OCTÓGONO Entre suas antigas casas e um futuro incerto, saiba mais sobre a constante luta dos refugiados Por Pedro Orsolini Osorio Foto: Sandor Csudai “Se formos pensar, todos são estrangeiros, cada um tem uma parcela de outro país no sangue, ninguém é 100% alguma coisa” 8
Para o mundo globalizado em que vivemos nos dias atuais, não é algo inusitado encontrar, em nosso cotidiano, pessoas de diferentes nacionalidades, religiões, costumes, e ideais. Diversos estrangeiros saem de seu país de origem como refugiados, devido às guerras e conflitos regionais, fugindo da pobreza extrema e desemprego, portanto, em busca de melhores condições econômicas e sociais. Dados da ONU (Organização das Nações Unidas) constatam que aproximadamente 12% da população do Norte da África e Oriente Médio encontra-se desempregada, enquanto 46% das pessoas da África Subsaariana e 10% da América Latina sofrem com a miséria. Segundo registros da Polícia Federal, nos últimos dez anos o número de imigrantes no Brasil acresceu em 160%. Entre as principais ondas migratórias para regiões urbanas, que decorrem desde o início do século XX, estão os sul-americanos, como bolivianos, colombianos e argentinos, além de haitianos em massa a partir de 2010, árabes e muçulmanos. Os motivos que desencadeiam tais transições em direção ao Brasil são diversos. Entretanto, a receptividade e as consecutivas oportunidades no mercado de trabalho ao longo dos anos são as principais causas. Mesmo com a crise econômica atual, que também atinge o resto do mundo, o Brasil se mantém bom aos olhos dos estrangeiros. Delmian Kalkians, hoje com 43 anos, chegou ao país na década de 90, “vim da Albânia fugindo dos conflitos existentes na região em que vivia, havia muita miséria, muita guerra. Eu escolhi o Brasil devido ao clima de fraternidade, às oportunidades de trabalho e às facilidades de me integrar à sociedade brasileira”. É importante saber avaliar e distinguir as divergências existentes entre os conceitos de refugiados e migrantes já que, apesar de serem utilizados frequentemente como sinônimos, há uma discrepante diferença legal entre os termos. De acordo com a ONU, “refugiados são pessoas que estão fora de seus países de origem por fundados temores de perseguição, conflito, violência ou outras circunstâncias que perturbam seriamente a ordem pública e que, como resultado, necessitam de ‘proteção internacional’”. As circunstâncias vividas são tão extremas que as pessoas são obrigadas a cruzar os limites nacionais, sendo assim reconhecidas como “refugiados”. Por outro lado, mas não deixando de ter suas semelhanças, migrantes são pessoas que deixam seu país de origem por tempo indeterminado, em busca de melhores condições econômicas e sociais que sejam mais satisfatórias que as do país de origem. Estabelecendo uma analogia no quesito concessão de refugiados, o Brasil tem se posicionado de maneira muito positiva durante os últimos anos, conseguindo até se comparar a países mais desenvolvidos, como o Canadá. Nos últimos 15 meses, o governo canadense recebeu e abrigou cerca de 40 mil refugiados sírios, tornando 20% da população total do país composta por imigrantes. Conhecida como a cidade mais multicultural do mundo, Toronto possui mais da metade da população nascida no exterior, integrando mais de 140 idiomas e/ou dialetos. Em correspondência, apenas em 2015 houveram mais de 500 novas concessões para sírios afetados pela guerra, e mais de 1000 outros estrangeiros receberam a permissão para entrar no Brasil. Ao todo, são 8700 refugiados de 79 nacionalidades. “A grande maioria no Brasil é muito receptiva. O povo brasileiro é acolhedor e gosta de saber sobre a cultura dos outros e seus costumes”, declarou Fátima Cheaitou, cujos familiares vieram do Líbano. “Meu pai veio à procura de emprego e para fugir da crise pós-guerra em que o país estava. Acabou vindo ao Brasil por ser um lugar melhor para o comércio e pela sua receptividade com todos os imigrantes”. Todavia, não são só de flores que vive um estrangeiro em seu novo país. Além do choque cultural, vale ressaltar que ainda existe uma parcela da sociedade extremamente intolerante com as divergências étnico-culturais e religiosas presente nas miscigenações da sociedade urbana moderna. “Eu já sofri preconceito, mais por conta da religião. Quando veem que sou muçulmana assumem que sou estrangeira e terrorista, fazendo comentários como ‘volta para o seu país’ ou até mesmo ‘lugar de mulher bomba é nas Arábias’, que não são nem um pouco agradáveis”. “Independente do motivo que te fez deixar seu país, você é bem-vindo aqui e, mesmo não tendo lugar melhor que sua terra natal, o Brasil consegue te fazer se sentir em casa, sempre! Se formos pensar, todos são estrangeiros, cada um tem uma parcela de outro país no sangue, ninguém é 100% alguma coisa”, apontou Fátima. 9