Estado e vontade coletiva em Antonio Gramsci
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ANA LOLE<br />
GIOVANNI SEMERARO<br />
PERCIVAL TAVARES DA SILVA<br />
(ORGS.)<br />
<strong>Estado</strong> e <strong>vontade</strong><br />
<strong>coletiva</strong> <strong>em</strong><br />
<strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong>
Este livro, organizado por Ana Lole,<br />
Giovanni S<strong>em</strong>eraro e Percival Tavares da<br />
Silva, reunindo doze artigos de intelectuais,<br />
estudiosos e estudiosas do pensamento de<br />
<strong>Gramsci</strong>, entre os quais eles próprios,<br />
reafirma a importância histórica e a atualidade<br />
do pensamento desse filósofo sardo,<br />
<strong>em</strong> um momento que suas ideias, no<br />
âmbito do pensamento marxista, como as<br />
ideias de Marx, e as práticas por elas orientadas,<br />
vêm sendo amplamente contestadas<br />
com o avanço do reacionarismo, como<br />
movimento mundial. Mas ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po também essas ideias se mostram<br />
atuais para a explicação e o enfrentamento<br />
desse movimento que v<strong>em</strong> ganhando força,<br />
desde a derrocada da experiência de<br />
construção de uma alternativa concreta ao<br />
capitalismo, a partir da vitória da<br />
Revolução Russa, <strong>em</strong> 1917. E continua<br />
crescente <strong>em</strong> todo o mundo, inclusive na<br />
Itália, país de orig<strong>em</strong> de <strong>Gramsci</strong>, onde t<strong>em</strong><br />
aumentado a ameaça do fascismo, de triste<br />
m<strong>em</strong>ória para o mundo e para esse país <strong>em</strong><br />
particular; e no Brasil que ganha mais este<br />
importante livro sobre <strong>Gramsci</strong>, onde v<strong>em</strong><br />
crescendo uma ultradireita de tendência<br />
nazifascista que, ao exigir compreensão<br />
crítica para seu enfrentamento, encontra<br />
no pensamento de <strong>Gramsci</strong> uma importante<br />
orientação para a necessária análise<br />
histórico-política.<br />
Ao sintetizar os títulos dos artigos <strong>em</strong><br />
<strong>Estado</strong> e Vontade Coletiva <strong>em</strong> <strong>Antonio</strong><br />
<strong>Gramsci</strong>, no título do livro, os organizadores<br />
privilegiam dois dos eixos t<strong>em</strong>áticos
conselho editorial<br />
Eduardo Granja Coutinho<br />
José Paulo Netto<br />
Lia Rocha<br />
Márcia Leite<br />
Mauro Iasi<br />
Virgínia Fontes
<strong>Estado</strong> e <strong>vontade</strong><br />
<strong>coletiva</strong> <strong>em</strong><br />
<strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong><br />
ANA LOLE<br />
GIOVANNI SEMERARO<br />
PERCIVAL TAVARES DA SILVA<br />
(ORGS.)
Todos os direitos desta edição reservados<br />
à MV Serviços e Editora Ltda.<br />
revisão<br />
Marília Gonçalves<br />
curadoria da coleção contra a corrente<br />
Eduardo Granja Coutinho<br />
cip-brasil. catalogação na publicação<br />
sindicato nacional dos editores de livros, rj<br />
E82<br />
<strong>Estado</strong> e <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> <strong>em</strong> <strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong> / organização Ana<br />
Lole , Giovanni S<strong>em</strong>eraro , Percival Tavares da Silva. – 1. ed. – Rio<br />
de Janeiro : Mórula, 2018.<br />
260 p. ; 21 cm. (Contra a Corrente ; 4)<br />
Inclui bibliografia<br />
ISBN 978-85-65679-82-4<br />
1. <strong>Gramsci</strong>, <strong>Antonio</strong>, 1891-1937. 2. Filosofia marxista. I. Lole,<br />
Ana. II. S<strong>em</strong>eraro, Giovanni. III. Silva, Percival Tavares da.<br />
18-52829 CDD: 335.4<br />
CDU: 330.85<br />
R. Teotônio Regadas, 26/904 — Lapa — Rio de Janeiro<br />
www.morula.com.br | contato@morula.com.br
s u m á r i o<br />
prefácio 7<br />
RENE JOSÉ TRENTIN SILVEIRA<br />
apresentação 21<br />
OS ORGANIZADORES<br />
O bloco histórico de <strong>Gramsci</strong>: estrutura,<br />
heg<strong>em</strong>onia e interações dialéticas 23<br />
DEREK BOOTHMAN<br />
<strong>Estado</strong> e sociedade civil e as relações entre<br />
o público e o privado no Brasil: reflexões<br />
a partir do pensamento de <strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong> 41<br />
ANA LOLE E INEZ STAMPA<br />
<strong>Gramsci</strong> e a Revolução de Outubro 67<br />
GUIDO LIGUORI<br />
Notas a partir da reflexão de <strong>Gramsci</strong><br />
sobre a Revolução Russa 83<br />
ANITA HELENA SCHLESENER<br />
<strong>Gramsci</strong>: educação e <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> 97<br />
SÉRGIO MIGUEL TURCATTO<br />
Desvios e tensões político-pedagógicas<br />
<strong>em</strong> <strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong> 119<br />
SEBASTIÁN GÓMEZ
A práxis da formação política<br />
das classes populares 143<br />
PERCIVAL TAVARES DA SILVA<br />
<strong>Gramsci</strong>, Virgílio de Pasolini? 167<br />
ANGELO D’ORSI<br />
“As cinzas de <strong>Gramsci</strong>”: Pasolini<br />
e a crise da <strong>vontade</strong> revolucionária 187<br />
EDUARDO GRANJA COUTINHO<br />
Renascimento e Reforma<br />
nos Quaderni del carcere: a leitura política<br />
de <strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong> 207<br />
MARCOS DEL ROIO E GERALDO MAGELLA NERES<br />
<strong>Gramsci</strong> e a religião: uma leitura<br />
a partir da América Latina 219<br />
GIOVANNI SEMERARO<br />
A recepção de <strong>Gramsci</strong> na educação brasileira:<br />
entrevista com Dermeval Saviani 241<br />
PERCIVAL TAVARES DA SILVA<br />
sobre as/os autoras/es 257
p r e f á c i o<br />
Prefaciar é também, inevitavelmente, interpretar as ideias dos autores da obra<br />
prefaciada, refletir sobre elas a partir dos próprios referenciais, valer-se delas<br />
para ampliar e até reformular os próprios conhecimentos <strong>em</strong> torno nos t<strong>em</strong>as<br />
abordados. Ainda mais quando são textos instigantes, provocativos e atuais<br />
como os que foram reunidos na obra <strong>em</strong> questão. Nisso consiste, talvez, o maior<br />
proveito, o maior prazer, mas também a maior responsabilidade do prefaciador,<br />
privilégio e honra que me foram gentilmente concedidos pelos organizadores:<br />
Ana Lole, Giovanni S<strong>em</strong>eraro, Percival Tavares da Silva.<br />
Os 11 capítulos e uma entrevista que compõ<strong>em</strong> o livro se articulam, mais<br />
ou menos diretamente, com os conceitos gramscianos de “<strong>Estado</strong>” e “<strong>vontade</strong><br />
<strong>coletiva</strong>”. Debruçando-se sobre probl<strong>em</strong>as objetivos, mas s<strong>em</strong> descuidar dos<br />
pressupostos teóricos que orientam seu enfrentamento, a obra constitui um<br />
autêntico ex<strong>em</strong>plo de conjugação dialética entre teoria e prática, realizando,<br />
assim, <strong>em</strong> si mesma, a noção de práxis que constitui a principal marca distintiva<br />
do marxismo de <strong>Gramsci</strong>. Trata-se, portanto, também nesse sentido, de uma<br />
obra gramsciana produzida por gramscianos.<br />
O capítulo que abre o livro, de autoria de Derek Boothman, intitula-se O<br />
bloco histórico de <strong>Gramsci</strong>: estrutura, heg<strong>em</strong>onia e interações dialéticas. Amparado<br />
sobretudo nos Cadernos 10 e 13, e dialogando com intelectuais como Lukács,<br />
Lefebvre, entre outros, o autor mostra, inicialmente, como esse conceito se<br />
aplica à concepção gramsciana do hom<strong>em</strong>, entendido como “bloco histórico de<br />
