
mil iniciais com recursos da própria Fundação.<br />
Um evento de Jiu-Jitsu <strong>na</strong> Califórnia<br />
(EUA) promoveu um campeo<strong>na</strong>to com<br />
premiação de 1kg de maconha para o<br />
vencedor e acendeu a chama da treta <strong>na</strong>s<br />
redes sociais, inclusive no Brasil.<br />
Valeu, Trudeau!<br />
Além Mar<br />
Bo<br />
<strong>Hempada</strong> | 26 <br />
O primeiro-ministro do Ca<strong>na</strong>dá,<br />
Justin Trudeau, cumpriu uma das suas<br />
principais promessas de campanha e<br />
conseguiu a aprovação, <strong>na</strong> Câmara<br />
e no Se<strong>na</strong>do, do projeto de legalização<br />
do uso recreativo da maconha.<br />
O parlamento português aprovou a<br />
legalização da maconha para uso medici<strong>na</strong>l.<br />
Infelizmente o cultivo pessoal segue<br />
proibido, mas o Estado fica autorizado a<br />
produzir medicamentos canábicos através<br />
do Laboratório Militar.<br />
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Junho/18<br />
´<br />
Legal...<br />
Vale a pe<strong>na</strong>?<br />
Henrique Meirelles, ex-ministro do<br />
presidente Vampirão, defendeu a legalização<br />
da maconha, durante sabati<strong>na</strong><br />
para a revista Istoé. Meirelles declarou<br />
que se trata de “uma questão de direito<br />
individual”.<br />
Levantamento da Folha de São Paulo<br />
revela que, em São Paulo, metade<br />
das prisões por tráfico de drogas são<br />
de usuários que portavam no máximo<br />
40 gramas de maconha. Ape<strong>na</strong>s duas<br />
de cada cinco ocorrências policiais envolvendo<br />
drogas <strong>na</strong> cidade é registrada<br />
como porte para uso pessoal. Os demais<br />
são presos por tráfico.<br />
Boa, Creuse!<br />
Bora, Trump<br />
Políticos do departamento de Creuse,<br />
uma das regiões mais pobres da<br />
França, aguardam o si<strong>na</strong>l verde do presidente<br />
Emmanuel Macron para fazer um<br />
polo de cultivo de maconha <strong>na</strong> localidade.<br />
Mais de 200 líderes da indústria de canábica<br />
norte-america<strong>na</strong> se reuniram em Washington<br />
<strong>na</strong> esperança de convencer o Congresso<br />
dos EUA a abraçar o crescente movimento<br />
pela legalização da maconha.<br />
<strong>Hempada</strong> | 27 <br />
Projeto 15.indd 27 11/07/2018 05:55:33
texto e fotos por<br />
Cadu Oliveira<br />
´ ~<br />
Diario de Bordo<br />
´<br />
<strong>Hempada</strong>o<br />
<strong>na</strong> California<br />
Projeto 15.indd 28 11/07/2018 05:55:35
Pela primeira vez <strong>na</strong> vida viajei<br />
consumindo can<strong>na</strong>bis em<br />
pleno voo. Não, não pense<br />
você que fiz alguma loucura<br />
para infringir as regras da<br />
aviação e colocar a vida de todos em<br />
risco com fumaça <strong>na</strong> aero<strong>na</strong>ve. Nada<br />
disso. Mas embarquei com a bagagem<br />
de mão repleta de edibles, os tais comestíveis<br />
de maconha que são febre entre<br />
os maconheiros da Califórnia. A volta<br />
foi tão longa quanto a ida, mas bem<br />
mais relaxante. Dez horas de voo, mais<br />
quatro de conexão cansam demais, mas<br />
pra ir a meca da can<strong>na</strong>bis e voltar, vale<br />
muito a pe<strong>na</strong>!<br />
Essa viagem começou quando a Micasa420<br />
convidou o Hempadão para<br />
cobrir a NorCal Can<strong>na</strong>bis Cup lá no<br />
Norte da Califórnia. Incluso no pacote<br />
estavam todos os passeios e a hospedagem.<br />
Ficava por nossa conta somente<br />
conseguir a passagem. Três marcas nos<br />
ajudaram nessa tarefa, dando asas ao<br />
sonho: PuffLife, YellowFinger e a Sediña.<br />
E aí com as passagens numa mão e essa<br />
oportunidade <strong>na</strong> outra, não tinha como<br />
deixar de realizar essa missão jor<strong>na</strong>lística<br />
para o Hempa. Sendo assim, no último<br />
dia 29 de maio, embarquei rumo a<br />
São Francisco. Que sonho.<br />
Nessa reportagem vou lhes passar<br />
um diário de bordo da trip, com o máximo<br />
de detalhes que meu caderninho<br />
conseguiu anotar. Cheguei no Aeroporto<br />
Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l às 18:30 sabendo que<br />
encararia uma longa viagem do Rio até<br />
Houston. O embarque, no Rio de Janeiro,<br />
começou às 21 horas. E a chegada<br />
no Texas aconteceu às dez pras seis da<br />
manhã. Chegando lá, a recepção da<br />
imigração é quase um tribu<strong>na</strong>l:<br />
- “Como você está?”, pergunta por<br />
