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Folha Jacaranda N27-2019

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folha de<br />

jacarandá<br />

n.27 outubro <strong>2019</strong><br />

Tempo,<br />

memória,<br />

música!<br />

Na reunião de pauta para este jornal, em<br />

que participaram Tânia, Vitória, Alessandra,<br />

Cecília (mãe do João do Berçário e do Pedro<br />

Dias do G3) e Paula (mãe do Pedro Blikstein –<br />

G1), falamos sobre muitos temas. Com muita<br />

afetuosidade, compartilhamos histórias,<br />

relatos, sentimentos, e falamos sobre as<br />

sugestões dos outros pais, como da Mariana<br />

(mãe da Elena do G3 e do Ulisses do G1e2),<br />

que chegam por email e também contribuem<br />

com essa troca. Uma das ideias foi falar da<br />

memória, o que leva diretamente ao tempo,<br />

então também resolvemos falar sobre o<br />

tempo. E também sobre a alegria... esse<br />

sentimento genuíno da infância que muitas<br />

vezes perdemos ao longo da vida... Também<br />

pensamos muito em Lydia Hortélio, na sua<br />

“revolução do brincar” e na defesa da cultura<br />

do brincar e na cultura da infância. Ah, e ainda<br />

falamos de música! Como a música nos leva<br />

a lembrar fatos, nos transporta para outros<br />

tempos, nos faz chorar de saudade, enfim...!<br />

Muitos assuntos, né?<br />

Então resolvemos pedir ajuda a todos,<br />

crianças, pais, mães, funcionários e<br />

funcionárias, professoras e professores, e<br />

também para uma especialista, e fizemos<br />

as mesmas perguntas para todos: O que<br />

é tempo?; O que é memória?; pedindo<br />

ainda um relato de uma memória afetiva.<br />

| continua na página 4


palavra Depois de mais de 20 anos de <strong>Folha</strong> de Jacarandá, fui escalada para escrever, pela primeira vez,<br />

Rezende. À frente da equipe da escola desde o início da Jacarandá, dá norte e inspira o trabalho<br />

direção<br />

a Palavra da Direção. O motivo é nobre: a entrevistada da coluna Nossa Gente é nossa diretora Tânia<br />

de todos nós com sua criativa e rigorosa capacidade de reflexão e convicção de que brincadeira de<br />

criança é coisa séria!<br />

Este número de nossa <strong>Folha</strong> de Jacarandá é dedicado à alegria, à brincadeira e à valorização da<br />

cultura infantil, porque acreditamos que as boas memórias enriquecem a vida e podem nos servir<br />

de resistência e antídoto à rigidez e à intolerância de nossos tempos atuais.<br />

Com inspiração nas ideias de Lydia Hortélio, pesquisadora da cultura infantil, que aponta<br />

o brincar como atividade que resgata o que há de humano em nós, nossa equipe de reportagens<br />

entrevistou crianças e adultos sobre o que é tempo e memória.<br />

A ideia é que vivências de infância – brincadeiras, canções, aromas, sabores, colos, carinhos,<br />

conversas, histórias – deixam marcas no corpo e na mente e constituem um capital simbólico que<br />

nos faz viver de forma mais interessante e inventiva, que nos ajuda a passar pelas vicissitudes da<br />

vida com otimismo e resiliência.<br />

Ailton Krenak, em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, da Cia das Letras, afirma que<br />

“Cantar, dançar, viver a experiência mágica de suspender o céu é comum em muitas tradições.<br />

Suspender o céu é ampliar nosso horizonte; não o horizonte prospectivo, mas um existencial.<br />

É enriquecer as nossas subjetividades [...]. E minha provocação sobre adiar o fim do mundo é<br />

exatamente sempre poder contar mais uma história...”<br />

E, para não perder a oportunidade de contar um pedacinho da minha história, lembro de<br />

quando pequena, com 4 anos, minha tia Sarah me ensinava a fazer crochê. Primeiro, aprendi a fazer<br />

a correntinha, depois ponto baixo, ponto alto e, enquanto tecia gorros para minhas bonecas no sofá<br />

de casa e sentia o cheiro das borekas (salgado judaico) no forno, ouvia as conversas entre minha mãe<br />

e minhas tias. Como elas gostavam de lembrar os velhos tempos. E agora, quem se lembra sou eu!<br />