el<strong>em</strong>entos puramente individuais e subjetivos e de el<strong>em</strong>entos de massa e objetivos<br />
ou materiais”. Essa formulação já aponta para a interação dialética, isto é,<br />
de ação recíproca entre estrutura e superestrutura, o que evidencia, segundo<br />
Boothman, a equivalência entre as noções de bloco histórico e totalidade. Assim,<br />
o conceito de bloco histórico, <strong>em</strong> <strong>Gramsci</strong>, como ele mesmo declara, seria<br />
originário de Sorel, mas também resultaria de sua releitura da noção marxiana<br />
de totalidade. Um traço comum a esses conceitos seria seu caráter dinâmico,<br />
7
de permanente movimento e mudança, ou, <strong>em</strong> uma palavra, seu devir, dado<br />
por sua historicidade. Ao enfatizar esse dinamismo da totalidade, <strong>Gramsci</strong><br />
supera a imag<strong>em</strong> estática, muitas vezes <strong>em</strong>anada — equivocadamente — da<br />
metáfora da base e da superestrutura e renova — ou resgata — criticamente<br />
essa teoria marxista. Mas se a totalidade social é dinâmica, como direcionar<br />
seu movimento <strong>em</strong> direção à sociedade regulada, ao socialismo? A resposta<br />
está na articulação entre os conceitos de bloco histórico e heg<strong>em</strong>onia, visto que<br />
essa é um “importante mecanismo para dar à sociedade dinamismo e direção”.<br />
Em suma, percebe-se pela reflexão proposta por Boothman, que a noção de<br />
bloco histórico, profundamente marcada pela dialética e enriquecida por todo<br />
o aparato conceitual elaborado ou reformulado por <strong>Gramsci</strong>, não apenas revitaliza<br />
e depura o marxismo das leituras positivistas e mecanicistas que recebeu,<br />
como também propicia o referencial teórico necessário para alimentar a luta<br />
pela construção de um novo bloco histórico.<br />
Em seguida, t<strong>em</strong>os o capítulo <strong>Estado</strong> e sociedade civil e as relações entre o<br />
público e o privado no Brasil: reflexões a partir de pensamento de <strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong>,<br />
de Ana Lole e Inez Stampa. O objetivo das autoras é examinar as relações entre<br />
<strong>Estado</strong>, mercado e sociedade, a fim de contribuir para reverter a lógica privatista<br />
atualmente imposta à sociedade brasileira e fortalecer o papel do <strong>Estado</strong> na<br />
garantia de direitos e da d<strong>em</strong>ocracia. Destacam inicialmente as noções hegeliana<br />
e marxiana de <strong>Estado</strong> e sociedade civil para, depois, distingui-las das de <strong>Gramsci</strong>,<br />
para qu<strong>em</strong> não há separação entre <strong>Estado</strong> e sociedade civil, como quer fazer crer<br />
a ideologia liberal. Na realidade, a sociedade civil compõe, para ele, os aparelhos<br />
privados de heg<strong>em</strong>onia, dos quais se vale a classe que detém o poder de <strong>Estado</strong><br />
para reproduzir a base econômica e favorecer seus interesses. Mas a sociedade<br />
civil, enfatizam Lole e Stampa, coerent<strong>em</strong>ente com o que pensa <strong>Gramsci</strong>, é<br />
também espaço de contradição, “terreno privilegiado da luta político-cultural”,<br />
no qual se defrontam projetos societários distintos e mesmo antagônicos. Inclui,<br />
portanto, a luta pela <strong>em</strong>ancipação humana. Daí a importância da conquista,<br />
pelos setores populares, de espaços públicos d<strong>em</strong>ocráticos, como forma de lutar<br />
por outra heg<strong>em</strong>onia. No Brasil, porém, a partir das reformas neoliberais privatizantes<br />
pós 1990, a expressão “sociedade civil” t<strong>em</strong> sido frequent<strong>em</strong>ente usada<br />
como sinônimo de “terceiro setor”, o que favorece o esvaziamento das formas<br />
<strong>coletiva</strong>s de organização e a substituição dos interesses universais — de classe<br />
—, pelos de grupos particulares e específicos. A própria noção de cidadania foi<br />
8
convertida <strong>em</strong> sinônimo de integração individual ao mercado. Esse projeto<br />
neoliberal de sociedade foi ainda mais acentuado com o golpe parlamentar de<br />
2016. Daí a necessidade de repensar as relações entre <strong>Estado</strong> e sociedade civil,<br />
entre o público e o privado, b<strong>em</strong> como as noções de “b<strong>em</strong> público”, “espaço<br />
público”, cidadania e d<strong>em</strong>ocracia, entre outras. Na busca por alternativas, as<br />
autoras apontam alguns desafios: consolidar e aprimorar a d<strong>em</strong>ocracia brasileira;<br />
equacionar as mazelas sociais, econômicas e culturais; fortalecer os fóruns<br />
de participação social de modo a propiciar a repartição do poder decisório. A<br />
disposição para enfrentá-los, porém, passa pelo reconhecimento da sociedade<br />
civil como arena de luta. Esse é um dos caminhos para a conquista da soberania<br />
popular e para a efetiva realização da d<strong>em</strong>ocracia.<br />
No terceiro capítulo, intitulado <strong>Gramsci</strong> e a revolução de outubro, Guido<br />
Liguori retoma a leitura feita por <strong>Gramsci</strong>, <strong>em</strong> diferentes momentos, da<br />
Revolução russa de 1917, procurando destacar aquilo que de sua interpretação<br />
inicial daqueles acontecimentos permaneceu <strong>em</strong> sua elaboração teórica<br />
e política posterior. Equilibrando rigor conceitual e clareza argumentativa<br />
— combinação que, de resto, representa uma síntese concreta da exigência<br />
gramsciana de interação permanente entre o intelectual e as pessoas simples<br />
—, Liguori assinala que, <strong>em</strong> um primeiro momento, ainda orientado por um<br />
marxismo “subjetivista, antideterminista, antieconomicista” e, <strong>em</strong> certa<br />
medida, “ingênuo”, que afirmava o primado idealista da <strong>vontade</strong>, <strong>Gramsci</strong><br />
considera a revolução russa como um “‘ato’ proletário”, visto que ela havia<br />
ignorado o “jacobinismo”, o qual servia a interesses e metas particulares. Os<br />
bolcheviques, por sua vez, representavam os interesses da maioria do proletariado<br />
russo e contavam com seu apoio. Ainda não lhe era possível perceber<br />
a heterogeneidade das forças revolucionárias, suas divisões internas e os<br />
requisitos d<strong>em</strong>ocráticos necessários para a superação dos objetivos particulares.<br />
<strong>Gramsci</strong> também acreditava que a revolução levaria imediatamente,<br />
taumaturgicamente, a uma mudança nos costumes e na índole das pessoas, a<br />
ponto de converter até os criminosos. Esse seu subjetivismo revolucionário<br />
opunha-se pol<strong>em</strong>icamente ao evolucionismo, dominante na cultura da Segunda<br />
Internacional. Para ele, a revolução bolchevique <strong>em</strong> um país atrasado economicamente,<br />
representava uma “revolução contra O Capital”, isto é, contra aqueles<br />
que haviam feito uma leitura determinista e etapista da obra O Capital, de Marx.<br />
E, a despeito de certa ingenuidade inicial, não lhe escapou a percepção das<br />
9
condições que teriam produzido, naquele contexto, uma “<strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong><br />
popular” suficiente para levar à revolução. Cerca de dois anos depois da publicação<br />
do artigo A Revolução contra o Capital, a derrota do movimento operário<br />
no “biênio vermelho” (1919-1920), o fim da experiência dos conselhos de<br />
fábrica e, ainda, a ascensão do fascismo na Itália, levarão <strong>Gramsci</strong> a reformular<br />
