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mesmo tempo, expulsam e armazenam/escondem/fecham, para seu próprio uso não controlado<br />
(e em potencial danoso), quantidades cada vez maiores de informações incontestavelmente<br />
íntimas, particulares, discricionárias – tudo em flagrante transgressão <strong>ao</strong>s usos há muito<br />
estabelecidos pelo conceito de democracia, ainda que não explicados e codificados.<br />
Seja qual for a suposta agressividade e a violência previstas das instituições públicas<br />
lideradas pelo Estado todo-poderoso, e não obstante a mudança da forma como se percebe o<br />
Estado, as advertências quanto à ameaça proveniente do lado oposto foram apenas<br />
esporádicas (se é que existiram e chegaram a ser ouvidas): a ameaça da iminente invasão e<br />
conquista da esfera pública pelo que era visto até então como da ordem exclusiva do privado.<br />
Mas poucas vezes essas advertências foram levadas a sério. A tarefa que inspirou boa parte<br />
de nossos ancestrais e as gerações mais velhas a vigiar e partir para o combate foi defender o<br />
domínio do privado em relação à intromissão indevida dos detentores do poder. As pessoas<br />
aceitavam de bom grado ou com relutância as instituições públicas como seus vigias noturnos<br />
e guarda-costas – não muito mais que isso. Sem dúvida jamais as admitiam na função suspeita<br />
de bisbilhoteiras a espionar através das cortinas os assuntos particulares dos outros.<br />
Isso até recentemente, quer dizer…<br />
(Continua)