Para embalar a leitura da <strong>Folha</strong> de Jacarandá e, quem sabe, fazer um pião como o apresentado<br />

na sessão Mãos à obra, a equipe do jornal montou uma inspiradíssima playlist com canções de todos<br />

os tempos, que remetem a boas recordações e trazem a alegria e a brincadeira como “pílulas de<br />

esperança” para a nossa importante tarefa de educar as futuras gerações.<br />

Boa leitura a todos!<br />

Vitória<br />

bm<br />

Hora da soneca bt Tudo vira brinquedo<br />

Sabemos que é preciso aprender a Com panelas, colheres, peneiras, esponjas<br />

dormir e que várias coisas influenciam e preciosidades como rodinho de pia e o<br />

o sono. Quando ajudamos um bebê a “copinho” de um espremedor de batatas...<br />

dormir, precisamos estar tranquilos as crianças se divertem, explorando seus<br />

e presentes por inteiro. No berçário, movimentos e as características de cada<br />

resgatei uma velha canção ensinada objeto. Tudo vira brinquedo nas mãos dos<br />

pela minha bisavó Odete. A hora de bebês, que brincam com tanta seriedade<br />

dormir se tornou um momento de que mais parecem pequenos cientistas.<br />

aconchego e muito carinho, onde<br />

embalo os pequenos com memórias<br />

da minha infância. Cada família vai<br />

trazer também suas cantigas e, mesmo<br />

na hora da soneca, um aprende com o<br />

outro.<br />

g1m<br />

Isso (não) é uma caixa<br />

Uma verdadeira torre de caixas virou o<br />

brinquedo favorito dos pequenos. Num<br />

dia, montaram um verdadeiro circuito,<br />

com caixas viradas para cima, outras para<br />

baixo, na diagonal... e, em cada uma, um<br />

movimento diferente. Sentados dentro<br />

de caixas de papelão, de transportar<br />

frutas, viajaram de avião! Algumas caixas<br />

ganharam cordão e são puxadas, ora<br />

como animais, ora como carrinhos... Opa!<br />

A caixa está quebrada e todos se põem<br />

a consertá-la, com suas ferramentas e<br />

capacetes... a brincadeira não pára!<br />

2<br />

notícias dos grupos


g1t<br />

Estamos brincando com o olfato!<br />

Cheirinhos de cravo, canela, baunilha,<br />

erva doce... Quando apresentamos a<br />

erva doce e expliquei que ela servia<br />

para fazer chá, Pedro logo pediu:<br />

“Vamos fazer chá, Lili!” Abraçamos a<br />

gostosa ideia e, na mesma hora, Dani<br />

foi até a cozinha e trouxe os utensílios<br />

necessários. Todos ajudaram a<br />

colocar a erva doce na panela cheia<br />

de água, que voltou da cozinha<br />

quente e perfumada. Todos tomamos<br />

um gostoso chá. Na hora de servir,<br />

ainda teve um brinde, puxado pelo<br />

Francisco: “Tim, tim!!”<br />

g2t<br />

g4m<br />

Brinde de chá<br />

As lavadeiras e<br />

os lavadeiros<br />

De gotinha em gotinha, de copinho<br />

ou bacia, o grupo tem gostado muito<br />

de brincar com água. Novos cenários<br />

surgem quando colocamos nossos<br />

barquinhos de papel para boiar, ou<br />

quando oferecemos uma “trouxa de<br />

roupa” para lavar. A “lavadeira” foi<br />

uma brincadeira que trouxe novas<br />

experiências: fazer espuma, ensaboar,<br />

torcer e estender os tecidos no varal.<br />

Todos ficaram muito compenetrados<br />

nessa tarefa desafiadora!<br />

Vocês sabiam que tem sereia que era<br />

pássaro? Sereia que nada no rio e<br />

sereia do mar? Pois o grupo descobriu<br />

que existem sereias diferentes, em<br />

várias partes do mundo! Estão todos<br />

encantados e fazendo juntos pesquisas<br />