sua concepção da revolução, agora mais próxima das formulações de Lenin.<br />
Compreende, então, que no Ocidente ela não se realizaria como no Oriente.<br />
Avança, assim, <strong>em</strong> direção aos conceitos de heg<strong>em</strong>onia e guerra de posição que<br />
seriam amadurecidos nos Cadernos. No cárcere, o <strong>Gramsci</strong> maduro coloca,<br />
ao lado da <strong>vontade</strong> revolucionária, a análise histórica da realidade <strong>em</strong> que se<br />
desenvolve a luta, o que lhe permite compreender o entrelaçamento <strong>Estado</strong>sociedade<br />
civil, o peso dos aparelhos de heg<strong>em</strong>onia na formação do consenso e<br />
a distinção entre guerra de movimento e guerra de posição. Tudo isso culminará<br />
<strong>em</strong> uma completa reformulação do conceito de revolução, tanto <strong>em</strong> relação<br />
às suas formulações juvenis, quanto com respeito às concepções estereotipadas<br />
da tradição marxista. A <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> não perde importância n<strong>em</strong><br />
sua ancorag<strong>em</strong> de classe, mas agora v<strong>em</strong> acompanhada do reconhecimento da<br />
necessidade de conhecer o terreno <strong>em</strong> que se deve atuar. Tal reconhecimento,<br />
por sua vez, ressalta a importância da ação política também no plano cultural<br />
e ideológico, que leve à formação de um novo senso comum de massa, capaz<br />
de fomentar uma luta política d<strong>em</strong>ocrática que conduza a uma “reforma intelectual<br />
e moral” e à conquista de uma nova heg<strong>em</strong>onia.<br />
O t<strong>em</strong>a da revolução Russa retorna no capítulo Notas a partir da reflexão<br />
de <strong>Gramsci</strong> sobre a Revolução Russa, de Anita Helena Schlesener. Inicialmente,<br />
a autora apresenta algumas condições históricas que permitiram a eclosão<br />
daquele movimento revolucionário. Em seguida, amparada <strong>em</strong> textos jornalísticos<br />
de <strong>Gramsci</strong>, discute a leitura que ele faz daqueles acontecimentos.<br />
Assim como Liguori, l<strong>em</strong>bra que, incialmente, <strong>Gramsci</strong> se entusiasma com<br />
a Revolução e nela busca el<strong>em</strong>entos para refutar as ideias reformistas dos<br />
dirigentes do Partido Socialista Italiano (PSI), sustentadas por uma leitura<br />
determinista e positivista do marxismo. Em suas primeiras reflexões ele<br />
ressalta — como também v<strong>em</strong>os no texto de Liguori — o caráter proletário e<br />
antijacobino daquela revolução, que ele considera uma “verdadeira <strong>em</strong>ancipação<br />
das massas”, uma “experiência <strong>coletiva</strong> a ser seguida”, a concretização de<br />
um projeto social que nasce das camadas populares e é por elas realizado. Para<br />
10
<strong>Gramsci</strong>, o que determina o caráter proletário da revolução russa são sua centralização<br />
na <strong>vontade</strong> popular e seu programa político que visa a impl<strong>em</strong>entar uma<br />
nova ord<strong>em</strong> social sob o controle dos trabalhadores. Essa seria, portanto, a<br />
“verdadeira revolução”, por ser de massa e universal. Posteriormente, subsidiado<br />
por um contato mais próximo com os fatos e com Lenin — l<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os<br />
que <strong>Gramsci</strong> passou mais de um ano na Rússia, de junho de 1922 a fins de 1923<br />
—, acentua sua crítica à tendência reformista, evolucionista e etapista do<br />
PSI, com o objetivo de incentivar a mobilização dos trabalhadores italianos.<br />
É o momento da publicação do famoso artigo A revolução contra O Capital, já<br />
mencionado. Mas para que o controle seja de fato dos trabalhadores, não lhes<br />
cabe o “privilégio da ignorância”, típico da revolução burguesa e fundado no<br />
princípio da autoridade e na cisão entre governantes e governados. O proletariado,<br />
ao contrário, t<strong>em</strong> o dever de conhecer e entender o conjunto das relações<br />
de força das quais faz parte, para lutar por uma sociedade “‘s<strong>em</strong> privilégios de<br />
casta ou de categoria’”. Trata-se, portanto, de uma efetiva d<strong>em</strong>ocracia popular<br />
que supõe, para se realizar, a formação política e cultural dos trabalhadores.<br />
Embora os resultados finais não tenham sido os desejados, há que reconhecer,<br />
com Schlesener, que “o século XX foi o século da Revolução Russa, que mostrou<br />
ao mundo que uma nova sociabilidade é possível”. Daí a importância de conhecê-la,<br />
compreendê-la e reinterpretá-la, sobretudo nos dias atuais, de investida<br />
conservadora do capital e enfraquecimento das instituições d<strong>em</strong>ocráticas, a fim<br />
de buscar esperança, orientação e consistência para a ação política progressista.<br />
E, para tanto, a leitura de <strong>Gramsci</strong> é ferramenta essencial.<br />
Em <strong>Gramsci</strong>: educação e <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong>, Sérgio Miguel Turcatto destaca o<br />
compromisso político de <strong>Gramsci</strong> “como ativista cultural”, preocupado <strong>em</strong><br />
“educar a <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> do hom<strong>em</strong> ativo de massa”. Tal compromisso se<br />
fundamenta na 3a. tese de Marx sobre Feuerbach, segundo a qual, se, por um<br />
lado, os seres humanos são produto das circunstâncias e da educação, por outro<br />
lado, essas também são transformadas por aqueles, de modo que o educador<br />
precisa ser educado. Revela-se, assim, a leitura dialética de <strong>Gramsci</strong> da relação<br />
entre estrutura e superestrutura, fundamento teórico de sua compreensão<br />
da práxis educativa como el<strong>em</strong>ento estratégico na luta pela heg<strong>em</strong>onia política,<br />
inclusive <strong>em</strong> nível “molecular”. Mas essa compreensão tinha também<br />
um fundamento objetivo: as contradições na realidade educacional italiana,<br />
por ele vivenciadas desde a infância, que determinavam a persistência do<br />
11
analfabetismo entre largas camadas da população. Daí a necessidade de se<br />
tomar<strong>em</strong> iniciativas — como, por ex<strong>em</strong>plo, a criação de associações de cultura<br />
—, que rompess<strong>em</strong> a monotonia da fábrica e conduziss<strong>em</strong> os trabalhadores para<br />
além da cultura do capital. Esse é um caminho necessário para a construção da<br />
<strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> <strong>em</strong> favor de um novo consenso e de uma nova heg<strong>em</strong>onia. No<br />
cárcere, os t<strong>em</strong>as da educação e da <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> são retomados no contexto<br />
das investigações de <strong>Gramsci</strong> sobre o materialismo histórico. Baseando-se, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, no prefácio à Crítica da economia política, ressalta que é no terreno da<br />
superestrutura que os seres humanos tomam consciência do conflito entre<br />
as forças produtivas e as relações de produção e o levam até o fim. Isso põe<br />
<strong>em</strong> evidência a importância da ação pedagógica como mediação para o direcionamento<br />
da <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong>. Como, então, educar o educador, pergunta<br />
Turcatto. Como educar para a consciência de classe? A resposta parece estar<br />
