Rosa do abismo

Academia Peruibense de Letras - 9ª Coletânea
tantas bobagens como essas que você acaba de despejar nos
meus ouvidos, como se estes fossem um penico, não me custa
muito escutar mais uma das suas, meu amigo.
Dada a deixa, o outro não se fez esperar:
- Pois diz que, muito antigamente – se dá pra acreditar
no que contou a dona Melica, a velhinha que ensina Sociologia,
o senhor conhece –, quando estourava uma guerra,
os padres agiam diferente naquela época. Não era como hoje
em dia, não senhor, que os safados se escondem na sacristia,
amedrontados como ratos. Nada disso, eles eram valentes pra
chuchu: acompanhavam os soldados nas batalhas, que era pra
dar apoio moral e religioso, qualquer coisa assim, não entendi
bem qual o babado dos malucos. Pode até ser que acontecia
mesmo desse jeito que ela falou, quem vai saber? Pois ninguém
sobreviveu desde aquele tempo até hoje pra testemunhar,
não é mesmo? O cazzo é que aquela gente toda não passava
de um bando de doidões, só tinha que ser; nem duvido
que cheiravam uma carreirinha de vez em quando, sei lá. Mas,
quando isso acontecia, isto é, quando iam pra batalha, a coisa
era séria, mas nunca que podiam usar batina que fosse feita
de ferro, bronze ou latão, sabe como é que é?, feita do mesmo
material de que eram moldadas aquelas armaduras dos cavaleiros
medievais. E sabe por quê?
- Não, não sei por quê. Diga lá de uma vez.
- Porque senão, cada vez que algum padreco vestido
dessa maneira passasse junto de uma dona boa, toda a gente
por perto ia escutar um monte de badaladas, parecendo repique
do sino da matriz na época do Natal! – E, dito isso, o
debochado caiu na gargalhada.
Entretanto, percebendo que o mestre não o acompanhava
na hilaridade e que, pelo contrário, o fitasse de cima
com ar reprovativo, questionou, a enxugar as lágrimas:
- Que foi, p’sor Padilha? Calma lá, não é possível!
Será que não sacou o espírito da coisa, caramba? – E o aluno
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