em mapas para localizar de onde vem<br />

cada sereia.<br />

agrupa<br />

Sereias de todo canto<br />

Um mundo de lendas<br />

O que vocês querem contar para o<br />

jornal? O saci! Não, todas as lendas! Daí<br />

em diante, o Agrupa desatou o fio da<br />

memória e lembrou de todas as figuras<br />

mitológicas brasileiras que já conhecem:<br />

cabra-cabriola, curupira, mula sem<br />

cabeça, boitatá, lobisomem, iara... até o<br />

uirapuru, pássaro envolto em lendas, foi<br />

lembrado pelas crianças.<br />

g2m<br />

g3m<br />

Bom dia, todas as cores<br />

Brincar é o que todos mais gostam de<br />

fazer, sem dúvidas, mas a notícia inédita<br />

foi a de levar a mesa e as cadeiras para o<br />

pátio! Para fazer massinha de farinha<br />

numa manhã ensolarada, nada melhor<br />

do que sair da sala. A partir da pergunta<br />

do Nicolas se existia massinha vermelha<br />

e azul e laranja..., o grupo resolveu fazer<br />

as suas! A massinha vermelha foi com<br />

guache... aí a Clara lembrou: e rosa? Pois<br />

foi com corante de bolo que a turma fez<br />

massinha rosa para brincar!<br />

Pintar e brincar<br />

O que vocês querem contar para os<br />

leitores do jornal? O que mais gostam<br />

de fazer na escola? Brincar! Desenhar!<br />

Brincar de dinossauros! Brincar no pátio!<br />

Desenhar e pintar! Logo após fazer uma<br />

bela pintura usando tampinhas plásticas<br />

como carimbo, o grupo estava animado e<br />

tinha muito o que contar. Usar diferentes<br />

instrumentos de pintura e impressão<br />

está sendo muito instigante: rolo vazio de<br />

papel higiênico, fundo de garrafa PET... a<br />

cada material, uma descoberta de efeitos<br />

plásticos que atiçam a imaginação.<br />

g4t<br />

Brincadeira do<br />

elástico<br />

A brincadeira do elástico parece<br />

simples, mas, além de exigir novos<br />

movimentos do corpo, também requer<br />

raciocínio lógico. A verdade é que<br />

é complexo: as crianças precisam<br />

calcular o pulo para não encostar no<br />

elástico, precisam manter um ritmo<br />

constante para efetuar com precisão<br />

os movimentos, seguindo a sequência<br />

ditada pelas professoras. Cada um vai<br />

criando estratégias para realizar estas<br />

propostas e os amigos sempre estão<br />

por perto incentivando e dando dicas<br />

de como realizar os saltos e pisadas.<br />

Essa é uma brincadeira que envolve<br />

adultos e crianças e o nosso grupo está<br />

adorando!!!<br />

g1e2t<br />

Todos as tardes, escolhemos uma ou duas<br />

crianças para serem “ajudantes do dia” e<br />

realizarem pequenas tarefas, como levar<br />

as frutas do suco para a cozinha, distribuir<br />

os pratos na hora do lanche, distribuir os<br />

materiais para os amigos. Colocamos no<br />

meio da roda fotos de todos integrantes<br />

do grupo e fazemos uma rápida chamada,<br />

perguntando “quem está na escola hoje”?<br />

Deixamos apenas as fotos de quem está<br />

presente. Então, nós relembramos com as<br />

crianças quem já foi ajudante na semana<br />

e também retiramos as fotos deles. Com<br />

parlendas, fazemos o sorteio do dia. O<br />

escolhido ganha uma pulseirinha (um<br />

pedacinho de barbante que é amarrado no<br />

punho) e, todo orgulhoso, pendura sua foto<br />

no nosso mural.<br />

g5t<br />

Hoje sou ajudante!<br />

g3t<br />

Uma emocionante<br />

noite na escola<br />

A notícia mais animada dessa turma é<br />

