02.11.2018 Views

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fal<strong>as</strong>”, afirma. O relato de Silvia não é único e se repete nos depoimentos de muitos<br />

outros professores br<strong>as</strong>ileiros.<br />

O estado de São Paulo registra um c<strong>as</strong>o de injúria racial em estabelecimentos de<br />

ensino a cada 5 di<strong>as</strong>, de acordo <strong>com</strong> dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública<br />

de São Paulo. Foram 2.873 boletins entre os anos de 2016 e 2017.<br />

LEIA MAIS O racismo nosso de cada aula<br />

Para Sheila Perina de Souza, pedagoga e integrante do coletivo Ludere, <strong>que</strong> se propõe<br />

a discutir uma escolarização anti-racista <strong>com</strong> referênci<strong>as</strong> afro-br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> e african<strong>as</strong>, é<br />

muito importante entender o grau de seriedade nos c<strong>as</strong>os de racismo em sala de aula.<br />

“Não se trata de bullying ou brincadeira de mau gosto, estamos falando de um<br />

problema histórico. É racismo – e isso é crime”, afirma. Segundo ela, é necessário <strong>que</strong><br />

os professores e coordenadores pontuem isso <strong>com</strong> seus alunos de forma séria e<br />

contundente.<br />

Os c<strong>as</strong>os de injúria racial estão no Código Penal Br<strong>as</strong>ileiro e referem-se a ofender a<br />

honra de alguém por raça, cor, etnia ou religião. O crime de racismo está presente na<br />

Lei nº 7.716/1989 e se dá quando a integridade de uma raça é lesada. O crime de<br />

racismo é inafiançável e imprescritível. Isso não impediu <strong>que</strong>, em março deste ano, um<br />

aluno da Fundação Getúlio Varg<strong>as</strong> (FGV) fosse chamado de “escravo” ou <strong>que</strong>, no ano<br />

p<strong>as</strong>sado, du<strong>as</strong> professor<strong>as</strong> de Uberlândia tenham sido ofendid<strong>as</strong> em convers<strong>as</strong> em<br />

redes sociais. Também em 2017, a campanha “Meu professor racista” revelou, por<br />

depoimentos de muitos alunos n<strong>as</strong> redes sociais, situações racist<strong>as</strong> em escol<strong>as</strong> em<br />

todo o Br<strong>as</strong>il. A iniciativa, <strong>que</strong> n<strong>as</strong>ceu do coletivo Ocupação Preta da USP, <strong>com</strong>pilou<br />

c<strong>as</strong>os de racismo não só no ambiente universitário, m<strong>as</strong> também nos ensinos<br />

fundamental e médio. São episódios <strong>que</strong> chamaram atenção para o racismo na escola,<br />

m<strong>as</strong> não devem encerrar a conversa.<br />

Falta mais debate<br />

Renato Maldonado, professor de História e Sociologia em escol<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> e privad<strong>as</strong><br />

de São Paulo, afirma <strong>que</strong> o racismo no ambiente escolar ocorre não somente através<br />

de insultos, m<strong>as</strong> muit<strong>as</strong> vezes de forma velada. “Há outros indícios no meio escolar,<br />

<strong>com</strong>o por exemplo o baixo número de alunos e docentes negros”, diz.<br />

Para ele, o Br<strong>as</strong>il ainda não superou o racismo tanto na educação pública quanto na<br />

educação privada. “N<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> de elite, o negro é invisibilizado. Quando o<br />

negro está presente, é a empregada doméstica ou o segurança, e não o aluno”, afirma.<br />

Por contar <strong>com</strong> maioria branca entre o corpo docente e os alunos, diz ele, <strong>as</strong> escol<strong>as</strong><br />

privad<strong>as</strong> refletem a estrutura br<strong>as</strong>ileira de poder e desigualdade étnica. O <strong>que</strong> falta,<br />

segundo Seb<strong>as</strong>tian Alvarado Fuentes, professor de Geografia de cursinhos prévestibulares<br />

em São Paulo, é ampliar a discussão em uma esfera da <strong>com</strong>unidade,<br />

envolvendo <strong>as</strong> famíli<strong>as</strong>. “Ao lidar <strong>com</strong> tem<strong>as</strong> <strong>com</strong>o racismo, machismo, homofobia e<br />

outros <strong>as</strong>suntos considerados polêmicos, encontramos uma grande resistência por<br />

parte d<strong>as</strong> famíli<strong>as</strong> dos alunos”, afirma. "M<strong>as</strong> temos de falar".<br />

Rosane Borges, jornalista e pós-doutora em Ciênci<strong>as</strong> da Comunicação acredita <strong>que</strong><br />

esse é o caminho. “É fundamental <strong>que</strong> <strong>as</strong> famíli<strong>as</strong> <strong>as</strong>sumam os princípios de uma<br />

educação anti-racista, anti-sexista, não homofóbica e não transfóbica no processo de<br />

socialização dos filhos”, diz.<br />

Na rede pública, tem<strong>as</strong> <strong>com</strong>o o racismo são discutidos geralmente em reuniões<br />

pedagógic<strong>as</strong>. Em sala de aula, alguns professores levantam a <strong>que</strong>stão <strong>com</strong> os alunos,

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