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determinante em nosso universo movido pelo consumo”; destaca também que o mundo das<br />
crianças é apenas um dos muitos territórios invadidos, conquistados e colonizados pelo<br />
hiperconsumismo que avança em várias frentes <strong>ao</strong> mesmo tempo.<br />
Todos nós, ou, em todo caso, muitos e muitos de nós, “estamos sendo convencidos de<br />
que, se não estivermos antenados às novas tendências, seremos completos fracassos”. O autor<br />
acrescenta: “Compramos coisas como sinais do que queremos ser e de como queremos que os<br />
outros pensem que somos.” Resumindo: “O que compramos misturou-se profundamente à<br />
nossa identidade. Agora somos o que compramos.”<br />
Em outras palavras, pode-se dizer que a marca de nosso tempo é uma progressiva<br />
diluição da linha divisória entre atos de consumo e o resto de nossas vidas. Não vamos mais<br />
às compras para obter um ingrediente que falta na sopa que queremos fazer, nem para<br />
substituir o par de sapatos desgastado que não tem mais conserto; hoje temos outras razões<br />
bem menos triviais e mais sublimes para não deixarmos de frequentar as lojas por muito<br />
tempo. Todos os caminhos levam às lojas – pelo menos é o que ouvimos dizer, dia sim e outro<br />
também, a todo momento.<br />
Você está preocupado em estreitar e conservar intactas suas relações pessoais? “Sem os<br />
outros a vida não é nada”, afirma o comercial da última versão de telefones celulares,<br />
apresentando a nova linha de aparelhos portáteis como um meio útil à transmissão de<br />
informações, mas também como um dispositivo capaz de melhorar sua vida. “Seu relógio diz<br />
muito mais sobre quem você é”, trombeteia outro comercial dirigido a todos nós, que<br />
buscamos febrilmente um modo de fazer as pessoas entenderem como gostaríamos que nos<br />
vissem e como desejamos ser “consumidos” por elas.<br />
O anúncio de um novo projeto de automóvel resume bem todas essas sugestões e<br />
promessas, declarando sem rodeios: “Você compra [não um carro, mas…] uma amostra de si<br />
mesmo.” O que a afirmação sugere, claro, não é uma amostra, um pedaço menor,<br />
insignificante, de cada um de nós, mas nossa face pública, nossa imagem perante o olhar de<br />
outros, nossa interface com o mundo!<br />
Nesse mundo que se move com rapidez, essas “amostras” preciosas devem ser<br />
constantemente atualizadas; esta é, aliás, uma das principais razões da impressionante<br />
popularidade das redes sociais da internet, como o MySpace ou o Facebook, que permitem a<br />
retificação e atualização instantânea, contínua e quase sem esforço de perfis pessoais.<br />
Felicia Wu Song revelou em sua pesquisa de doutorado para a Universidade da Virgínia<br />
que “muitos estudantes universitários admitem ser ‘viciados’ no Facebook e deixam a página<br />
permanentemente aberta em seus computadores. A primeira coisa que fazem <strong>ao</strong> levantar de<br />
manhã é checar o site; acessam-no enquanto estão estudando e até durante as aulas, nos campi<br />
que mantêm acesso à internet sem fio”. Acrescentamos que fazem isso não só para satisfazer<br />
uma curiosidade fútil, mas para tirar conclusões práticas e definir seu programa de atividades<br />
do dia (embora não necessariamente para o dia seguinte ou a próxima semana). Na conclusão<br />
de seu estudo, Wu Song afirma: “Os jovens norte-americanos se sentem bem em contatar suas<br />
relações pessoais segundo o modo do consumidor.” E, eu gostaria de acrescentar, segundo o<br />
modo do objeto de consumo.<br />
Richard, de Grand Rapids, Michigan, Estados Unidos, um dos leitores atentos e<br />
preocupados com o que Diana Appleyard afirmou, escreveu: