28.01.2019 Views

OLHARES

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>OLHARES</strong><br />

sário fomentar o talento integrador,<br />

incentivar a criação de sínteses e de<br />

sistematizações e promover novas<br />

formas de integração do saber.<br />

Quais as experiências que a senhora conhece,<br />

no âmbito acadêmico, que podem<br />

ser citadas como bons exemplos de trabalhos<br />

interdisciplinares, no Brasil e/ou em<br />

Portugal?<br />

Um dos exemplos mais emblemáticos<br />

é o Santa Fe Institute (SFI), instituição<br />

de referência das ciências da<br />

complexidade. O ponto de partida é<br />

o reconhecimento da natureza interdisciplinar<br />

das ciências da complexidade,<br />

do inédito cruzamento que aí<br />

se opera entre biologia, computação,<br />

imunologia, economia, informação,<br />

ciências sociais, antropologia, vida<br />

artificial, teoria dos jogos, teoria da<br />

aprendizagem. Desde a sua fundação<br />

em 1984, o SFI tem como missão a exploração<br />

heurística de transferências,<br />

analogias e metáforas de um domínio<br />

para outro, com base no trabalho de<br />

investigadores provenientes das mais<br />

variadas áreas, em torno de projetos<br />

de investigação conjuntos, mutáveis e<br />

dinâmicos, sobre fenômenos não lineares<br />

e complexidade. Com base numa<br />

estrutura organizativa muito leve, não<br />

dividida em departamentos, com um<br />

núcleo reduzido de investigadores<br />

residentes e um largo corpo de investigadores<br />

visitantes, o SFI desenvolve<br />

um estilo de investigação de alguma<br />

maneira isomorfo dos fenômenos e<br />

sistemas que estuda, isto é, complexo<br />

e auto-adaptativo.<br />

A educação on-line gera novas possibilidades<br />

para o trabalho interdisciplinar ou<br />

constitui um obstáculo?<br />

Não há qualquer obstáculo, pelo<br />

contrário, os novos meios de comunicação<br />

eletrônica não só permitem<br />

a partilha de experiências distantes<br />

e exóticas e o acesso a quantidades<br />

vertiginosas de informação, como<br />

promovem um novo tipo de aproximação<br />

social em larga escala, novas<br />

estruturas de interdependência e<br />

novas formas de colaboração. Além<br />

disso, os meios eletrônicos de comunicação<br />

dirigem-se de forma envolvente<br />

à sensibilidade múltipla do<br />

espectador e desencadeiam uma<br />

compreensão polimórfica, pluridimensional<br />

e integrada.<br />

Olga Maria Pombo Martins é licenciada<br />

em Filosofia pela Faculdade de Letras da<br />

Universidade de Lisboa (1971). Concluiu<br />

em 1986 o mestrado em Filosofia Moderna<br />

pela Faculdade de Ciências Sociais<br />

e Humanas da Universidade Nova de<br />

Lisboa, apresentando uma dissertação<br />

intitulada Leibniz e o Problema de uma<br />

Língua Universal. Em 1998 doutorou-se<br />

em História e Filosofia da Educação pela<br />

Faculdade de Ciências da Universidade<br />

de Lisboa, com a apresentação e defesa<br />

de uma dissertação intitulada Unidade<br />

da Ciência e Configuração Disciplinar<br />

dos Saberes. É coordenadora científica<br />

do Centro de Filosofia das Ciências<br />

da Universiade de Lisboa (CFCUL),<br />

desde 2003, e coordenadora da Seção<br />

Autônoma de História e Filosofia das<br />

Ciências da Faculdade de Ciências da<br />

Universidade de Lisboa (FCUL), desde<br />

2007. Foi coordenadora científica dos<br />

projetos Enciclopédia e Hipertexto (1999-<br />

2002) e Cultura Científica, Migrações<br />

Conceptuais e Contaminações Sociais<br />

(2002-2005). É Associated Researcher<br />

do Projeto Internacional La Science dans<br />

ses Contextes - Pragmatisme Dialogique<br />

e coordenadora do projeto A imagem na<br />

Ciência e na Arte.<br />

