REVISTA PENHA | outubro 2018
O que acontece, quem são as pessoas que marcam a Freguesia e ainda algumas curiosidades sobre a Penha de França. Uma revista editada pela Junta de Freguesia da Penha de França.
O que acontece, quem são as pessoas que marcam a Freguesia e ainda algumas curiosidades sobre a Penha de França. Uma revista editada pela Junta de Freguesia da Penha de França.
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Um Herói<br />
SabiaQ<br />
Colonial<br />
ue...<br />
Aniceto do Rosário<br />
O nome de Aniceto do Rosário,<br />
toponímia de praça junto à Rua<br />
da Penha de França, ecoa os<br />
primórdios do fim da descolonização<br />
da Índia, em meados<br />
do séc. XX.<br />
Em 1947, este país alcançou a independência<br />
do Reino Unido, o que<br />
deu início a um movimento para<br />
que territórios anexos então sob a<br />
soberania portuguesa e francesa<br />
fossem integrados no novo Estado.<br />
As autoridades indianas foram dando<br />
sinais no mesmo sentido e em<br />
fevereiro de 1950 o Governo do país<br />
“resolveu enfim pôr formalmente<br />
o problema da soberania, […] em<br />
termos corteses e conciliatórios”,<br />
lembra Bernardo Futscher Pereira<br />
no livro ‘Crepúsculo do Colonialismo’.<br />
Em Portugal, Salazar tentava tudo<br />
para adiar o inadiável, ao mesmo<br />
tempo que reprimia os movimentos<br />
pró-independência. Em 1953,<br />
“agravara-se a repressão em Goa.<br />
Quem se mostrava favorável à união<br />
com a Índia era punido, censurado,<br />
privado dos seus direitos ou mesmo<br />
deportado”, acrescenta o autor.<br />
A pressão do lado indiano leva, em<br />
janeiro de 1954, o ditador reconhecer<br />
que a “situação tornara-se ‘gravíssima’”.<br />
Cinco meses depois, um grupo de<br />
independentistas marchava pela<br />
fronteira indiana e entrava em Dadrá.<br />
“Quando chegaram à esquadra<br />
da polícia, reconheceram o subinspetor<br />
Aniceto do Rosário, o seu<br />
arqui-inimigo”, descreve a escritora<br />
indiana Maria de Lourdes Bravo<br />
da Costa Rodrigues (num texto em<br />
inglês disponível em http://www.<br />
navhindtimes.in/ilive/how-18th-<br />
-june-road-got-its-name ). Na<br />
altura, o subinspetor falava para um<br />
grupo de “100 a 150 aldeões”, avisando-os<br />
“que haveria consequências<br />
se não obedecessem às ordens”.<br />
Os independentistas misturaram-se<br />
com a multidão e Aniceto do Rosário<br />
apercebeu-se disso. “Correu<br />
para a esquadra para se abrigar e<br />
sacou da pistola, criando o pânico<br />
entre os aldeões”. Aproveitando-se<br />
da confusão que se instalou, continua<br />
a descrever Costa Rodrigues,<br />
um dos independentistas “sacou de<br />
uma faca e golpeou-o. Apesar de<br />
[Aniceto do Rosário] ter disparado,<br />
perdeu o controlo e caiu devido aos<br />
ferimentos mortais que sofrera”.<br />
Escreve a autora que a tomada da<br />
esquadra causaria mais três mortos,<br />
além do subinspetor, originário de<br />
Diu: “os polícias Clemente Francisco<br />
Pereira, de Damão, António Joaquim<br />
Francisco Fernandes, também<br />
de Damão e um guarda Muçulmano,<br />
Mamod Can, de Goa.”<br />
“A comoção em Lisboa foi imensa”,<br />
relata Futscher Pereira, e Aniceto do<br />
Rosário receberia, a título póstumo,<br />
a medalha militar e cobre da classe<br />
de Comportamento Exemplar, o<br />
grau de cavaleiro da Ordem Militar<br />
da Torre e Espada e a patente de<br />
Chefe do Corpo de Polícia, conta a<br />
Toponímia da Câmara Municipal<br />
de Lisboa. Foi também proposta<br />
à Comissão de Toponímia a atribuição<br />
do seu nome a uma rua de<br />
Lisboa, que a aceitou em dezembro<br />
de 1954."<br />
Em 1961, Salazar, derrotado, perdia<br />
os derradeiros territórios na chamada<br />
‘Índia Portuguesa’: Goa, Damão<br />
e Diu.'<br />
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