educação o oficial que lhe atende após<br />
longa fila.<br />
- “Bem”. Respondi sonolento.<br />
- O que você faz no Brasil?<br />
- Sou jor<strong>na</strong>lista.<br />
- “Trabalha em rádio, Tv?”, eu não<br />
esperava por essa. Meu inglês não é lá<br />
essas coisas. Para quem não consegue<br />
se comunicar no idioma local, o ‘guarda’<br />
chama uma tradução em espanhol. Mas<br />
apesar de estranhar a pergunta e de estar<br />
cansado da viagem, consegui explicar.<br />
- Não. Escrevo um blog.<br />
- “Você ganha dinheiro com o blog?”,<br />
insistiu.<br />
<strong>Hempada</strong> | 29 <br />
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- Sim. É um blog profissio<strong>na</strong>l.<br />
- O que você veio fazer aqui?<br />
- Viagem de férias e vou aproveitar<br />
para cobrir um show do Phil Lesh (foto<br />
ao lado). Conhece?<br />
- “Não” - disse o agente da lei.<br />
- Ele era baixista do Greatful Dead,<br />
conhece a banda?<br />
- Não. Você vai ficar quantos dias<br />
aqui?<br />
- “Oito”. E mostrei a passagem de volta<br />
comprada.<br />
- “Bem-vindo aos Estados Unidos”,<br />
isso ele não disse com palavras, mas carimbando<br />
o passaporte.<br />
Eu já estava lá. Feliz da vida. Mas<br />
ainda faltava esperar uma hora para<br />
encarar mais um voo. A conexão de<br />
Houston para São Francisco leva 4 horas.<br />
Embarquei às 7 e 20 e cheguei <strong>na</strong><br />
Califórnia às 10 horas e 12 minutos de<br />
uma linda manhã ensolarada. No pacote<br />
estava incluso o transporte do aeroporto<br />
até a hospedagem. E no caso a<br />
recepção foi muito além de um mero motorista.<br />
Quem me buscou no aeroporto<br />
já era uma das hosts responsáveis pela<br />
viagem. Salvação!<br />
“A maconha é legal, medici<strong>na</strong>l há<br />
muito tempo, mas ainda existe preconceito”,<br />
disse Bia Leprechaun, ou @GanjaHouseWife,<br />
como é conhecida no<br />
instagram. Enquanto dirigia conseguiu<br />
me direcio<strong>na</strong>r para buscar, no banco de<br />
trás, uma bag opaca que continha suas<br />
flores e apetrechos para apertar um. Dez<br />
gramas de Blueberry rock bud, que tive<br />
a honra de catar algumas pipoquinhas<br />
para apertar o primeiro baseado em<br />
solo californiano. Jamais vou esquecer.<br />
Às 11 e 45 estávamos em zo<strong>na</strong><br />
portuária onde funcio<strong>na</strong> um empreendimento<br />
simplesmente incrível voltado a<br />
reinserção social. Conheci o Ty Blair,<br />
“wellness ma<strong>na</strong>ger” do local e perguntei<br />
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<strong>Hempada</strong> | 32 <br />
pra ele o que significa, em sua opinião,<br />
o conceito de Rafiki, nome do projeto.<br />
Arranhando no inglês, falei sobre a necessidade<br />
de iniciativas como essas no<br />
Brasil e ele se propôs <strong>na</strong> hora trazer o<br />
modelo para cá.<br />
Questionei a opinião dele sobre a<br />
legalização da maconha e a resposta<br />
veio <strong>na</strong> linha de que “é importante pois<br />
diminui a guerra às drogas, que serve<br />
como forma de oprimir encarcerar justamente<br />
a população com a qual trabalhamos<br />
aqui”, se referindo a pobres, negros<br />
e jovens – no geral com problemas diante<br />
da justiça.<br />
Saindo de lá perambulei pelas ruas<br />
de San Francisco até achar um grafite<br />
incrível <strong>na</strong> esqui<strong>na</strong> da rua Alice com<br />
14th. A cidade é repleta de obras de<br />
arte a céu aberto. Coloridos e ultra realísticos,<br />
os desenhos são como uma<br />
identidade pra cidade que mescla contracultura<br />
e arte há muitas décadas.<br />
Acabamos almoçando num restaurante<br />
de comida Tailandesa. Um copo grande<br />
de água chegou junto com o cardápio<br />
– cortesia da casa. O prato saiu<br />
por volta de 13 dólares.<br />
No começo da noite cheguei à casa<br />
em que ficaria hospedado pelos primeiros<br />
dias dessa viagem. Tratava-se de<br />
uma edícula muito bem adaptada para<br />
ser residência de hóspedes. Qualquer<br />
um poderia morar ali por vários anos,<br />
sem dúvida. Um charmosíssimo quarto,<br />
sala/cozinha e banheiro conjugado<br />
no coração de Berkeley, localizado no<br />
quintal de um funcionário de alta patente<br />
da equipe de tecnologia do Twitter – é,<br />
estamos mesmo no Vale do Silício. A<br />
Blueberry cantou noite adentro e uff...<br />
esse foi só o primeiro dia da viagem.<br />
No dia 31 aproveitei a estadia<br />
