Estado e vontade coletiva em Antonio Gramsci
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convertida <strong>em</strong> sinônimo de integração individual ao mercado. Esse projeto<br />
neoliberal de sociedade foi ainda mais acentuado com o golpe parlamentar de<br />
2016. Daí a necessidade de repensar as relações entre <strong>Estado</strong> e sociedade civil,<br />
entre o público e o privado, b<strong>em</strong> como as noções de “b<strong>em</strong> público”, “espaço<br />
público”, cidadania e d<strong>em</strong>ocracia, entre outras. Na busca por alternativas, as<br />
autoras apontam alguns desafios: consolidar e aprimorar a d<strong>em</strong>ocracia brasileira;<br />
equacionar as mazelas sociais, econômicas e culturais; fortalecer os fóruns<br />
de participação social de modo a propiciar a repartição do poder decisório. A<br />
disposição para enfrentá-los, porém, passa pelo reconhecimento da sociedade<br />
civil como arena de luta. Esse é um dos caminhos para a conquista da soberania<br />
popular e para a efetiva realização da d<strong>em</strong>ocracia.<br />
No terceiro capítulo, intitulado <strong>Gramsci</strong> e a revolução de outubro, Guido<br />
Liguori retoma a leitura feita por <strong>Gramsci</strong>, <strong>em</strong> diferentes momentos, da<br />
Revolução russa de 1917, procurando destacar aquilo que de sua interpretação<br />
inicial daqueles acontecimentos permaneceu <strong>em</strong> sua elaboração teórica<br />
e política posterior. Equilibrando rigor conceitual e clareza argumentativa<br />
— combinação que, de resto, representa uma síntese concreta da exigência<br />
gramsciana de interação permanente entre o intelectual e as pessoas simples<br />
—, Liguori assinala que, <strong>em</strong> um primeiro momento, ainda orientado por um<br />
marxismo “subjetivista, antideterminista, antieconomicista” e, <strong>em</strong> certa<br />
medida, “ingênuo”, que afirmava o primado idealista da <strong>vontade</strong>, <strong>Gramsci</strong><br />
considera a revolução russa como um “‘ato’ proletário”, visto que ela havia<br />
ignorado o “jacobinismo”, o qual servia a interesses e metas particulares. Os<br />
bolcheviques, por sua vez, representavam os interesses da maioria do proletariado<br />
russo e contavam com seu apoio. Ainda não lhe era possível perceber<br />
a heterogeneidade das forças revolucionárias, suas divisões internas e os<br />
requisitos d<strong>em</strong>ocráticos necessários para a superação dos objetivos particulares.<br />
<strong>Gramsci</strong> também acreditava que a revolução levaria imediatamente,<br />
taumaturgicamente, a uma mudança nos costumes e na índole das pessoas, a<br />
ponto de converter até os criminosos. Esse seu subjetivismo revolucionário<br />
opunha-se pol<strong>em</strong>icamente ao evolucionismo, dominante na cultura da Segunda<br />
Internacional. Para ele, a revolução bolchevique <strong>em</strong> um país atrasado economicamente,<br />
representava uma “revolução contra O Capital”, isto é, contra aqueles<br />
que haviam feito uma leitura determinista e etapista da obra O Capital, de Marx.<br />
E, a despeito de certa ingenuidade inicial, não lhe escapou a percepção das<br />
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