na indissociabilidade entre teoria e prática que, <strong>em</strong> certo sentido, pode ser<br />
traduzida pelo nexo orgânico e dialético entre história, política e economia.<br />
Em outros termos, trata-se de tornar o real inteligível às camadas populares de<br />
modo a que possam agir eficazmente para transformá-lo. Eis um pressuposto<br />
de toda educação voltada para a elevação cultural das massas. Mas é preciso,<br />
também, produzir um novo senso comum e forjar uma <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> capaz<br />
de impulsionar as transformações necessárias. Para tanto, dois princípios são<br />
fundamentais: a repetição sist<strong>em</strong>ática dos argumentos e o trabalho contínuo<br />
para elevar intelectualmente camadas populares cada vez mais vastas. Desse<br />
modo, como mediadora da <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> concreta, a ação político-educativa<br />
adquire autêntico caráter revolucionário.<br />
Sebastián Gómez, <strong>em</strong> Desvios e tensões político-pedagógicas <strong>em</strong> <strong>Antonio</strong><br />
<strong>Gramsci</strong>, recorda que <strong>Gramsci</strong> têm sido objeto de inúmeras interpretações,<br />
controvérsias e disputas, capitaneadas por autores como Bobbio, Portelli,<br />
Buci-Glucksmann, Portantiero, Kannoussi, Mena, Mondolfo, Anderson, entre<br />
tantos outros. Especificamente no campo da educação, menciona os trabalhos<br />
pioneiros de Borghi, Manacorda, Giovanni, Broccoli, que contribuíram para a<br />
renovação na pedagogia crítica. O fato é que, transcorridos mais de 80 anos<br />
de sua morte, o debate sobre sua obra permanece aberto, dada, sobretudo, a<br />
riqueza de sua produção teórica e a natureza assist<strong>em</strong>ática de seus escritos.<br />
Isso torna “anedótico”, como b<strong>em</strong> assinala Gómez, o propósito do promotor<br />
Michele Isgró, que comandou o processo contra <strong>Gramsci</strong>, de impedir aquele<br />
12
cérebro de funcionar por 20 anos. Na verdade, ele seguiu funcionando na prisão<br />
e continua até hoje, estimulando e fecundando mentes e corações de incontáveis<br />
estudiosos e militantes espalhados pelos quatro cantos do mundo. Assim,<br />
o autor apresenta algumas das tensões político-educativas extraídas desse<br />
debate. Inicialmente, concentra-se no exame nos fundamentos da filosofia da<br />
práxis e do conceito de heg<strong>em</strong>onia, aliado aos de <strong>Estado</strong> ampliado e revolução<br />
passiva, a fim de extrair daí implicações para a compreensão do papel da escola.<br />
Essa, como aparelho de heg<strong>em</strong>onia, concorre para a produção do consenso,<br />
<strong>em</strong> conformidade com os interesses da classe dominante. Mas essa função<br />
reprodutora não esgota as possiblidades dessa instituição, dado seu caráter<br />
histórico e seu atravessamento pelas contradições e disputas presentes na<br />
sociedade civil. Em um segundo momento, o autor analisa a estratégia política<br />
proposta por <strong>Gramsci</strong> para países ocidentais e algumas de suas consequências<br />
educativas. Põe <strong>em</strong> relevo o conceito de guerra de posição e sua importância<br />
para a construção de uma “<strong>vontade</strong> nacional-popular”, capaz de impulsionar<br />
a luta <strong>em</strong>ancipatória. A produção dessa <strong>vontade</strong> nacional-popular requer,<br />
também, uma nova ação educativa que, no plano institucional, se materializaria<br />
na escola unitária, voltada para a formação omnilateral do ser humano e<br />
para a ruptura da heg<strong>em</strong>onia burguesa. Quanto ao método pedagógico, reflete<br />
a mesma tensão, vivenciada pelo partido, entre auto-organização e centralização,<br />
direção e espontaneidade, coerção e consenso. Notam-se nos textos<br />
de <strong>Gramsci</strong>, segundo Gómez, certa inspiração socrática que transparece, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, na recomendação de um “vínculo d<strong>em</strong>ocrático e de reciprocidade”<br />
entre os intelectuais e os subalternos e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, orientações mais<br />
diretivas, como a que indica a repetição sist<strong>em</strong>ática dos argumentos como o<br />
método didático mais eficaz na educação das massas. Essa tensão propiciará<br />
o surgimento de leituras divergentes da pedagogia de <strong>Gramsci</strong>, ora enfatizando<br />
a centralidade do educador, ora a do educando. De todo modo, há que<br />
reconhecer a importância do referencial gramsciano para a ação político-pedagógica<br />
<strong>em</strong>ancipatória.<br />
Percival Tavares da Silva, <strong>em</strong> A práxis da formação política das classes populares,<br />
relata e analisa sua própria experiência político-educativa, à frente da<br />
Escola de Formação Política, um projeto de extensão universitária resultante<br />
de convênio entre a Universidade Federal Fluminense (UFF), por intermédio<br />
do Núcleo de Estudos e Pesquisas <strong>em</strong> Filosofia, Política e Educação (NuFiPE)<br />
13
e a Diocese de Nova Iguaçu-RJ. Após caracterizar sumariamente a Baixada<br />
Fluminense como uma região de “cultura política não cidadã”, o que, aliás,<br />
a torna uma “síntese sócio-econômica do Brasil”, o autor passa a discorrer<br />
sobre a orig<strong>em</strong>, os objetivos e o funcionamento da referida escola, forjada na<br />
Teologia da Libertação, na pedagogia de Paulo Freire e no pensamento gramsciano.<br />
Quanto à orig<strong>em</strong>, r<strong>em</strong>onta o início dos anos 1990, quando, desafiada<br />
pelo avanço do neoliberalismo, a “Igreja Popular de Nova Iguaçu” percebe a<br />
necessidade de atuar de modo sist<strong>em</strong>ático na formação política de seus agentes<br />
e educadores populares. Entre outras iniciativas, criam-se, <strong>em</strong> 2001, o Centro<br />
Sociopolítico (CSp) e, <strong>em</strong> 2003, a Escola de Formação Política, de caráter<br />
ecumênico e suprapartidário. A UFF integra-se à iniciativa por intermédio de<br />
Silva e de Giovanni S<strong>em</strong>eraro. O público alvo são as “pessoas politicamente<br />
engajadas” na área de abrangência da Diocese. Seu principal objetivo é oferecer<br />
a elas uma “formação social e política atualizada” e capacitá-las para intervir<br />
na sociedade civil, comprometidas com a “construção de uma sociedade justa,<br />
humana e solidária”. A “metodologia da práxis”, adotada pela escola, busca<br />
articular a formação teórica com a experiência política dos participantes. Com<br />
carga horária total acima de 60 horas, as aulas são repartidas <strong>em</strong> módulos e<br />
oferecidas aos sábados, <strong>em</strong> dependências da Diocese. A avaliação é feita ao<br />
término de cada módulo, envolvendo educadores, educandos, pessoal de apoio<br />
e coordenação. O conteúdo programático é pensado e repensado a partir das<br />
avaliações e sugestões dos participantes. Em geral, inicia com uma fundamentação<br />
teórica <strong>em</strong> economia e política para, paulatinamente, enraizar-se<br />
na realidade local e na práxis dos educandos. Para viabilizar esse enraizamento,<br />
recorre-se ao “inventário dos inscritos”, um minucioso questionário<br />
que permite analisar e probl<strong>em</strong>atizar a “práxis e a cultura políticas da turma”.<br />
Nota-se que, sob diversos aspectos, a Escola de Formação Política orienta-se<br />
por princípios gramscianos: seja por se constituir como espaço de atuação e<br />
