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Crônicas de corrida

Livro de Andréa Pelagagi lançado em Portugal, na Feira do Livro em Lisboa, e no Brasil na Fliaraxá, pela Editora Chiado, no ano de 2016.

Livro de Andréa Pelagagi lançado em Portugal, na Feira do Livro em Lisboa, e no Brasil na Fliaraxá, pela Editora Chiado, no ano de 2016.

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Soprando meu <strong>de</strong>nte-<strong>de</strong>-leão<br />

apresentando-se para um público em movimento. Ouvi mais ou<br />

menos 30 segundos da música <strong>de</strong> cada uma, o que era pouco<br />

em alguns casos e mais do que o suficiente em outros. Mas tinha<br />

minha playlist, emprestada <strong>de</strong> um amigo maratonista. Nela,<br />

uma surpresa: minha música favorita, que resolveu tocar por<br />

volta do quilômetro 8, ainda em meio às árvores sem folhas no<br />

Central Park. Bem na hora em que o sol me iluminava lá <strong>de</strong> trás<br />

das nuvens, por trás do skyline famoso. Ali me emocionei pela<br />

segunda vez. A primeira foi antes mesmo da largada. E teria que<br />

ter fôlego para correr e me emocionar, pelo menos mais duas<br />

vezes ainda.<br />

Quando terminei o quilômetro 15, pensei: daqui para frente<br />

é território <strong>de</strong>sconhecido. Ainda me sentia inteira e repetia: vai<br />

dar. Tenho ainda 1h30 para percorrer 6k e levar minha medalha<br />

para casa.<br />

Passei mais uma marca e sorri contidamente sozinha – acabava<br />

<strong>de</strong> correr minha primeira prova <strong>de</strong> 10 milhas.<br />

Tudo parecia estranhamente bem. Nenhuma dor. Esta só apareceu<br />

nos últimos 1500 metros. Minhas pernas davam, então, os<br />

primeiros sinais <strong>de</strong> exaustão. Elas foram valentes, afinal. Já haviam<br />

vencido 19,5km com aquele sobrepeso e disputando a energia<br />

com todo o resto do corpo, que precisava se manter aquecido.<br />

Mas faltavam só 1,5km. Era hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a frequência cardíaca<br />

aumentar. Deixei o cérebro para trás e acelerei. Era a vez<br />

só do coração.<br />

Cruzei o pórtico da chegada. Esqueci <strong>de</strong> parar meu cronômetro.<br />

De repente, a medalha estava na minha mão. Meus olhos<br />

ume<strong>de</strong>ceram. Havia completado a meia maratona <strong>de</strong> Nova<br />

York, meus primeiros 21,1km.<br />

Vi, horas <strong>de</strong>pois, o tempo oficial no site da prova: 2h37.<br />

Num piscar <strong>de</strong> olhos. Quase um sonho. Quase não. Um sonho.<br />

Mais horas <strong>de</strong>pois, seguro a medalha agarrada ao peito e não<br />

sei dizer se este é o fim ou apenas o começo.<br />

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