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Crônicas de corrida

Livro de Andréa Pelagagi lançado em Portugal, na Feira do Livro em Lisboa, e no Brasil na Fliaraxá, pela Editora Chiado, no ano de 2016.

Livro de Andréa Pelagagi lançado em Portugal, na Feira do Livro em Lisboa, e no Brasil na Fliaraxá, pela Editora Chiado, no ano de 2016.

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Soprando meu <strong>de</strong>nte-<strong>de</strong>-leão<br />

música ou não, eis a questão. A polêmica sobre ouvir música<br />

durante a <strong>corrida</strong> é gran<strong>de</strong>, das maiores. Compete com a<br />

acirrada polêmica sobre os benefícios do alongamento. Para os<br />

a<strong>de</strong>ptos da playlist, existem muitas almas caridosas que compartilham<br />

suas listas sempre atualizadas na web. Para os a<strong>de</strong>ptos do<br />

silêncio, bem, silêncio. São opiniões e mais opiniões, pesquisas e<br />

mais pesquisas. Que não são conclusivas. O que ren<strong>de</strong> conversa<br />

no bar, <strong>de</strong>pois do exercício. Ou na aca<strong>de</strong>mia, no dia seguinte,<br />

para os mais <strong>de</strong>dicados.<br />

Vou <strong>de</strong>ixar registrado meu pitaco. Gosto <strong>de</strong> correr ouvindo<br />

o ambiente. E gosto <strong>de</strong> correr ouvindo música. Nos dias em<br />

que a música me faz companhia, vou <strong>de</strong> música clássica, ou <strong>de</strong><br />

rock’n roll, ou <strong>de</strong> MPB, ou <strong>de</strong> POP, ou <strong>de</strong> black music. Em alguns<br />

momentos importa mais a batida, o ritmo que a música me<br />

empresta para vencer um quilômetro mais arrastado. Noutros,<br />

é a letra que me leva... Posso passar horas refletindo sobre um<br />

verso. Alguns versos viram grito <strong>de</strong> guerra. “We are the champions”<br />

é grito <strong>de</strong> todos. “We’re never gonna survive, unless... We get a little crazy”<br />

e “I wanna be someone who believes” são os meus e, certamente,<br />

<strong>de</strong> mais tantas pessoas.<br />

Melodia ou letra ou silêncio, para mim funciona qualquer um<br />

<strong>de</strong>les que me emocione. Que me comova. Emocionada, comovida,<br />

corro melhor. Pensando sobre isso, resolvi consultar a etimologia<br />

<strong>de</strong>ssas palavras, e <strong>de</strong>scobri que não po<strong>de</strong>ria ter me expressado<br />

melhor. Emocionar: vem <strong>de</strong> emovere, mover <strong>de</strong> fora, formado<br />

<strong>de</strong> e/ex-,“ fora”, mais movere, “mexer, <strong>de</strong>slocar, mover”. Comover:<br />

vem do Latim commovere, “mobilizar, mover conjuntamente”, formado<br />

<strong>de</strong> com-, “junto”, mais movere.<br />

A melodia, ou a letra, ou uma lembrança, um trinado ou um<br />

latido <strong>de</strong> incentivo, o murmurinho da cida<strong>de</strong>, a chuva que ataca<br />

o chão... os sons e as emoções que eles provocam me levam<br />

mais longe. E é só calçar os tênis e botar o pé na rua, que volta<br />

aquela vonta<strong>de</strong>: I wanna be someone who believes.<br />

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