para conhecer a maior loja de discos<br />
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do mundo, a Amoeba Music (foto). Por<br />
sorte, estava localizada a 20 e poucos<br />
minutos a pé de onde, por coincidência<br />
do divino destino, calhei de ser hospedado.<br />
Que lugar! Além de ser especial<br />
por si só, em tamanho, magnitude e simbolismo,<br />
a loja tem um dispensário exatamente<br />
ao lado dela. Cheguei lá cedo.<br />
A Amoeba ainda estava fechada, mas<br />
o Hi Fidelity não. Com um segurança <strong>na</strong><br />
porta e o letreiro ligado, anunciava que<br />
estava pronto para receber clientes.<br />
Cheguei perto e arrisquei um “turists can<br />
visit here?”, no que ele respondeu “Yes.<br />
It´s a dispensary. Can<strong>na</strong>bis store, ok?”,<br />
alertou, pra minha felicidade total. Ele<br />
pede o passaporte, confere sua idade<br />
e pronto... vai lá.<br />
Lá dentro, <strong>na</strong> recepção, o passaporte<br />
é novamente solicitado. Eles scaneiam<br />
seu documento e te devolvem, permitindo<br />
a entrada ao estabelecimento. Um<br />
outro mundo, para quem está acostumado<br />
a conviver com a ilegalidade da ganja.<br />
Outro universo, onde a erva ganha<br />
potencialidade em todas suas vertentes.<br />
O local estava vazio, mas repleto de<br />
funcionários. Dois no balcão principal<br />
mais um budtender e outro controlando<br />
o estoque. Não resisti e fiz minha compra<br />
de maconha legal com nota fiscal e<br />
revertendo impostos para a sociedade.<br />
Não é exagero dizer que é uma sensação<br />
emocio<strong>na</strong>nte.<br />
Três gramas e meio de flores com<br />
26% de THC. Um cookie e um chocolate<br />
de maconha infused. Dava pra ser<br />
mais barata a compra, mas fui experimentar<br />
logo a erva que estava em destaque<br />
<strong>na</strong> loja, a TITS. Uma sigla para<br />
‘This Is The Shit’, strain que arrancou um<br />
segundo lugar <strong>na</strong> Can<strong>na</strong>bis Cup. O pe-<br />
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foram eles os responsáveis pela realização<br />
da trip nos EUA, representando<br />
a Micasa420 no território do Tio Sam.<br />
Cerveja local, alguns baseados, excelentes<br />
trilhas sonoras e muito bom papo.<br />
Me senti em casa. E Cody me ensinou<br />
a gíria mais usada da viagem: “Hella”,<br />
que significa algo como “muito”. Então,<br />
essa trip foi hella weed, man...<br />
Bye Bye, Berkeley!<br />
No terceiro dia foi tempo de deixar<br />
a casinha aconchegante e partir de metrô<br />
(que eles chamam de Bart) para o<br />
centro de San Francisco. Pegamos o<br />
trem <strong>na</strong> estação Rockbridge e foi só<br />
desembarcar no destino para começar<br />
a sentir marola de gente fumando pela<br />
rua a todo instante – até <strong>na</strong> frente da<br />
polícia. Isso não é aconselhado, ainda<br />
dido deu, no total, 96 dólares. A erva<br />
durou até o último dia e o chocolate até<br />
veio pro Brasil (Ops.). Já o cookie não.<br />
Experimentei de tarde e tive certeza que<br />
fez efeito pois precisei descansar três horinhas<br />
e acordei sem sentir nenhuma vontade<br />
de fumar. Ou seja, definitivamente,<br />
estava chapado.<br />
Nessa noite encontrei meus outros<br />
dois hosts da viagem, o casal Fer<strong>na</strong>nda<br />
e Cody Ballard. Junto com a Bia ,<br />
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mais se você é turista. Mas, junto com<br />
os bondes, tão tradicio<strong>na</strong>is do local, o<br />
cheiro de maconha marcou presença,<br />
talvez devido nosso faro apurado.<br />
Percebi que o centro tem muita população<br />
de rua composta por doentes<br />
mentais. Durante o fast food no Carls’Jr,<br />
um doidão entrou <strong>na</strong> lanchonete e começou<br />
a gritar e gesticular sozinho, assustando<br />
todos os presentes. O segurança<br />
ficou só olhando. “Aqui é a terra das<br />
liberdades, o estado assegura o direito<br />
de você ser o que quiser – até se quiser<br />
ser morador de rua, você tem o direito”,<br />
me disse a Fer<strong>na</strong>nda. O Double Wester<br />
Bacon <strong>na</strong> promoção, ou como dizem<br />
por lá, ‘meal’, saiu por $11,46.<br />
Batemos per<strong>na</strong> pelo centro até que<br />
resolvemos visitar o Barbary Coast Dispensary,<br />
que funcio<strong>na</strong> por ali há 5 anos.<br />
“É muito corrido...”, respondeu, enquanto<br />
nos cadastrava no sistema, o budtender<br />
