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A estranha vida de Nikola Tesla

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constrangedora. Professor Poeschl era um alemão metódico e meticuloso. Ele tinha enormes pés<br />

e mãos como patas <strong>de</strong> um urso, mas todos os seus experimentos eram habilmente realizados<br />

como um relógio <strong>de</strong> precisão e sem falhas. Foi no segundo ano dos meus estudos que recebemos<br />

uma Dyname Gramoe [Gramme Dynamo é um gerador elétrico que produz corrente contínua<br />

(C.C.) inventado por Zénobe Gramme (N.T.)] <strong>de</strong> Paris, que tem a forma <strong>de</strong> uma ferradura com<br />

um campo magnético laminado, envolta em uma blindagem <strong>de</strong> arame com um comutador. Ao<br />

ser ligado vários efeitos da corrente (C.C.) foram mostrados. Enquanto Professor Poeschl fazia<br />

<strong>de</strong>monstrações, fazendo o aparelho funcionar como um motor, as escovas <strong>de</strong>ram problemas,<br />

provocando faíscas, e eu observei que talvez fosse possível fazer o motor operar sem essa parte<br />

do aparelho. Mas ele <strong>de</strong>clarou que não po<strong>de</strong>ria ser feito e tive a honra <strong>de</strong> escutar uma palestra<br />

sobre o assunto, tendo como conclusão o comentário: “Mr. <strong>Tesla</strong> po<strong>de</strong> realizar gran<strong>de</strong>s coisas,<br />

mas certamente nunca vai fazer isso”. Isso seria equivalente à conversão <strong>de</strong> uma força constante<br />

<strong>de</strong> atração, como a da gra<strong>vida</strong><strong>de</strong> para uma <strong>de</strong> esforço rotativo. É um esquema <strong>de</strong> movimento<br />

perpétuo, uma i<strong>de</strong>ia impossível. “Mas o instinto é algo que transcen<strong>de</strong> o conhecimento”. Temos,<br />

sem dú<strong>vida</strong>, certas fibras <strong>de</strong>licadas que nos permitem perceber as verda<strong>de</strong>s quando a <strong>de</strong>dução<br />

lógica, ou qualquer outro esforço intencional do cérebro, são inúteis.<br />

Por um tempo eu vacilei, impressionado com a autorida<strong>de</strong> do professor, mas logo me convenci<br />

<strong>de</strong> que eu estava certo e assumi a tarefa com todo o furor e com a ilimitada audácia da minha<br />

juventu<strong>de</strong>. Comecei primeiro imaginando na minha mente uma máquina <strong>de</strong> corrente contínua<br />

em movimento, seguindo as mudanças <strong>de</strong> fluxo das correntes na armadura. Então eu imaginei<br />

um alternador e investiguei os avanços ocorrendo em uma maneira semelhante. Em seguida<br />

visualizei os sistemas que compõem os motores e geradores funcionando <strong>de</strong> diversas maneiras.<br />

As imagens que eu vi eram perfeitamente reais e tangíveis. Passei todo o meu tempo<br />

remanescente em Gratz em esforços intensos, mas infrutíferos, <strong>de</strong>ste tipo, e quase cheguei<br />

conclusão <strong>de</strong> que o problema era insolúvel.<br />

Em 1880 eu fui para Praga, realizando o <strong>de</strong>sejo do meu pai <strong>de</strong> completar a minha educação na<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lá. Foi nessa cida<strong>de</strong> que eu fiz um avanço <strong>de</strong>cisivo, que consistiu em retirar o<br />

comutador da máquina e estudar o fenômeno sob este novo aspecto, mas ainda assim, sem<br />

resultado. No ano seguinte houve uma mudança repentina na minha visão da <strong>vida</strong>.<br />

Percebi que meus pais tinham feito gran<strong>de</strong>s sacrifícios por minha causa e resolvi aliviar-lhes a<br />

carga. A onda do telefone americano havia acabado <strong>de</strong> chegar ao continente europeu e o sistema<br />

seria instalado em Budapeste, Hungria. Pareceu-me a oportunida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, ainda mais que um<br />

amigo da nossa família era quem estava à frente do empreendimento.<br />

Foi aqui que eu sofri o colapso total dos nervos que eu tenho me referido. O que eu<br />

experimentei durante o período da doença supera todas as crenças. Minha visão e audição foram<br />

sempre extraordinárias. Eu podia discernir claramente os objetos à distância enquanto os outros<br />

nem viam vestígio <strong>de</strong>les. Várias vezes em minha infância eu salvei as casas dos nossos vizinhos<br />

<strong>de</strong> pegar fogo por ouvir os débeis sons crepitantes que não perturbavam seu sono, e pedir ajuda.<br />

Em 1899, quando eu tinha passado <strong>de</strong> quarenta anos e conduzia minhas experiências em<br />

Colorado, eu podia ouvir distintamente trovões, a uma distância <strong>de</strong> 885 quilômetros. Meus<br />

ouvidos eram, portanto, mais <strong>de</strong> treze vezes mais sensíveis, mas naquela época eu estava, por<br />

assim dizer, surdo com uma pedra, em comparação com a agu<strong>de</strong>za <strong>de</strong> minha audição sob tensão<br />

nervosa.<br />

A <strong>estranha</strong> <strong>vida</strong> <strong>de</strong> <strong>Nikola</strong> <strong>Tesla</strong>

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