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Whiz 6ª Edição

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Os termos sustentabilidade<br />

e ecologia já são conhecidos<br />

na moda há tempos, mas<br />

nunca estiveram tão em<br />

alta quanto agora. Com<br />

estudos noticiando<br />

os perigos da produção<br />

e do consumo desenfreados dos<br />

dias de hoje, quem aposta na linha<br />

contrária tem se dado bem.<br />

A forma responsável de consumir<br />

moda vai muito além de comprar<br />

menos. Ela implica onde comprar<br />

e qual peça comprar. Estilistas<br />

e marcas que se preocupam com<br />

medidas sustentáveis no processo<br />

de criação e produção de suas peças<br />

contribuem para o que<br />

os especialistas apostam ser o futuro<br />

desse ramo, um meio de produção<br />

que não agrida tanto o planeta nem<br />

corrobore com a exploração de mão<br />

de obra ou de obras primas.<br />

É desse apanhado de ideais que nasce<br />

a moda ecológica e consciente. Dona<br />

de uma grife homônima originada<br />

em São Paulo, Nicole Bustamante<br />

investe em uma moda que, além de<br />

primar pelo meio ambiente<br />

e em formas de agredi-lo o menos<br />

possível, busca em seus meios de<br />

produção uma confecção justa com<br />

os trabalhadores que suam ao dar<br />

forma às modelagens da estilista.<br />

A valorização da marca pelo chamado<br />

fair trade, comércio justo em<br />

tradução livre, vai de encontro com<br />

os recorrentes casos que entram na<br />

mídia de exploração de mão de obra<br />

e trabalhadores em situações análogas<br />

à escravidão. Outro conceito dessa<br />

novidade no mundo do vestuário<br />

é que quando o fair trade é aplicado,<br />

normalmente se dá o slow fashion,<br />

quando o lançamento de novas<br />

coleções é feito em tempo diferente<br />

do da moda tradicional, em função<br />

do tempo de produção que se torna<br />

quase artesanal.<br />

O trabalho para ir na contramão do<br />

que é feito desde que a moda existe<br />

é meticuloso. É preciso verificar<br />

e confirmar a origem de tecidos,<br />

tintas para tingimentos e outros<br />

acessórios necessários para<br />

a confecção de cada uma das peças,<br />

para que sejam 100% veganos,<br />

ou seja, não tenham origem animal.<br />

Isso acarreta em um problema<br />

de acessibilidade da população.<br />

“Matéria prima inovadora e com<br />

SEGUINDO AINDA NA LINHA DO CONSUMO<br />

CONSCIENTE, UMA PRÁTICA ANTIGA SE<br />

TORNOU FEBRE NO MUNDO E PROMETE<br />

ESTOURAR NO BRASIL, OS BRECHÓS.<br />

O CONCEITO DE SUSTENTÁVEL SE<br />

ENCAIXA PERFEITAMENTE NESSE TIPO DE<br />

CONSUMO, UMA VEZ QUE É PURAMENTE<br />

A REUTILIZAÇÃO DE PEÇAS. AOS<br />

POUCOS, OS BRECHÓS VÃO TOMANDO<br />

FORMA COM CURADORIAS ESPECÍFICAS<br />

E ENTREGANDO PEÇAS A PÚBLICOS<br />

DIFERENTES. OUTRA MODALIDADE QUE<br />

SEGUE ESSE PENSAMENTO CONSCIENTE<br />

SÃO AS CHAMADAS “ROUPATECAS”.<br />

COMO O PRÓPRIO NOME PROPÕE,<br />

O “COFASHIONING” ASSEMELHA-SE<br />

A UMA BIBLIOTECA. FUNCIONA EM FORMA<br />

DE ASSINATURA E, MEDIANTE<br />

O PAGAMENTO DE UMA MENSALIDADE,<br />

O CLIENTE TEM UM ACERVO À DISPOSIÇÃO<br />

PARA USAR E DEPOIS DEVOLVER, COMO<br />

SE VÁRIAS PESSOAS DIVIDISSEM<br />

O MESMO GUARDA-ROUPA.<br />

tecnologia mais ecologicamente<br />

correta costuma ser mais cara devido<br />

à baixa demanda”, afirma Nicole.<br />

Ainda completa que o mesmo<br />

acontece com oficinas que operam<br />

no sistema de comércio justo.<br />

A dificuldade de se propagar<br />

o conceito de moda consciente<br />

e, consequentemente, a compra dela<br />

por parte da população, é justamente<br />

o obstáculo que é colocado no preço<br />

final. O cliente não vê os processos<br />

de produção da marca e só se depara<br />

com a peça pronta e um preço mais<br />

elevado se comparado a grandes lojas<br />

de departamento, que normalmente<br />

fabricam em países com mão de obra<br />

mais barata para aumentar o lucro.<br />

Logo, o consumidor não tem como<br />

comparar e saber que o preço é justo<br />

e acaba comprando o que acha que<br />

terá maior benefício, ou seja, o mais<br />

barato, contribuindo para o sistema<br />

tradicional da moda.<br />

Apesar disso, o termo cruelty free,<br />

livre de crueldade, acaba atraindo<br />

muitos jovens que concordam com<br />

o ideal vegano de vida e, por isso,<br />

a aceitação da marca é boa no<br />

mercado nessa faixa etária.<br />

O mercado de luxo, infelizmente,<br />

ainda não possui a mesma recepção<br />

da clientela. O estilista de Caxias do<br />

Sul, Carlos Bacchi, está ganhando<br />

bastante visibilidade por desenvolver<br />

vestidos de noiva com material<br />

ecológico e método de produção<br />

com menos resíduos. Criar em<br />

um espaço com um sistema de<br />

iluminação que economize energia<br />

também é uma de suas medidas para<br />

reduzir a porcentagem de emissão<br />

de poluentes. Bacchi ainda procura<br />

soluções para materiais sintéticos em<br />

produtos naturais como chás, frutas<br />

e vegetais.<br />

“No Rio Grande do Sul, o público<br />

ainda é clássico o suficiente para<br />

optar por materiais tradicionais”,<br />

revela o estilista. Essa revolução pode<br />

assustar quem nunca pensou nas<br />

mudanças da moda, mas é opinião<br />

comum dos profissionais desse novo<br />

segmento do mercado que esse será,<br />

em pouco tempo, o único meio<br />

de produção possível, tentando<br />

minimizar os impactos negativos<br />

dessa indústria e ajudar a existir<br />

melhor com o meio-ambiente.<br />

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