Página pessoal: http://www.educ.fc.ul.<br />

pt/docentes/opombo<br />

COULON, Alain. A condição de estudante: a entrada<br />

na vida universitária. Tradução Georgina Gonçalves<br />

dos Santos e Sônia Maria Rocha Sampaio. Salvador:<br />

EdUfba, 2008. 276 p.<br />

inserção dos jovens na cultura acadêmica, própria<br />

A da educação superior, é o tema deste livro: o<br />

que significa, para o jovem, ter acesso à educação<br />

superior? O que é ser um estudante nesse nível de<br />

ensino? Como o estudante vivencia essa condição? O<br />

que ele nos relata dessa experiência? Alain Coulon tem<br />

se dedicado a pensar essas questões e tem contribuído<br />

para re-orientar a relação entre professores, estudantes<br />

e processos formativos. Professor de Ciências da<br />

Educação na Universidade de Paris 8, França, Coulon<br />

é autor largamente reconhecido em todo o mundo,<br />

parceiro e colaborador de pesquisadores em vários<br />

países, a exemplo de Bernard Charlot, Guy Berger,<br />

Jacques Ardoino, Ridha Ennafaa (Paris 8), Jack Katz<br />

(UCLA), Edward Rose (Universidade do Colorado) e<br />

Harold Garfinkel (Universidade da Califórnia).<br />

Neste livro, Coulon explora a idéia dos três tempos:<br />

o tempo do estranhamento, o tempo da aprendizagem<br />

e o tempo da afiliação. Trata-se de uma forma singular<br />

de pensar a vida do estudante a partir da sua própria<br />

trajetória de constituir-se estudante (que é diferente<br />

de ser aluno e que marca uma mudança significativa na<br />

vida dos jovens). E, também, de resignificar o sentido<br />

da aprendizagem (mudando, assim, o foco do ensino,<br />

que ainda prevalece em muitas instituições). Estes<br />

aspectos demonstram a importância e a atualidade<br />

do trabalho de Alain Coulon, sobretudo em face<br />

dos grandes desafios que enfrenta a sociedade<br />

contemporânea - e as instituições de ensino superior,<br />

universitárias ou não -, nas suas contradições e<br />

paradoxos, como a ênfase na qualificação profissional<br />

de nível superior e os crescentes índices de abandono<br />

dos estudos, pelos estudantes. Buscando entender<br />

essa condição de estudante, Coulon se pergunta sobre<br />

como se dá o abandono, o fracasso e a afiliação, o<br />

sentimento de pertença, do estudante nesse nível<br />

de formação. Mesmo enfocando as universidades<br />

públicas, o seu trabalho lança luz sobre a situação das<br />

instituições privadas, nas quais essa é uma problemática<br />

praticamente generalizada.<br />

O livro está organizado em 3 capítulos e uma conclusão<br />

geral, os quais são precedidos de Prefácio (escrito por<br />

Bernard Charlot); Nota do Autor para a edição brasileira<br />

(na qual Coulon apresenta uma síntese sobre o ensino<br />

superior francês de modo a permitir ao leitor situar-se<br />

com relação ao campo de pesquisa que deu origem<br />

ao seu trabalho e, também, estabelecer relações com<br />

a realidade brasileira); Prefácio para a segunda edição<br />

(no qual o autor destaca as mudanças, os esforços e os<br />

impactos, nos últimos 40 anos, para a inserção dos jovens<br />

de 18 a 24 anos na universidade); e a Introdução, a qual<br />

compreende cinco subseções: O ofício de estudante; A<br />

transição Ensino Médio – Ensino Superior; O ofício de<br />

estudante; Os ritos de afiliação; e A organização do livro.<br />

Segue-se, ainda, antes dos capítulos propriamente ditos,<br />

uma seção dedicada a “O contexto, o campo e o método<br />

da pesquisa”, fundamental para todos os que pretendem<br />

conhecer detalhes do panorama educacional e dos<br />

percursos metodológicos.<br />

RESENHA<br />

UMA PUBLICAÇÃO DO NPPD I UNIJORGE I 10<br />

11 I UNIJORGE I UMA PUBLICAÇÃO DO NPPD

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!