ao ser questio<strong>na</strong>do sobre a roti<strong>na</strong><br />
do local. E parecia mesmo ser verdade,<br />
pois havia fila para entrar, mesmo com<br />
oito atendentes simultaneamente vendendo<br />
erva e derivados.<br />
Dessa vez a compra foi por parte do<br />
pacote. Três gramas e meia de uma Lemon<br />
Hash Plant muito forte saíram por<br />
$27,65. E um pack charmoso de 5 cigarros<br />
pré-enrolados custou $34. Esse<br />
dispensário se diferencia dos outros por<br />
conter um espaço de lounge onde a galera<br />
pode fumar o que acabou de adquirir.<br />
Na teoria as mesas e sofás estão<br />
disponíveis para os clientes por 30 minutos,<br />
mas não vi regularem isso. Mediante<br />
documento com um dos “garçons”, eles<br />
emprestam bandeja com todos as ferramentas<br />
para confecção do baseado<br />
– seda, dichavador, etc. E mais... também<br />
dispõem de vaporizadores e bongs<br />
para dab. Um luxo.<br />
Só saímos porque tínhamos um brasileiro<br />
pra encontrar do lado de fora.<br />
Cláudio de Matos, 48 anos, é cabelereiro<br />
e mora nos EUA há 4 anos e viu de<br />
perto toda essa movimentação da legalização<br />
da erva recreativa <strong>na</strong> Califa. “O<br />
americano tem uma relação completamente<br />
diferente com drogas do que nós<br />
temos no Brasil. Pela primeira vez aqui<br />
eu vi drogas pesadas e restritivas (como<br />
heroí<strong>na</strong>). Já a maconha, que todo mundo<br />
usa, levou o governo da Califórnia a<br />
liberar o uso consciente. Hoje o estado<br />
da Califórnia produz mais maconha que<br />
o México inteiro. Isso acarreta vários<br />
problemas como desmatamentos, plantios<br />
ilegais, pesticidas... quando vim pra<br />
cá tive a oportunidade me tratar com a<br />
can<strong>na</strong>bis medici<strong>na</strong>l”, disse ele, lembrando<br />
ainda que “a maconha não é só entretenimento”.<br />
Cláudio é paciente medici<strong>na</strong>l<br />
e recebe do estado a autorização<br />
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para compra de suas pílulas de CBD.<br />
Depois da entrevista fomos até o parque<br />
Golden Gate, aproveitar o visual<br />
que mescla a beleza da ponte e o horizonte<br />
ao retrato sinistro da prisão de<br />
Alcatraz, uma das mais famosas do mundo.<br />
Passamos também por um píer onde<br />
era possível admirar a Bay Bridge, ponte<br />
que liga San Francisco a Oakland. Fizemos<br />
rápida sessão de fotos. E assim,<br />
a Fer<strong>na</strong>nda Ballard, uma grande amiga<br />
dos tempos de Letras-UFRJ, virou capa<br />
de revista.<br />
Dali fomos para o famoso ponto turístico<br />
paraíso das focas, o Pier 39. Teve<br />
degustação de peixe com fritas e cerveja<br />
local. Isso que é turismo de locão. Mais<br />
tarde brotamos no Eli´s Bar, um reduto<br />
que mais parecia o universo paralelo<br />
onde a geração hippie ficou presa. A<br />
céu aberto, pois <strong>na</strong> região quase não<br />
chove, o bar é um point alter<strong>na</strong>tivo onde<br />
não vimos ninguém fumando, mas tacamos<br />
fogo mesmo assim. Que dia!<br />
O quarto e quinto dias foram especiais<br />
para a High Times Can<strong>na</strong>bis Cup<br />
do Norte da Califórnia. Deslocamos<br />
de Vacaville para Santa Rosa de carro,<br />
numa viagem enfumaçada que levou<br />
cerca de duas horas. Conheci alguns<br />
brasileiros empreendedores do mundo<br />
da maconha no evento. O relato completo<br />
da copa está <strong>na</strong> matéria seguinte,<br />
nessa mesma edição.<br />
Camarão e Culinária:<br />
Miss you, Califa!<br />
No dia após a copa foi preciso descansar<br />
e recuperar as baterias – minha e<br />
das câmeras. Mas isso é fácil quando se<br />
tem a disposição vasta oferta de especiarias<br />
canábicas para se degustar. Mas<br />
fazer fumaça talvez seja pouco para ma-<br />
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conheiros level hard que querem, literalmente,<br />
comer com farinha! Cody preparou<br />
uma receita de costela com infusão<br />
de óleo concentrado de THCA. Já <strong>na</strong><br />
seda, experimentamos um strain chamado<br />
Kush Boys.<br />
“A Califórnia tem cerca de trezentas<br />
fábricas e lojas de maconha contra 30<br />
mil de álcool, disse a BBC. Isso vai mudar...”,<br />
afirmou Clinton, jovem investidor<br />
e empresário do ramo canábico, questio<strong>na</strong>do<br />
sobre projeções para o futuro<br />
do mercado verde. Foi consenso que os<br />
