colecao-conteudos-que-mexem-com-as-nossas-certezas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Aí veio o ganho pedagógico. "Ficou claro para mim <strong>que</strong>, no momento da dança, nem sempre a relação<br />
entre letra e movimento era clara", lembra Felipe. Uma d<strong>as</strong> alun<strong>as</strong> chegou a dizer: "Quando estou<br />
dançando, não penso na letra e no <strong>que</strong> ela significa, só penso em dançar". A escola foi sua primeira<br />
chance de refletir sobre a mensagem.<br />
O <strong>com</strong>portamento dos meninos também foi para a berlinda. A turma notou <strong>que</strong> quando el<strong>as</strong><br />
dançavam, eles ficavam no fundo da quadra. Indagados, muitos rapazes confessaram estar<br />
observando o corpo d<strong>as</strong> coleg<strong>as</strong>. Nova oportunidade para <strong>que</strong>stionar: se a dança estava sendo feita no<br />
espaço da escola, na aula de Educação Física e <strong>com</strong> o objetivo de analisar os movimentos, ficar<br />
objetificando o corpo d<strong>as</strong> menin<strong>as</strong> era a postura mais adequada? A turma concluiu <strong>que</strong> não.<br />
Os bailes n<strong>as</strong>ceram antes do funk carioca.<br />
Os jovens se reuniam para ouvir <strong>as</strong> músic<strong>as</strong><br />
de James Brown e de outros ídolos americanos<br />
Funkeiros e imagens de fachada<br />
A discussão sobre a dança é polêmica. "O batidão provoca um movimento qu<strong>as</strong>e natural do quadril n<strong>as</strong><br />
pesso<strong>as</strong> <strong>que</strong> gostam de dançar. A forte influência africana aparece aí, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o no samba", explica<br />
Ana Abrahão, doutoranda em música pela Unicamp. Ela explica <strong>que</strong>, n<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> african<strong>as</strong> <strong>que</strong><br />
influenciaram a criação do funk e do samba, os movimentos de quadril não necessariamente estavam<br />
relacionados <strong>com</strong> a sexualização. No Br<strong>as</strong>il, <strong>as</strong> letr<strong>as</strong> <strong>que</strong> a<strong>com</strong>panham o ritmo reestabeleceram essa<br />
relação.<br />
No ato final, a sequência didática avançou para cima de outro tabu: o funk ostentação. Vertente<br />
popularizada em São Paulo, traz letr<strong>as</strong> e clipes <strong>com</strong> os funkeiros <strong>que</strong> se vangloriam de um estilo de vida<br />
luxuoso. Questão para a turma: essa é uma imagem real? Para responder, Felipe convidou os MCs<br />
Balão e Japinha, do Bonde do Canguru, para conversar <strong>com</strong> a turma. Na entrevista, mitos desfeitos. Os<br />
alunos achavam <strong>que</strong> os plaquê de cem maços de dinheiro, carrões, jói<strong>as</strong> e mansões mostrados nos<br />
vídeos reproduziam o cotidiano dos artist<strong>as</strong>. Os MCs desmentiram, explicando <strong>que</strong> <strong>as</strong> mulheres, os<br />
carros, <strong>as</strong> motos e os cordões de ouro eram, na verdade, atrizes contratad<strong>as</strong> e equipamentos alugados<br />
temporariamente. Confira playlists de vídeos <strong>que</strong> ajudam a entender a história e os diferentes gêneros<br />
do funk em bit.ly/tocafunk.<br />
Convidamos os MCs para uma sessão de fotos dentro da EE Professor Norberto Alvez Rodrigues. M<strong>as</strong> a<br />
autorização demorou demais para vir. O trabalho de Felipe tinha sido controverso e eles não <strong>que</strong>riam<br />
reacender a polêmica. Dentro da escola, o funk continua proibidão.<br />
Para saber mais<br />
Confira playlists de vídeos <strong>que</strong> ajudam a entender a história e os diferentes gêneros do<br />
funk. http://bit.ly/tocafunk<br />
Fotografia: Mariana Pekin<br />
Consultoria: Marcos Neira, professor da Faculdade de Educação da USP, e Carlos Palombini, professor da Universidade<br />
Federal de Min<strong>as</strong> Gerais (UFMG)