o acampamento, evento esperado com<br />

grande expectativa e alegria. Todos foram<br />

relatando o que era mais importante<br />

na bagagem: pijama! Cobertor! Escova!<br />

Travesseiro! Contaram que ia ter pizza<br />

de milho e de “queijinho puxa-puxa”,<br />

brincadeira com a teacher Haydée e com o<br />

Beto, com quem já brincaram na festa dos<br />

pais. O grande mistério, porém, é o sabor<br />

do sorvete... Você sabe qual foi?<br />

As aventuras de uma linha<br />

Era uma vez a história de uma linha<br />

desalinhada que chegou ao G5 dentro de um<br />

livro muito interessante: História de uma<br />

linha (Ed. Quatro Cantos). Essa linha saltou<br />

para as mãos curiosas das crianças e a cada<br />

ponto dado se transformava em uma figura<br />

diferente. Primeiro ela quis ser quadrado,<br />

triângulo, retângulo e círculo, depois tomou<br />

forma de casa, de prédio, fábrica maluca<br />

e raposa fofinha. E ainda, não satisfeita,<br />

enrolou-se toda até se transformar em uma<br />

linda mandala colorida. A linha desalinhada<br />

continua se aventurando por aqui e as<br />

crianças disseram que talvez ela nunca mais<br />

pare de se transformar, pois parece que<br />

finalmente encontrou o seu lugar.<br />

3


trocando<br />

A historiadora e diretora do Museu<br />

da Pessoa*, Karen Worcman, nos<br />

deu as seguintes respostas:<br />

O que é o tempo?<br />

Existe uma grande diferença<br />

entre o que é o tempo físico e<br />

o tempo psicológico, afetivo<br />

e cultural. O tempo físico é<br />

aquele que permite medir as<br />

transformações. No entanto, para<br />

medir as transformações é preciso<br />

percebê-las.<br />

O tempo é transformação,<br />

ainda que esta seja estabelecida<br />

pelo olhar de quem as percebe.<br />

O tempo psicológico, afetivo e<br />

cultural possui muitas formas de<br />

ser definido. O tempo cultural<br />

é aquele que é estabelecido<br />

segundo a cultura em que vivemos.<br />

Essas culturas podem trabalhar<br />

com tempos cíclicos ou tempos<br />

lineares (os tempos históricos).<br />

Assim, tempo é um conceito que<br />

varia segundo a percepção de<br />

quem o mede ou a cultura em que<br />

ele é experimentado.<br />

O que é memória?<br />

Além de todos os outros<br />

tempos, existe o tempo da<br />

memória. A memória é a forma<br />

como registramos, preservamos<br />

e evocamos nossas vivências do<br />

tempo. No entanto, ela pouco<br />

tem de linear e cronológica. As<br />

memórias podem ser remotas e<br />

durar anos e podem também ser<br />

memórias de curta duração, ou<br />

seja, aquelas que ficam registradas<br />

por um curto período de tempo e<br />

depois caem no esquecimento.<br />

Quando pensamos em tempo<br />

e memória, percebemos que os<br />

tempos são elásticos. Às vezes, a<br />

memória de um instante de nossa<br />

infância está tão presente quanto<br />

o café dessa mesma manhã.<br />

Assim, quando pensamos em<br />

tempo e memória, entendemos<br />

que o tempo ou os tempos variam<br />

segundo o significado que aquela<br />

vivência especifica teve em nossas<br />

vidas.<br />

O tempo depende de como<br />

o experimentamos. A memória,<br />

de como lembramos daquilo que<br />

experimentamos.<br />

E Karen contou uma memória<br />

de infância. Ela disse que suas<br />

memórias afetivas têm sempre<br />

ligação com cheiros, gostos ou<br />

música. E conta que o gosto<br />