“ribs com THCA” estavam excelentes. A<br />
noite chegou ao fim enquanto ouvíamos<br />
The Roots.<br />
No sétimo dia da viagem pegamos<br />
a estrada rumo a uma fazenda de plantação<br />
de maconha. Quem nos recebeu<br />
foi o Jo<strong>na</strong>than, um cultivador experiente<br />
e vocalista de banda de metal. O cara<br />
é um verdadeiro “homem da montanha”<br />
pois comprou seu terreno há menos de<br />
um ano e está construindo, com suas<br />
próprias mãos, as casas e imóveis conjugados.<br />
Por enquanto o banheiro é<br />
em um contêiner onde também fica o<br />
freezer, que funcio<strong>na</strong> a base de gerador.<br />
Nesse local afastado, eles mantem<br />
uma estufa com cerca de 60 pés de<br />
maconha, desti<strong>na</strong>dos ao mercado, por<br />
enquanto, ilegal.<br />
É verdade que os habitantes da fazenda<br />
visam um dia trabalhar legalmente<br />
com a erva cultivada por ali. Mas,<br />
enquanto isso, a maconha de boa qualidade<br />
tem seu preço e pode servir como<br />
escambo em negócios locais. Um dos<br />
funcionários até negociou o conserto de<br />
seu automóvel trocando por um pound<br />
de beck, o que é aproximadamente meio<br />
quilo de fumo. O pound costuma sair por<br />
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$600. Questio<strong>na</strong>do sobre usava redes<br />
sociais para divulgar seus conhecimentos<br />
acumulados, Jo<strong>na</strong>than disse: “Não<br />
me interessa postar no Instagram os<br />
segredos do meu cultivo”. Interpretei a<br />
resposta como algum possível receio<br />
das autoridades, e perguntei se ele<br />
tem medo de cultivar ali e ele me falou<br />
que “não se preocupa pois cultiva<br />
pouca quantidade”.<br />
À noite, de volta à cidade, teve aula<br />
de culinária canábica. A Ganja Housewife<br />
preparou um salmão com peras<br />
carameladas, preparado no azeite canábico<br />
feito <strong>na</strong> hora. Que prato!<br />
No dia seguinte, fomos convidados<br />
a conhecer uma fábrica de resi<strong>na</strong> para<br />
se usar com canetas vaporizadoras em<br />
Sacramento. Se o futuro já é <strong>na</strong> Califa,<br />
essa tecnologia é ainda mais além. O<br />
aparelho ativa diretamente com o puxar<br />
de ar. As essências que me deram foi<br />
de Ba<strong>na</strong><strong>na</strong> Kush, Blueberry Pie e Sweet<br />
Melon... todas aprovadíssimas! O gosto<br />
é forte e a onda também. Aconselha-se<br />
sempre puxar pouco pois a alta<br />
ingestão dessa fumaça pode te fazer<br />
tossir demais.<br />
Ao apresentar a máqui<strong>na</strong> que é responsável<br />
por produzir o óleo, o sócio<br />
disse: “This is the money maker”, o que<br />
dispensa traduções, né? Todo o resto<br />
da fábrica é para teste e armaze<strong>na</strong>mento,<br />
enquanto praticamente toda a mágica<br />
acontece ali. O concentrado produzido<br />
é diluído e vendido em cápsulas<br />
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que se acoplam a uma bateria recarregável.<br />
Cada cápsula com ca<strong>na</strong>binóides<br />
ativados sai por 75 dólares. Tendo<br />
a permissão para comprar maconha e<br />
produzir o óleo legalmente, a fábrica<br />
SVN10 está fazendo dinheiro aos litros,<br />
literalmente.<br />
A poucas quadras da fábrica estava<br />
o Two Riders Dispensary onde fui<br />
gentilmente barrado <strong>na</strong> porta quando<br />
o segurança disse que “após as últimas<br />
mudanças <strong>na</strong>s leis os passaportes latinos<br />
não estão sendo mais aceitos, só<br />
documentação de americanos”, pra minha<br />
tristeza. Aproveitei que fui o único<br />
a ficar lá fora pra trocar ideia com ele,<br />
que preferiu não dizer o nome, mas já<br />
trabalha lá há quatro anos. “É um lugar<br />
tranquilo de se trabalhar, só tive<br />
problemas com a população de rua no<br />
começo”, e disse ainda que o estabelecimento<br />
recebe cerca de 100 clientes<br />
todos os dias. Enquanto as hosts faziam<br />
compras, fui dar um tapa <strong>na</strong> caneta...<br />
e vi o segurança vindo em minha direção<br />
para avisar que eu não podia usar<br />
o medicamento <strong>na</strong>quele perímetro do<br />
dispensário, se quisesse fumar tinha que<br />
me afastar dali. Sorry, bro...<br />
Antes de deixar Sacramento deu<br />
tempo ainda de conversar com a militante<br />
Elisa, de 41 anos. Ela disse que<br />
“a indústria da maconha é a que mais<br />
emprega mulheres, proporcio<strong>na</strong>lmente,<br />
