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https://novaescola.org.br/conteudo/8678/por-<strong>que</strong>-o-funk-e-proibido-na-escola<br />

Arte e Educação Física | Sala de aula<br />

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 295, 14 de Setembro | 2016<br />

Por <strong>que</strong> o funk é proibido na<br />

escola<br />

Você detesta, m<strong>as</strong> seus alunos gostam. Acredite: debater o ritmo na escola é<br />

a melhor chance de <strong>que</strong>stionar <strong>as</strong> letr<strong>as</strong> pesad<strong>as</strong> e os movimentos sexuais<br />

Wellington Soares<br />

Paula Peres<br />

Patrick C<strong>as</strong>simiro<br />

Este texto deveria <strong>com</strong>eçar <strong>com</strong> uma grande foto de alunos e professor discutindo o funk, analisando<br />

<strong>com</strong> uma postura crítica essa manifestação cultural. Foi esse o projeto de Felipe Nunes, <strong>que</strong> atua na EE<br />

Professor Norberto Alves Rodrigues, na M'Boi Mirim, periferia da zona sul de São Paulo. Deu errado. A<br />

Diretoria Regional de Ensino achou melhor não expor a instituição (mudou de ideia quando já era tarde<br />

e a revista estava indo para a gráfica). Afinal, lugar de funk não é na escola, certo?<br />

Dá para entender a resistência. Muit<strong>as</strong> letr<strong>as</strong> são fortes e fazem referência à violência e à sexualização<br />

precoce. Os movimentos da dança transitam entre a sensualização excessiva e a transformação do<br />

corpo em objeto. De fato, causa <strong>as</strong>sombro pensar nos seus alunos descendo até o chão ao som do<br />

funk sensual. M<strong>as</strong> é o <strong>que</strong> muitos deles fazem. É a realidade.<br />

Vamos defender <strong>que</strong> a escola é, sim, lugar de funk. Pedimos sua parceria para ir conosco até o fim, m<strong>as</strong><br />

sabemos d<strong>as</strong> dificuldades. O <strong>as</strong>sunto re<strong>que</strong>r uma boa dose de coragem para <strong>com</strong>prar uma briga - <strong>com</strong><br />

a direção, os coleg<strong>as</strong> professores e os pais. "Uma mãe me falou: 'Demorei anos para a minha filha<br />

parar de gostar de funk e agora você vai fazê-la ouvir isso de novo!'", conta Felipe, <strong>que</strong> encontrou<br />

resistência até dos próprios alunos <strong>que</strong> ouviam o ritmo (nem eles acham <strong>que</strong> funk pode ter a ver <strong>com</strong><br />

Educação).<br />

M<strong>as</strong> o funk é mais do <strong>que</strong> uma coletânea de trechos de letr<strong>as</strong> impublicáveis. "Ele é um <strong>com</strong>plexo<br />

movimento cultural. Rejeitá-lo <strong>com</strong>o um todo por causa de algum<strong>as</strong> de su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> é<br />

desconhecimento e preconceito", defende Marcos Neira, professor da Faculdade de Educação da<br />

Universidade de São Paulo (USP). Ele faz um paralelo <strong>com</strong> a banda Legião Urbana: Faroeste Caboclo<br />

narra a trajetória de vida de um traficante, bandido e estuprador criminoso. Nem por isso <strong>as</strong> escol<strong>as</strong><br />

deixam de utilizar outr<strong>as</strong> (e mesmo essa!) músic<strong>as</strong> da banda em atividades didátic<strong>as</strong>.<br />

Com o funk, é diferente. A interdição é total, apesar de apen<strong>as</strong> parte d<strong>as</strong> músic<strong>as</strong> terem palavrões,<br />

insinuações sexuais, machismo, referênci<strong>as</strong> a drog<strong>as</strong> e a crimes - o proibidão. Aí está uma primeira<br />

possibilidade de abordagem: focar em um dos diversos subgêneros. O funk melody de Claudinho e<br />

Buchecha, por exemplo, fala sobre relações amoros<strong>as</strong>. Já o engajado Rap da Felicidade, de Cidinho e<br />

Doca, <strong>que</strong>stiona a apropriação do ritmo n<strong>as</strong>cido n<strong>as</strong> periferi<strong>as</strong> pela cl<strong>as</strong>se média.<br />

Essa é, digamos, uma proposta mais light. O baguio fica loko A situação é mais <strong>com</strong>plicada quando o<br />

funk conhecido pelos alunos é justamente a<strong>que</strong>le capaz de deixar de cabelo em pé até o mais liberal<br />

dos educadores. É a opção dos professores mais ousados, <strong>que</strong> não negam o repertório dos alunos<br />

apresentando apen<strong>as</strong> <strong>as</strong> versões "limpinh<strong>as</strong>" do ritmo. Foi o c<strong>as</strong>o de Felipe, cuja turma era fã de grupos<br />

<strong>com</strong>o o Bonde d<strong>as</strong> Maravilh<strong>as</strong>. Entre os sucessos do conjunto, está a canção Novo Movimento, em <strong>que</strong><br />

el<strong>as</strong> cantam ?El<strong>as</strong> batem <strong>com</strong> a bunda/el<strong>as</strong> sentam <strong>com</strong> a bunda/el<strong>as</strong> quicam <strong>com</strong> a bunda/el<strong>as</strong> jogam<br />

pra trás? sobre movimentos de dança <strong>que</strong> lembram o ato sexual. O <strong>que</strong> ele poderia fazer?<br />

Se canções <strong>que</strong> falam sobre sexo, violência e drog<strong>as</strong><br />

fazem parte do repertório dos alunos, o caminho é,

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