de brigadeiro a leva até hoje a<br />

momentos de infância. “Momentos<br />

em que eu, criança, fazia<br />

brigadeiro e passava uma tarde<br />

imaginando brincadeiras com<br />

bonecas imaginárias e reais e<br />

comendo aquele doce morno que<br />

embalava por dentro”.<br />

E o que aconteceu é que toda<br />

a equipe do jornal se mobilizou<br />

e recebeu uma enxurrada de<br />

respostas maravilhosas.<br />

As crianças trouxeram<br />

respostas incríveis para a primeira<br />

pergunta.<br />

Tempo é um menino que<br />

mora lá no céu.<br />

(Caetano, 6 anos)<br />

Tempo é...comida!(Marina, 5<br />

anos). É fome!<br />

(completa Caetano)<br />

É chuva. É tempo de<br />

procurar as coisas.<br />

(Elena, 4 anos)<br />

O tempo? É o sol,<br />

a lua, é a noite, é o<br />

inverno, o verão.<br />

(Mateus, 5 anos)<br />

Nesse momento somos<br />

interpelados por Manuel de Barros,<br />

que num de seus poemas diz “As<br />

coisas que não têm nome são mais<br />

pronunciadas por crianças”.<br />

Mas as mães, pais e<br />

funcionárias(os) também abriram<br />

suas caixinhas afetivas da<br />

memória e trouxeram histórias<br />

incríveis. A Laura, mãe da Dora e<br />

do Bento, disse que o tempo “é a<br />

medida da nossa saudade”. Bem<br />

humorado, Rafael, pai de outro<br />

Bento, disse que “é aquilo que a<br />

gente não tem”.<br />

E contaram histórias lindas,<br />

como a do Bruno, pai do Gabriel<br />

Oliveira.<br />

Temos duas “memórias<br />

afetivas” em que a primeira conecta<br />

na segunda e acaba sendo uma<br />

única linda memória. Somos pais<br />

de dois lindos meninos gêmeos<br />

monozigóticos. Gabriel nasceu<br />

com uma cardiopatia congênita<br />

e Rodrigo nasceu muito saudável.<br />

Gabriel passou por uma delicada<br />

cirurgia cardíaca e ficou internado<br />

por longos meses desde o<br />

nascimento. E Rodrigo veio para<br />

casa com um mês de internação.<br />

Aí que começa a “memória afetiva”,<br />

por todo esse tempo de internação<br />

e delicados tratamentos e cirurgia,<br />

Gabriel ficou quatro meses no<br />

hospital e nós não víamos a hora de<br />

trazê-lo para nossa casa e juntá-lo<br />

com seu irmão Rodrigo. Eu, o pai<br />

Bruno, vim dirigindo do Hospital do<br />

Coração até em casa em Perdizes<br />

chorando com muita emoção de<br />

abraçar os dois filhos ao mesmo<br />

tempo e poder beijá-los com muito<br />

amor. Essas “memórias afetivas”<br />

de sair do hospital com o filho,<br />

após uma longa jornada e depois<br />

entrar em casa e estar com os<br />

dois meninos ao mesmo tempo no<br />

colo e com minha esposa, não tem<br />

emoção maior para nós.<br />

Os funcionários também<br />

trouxeram de suas infâncias<br />

histórias incríveis. A Geralda,<br />

faxineira, contou que brincava de<br />

roda. A Zeneide disse que gostava<br />

de amarelinha, corda, escondeesconde,<br />

e também gostava de<br />

brincar de professora, usando o<br />

giz como carvão e a borracha era<br />

um pedaço de chinelo havaiana!<br />

A Cleo, da secretaria, contou<br />

que morava numa casa de quintal<br />

enorme, com muitas árvores e ela<br />

e seu irmão inventavam de tudo<br />

ali: um foguete que ia para a<br />

lua, bolinhos de barro para fazer<br />

uma festa. Mas o que ela mais<br />

4


ideias<br />

gostava era comer fruta no pé<br />

e do balanço. E suspira: “ah, era<br />

maravilhoso”! Com certeza era,<br />