de formação de intelectuais orgânicos das camadas populares; seja por propiciar<br />
o contato permanente entre intelectuais e povo; ou por partir do que os<br />
alunos já conhec<strong>em</strong> e estabelecer com eles uma relação ativa e acolhedora, na<br />
qual todo professor é aluno e todo aluno professor; ou, ainda, por sua índole<br />
revolucionária. Mas além disso — e essa sua lição não é de menor monta —,<br />
mostra um caminho possível e promissor para o cumprimento do papel social<br />
da Universidade. De fato, para os intelectuais que atuam nessa instituição, a<br />
14
experiência da Escola de Formação Política é uma d<strong>em</strong>onstração cabal de que<br />
não há justificativa para o desânimo, a acomodação ou a reclusão no acad<strong>em</strong>icismo.<br />
Pelo menos para aqueles que desejam se comprometer efetiva e<br />
organicamente com as massas.<br />
Em <strong>Gramsci</strong>, Virgílio de Pasolini?, Angelo D’Orsi mostra que, assim como<br />
Vígilio, na Divina Comédia, figura como guia de Dante, na passag<strong>em</strong> desse pelo<br />
Inferno e pelo Purgatório, também <strong>Gramsci</strong> teria conduzido Pier Paolo Pasolini<br />
<strong>em</strong> sua incursão pelo marxismo. O ponto de partida da discussão proposta<br />
pelo autor é o po<strong>em</strong>a As cinzas de <strong>Gramsci</strong>, publicado pela primeira vez na<br />
revista Nuovi Argomenti, <strong>em</strong> 1956, ano <strong>em</strong> que se dão: as revoltas da Polônia<br />
e da Hungria; a revelação dos crimes de Stalin no XX Congresso do Partido<br />
Comunista Russo; o Manifesto dos 101, que anunciava o rompimento de intelectuais<br />
italianos com o Partido Comunista daquele país. No ano seguinte, o<br />
mesmo texto foi publicado <strong>em</strong> livro homônimo, numa coletânea com outros<br />
po<strong>em</strong>as de Pasolini. Mas o ponto central do livro é, na verdade, o po<strong>em</strong>a sobre<br />
<strong>Gramsci</strong>. Nele há, inclusive, uma nota que descreve a túmulo do líder comunista,<br />
<strong>em</strong> cuja lápide se lê apenas “Cinzas de <strong>Gramsci</strong>” e as datas. Pasolini esteve<br />
de fato no local, como test<strong>em</strong>unha a bela fotografia, de autoria desconhecida,<br />
tão b<strong>em</strong> descrita por D’Orsi, na qual o poeta encontra-se <strong>em</strong> pé, com a cabeça<br />
lev<strong>em</strong>ente abaixada, mãos no bolso, olhar introspectivo, <strong>em</strong> postura de humilde<br />
veneração, como a buscar inspiração, força e aprovação no líder desaparecido.<br />
Tal imag<strong>em</strong> é, segundo D’Orsi, a chave mais eficaz para a leitura daqueles versos<br />
pasolinianos. Para ele, o significado político do po<strong>em</strong>a está, justamente, no<br />
“gramscianismo” de Pasolini, expresso sobretudo no conceito de “popular-nacional”,<br />
que também guiava sua produção cin<strong>em</strong>atográfica, e que transformava<br />
seu amor pelo povo <strong>em</strong> algo objetivo e imprescindível. É, portanto, nesse<br />
texto, diversa e ambivalent<strong>em</strong>ente acolhido pela intelectualidade comunista,<br />
que a relação do poeta com o marxismo, pela mediação de <strong>Gramsci</strong>, torna-se<br />
central. Retorn<strong>em</strong>os, porém, por um instante, inspirados por D’Orsi, à sublime<br />
imag<strong>em</strong> de Pasolini diante do túmulo de <strong>Gramsci</strong> para, a partir dela, pensar<br />
nossa própria condição. A crise atual por que passa a esquerda no Brasil — e no<br />
mundo —, longe de se ass<strong>em</strong>elhar àquela que devastou os militantes italianos<br />
no final dos anos 1950, têm, no entanto, provocado grandes incertezas, retrocessos,<br />
derrotas, desalento, desmobilização. Nesse contexto, talvez seja útil<br />
nos transportarmos para aquela cena e cont<strong>em</strong>plar as cinzas de <strong>Gramsci</strong> com<br />
15
a mesma humildade do poeta, buscando encontrar nele a inspiração e a força<br />
necessárias para prosseguir e avançar <strong>em</strong> nossa militância. Mas, afinal, será<br />
<strong>Gramsci</strong> também nosso Virgílio?<br />
Pasolini volta à baila no belo texto de Eduardo Granja Coutinho, “As cinzas<br />
de <strong>Gramsci</strong>”: Pasolini e a crise da <strong>vontade</strong> revolucionária. Se, como sugere D’Orsi,<br />
<strong>Gramsci</strong> fora o Virgílio de Pasolini, aqui é Coutinho qu<strong>em</strong> se incumbe da tarefa<br />
de guiar paciente e generosamente — e gramscianamente, como um intelectual<br />
que se faz “simples” —, o leitor pelas tramas intricadas dos versos <strong>em</strong><br />
tercetos pelos quais o poeta t<strong>em</strong>atiza a relação entre paixão e ideologia, que,<br />
aliás, também era uma questão importante para <strong>Gramsci</strong>. Mostra, inicialmente,<br />
o pano de fundo do po<strong>em</strong>a: a crise da “cultura do engajamento” que parecia<br />
anunciar o fim da <strong>vontade</strong> revolucionária e que se aprofunda na segunda<br />
metade dos anos 1950. Num primeiro momento, a derrota do fascismo provocara<br />
um grande otimismo quanto à possibilidade de triunfo do socialismo. Não<br />
tardou, porém, para que essa “cultura revolucionária” esmorecesse, para o que<br />
concorreram diversos fatores, como a derrota da Frente Popular nas eleições<br />
de 1948 e o avanço das forças conservadoras e clericais, expresso no “anticomunismo”,<br />
no “colonialismo”, na “fome”, no “racismo”, no “ódio por tudo o que é<br />
diferente”: contra “os negros, os pardos, os judeus”, os “poetas”, os “homossexuais”.<br />
Por um instante somos levados a pensar que o poeta se refere aos dias<br />
atuais. Ai de nós! Mas voltando à sua época, a Grande Guerra havia terminado<br />
e, no entanto, <strong>em</strong> seu lugar instalara-se uma “‘paz mortal, desamorada’”, um<br />
“‘silêncio putrefato e infecundo’” que desconvidava ao engajamento. É essa<br />
atmosfera que circunda As cinzas e que explica seu tom pessimista, fruto da<br />
recusa pelo poeta do historicismo vulgar, fatalista, metafísico dos partidos<br />
comunistas. Afinal, “a ilusão que abrandava a vida resta [agora] na morte”.<br />
Trata-se, porém, de um pessimismo construtivo que clama por uma correta<br />
avaliação das circunstâncias históricas para enfrentar eficazmente seus desafios<br />
e contradições. Na realidade, para Coutinho, Pasolini compartilha do<br />
historicismo dialético de <strong>Gramsci</strong>, “segundo o qual o conhecimento da história<br />
orienta a práxis política”, ainda que o peso daquelas circunstâncias lançasse<br />
dúvidas sobre e eficácia da teoria gramsciana. “De que serve a luz?”, pergunta o<br />
poeta. Esse pessimismo construtivo repercute também nas paixões retratadas<br />
no po<strong>em</strong>a: a paixão revolucionária, expressa no ardor pela luta comunista, do<br />
qual <strong>Gramsci</strong> era o símbolo maior e que, agora, parecia não mais arder, sepulto<br />
16
que estava no “jardim úmido”, na “terra prenhe de urtigas”, “no escuro jardim<br />
estrangeiro”; a paixão dos miseráveis, s<strong>em</strong>elhante a certas religiões que, encarregando-se<br />
de “enganar a luz e dar luz à ilusão”, canalizam o ardor das massas<br />
para os interesses do capital; a paixão do próprio poeta pela vida, por “estar no<br />
mundo” e da qual ele, como Shelley — poeta inglês cujo túmulo se encontrava<br />
próximo ao de <strong>Gramsci</strong> —, não poderia jamais abdicar, por maiores que foss<strong>em</strong><br />