nos EUA”, lembrando da importância<br />
desse dado em uma sociedade machis-<br />
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ta como a norte-america<strong>na</strong>. É fácil observar<br />
que a legalização por lá é muito<br />
mais solução do que problema. A Califórnia<br />
abriu portas para a indústria e, ao<br />
legalizar o uso recreativo, garantiu ser o<br />
paraíso da can<strong>na</strong>bis <strong>na</strong> terra.<br />
De noite, a missão era fumar tudo que<br />
tinha! É claro que não consegui, pois era<br />
muita flor e diversas variedades de concentrados<br />
- de hashs aos óleos, até kief.<br />
O nono dia era para fechar as malas e<br />
embarcar. Eu, uma pilha de quase oitenta<br />
discos e uma sacola repleta de lembranças,<br />
como nota fiscal e embalagens<br />
dos produtos legais, pegamos o voo em<br />
Houston direto pro Rio. Eu sei que nunca<br />
vou esquecer essa viagem, mas escrever<br />
esse relato é a maneira singela que tenho<br />
de eternizar e compartilhar essa experiência.<br />
Após tantos dias de alegria <strong>na</strong> meca<br />
da maconha, não teve jeito... tive que<br />
voltar pra casa. No voo serviram frango<br />
ou carne bovi<strong>na</strong>, mas eu nem lembro o<br />
que escolhi, pois lancei mais de 100mg<br />
de edibles pra dentro, como te disse no<br />
começo. E se voltamos ao início, significa<br />
que, de fato, chegamos ao fim de nossa<br />
viagem. H<br />
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Nor Cal<br />
Can<strong>na</strong>bis Cup<br />
2018<br />
texto e fotos por<br />
Cadu Oliveira<br />
Nos dias 2 e 3 de junho a cidade<br />
de Santa Rosa, no estado<br />
da Califórnia, recebeu sua<br />
primeira High Times Can<strong>na</strong>bis<br />
Cup. Tive a honra de conferir o evento<br />
de perto, quer dizer, lá de dentro... e<br />
tenho aqui o dever e a responsabilidade<br />
de compartilhar a cobertura com vocês.<br />
A copa da revista america<strong>na</strong> mais tradicio<strong>na</strong>l<br />
sobre maconha é uma competição<br />
comercial, ou seja, você não pode chegar<br />
lá no dia e se inscrever com sua maconha<br />
– como acontece <strong>na</strong>s copas “menores”.<br />
O valor das entradas para os dias de<br />
evento é uma facada: cem dólares. A pulseirinha<br />
de plástico lhe dá acesso ao evento...<br />
e só, <strong>na</strong>da de brindes ou gratuidades<br />
lá dentro por parte da organização.<br />
Sendo assim, fica por conta dos stands<br />
proporcio<strong>na</strong>r a alegria da galera. O evento<br />
aconteceu em local imenso, com uma<br />
quantidade grande de expositores, a céu<br />
aberto, num lindo dia de sol.<br />
As marcas competem entre si para ver<br />
quem leva o caneco em categorias como:<br />
melhor stand, melhor vidro, melhor produto,<br />
melhor comestível, melhor produto<br />
para uso tópico, melhor comestível com<br />
CBD, melhor caneta vaporizadora de<br />
CBD, melhor flor de CBD, melhor CBD<br />
concentrado, melhor medicamento com<br />
maconha, melhor Prerolled, melhor caneta<br />
vaporizadora, melhor haxixe sem solvente,<br />
melhor indica concentrada, melhor sativa<br />
concentrada, melhor híbrida concentrada,<br />
melhor flor de indica, melhor flor de sativa<br />
e melhores flores híbridas. Ufff...<br />
Logo <strong>na</strong> chegada já ganhei um pre<br />
-rolled no stand da Lucky Box. Morango<br />
Luckstrike, dizia o rótulo. Por ali também<br />
estava rolando um dab free. O óleo escolhido,<br />
Lucky Diesel. Quanta sorte, já pra<br />
<strong>Hempada</strong> | 44 <br />
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começar. Mas nem tudo era de graça <strong>na</strong><br />
festa, claro.<br />
Um dos maiores e mais disputados espaços<br />
foi o do Papa & Barkley, com stand<br />
voltado a produtos tópicos de CBD medici<strong>na</strong>l.<br />
Quando fomos comprar a blusa da<br />
copa (pois tenho uma peque<strong>na</strong> coleção<br />
delas) o vendedor lembrou da Copa do<br />
mundo de futebol de 94, vencida pelo<br />
Brasil em solo americano. Pelo visto Romário<br />
deixou lembranças por lá...<br />
No espaço para palestras, algumas<br />
sessenta cadeiras ouviam, vazias, a palestra<br />
que contava com menos de vinte espectadores.<br />
Dei mais uma sorte! Cheguei<br />
quando estava acontecendo a conversa<br />
sobre a origem do 420. E quem estava falando<br />
eram os Waldos, os caras que criaram<br />
o termo!! No meio de muitas risadas<br />