Lamartine Babo, e também pode<br />

ser ouvida na voz de João Gilberto.<br />

Foi assim...<br />

Cleo!<br />

O Marion, da portaria, disse<br />

que gostava de andar descalço,<br />

brincar na chuva e tomar banho de<br />

bica. E conta uma história muito<br />

engraçada: sua família morava<br />

numa cidade muito pequena. E<br />

ele e seus irmãos se “escondiam”<br />

Estávamos em uma estrada, a<br />

caminho de Minas Gerais, quando<br />

meu filho mais velho, Kaue, disse<br />

que gostaria de me mostrar uma<br />

música que ele havia conhecido<br />

recentemente. Sem que ele dissesse<br />

qual era a música, colocou “Rancho<br />

Fundo”, cantada por João Gilberto.<br />

dos pais no cemitério, mas todo No mesmo instante comecei a<br />

mundo sabia onde eles estavam...! chorar... depois de esgotarem<br />

E lembra de adorar quando o circo as lágrimas, pedi para ouvi-la<br />

chegava!<br />

A Tati, professora, relembrou<br />

que morar num apartamento em São<br />

Paulo não limitou sua imaginação.<br />

Ela assistia a uma série japonesa<br />

chamada Esquadrão Relâmpago<br />

Changeman e se tornou uma das<br />

novamente e o que era melancolia,<br />

nas minhas recordações, se vestiu<br />

de uma outra lembrança, não mais<br />

da tristeza que a letra carrega, mas<br />

sim do momento gostoso de nós três<br />

juntos (eu e meus filhos), nas nossas<br />

férias, em uma noite enluarada,<br />

heroínas da série para salvar perto de outros ranchos...<br />

o planeta. Ela era a Change<br />

Que essa edição do jornal<br />

Mermaid, descia escorregando possa levar e trazer memórias,<br />

pelo corrimão do prédio, fugindo<br />

do monstro Gyodai, usava caixas<br />

para fazer o grande robô dos<br />

Changeman e no final enfrentava<br />

os terríveis monstros e salvava o<br />

planeta.<br />

O Benja, do G3, contou uma<br />

memória linda sobre o avô:<br />

Era uma vez uma casa. A casa da<br />

vó Bete. Lá tinha uma pessoa morta,<br />

desembrulhar passados remotos,<br />

fazer-nos olhar o presente, brincar<br />

mais, ouvir o que as crianças têm<br />

a nos dizer sobre assuntos “sérios”,<br />

ouvir mais música, valorizar o<br />

tempo, o tempo das coisas boas, o<br />

tempo das coisas infindas.<br />

E fechamos com uma música,<br />

“Oração ao tempo”, de Caetano<br />

Veloso, que diz:<br />

o vovô Zé. Peguei umas madeiras,<br />

com um guindaste, e acendi. O vovô<br />

Zé reviveu.<br />

E a Tatiana, mãe dele, explicou<br />

És um senhor tão bonito<br />

Quanto a cara do meu filho<br />

Tempo tempo tempo tempo<br />

que o fogo, simbolicamente,<br />

Vou te fazer um pedido<br />

seria capaz de trazer a presença<br />

Tempo tempo tempo tempo<br />

do avô que partiu e que agora<br />

estava preso na memória. “Benja<br />

Compositor de destinos<br />

articulou tão perfeitamente o<br />

Tambor de todos os ritmos<br />

tempo e a memória”.<br />

As memórias vão chegando,<br />

vão voltando...<br />

Tempo tempo tempo tempo<br />

Entro num acordo contigo<br />

Tempo tempo tempo tempo<br />

A Alessandra, durante a<br />

(...)<br />

reunião, contou uma história linda<br />

que teve com seus filhos. E ela, nos<br />

minutos finais do fechamento do<br />

jornal, nos presenteou com o seu<br />

Para alegrar esta edição do jornal<br />

montamos uma playlist especial, no<br />

relato, que tem uma música de<br />

Spotify (escolajacaranda), chamada<br />