sua raiva e seu desprezo por aquele mundo. E ele assume explicitamente essa<br />
contradição entre a voz da paixão e a da razão, agarrando-se, como os pobres,<br />
a “humilhantes esperanças” <strong>em</strong> sua “desesperadora condição de deserdado”.<br />
O caminho do poeta para superar essa contradição é a articulação entre paixão<br />
e ideologia, algo próximo, segundo Coutinho, mutatis mutantis, daquilo que<br />
<strong>Gramsci</strong> denominou de catarse. Assim, se as Cinzas de <strong>Gramsci</strong> acentuam no<br />
poeta o pessimismo da razão, sua consciência histórica lhe permite conservar o<br />
otimismo da <strong>vontade</strong> e deslocá-lo para o campo <strong>em</strong> que ainda pode atuar: a estética.<br />
A esperança, ainda que centelha, encontra o caminho para fazer-se práxis.<br />
Encerrando a série de artigos encontramos <strong>Gramsci</strong> e a religião: uma leitura<br />
a partir da América Latina, de Giovanni S<strong>em</strong>eraro. Após l<strong>em</strong>brar que <strong>Gramsci</strong><br />
é o pensador marxista de sua época que mais se dedicou ao exame do fenômeno<br />
religioso, S<strong>em</strong>eraro esclarece a distinção que ele fazia, já nos textos<br />
pré-carcerários, entre religião, cristianismo e Igreja Católica. A primeira é<br />
manifestação da fragilidade humana frente às “‘potências superiores’”, fruto<br />
de uma concepção mágica e metafísica do mundo e que, <strong>em</strong> geral, exerce uma<br />
“função narcotizante” sobre as camadas subalternas. Esse é o principal alvo<br />
da crítica marxista à religião. A Igreja, por sua vez, constitui um monumental<br />
aparelho de heg<strong>em</strong>onia que, por sua capilaridade, lhe permite, de um lado,<br />
aliar-se às classes dominantes e, de outro lado, manter sua influência sobre<br />
as camadas populares. Quanto ao cristianismo, <strong>Gramsci</strong>, aproximando-se<br />
das posições de Engels, reconhece sua importância histórica e seu potencial<br />
subversivo, pelo menos antes de se tornar religião oficial do Império Romano,<br />
quando pôde organizar uma “<strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong>” e <strong>em</strong>preender uma “autêntica<br />
‘reforma intelectual e moral’”. Mantém-se, no entanto, uma “‘antítese incurável’”<br />
entre cristianismo (transcendente) e marxismo (imanente), <strong>em</strong>bora,<br />
segundo S<strong>em</strong>eraro, a crítica de <strong>Gramsci</strong> jamais tenha sido iconoclasta ou<br />
anticlerical. Nos Cadernos, <strong>Gramsci</strong> aprofunda a reflexão e traz novas contribuições<br />
sobre o t<strong>em</strong>a. Reconhece, por ex<strong>em</strong>plo, a importância da religião no<br />
17
“desenvolvimento histórico e intelectual da humanidade”; recusa tomá-la<br />
como reflexo mecânico do mundo material, preferindo concebê-la <strong>em</strong> seu<br />
nexo dialético com a estrutura social — aqui também se poderia, talvez, aplicar<br />
o conceito de bloco histórico —; aponta a diversidade de religiões internamente<br />
a cada uma delas, resultante das disputas ideológicas e das posições de classe<br />
que, por vezes, se manifestam como verdadeiros partidos; contrapõe a filosofia<br />
da práxis ao catolicismo. Todos esses el<strong>em</strong>entos constitu<strong>em</strong> um referencial<br />
teórico-metodológico essencial para pensar a experiência do “cristianismo da<br />
libertação” na América Latina e a “igreja popular” que ele engendrou, alicerçada<br />
na Teologia e na Filosofia da Libertação, na pedagogia de Paulo Freire e também<br />
no marxismo. Essa igreja, distinguindo-se da institucional, materializa-se nas<br />
comunidades eclesiais de base, no interior das quais produz uma nova hermenêutica<br />
bíblica a partir da ótica dos oprimidos; alia-se a eles, denunciando e<br />
combatendo a opressão de que são vítimas; aponta a insuficiência da “vida<br />
interior”, das “boas intenções” e do assistencialismo e a necessidade de transformar<br />
a estrutura econômica; articula criticamente fé e política, conclamando<br />
os fiéis ao engajamento; compromete-se com a educação e a organização das<br />
camadas populares visando à sua <strong>em</strong>ancipação. Parece haver, portanto, muitos<br />
pontos de contato entre esse cristianismo libertador e a filosofia da práxis. S<strong>em</strong><br />
dúvida, a ênfase no protagonismo das massas na construção de uma nova civilização<br />
está entre eles. De fato, para esses cristãos, <strong>Gramsci</strong> não apenas simboliza<br />
o oprimido que havia enfrentado o fascismo, mas também oferece valiosas<br />
orientações para a ação política e a educação popular. Não se trata de negar ou<br />
escamotear as diferenças irreconciliáveis entre as duas concepções do mundo.<br />
Mas para além delas, é no terreno das “experiências políticas concretas”, como<br />
diz S<strong>em</strong>eraro, isto é, na práxis revolucionária de cristãos e militantes que se<br />
forjam as condições para um “encontro crítico e <strong>em</strong>pático” e de contribuição<br />
recíproca entre cristianismo e marxismo. E não custa l<strong>em</strong>brar que a religião<br />
também é terreno e objeto de luta na forma de guerra de posição. Os setores<br />
conservadores sab<strong>em</strong> disso muito b<strong>em</strong>, e têm obtido avanços importantes<br />
nessa guerra. Os socialistas, por sua vez, não pod<strong>em</strong> abdicar desse combate, sob<br />
pena de se distanciar<strong>em</strong> das massas e, <strong>em</strong> última instância, do próprio <strong>Gramsci</strong>.<br />
Fechando o livro t<strong>em</strong>os a entrevista de Percival Tavares da Silva com<br />
Dermeval Saviani sobre A recepção de <strong>Gramsci</strong> na educação brasileira. Indagado<br />
sobre os motivos que o levaram a introduzir, de forma pioneira, os estudos<br />
18
de <strong>Gramsci</strong> na Pós-Graduação <strong>em</strong> Educação no Brasil, Saviani esclarece que,<br />
na verdade, isso ocorreu <strong>em</strong> resposta a uma solicitação da primeira turma de<br />
Doutorado da PUC-SP, <strong>em</strong> 1978, que desejava <strong>em</strong>preender um estudo monográfico<br />
desse autor, a fim de buscar <strong>em</strong> suas ideias subsídios para pensar os<br />
probl<strong>em</strong>as da educação brasileira. Essa experiência, segundo ele, acabou se<br />
tornando um “marco da recepção de <strong>Gramsci</strong> no Brasil e de sua penetração no<br />
campo da educação”. Desde então, a filosofia da práxis passou a ser um referencial<br />
importante <strong>em</strong> sua elaboração teórica, de modo especial na formulação de<br />
sua “pedagogia histórico-crítica”, com destaque para as categorias de hom<strong>em</strong>,<br />
bloco histórico, heg<strong>em</strong>onia, <strong>Estado</strong> ampliado, intelectual, partido ampliado,<br />
revolução, escola, disciplina, catarse, entre outras. Sobre a pertinência do<br />
pensamento gramsciano para a reflexão sobre a realidade brasileira, menciona,<br />
como ex<strong>em</strong>plo, a importância das notas sobre “a questão meridional” — que, no<br />
Brasil, dada a inversão geográfica, poderia se chamar “a questão setentrional”<br />
—, além dos t<strong>em</strong>as do “conformismo” e do “transformismo”, especialmente<br />
para a compreensão da atual conjuntura política do país. Quanto à sua própria<br />
leitura de <strong>Gramsci</strong>, Saviani enfatiza dois aspectos que a marcam: a ortodoxia<br />
