Rosa do abismo

Academia Peruibense de Letras - 9ª Coletânea
res neste canto da baixada, esgueiro-me rapidamente pela Rua
Tucuruvi, no centro da cidade. Chego à esquina com a Rua
dos Pescadores e, nesse ponto estratégico, paro e observo toda
a praça; as escadarias da igreja à minha esquerda, a banca de
jornais fechada, à direita. Tento conter meu coração nervoso,
tumultuado, explodindo no peito e o fole barulhento da respiração,
temendo que denunciem a minha presença, mas claro
que exagero. Detenho-me nesta esquina não apenas devido as
obvias fraquezas da minha forma física, mas também porque
ainda tenho algum bom senso residual.
Quando chegarem aqueles aos quais procuro, também seus
inimigos podem vir no encalço deles. E ai eu correria o risco
de ficar entre possível fogo cruzado. Péssimo, pois estragaria
todo meu plano. Por isso me acautelo e sondo o movimento
que acontece lá na praça.
Aparentemente, tudo normal. Os últimos lojistas fecham suas
portas e desaparecem pelas ruas adjacentes ou que desembocam
no logradouro. Nenhum movimento, por enquanto, nem
de amigos nem de inimigos, nem na praça nem no céu. Encosto-me
à parede e continuo quieto observando.
Antes de vir aqui para encontrá-los, deliberei comigo mesmo
por muito, muito tempo. Até que tomei uma decisão e aqui
estou. Se eles vierem, e é quase certo que virão, será a ocasião
perfeita em todos os sentidos. Finalmente mostrarei ao mundo
que não sou nenhum maluco alucinado por alienígenas. Tudo
está acontecendo exatamente da forma que eu, por décadas,
previ e alertei ao mundo. Embora em vão, pois nunca me ouviram.
Ao contrário, ainda riem e me chamam de “Dr. Abduzido”.
Se não quiseram ouvir a verdade ou não se importaram,
então irei sozinho na viagem. Vou embora do país. Mais que
isso, vou embora do planeta!
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