e excelentes histórias, um dos integrantes<br />
do grupo lembrou que, apesar do fenômeno,<br />
“não tem mais porque usar o código”,<br />
agora que a maconha já é amplamente<br />
legalizada por lá. E concluiu que o termo,<br />
em sua origem, sempre foi “algo sobre se<br />
divertir”.<br />
Há anos editor da High Times, Danny<br />
Danko estava mediando as palestras<br />
e, entre uma e outra, recebeu a coleção<br />
da <strong>Hempada</strong>. Voltando lá pra fora, aproveitamos<br />
um drink de CBD, que estava à<br />
venda por cerca de 8 a 10 dólares. Tinha<br />
polícia <strong>na</strong> copa o tempo inteiro. Os<br />
policiais rodavam para lá e para cá sem<br />
incomodar ninguém, garantindo somente<br />
a segurança e tranquilidade do evento.<br />
O que mais impressio<strong>na</strong>, para quem<br />
vem do Brasil, é a quantidade de maconha<br />
vendendo aos sacos e potes. Todos<br />
os tipos, formatos e modelos de possibilidades<br />
para ficar chapado. Eu nunca tinha<br />
visto a tal Moonrock ao vivo, aquela erva<br />
envolta e recheada em óleo e misturada<br />
com kief. Tinha lá vendendo por 10 dólares<br />
o grama. Pedi duas e acho que foi minha<br />
única compra no primeiro dia de feira.<br />
Nesse dia o palco foi ocupado por Phill<br />
Lesh and Friends, animando uma plateia<br />
não muito populosa.<br />
A chegada no segundo dia do evento<br />
foi recepcio<strong>na</strong>da por um calor ainda<br />
maior que no dia anterior. De boa. Na<br />
busca por conseguir a credencial de imprensa,<br />
conhecemos um brasileiro muito<br />
gente boa, empresário responsável pela<br />
marca Next Green Wave. Michael chegou<br />
nos EUA aos 13 anos e em 2016<br />
abriu a empresa e tem participado ativamente<br />
dos circuitos de copas promovidos<br />
pela High Times.<br />
No segundo dia já não era possível<br />
votar. Mas, sem ter acesso a todos os<br />
produtos, como votaríamos? Para o visitante<br />
normal, a parte mais “copa” do<br />
evento é a premiação. No palco, os<br />
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vencedores recebem troféus lindos que<br />
vão, certamente, ser exibidos em suas<br />
lojas ou estabelecimentos empresariais.<br />
Percebi que o evento conta com<br />
grande presença de pessoas com dificuldades<br />
de locomoção, pacientes medici<strong>na</strong>is<br />
de maconha com muletas e cadeiras<br />
de roda. Para isso, a acessibilidade<br />
da festa é total pois acontece em um espaço<br />
totalmente plano, gramado, com<br />
muito ar livre para fumar e caminhar. A<br />
área de comida foi bastante disputada<br />
<strong>na</strong> parte mais próxima aos expositores,<br />
mas existiam outras opções mais afasta-<br />
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das prontas para atender sem meia hora<br />
de fila.<br />
Em clima de fi<strong>na</strong>l de feira, era possível<br />
encontrar boas ofertas a preços promocio<strong>na</strong>is,<br />
no fi<strong>na</strong>l do evento. O palco foi tomado<br />
pela banda Arrested Development,<br />
grupo que eu não conhecia mas passei a<br />
admirar demais após assistir ao show. Que<br />
musicalidade. Antes do Blues Traveler invadir<br />
o palco quebrando tudo <strong>na</strong> guitarra,<br />
vocal e gaita, fui dar o último rolê pela área<br />
de exposição.<br />
Acabei conhecendo o Rafael, que foi<br />
pros EUA e começou a trabalhar como budtender<br />
em dispensário até virar gerente.<br />
“Comecei a fazer uns cookies e eu vendia<br />
para mim mesmo, <strong>na</strong> loja. Fiz isso por muito<br />
tempo. Até que resolvi sair do dispensário e<br />
abrir minha própria empresa”, diz o dono<br />
da Mystery Baking, produtor de balas,<br />
biscoitos e guloseimas canábicas. O doce<br />
com 100mg de can<strong>na</strong>bis custava 10 dólares,<br />
mas para brasileiro o preço foi 5 cada,<br />
para nossa total alegria – fora os brindes.<br />
O festival parece um cenário do filme<br />
Woodstock, com pessoas caracterizadas<br />
pela cultura hippie passando a todo tempo.<br />
Já no fi<strong>na</strong>l do evento, vi um dos stands apresentando<br />
a tarperagem de um beck com<br />
um pound de maconha. Tive que perguntar<br />
qual era o strain, duvidando que seria prensadão...,<br />
mas era uma tal de HeadStash.<br />
Morto de larica, acabei devorando uma<br />
pizza de camarão deliciosa, porção individual,<br />
por 18 doletas.<br />
No palco o guitarrista do Blues Traveler<br />
