Crônicas de corrida

Soprando meu dente-de-leão
os cinco minutos que antecedem a largada de uma corrida são
sempre especiais.
Desta vez, como em outras tantas, olho os corredores ao redor.
Entre os trinta mais próximos, uns vinte carregam histórias
que leio estampadas em seus corpos. Não falamos, mas intuo
sobre eles.
Carla, Luiza e Guilherme têm ideogramas na nuca, no pulso
e no braço, respectivamente. Dois pequenos, um enorme com
folhas de cerejeira que o abraçam. Como sei seus nomes? Estão
junto aos números de peito, presos por alfinetes prateados às
camisetas azuis de tecido dri fit.
Penso que um daqueles ideogramas significa amor, não me
é estranho.
Aposto que Carla, Luiza e Guilherme nunca foram ao oriente,
menos ao Japão, e que sequer imaginam que seriam barrados
nas piscinas naquele país, confundidos com Yakusas. Podem viver
sem aquelas piscinas, considero.
Do outro lado, está a turma de pace trinta segundos melhor
que o nosso. Há ali um dragão, uma borboleta, uma bandeira do
Brasil e uma tribal que lembra uma rosa. Pés alados mercuriais.
Há um código de barras também e algumas estrelas. Mais à direita,
uma frase bíblica, suponho, e vários nomes. Os nomes
quase nunca coincidem com os que estão gravados no número
de peito. Em sua maioria, nomes do sexo oposto.
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