metodológica do filósofo da práxis <strong>em</strong> relação ao marxismo original e sua teoria<br />
da educação, fundamentada nos pressupostos do materialismo histórico-dialético.<br />
S<strong>em</strong> dúvida, a presença desses dois el<strong>em</strong>entos — entre vários outros — na<br />
Pedagogia Histórico-Crítica representa uma forma de atualização para a realidade<br />
brasileira da proposta educativa de <strong>Gramsci</strong>. Saviani l<strong>em</strong>bra, ainda, que a<br />
difusão das ideias gramscianas no Brasil pautou diversos t<strong>em</strong>as para o debate<br />
pedagógico, como o do trabalho como princípio educativo e o da escola unitária.<br />
Mas talvez a principal contribuição de <strong>Gramsci</strong> para a educação seja a natureza<br />
profundamente dialética de seu pensamento, que permite superar diversas<br />
dicotomias que vêm esterilizando o debate pedagógico e enfraquecendo as<br />
forças progressistas nele engajadas: “instrução versus educação”; “dogmatismo<br />
versus criticismo-historicismo”, “automatismo versus criatividade”; “coerção<br />
versus liberdade”; “heteronomia versus autonomia”, entre outras. Além disso,<br />
acrescenta Saviani, a crítica de <strong>Gramsci</strong> à Reforma Gentile representa um<br />
“antídoto” às recentes políticas educacionais impl<strong>em</strong>entadas pelo “governo<br />
ilegítimo e impopular” instalado <strong>em</strong> 2016 que, entre outras monstruosidades,<br />
produziu a reforma do Ensino Médio, falaciosa sob diversos aspectos, e o agravamento<br />
da precarização do trabalho docente. Esses, porém, são apenas alguns<br />
19
ex<strong>em</strong>plos de como o pensamento gramsciano pode ser fecundo e útil na luta<br />
dos educadores, sobretudo face às dificuldades impostas pela atual conjuntura<br />
política brasileira.<br />
Aliás, é justamente nessa conjuntura, marcada pelo avanço vertiginoso<br />
das forças do atraso, do obscurantismo, do capital, que a presente obra se<br />
mostra ainda mais oportuna e relevante. S<strong>em</strong> dúvida, ela é um rico repositório<br />
de referências e orientações de grande valia para estudiosos do pensamento<br />
gramsciano. Mais que isso, no entanto, é também um ex<strong>em</strong>plo e um ato de resistência,<br />
um chamado com voz firme à ação, uma fonte de inspiração e motivação,<br />
capaz de reacender a esperança no novo, de alimentar a luta pela construção<br />
de uma <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> <strong>em</strong>ancipadora, de orientar na busca do equilíbrio<br />
dialético entre o pessimismo da razão o otimismo da <strong>vontade</strong>. E se é assim,<br />
vale l<strong>em</strong>brar o adágio costumeiramente repetido por Frei Betto: “Guard<strong>em</strong>os<br />
nosso pessimismo para dias melhores”.<br />
rene josé trentin silveira<br />
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)<br />
20
a p r e s e n t a ç ã o<br />
Reunimos neste livro textos de dois dossiês t<strong>em</strong>áticos publicados <strong>em</strong> 2017.<br />
O primeiro dele saiu na Revista Movimento 1 , com o título <strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong><br />
(1937-2017): educação, política e <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> 2 . O outro, na Revista O Social<br />
<strong>em</strong> Questão 3 , com o t<strong>em</strong>a <strong>Gramsci</strong> e a Revolução Russa 4 . Os conteúdos das duas<br />
revistas foram preparados, respectivamente, por ocasião dos 80 anos da morte<br />
de <strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong> e dos 100 anos da Revolução de Outubro, dois eventos que<br />
guardam profunda relação pelo combate contra o czarismo e o fascismo, pelo<br />
protagonismo épico das forças populares e pela nova concepção de mundo<br />
que veio a ser criada na ação política <strong>coletiva</strong>. O impacto da Revolução Russa<br />
marcou, s<strong>em</strong> dúvida, a personalidade do jov<strong>em</strong> <strong>Gramsci</strong> e teve uma imensa<br />
irradiação na história da humanidade. Mas, também, é verdade que a obra do<br />
marxista sardo teve a genialidade de recriar estratégias de revolução <strong>em</strong> sociedades<br />
complexas e de capitalismo sofisticado, de modo que o seu pensamento<br />
continua a ser estudado no mundo inteiro pela atualidade e fecundidade das<br />
suas análises.<br />
Pelo êxito que os conteúdos das revistas obtiveram resolv<strong>em</strong>os, então,<br />
organizar esta coletânea com o acréscimo de novas contribuições para disponibilizar<br />
a um maior número de leitores reflexões que pod<strong>em</strong> municiar a<br />
1<br />
Movimento-revista de educação, Niterói, ano 4, n.6, jan./jun. 2017. Disponível <strong>em</strong>: .<br />
2<br />
Dossiê organizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas <strong>em</strong> Filosofia, Política e Educação<br />
(NuFiPE/UFF), sob responsabilidade de Percival Tavares da Silva, Ana Lole e Giovanni S<strong>em</strong>eraro.<br />
Contato: .<br />
3<br />
Revista O Social <strong>em</strong> Questão, Rio de Janeiro, ano 20, n. 39, set./dez. 2017. Disponível <strong>em</strong>: .<br />
4<br />
Dossiê organizado por Inez Stampa (PUC-Rio), Ana Lole (PUC-Rio) e Guido Liguori (Calábria,<br />
Itália).<br />
21
atuação orgânica com as causas populares e as dinâmicas transformadoras<br />
dos movimentos sociais, <strong>em</strong> um período muito crítico da história do Brasil,<br />
quando prosperam projetos que quer<strong>em</strong> mutilar a visão integral de mundo dos<br />
estudantes, reprimir insurgências contra o sist<strong>em</strong>a dominante, desqualificar<br />
a política e asfixiar a cultura e a liberdade.<br />
Aglutinados <strong>em</strong> torno do título “<strong>Estado</strong> e <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> <strong>em</strong> <strong>Antonio</strong><br />
<strong>Gramsci</strong>” os capítulos aqui recolhidos reflet<strong>em</strong>, <strong>em</strong> parte, questões debatidas<br />
<strong>em</strong> pesquisas e estudos realizados nos cursos promovidos pelo Núcleo de<br />
Estudos e Pesquisas <strong>em</strong> Filosofia, Política e Educação (NuFiPE) sobre a obra<br />
de <strong>Gramsci</strong>. Entre as diversas perspectivas, aqui se ressalta a necessidade da<br />
preparação teórica e da organização política permanente, a constituição d<strong>em</strong>ocrática<br />
de uma <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> de caráter nacional-popular e o envolvimento<br />
nas lutas com as classes trabalhadoras pela conquista de uma heg<strong>em</strong>onia capaz<br />
de realizar um projeto alternativo de sociedade e de refundar o <strong>Estado</strong> sobre a<br />
d<strong>em</strong>ocracia efetiva. Diante de um sist<strong>em</strong>a cada vez mais corrosivo que destrói<br />
a natureza, propaga a exclusão, o racismo, o machismo, o preconceito e novas<br />
formas de autoritarismos no Brasil e no mundo, o pensamento de <strong>Gramsci</strong> nos<br />
orienta a descobrir novos caminhos de revolução e de civilização.<br />
Em consonância com o perfil do NuFiPE, que procura conjugar a relação<br />
dialética entre “ciência e vida”, pesquisa e realidade brasileira, atividades acadêmicas<br />
e movimentos populares, esperamos poder contribuir com mais esta<br />
publicação para o estudo e o debate voltados a alimentar as forças nacionais-<br />
-populares para um renovado e mais avançado projeto de d<strong>em</strong>ocracia no Brasil.<br />