saía, vez ou outra, para fumar <strong>na</strong> coxia. Já<br />
o vocalista, solicitado o tempo todo <strong>na</strong> voz<br />
ou <strong>na</strong> gaita, preferiu fumar ali mesmo, numa<br />
caneta vaporizadora. Um dos stands mais<br />
legais, a meu ver, foi o RasBoss, que transforma<br />
buds em pingentes de ouro! Pe<strong>na</strong> a<br />
peça ser tão cara. Cerca de 255 dólares<br />
era o valor de uma joia canábica como<br />
essa da foto.<br />
A copa é irada. Mas me parece que<br />
todos os participantes, desde lojistas aos<br />
visitantes, saem com uma sensação de que<br />
podia ser um pouco melhor. Talvez mais<br />
cheio, mais animado e com uma acessibilidade<br />
maior aos produtos competidores.<br />
Quem sou eu pra reclamar, e aliás, longe<br />
disso. Mas perguntei para outros presentes<br />
sobre a nota que davam ao evento e a média<br />
não passou de seis. Hey, High Times...<br />
<strong>na</strong> próxima quero ver um dez. H<br />
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Fui pra Califa e voltei com essa pérola<br />
em vinil. O álbum foi lançado em disco duplo<br />
e com arte incrível no interior da capa<br />
gatefold. Por aqui já tinha<br />
visto vendendo por<br />
mais de 200 reais mas<br />
lá encontrei ele <strong>na</strong> Amoeba<br />
por 28 dólares.<br />
Que achado.<br />
Kendrick é, <strong>na</strong> minha<br />
opinião, o melhor<br />
rapper da atualidade,<br />
pois consegue misturar o<br />
ritmo do RAP moderno à<br />
sujeira, letra e sonoridade<br />
dos clássicos. Não à<br />
toa esse álbum recebeu<br />
o Prêmio Publitzer de<br />
Música. Aos 30 anos, ele foi o primeiro<br />
rapper da história a receber tal reconhecimento.<br />
Se você nunca ouviu <strong>na</strong>da dele pode começar<br />
por esse álbum completo que não<br />
vai se arrepender. O álbum contém pitadas<br />
de Trap mas também<br />
a pegada old school,<br />
o que faz o állbum encantar<br />
as novas e velhas<br />
gerações.<br />
Esse disco, por si, é<br />
uma festa. Destaque<br />
para Loyalty, parceria<br />
do Kendrick com Rihan<strong>na</strong><br />
pra produzir um hit<br />
sem igual. DNA ganhou<br />
versão clipe irada. Feel<br />
carrega uma letra dig<strong>na</strong><br />
de ser lida e relida. E<br />
Humble é um hino. Bota<br />
pra tocar alto e sinta o poder da produção<br />
musical desse talento destoante de nossa<br />
época.<br />
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Filme para Brisar...<br />
A comediante Han<strong>na</strong>h Gadsby vai<br />
dar um nó <strong>na</strong> sua cabeça com essa<br />
apresentação que tem pouco mais<br />
de uma hora. Vai por mim... apesar<br />
de não falar em maconha nenhuma<br />
vez, esse filme vai chapar mais do<br />
que um fino mati<strong>na</strong>l. As lições tiradas<br />
desse stand-up são inúmeras e<br />
vão se relacio<strong>na</strong>ndo à temas desde<br />
homofobia à educação, passando<br />
por sexismo e história da arte. Mais<br />
do que rir, é muito provável que<br />
esse show de humor faça, também,<br />
você chorar. Necessário, autocrítico,<br />
e diria até filosófico, a peça vai<br />
por em cheque o próprio papel da<br />
comédia tal como a conhecemos.<br />
Um grito de liberdade genial. Assistam.<br />
Reflitam. E divulguem isso.<br />
livro para Embrasar...<br />
Esse livro é indicado sobretudo para<br />
quem se interessa por redes sociais e<br />
jor<strong>na</strong>lismo investigativo. Sem dúvidas<br />
ler essa obra vai mudar completamente<br />
sua maneira de ver a geopolítica da<br />
comunicação planetária atual. No enredo<br />
a maconha é citada, timidamente,<br />
duas vezes, pois Snowden, além de um<br />
herói moderno, é um defensor da legalização.<br />
O homem mais procurado do<br />
mundo ganhou esse status ao vazar milhares<br />
de documentos ultrassecretos das<br />
agências de espio<strong>na</strong>gem inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is<br />
dos EUA e Reino Unido. Segundo ele,<br />
instituições como a CIA estariam monitorando<br />
informação em massa violando o<br />
direito de privacidade de cidadãos do<br />
mundo todo. Será?<br />
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.<br />
..<br />
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seu apoio vai ajudar a escrever a história da legalização no brasil. Obrigado!<br />
<strong>Hempada</strong> <strong>#15</strong><br />
revista n o<br />
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