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Estado e vontade coletiva em Antonio Gramsci

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de <strong>Gramsci</strong> na Pós-Graduação <strong>em</strong> Educação no Brasil, Saviani esclarece que,<br />

na verdade, isso ocorreu <strong>em</strong> resposta a uma solicitação da primeira turma de<br />

Doutorado da PUC-SP, <strong>em</strong> 1978, que desejava <strong>em</strong>preender um estudo monográfico<br />

desse autor, a fim de buscar <strong>em</strong> suas ideias subsídios para pensar os<br />

probl<strong>em</strong>as da educação brasileira. Essa experiência, segundo ele, acabou se<br />

tornando um “marco da recepção de <strong>Gramsci</strong> no Brasil e de sua penetração no<br />

campo da educação”. Desde então, a filosofia da práxis passou a ser um referencial<br />

importante <strong>em</strong> sua elaboração teórica, de modo especial na formulação de<br />

sua “pedagogia histórico-crítica”, com destaque para as categorias de hom<strong>em</strong>,<br />

bloco histórico, heg<strong>em</strong>onia, <strong>Estado</strong> ampliado, intelectual, partido ampliado,<br />

revolução, escola, disciplina, catarse, entre outras. Sobre a pertinência do<br />

pensamento gramsciano para a reflexão sobre a realidade brasileira, menciona,<br />

como ex<strong>em</strong>plo, a importância das notas sobre “a questão meridional” — que, no<br />

Brasil, dada a inversão geográfica, poderia se chamar “a questão setentrional”<br />

—, além dos t<strong>em</strong>as do “conformismo” e do “transformismo”, especialmente<br />

para a compreensão da atual conjuntura política do país. Quanto à sua própria<br />

leitura de <strong>Gramsci</strong>, Saviani enfatiza dois aspectos que a marcam: a ortodoxia<br />

metodológica do filósofo da práxis <strong>em</strong> relação ao marxismo original e sua teoria<br />

da educação, fundamentada nos pressupostos do materialismo histórico-dialético.<br />

S<strong>em</strong> dúvida, a presença desses dois el<strong>em</strong>entos — entre vários outros — na<br />

Pedagogia Histórico-Crítica representa uma forma de atualização para a realidade<br />

brasileira da proposta educativa de <strong>Gramsci</strong>. Saviani l<strong>em</strong>bra, ainda, que a<br />

difusão das ideias gramscianas no Brasil pautou diversos t<strong>em</strong>as para o debate<br />

pedagógico, como o do trabalho como princípio educativo e o da escola unitária.<br />

Mas talvez a principal contribuição de <strong>Gramsci</strong> para a educação seja a natureza<br />

profundamente dialética de seu pensamento, que permite superar diversas<br />

dicotomias que vêm esterilizando o debate pedagógico e enfraquecendo as<br />

forças progressistas nele engajadas: “instrução versus educação”; “dogmatismo<br />

versus criticismo-historicismo”, “automatismo versus criatividade”; “coerção<br />

versus liberdade”; “heteronomia versus autonomia”, entre outras. Além disso,<br />

acrescenta Saviani, a crítica de <strong>Gramsci</strong> à Reforma Gentile representa um<br />

“antídoto” às recentes políticas educacionais impl<strong>em</strong>entadas pelo “governo<br />

ilegítimo e impopular” instalado <strong>em</strong> 2016 que, entre outras monstruosidades,<br />

produziu a reforma do Ensino Médio, falaciosa sob diversos aspectos, e o agravamento<br />

da precarização do trabalho docente. Esses, porém, são apenas alguns<br />

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