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Os termos sustentabilidade<br />
e ecologia já são conhecidos<br />
na moda há tempos, mas<br />
nunca estiveram tão em<br />
alta quanto agora. Com<br />
estudos noticiando<br />
os perigos da produção<br />
e do consumo desenfreados dos<br />
dias de hoje, quem aposta na linha<br />
contrária tem se dado bem.<br />
A forma responsável de consumir<br />
moda vai muito além de comprar<br />
menos. Ela implica onde comprar<br />
e qual peça comprar. Estilistas<br />
e marcas que se preocupam com<br />
medidas sustentáveis no processo<br />
de criação e produção de suas peças<br />
contribuem para o que<br />
os especialistas apostam ser o futuro<br />
desse ramo, um meio de produção<br />
que não agrida tanto o planeta nem<br />
corrobore com a exploração de mão<br />
de obra ou de obras primas.<br />
É desse apanhado de ideais que nasce<br />
a moda ecológica e consciente. Dona<br />
de uma grife homônima originada<br />
em São Paulo, Nicole Bustamante<br />
investe em uma moda que, além de<br />
primar pelo meio ambiente<br />
e em formas de agredi-lo o menos<br />
possível, busca em seus meios de<br />
produção uma confecção justa com<br />
os trabalhadores que suam ao dar<br />
forma às modelagens da estilista.<br />
A valorização da marca pelo chamado<br />
fair trade, comércio justo em<br />
tradução livre, vai de encontro com<br />
os recorrentes casos que entram na<br />
mídia de exploração de mão de obra<br />
e trabalhadores em situações análogas<br />
à escravidão. Outro conceito dessa<br />
novidade no mundo do vestuário<br />
é que quando o fair trade é aplicado,<br />
normalmente se dá o slow fashion,<br />
quando o lançamento de novas<br />
coleções é feito em tempo diferente<br />
do da moda tradicional, em função<br />
do tempo de produção que se torna<br />
quase artesanal.<br />
O trabalho para ir na contramão do<br />
que é feito desde que a moda existe<br />
é meticuloso. É preciso verificar<br />
e confirmar a origem de tecidos,<br />
tintas para tingimentos e outros<br />
acessórios necessários para<br />
a confecção de cada uma das peças,<br />
para que sejam 100% veganos,<br />
ou seja, não tenham origem animal.<br />
Isso acarreta em um problema<br />
de acessibilidade da população.<br />
“Matéria prima inovadora e com<br />
SEGUINDO AINDA NA LINHA DO CONSUMO<br />
CONSCIENTE, UMA PRÁTICA ANTIGA SE<br />
TORNOU FEBRE NO MUNDO E PROMETE<br />
ESTOURAR NO BRASIL, OS BRECHÓS.<br />
O CONCEITO DE SUSTENTÁVEL SE<br />
ENCAIXA PERFEITAMENTE NESSE TIPO DE<br />
CONSUMO, UMA VEZ QUE É PURAMENTE<br />
A REUTILIZAÇÃO DE PEÇAS. AOS<br />
POUCOS, OS BRECHÓS VÃO TOMANDO<br />
FORMA COM CURADORIAS ESPECÍFICAS<br />
E ENTREGANDO PEÇAS A PÚBLICOS<br />
DIFERENTES. OUTRA MODALIDADE QUE<br />
SEGUE ESSE PENSAMENTO CONSCIENTE<br />
SÃO AS CHAMADAS “ROUPATECAS”.<br />
COMO O PRÓPRIO NOME PROPÕE,<br />
O “COFASHIONING” ASSEMELHA-SE<br />
A UMA BIBLIOTECA. FUNCIONA EM FORMA<br />
DE ASSINATURA E, MEDIANTE<br />
O PAGAMENTO DE UMA MENSALIDADE,<br />
O CLIENTE TEM UM ACERVO À DISPOSIÇÃO<br />
PARA USAR E DEPOIS DEVOLVER, COMO<br />
SE VÁRIAS PESSOAS DIVIDISSEM<br />
O MESMO GUARDA-ROUPA.<br />
tecnologia mais ecologicamente<br />
correta costuma ser mais cara devido<br />
à baixa demanda”, afirma Nicole.<br />
Ainda completa que o mesmo<br />
acontece com oficinas que operam<br />
no sistema de comércio justo.<br />
A dificuldade de se propagar<br />
o conceito de moda consciente<br />
e, consequentemente, a compra dela<br />
por parte da população, é justamente<br />
o obstáculo que é colocado no preço<br />
final. O cliente não vê os processos<br />
de produção da marca e só se depara<br />
com a peça pronta e um preço mais<br />
elevado se comparado a grandes lojas<br />
de departamento, que normalmente<br />
fabricam em países com mão de obra<br />
mais barata para aumentar o lucro.<br />
Logo, o consumidor não tem como<br />
comparar e saber que o preço é justo<br />
e acaba comprando o que acha que<br />
terá maior benefício, ou seja, o mais<br />
barato, contribuindo para o sistema<br />
tradicional da moda.<br />
Apesar disso, o termo cruelty free,<br />
livre de crueldade, acaba atraindo<br />
muitos jovens que concordam com<br />
o ideal vegano de vida e, por isso,<br />
a aceitação da marca é boa no<br />
mercado nessa faixa etária.<br />
O mercado de luxo, infelizmente,<br />
ainda não possui a mesma recepção<br />
da clientela. O estilista de Caxias do<br />
Sul, Carlos Bacchi, está ganhando<br />
bastante visibilidade por desenvolver<br />
vestidos de noiva com material<br />
ecológico e método de produção<br />
com menos resíduos. Criar em<br />
um espaço com um sistema de<br />
iluminação que economize energia<br />
também é uma de suas medidas para<br />
reduzir a porcentagem de emissão<br />
de poluentes. Bacchi ainda procura<br />
soluções para materiais sintéticos em<br />
produtos naturais como chás, frutas<br />
e vegetais.<br />
“No Rio Grande do Sul, o público<br />
ainda é clássico o suficiente para<br />
optar por materiais tradicionais”,<br />
revela o estilista. Essa revolução pode<br />
assustar quem nunca pensou nas<br />
mudanças da moda, mas é opinião<br />
comum dos profissionais desse novo<br />
segmento do mercado que esse será,<br />
em pouco tempo, o único meio<br />
de produção possível, tentando<br />
minimizar os impactos negativos<br />
dessa indústria e ajudar a existir<br />
melhor com o meio-ambiente.<br />
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