Com a gratidão a todos os integrantes do NuFiPE e aos autores dos capítulos<br />
deste livro.<br />
os organizadores<br />
22
s o b r e a s / o s a u t o r a s / e s<br />
DEREK BOOTHMAN<br />
Professor de Língua Inglesa e Tradução na Universidade de Bolonha (Itália).<br />
Estudioso de <strong>Antonio</strong> <strong>Gramsci</strong> e autor de diversos livros e artigos.<br />
ANA LOLE<br />
Doutora <strong>em</strong> Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de<br />
Janeiro (PUC-Rio). Mestre <strong>em</strong> Política Social pela Universidade Federal<br />
Fluminense (UFF). Professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação<br />
<strong>em</strong> Serviço Social da PUC-Rio. Pesquisadora no Núcleo de Estudos e Pesquisas<br />
<strong>em</strong> Filosofia, Política e Educação (NuFiPE/UFF) e no Grupo de Estudos e<br />
Pesquisas Trabalho, Políticas Públicas e Serviço Social (Trappus) da PUC-Rio.<br />
M<strong>em</strong>bro da Coordenação Nacional da International <strong>Gramsci</strong> Society Brasil<br />
(IGS-Brasil) — Gestão 2017-2019.<br />
INEZ STAMPA<br />
Doutora <strong>em</strong> Serviço Social. Professora do Departamento de Serviço Social da<br />
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Coordenadora<br />
do Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil — M<strong>em</strong>órias Reveladas<br />
e do Programa de Pós-Graduação <strong>em</strong> Serviço Social da PUC-Rio. Bolsista de<br />
Produtividade <strong>em</strong> Pesquisa CNPq. Coordenadora do Grupo de Estudos e<br />
Pesquisas sobre Trabalho, Políticas Públicas e Serviço Social (Trappus) da<br />
PUC-Rio.<br />
257
GUIDO LIGUORI<br />
Professor de História do Pensamento Político na Universidade da Calábria,<br />
Itália. Presidente da International <strong>Gramsci</strong> Society Itália (IGS-Itália).<br />
ANITA HELENA SCHLESENER<br />
Doutora <strong>em</strong> História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora<br />
aposentada de Filosofia Política e de Estética da UFPR. Atualmente docente do<br />
Programa de Mestrado e Doutorado <strong>em</strong> Educação da Universidade Tuiuti do<br />
Paraná (UTP), <strong>em</strong> Curitiba. Pós-doutorado <strong>em</strong> Educação pela Universidade<br />
Estadual de Campinas (Unicamp).<br />
SÉRGIO MIGUEL TURCATTO<br />
Doutor <strong>em</strong> Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor<br />
de Filosofia na Educação básica. Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas<br />
<strong>em</strong> Filosofia, Política e Educação (NuFiPE/UFF).<br />
SEBASTIÁN GÓMEZ<br />
Doutor da Universidad de Buenos Aires (UBA) <strong>em</strong> Educação. Bolsista de<br />
pós-doutorado do Consejo Nacional de Investigaciones Científica y Técnica<br />
(CONICET). Docente do Departamento de Ciencias de la Educación, Facultad<br />
de Filosofía y Letras — UBA.<br />
PERCIVAL TAVARES DA SILVA<br />
Doutor <strong>em</strong> Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Professor<br />
Associado da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense<br />
(UFF). Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas <strong>em</strong> Filosofia, Política<br />
e Educação (NuFiPE/UFF).<br />
ANGELO D’ORSI<br />
Professor Titular de História do Pensamento Político (Dipartimento di Studi<br />
Storici/ Università di Torino, Itália).<br />
258
EDUARDO GRANJA COUTINHO<br />
Doutor e Mestre <strong>em</strong> Comunicação pela Escola de Comunicação da<br />
Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ). Professor Associado<br />
da ECO/UFRJ. Coordena o Grupo de Estudos Marxistas de Comunicação e<br />
Cultura (G<strong>em</strong>ccult), cadastrado no CNPq.<br />
MARCOS DEL ROIO<br />
Doutor <strong>em</strong> Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Professor<br />
titular de ciências políticas na Faculdade de Filosofia e Ciência da Universidade<br />
Estadual Paulista (Unesp/Marília). Coordenador do Grupo de Pesquisa<br />
“Cultura e Política do Mundo do Trabalho”. Presidente do Instituto Astrojildo<br />
Pereira e da International <strong>Gramsci</strong> Society Brasil (IGS-Brasil) — Gestão<br />
2017-2019.<br />
GERALDO MAGELLA NERES<br />
Doutor <strong>em</strong> Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/<br />
Marília). Professor de Teoria Política do curso de Ciências Sociais da<br />
Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Toledo.<br />
GIOVANNI SEMERARO<br />
Doutor <strong>em</strong> Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).<br />
Doutorado sanduíche <strong>em</strong> Filosofia Política na Università degli Studi di Padova/<br />
Itália e Pós-Doutorado na Itália (Universidade de Urbino/Instituto Italiano per<br />
gli Studi Filosofici di Napoli). Professor Titular de Filosofia da Educação na<br />
Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisador do CNPq e Coordenador<br />
do Núcleo de Estudos e Pesquisas <strong>em</strong> Filosofia, Política e Educação (NuFiPE/<br />
UFF). Foi presidente da International <strong>Gramsci</strong> Society Brasil (IGS-Brasil) —<br />
Gestão 2015-2017.<br />
259
1ª edição outubro 2018<br />
impressão rotaplan<br />
papel miolo offwhite 80g/m 2<br />
papel capa cartão supr<strong>em</strong>o 300g/m 2<br />
tipografia abril e freight
mais estudados e polêmicos do pensamento<br />
de <strong>Gramsci</strong>, desde seus “escritos<br />
juvenis”. Desses escritos destaco sua<br />
compreensão sobre “<strong>vontade</strong> social”,<br />
“<strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong>” e “<strong>vontade</strong>” no artigo “A<br />
revolução contra o ‘Capital’” (a Crítica da<br />
Economia Política de Marx) que considero<br />
um dos mais expressivos ex<strong>em</strong>plares sobre<br />
a <strong>vontade</strong>, na análise que faz <strong>Gramsci</strong>,<br />
nesse período, sobre a Revolução Russa,<br />
mas que se estende para os Cadernos do<br />
cárcere, onde cabe registrar a conhecida<br />
frase frequent<strong>em</strong>ente utilizada por ele:<br />
“pessimismo da inteligência e otimismo da<br />
<strong>vontade</strong>”. Além do que o t<strong>em</strong>a “<strong>vontade</strong>”<br />
aparece, por vezes, vinculada à análise do<br />
<strong>Estado</strong>, nos Cadernos do cárcere, quando<br />
<strong>Gramsci</strong> dedica atenção especial ao<br />
“<strong>Estado</strong>”, associado a “sociedade civil”,<br />
como t<strong>em</strong>a central de seu pensamento.<br />
Não deve ter sido fácil para os organizadores<br />
fazer a síntese dos conteúdos dos<br />
doze artigos no título do livro, mas conseguiram<br />
com sucesso, apontando uma<br />
direção de leitura. Cada artigo, no entanto,<br />
é um convite à leitura atenta de suas<br />
particularidades no conjunto desta obra.<br />
JOSEFA BATISTA LOPES<br />
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
“O processo de formação de uma determinada <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong>, para<br />
um determinado fim político, é representado não através de investigações<br />
e classificações pedantes de princípios e critérios de um método de ação,<br />
mas como qualidades, traços característicos, deveres, necessidades de<br />
[...] um partido político, a primeira célula na qual se sintetizam germes<br />
de <strong>vontade</strong> <strong>coletiva</strong> que tend<strong>em</strong> a se tornar universais e totais”.<br />
ANTONIO GRAMSCI<br />
9 78 8 5 6 5 6 7 9 8 2 4<br />
ISBN 978856567982-4