trilha sonora que foi eternizada<br />

Tempo de Alegria. Ouçam!<br />

por Chitãozinho & Xororó, mas é<br />

uma parceria do Ary Barroso e do<br />

5


trocando<br />

TEMPO E MEMÓRIA<br />

DEPOIMENTOS<br />

A criança nos faz olhar o tempo com<br />

seus olhos: calmo, sem pressa, simples. Elas<br />

têm o tempo a seu favor e a memória muito<br />

recente. Por vezes, ignoramos o quanto a<br />

infância é impregnada de eternidade.<br />

A memória é contrária ao tempo. Nós<br />

temos pressa (o coelho da Alice já nos dizia,<br />

insistindo em nos mostrar que ele passa),<br />

mas é preciso entender que a memória<br />

obedece o próprio compasso e traz de volta<br />

o que realmente importou, eternizando<br />

momentos.<br />

Para a educadora Lydia Hortélio, as<br />

crianças têm a “alma em frente”. Com o<br />

tempo é que ela se esconde lá dentro. Diz<br />

que o tempo presente esqueceu a infância,<br />

que falta pé no chão, espaço para correr,<br />

natureza... mas tem esperança e sente no ar<br />

um desejo coletivo de mudança. Junto com<br />

ela, convidamos a todos a entrar na roda da<br />

memória.<br />

O que é o TEMPO?<br />

É algo que todos pensamos conhecer<br />

muito bem, mas, logo que nos pedem para<br />

explicar, nos atrapalhamos. O vivenciamos<br />

como o fluxo de acontecimentos que se<br />

sucedem. Mas, o que ele é mesmo é aquele<br />

tantinho de fôlego que separa os domingos<br />

das quintas, e a mim do abraço da Renata e<br />

do Rafi quando estou em Porto Alegre. (Eno<br />

- pai do Rafi, Berçário)<br />

Para nós, o tempo tem duas virtudes<br />

inigualáveis, a primeira é que com ele<br />

podemos guardar as melhores memórias e<br />

lembranças. A segunda é que ele pode curar<br />

qualquer dor. (Bruno - pai do Gabriel O.,G1)<br />

É o que queremos mais e buscamos<br />

menos. É preciso enxergar a riqueza do<br />

tempo que ainda temos com as pessoas que<br />

amamos. (Thatiany - mãe do Miguel, G2, da<br />

Maria Luiza, 9 anos, e professora)<br />

Um movimento que só ganha algum<br />

sentido quando é humanizado por nossas<br />

histórias de vida. (Paulo Nassar - avô do<br />

Miguel, G1)<br />

O que é MEMÓRIA?<br />

A memória? Não lembro bem… (Eno - pai<br />

do Rafi, Berçário)<br />

É a nossa caixinha de identidade. (Laura<br />

- mãe da Dora, G3, e do Bento, Berçário)<br />

É um momento de tempo preso na<br />

lembrança. (Heloisa - mãe do Pedro L., G1)<br />

É algo precioso e muito bem guardado,<br />

que pode ser ativada por um cheiro, sabor,<br />

imagem… uma música que te faz voltar no<br />

tempo e ficar saboreando aquele momento<br />

repetidas vezes. (Thatiany - mãe do Miguel,<br />

G2, da Maria Luiza, 9 anos, e professora)<br />

Aquilo que evocamos em nossas<br />

narrativas. (Paulo Nassar - avô do Miguel,<br />

G1)<br />

MEMÓRIA AFETIVA<br />

Minha irmã me consolando e distraindo,<br />

indo comigo no cinema para ver Star Wars<br />

quando eu tinha 15 anos e estava de coração<br />

partido por ter terminado meu primeiro<br />

namoro. (Eno - pai do Rafi, Berçário)<br />

O perfume da Dama da Noite nas noites<br />

de Botucatu. Minha avó sentada no banco<br />

da frente de sua casa, dizendo: “sinta esse<br />

perfume maravilhoso! Ele só vem durante a<br />

noite. Amanhã de manhã você já não poderá<br />

senti-lo”. (Laura - mãe da Dora, G3, e do<br />

Bento, Berçário)<br />

Certa noite no sofá, ao terminarmos<br />

de ler mais uma vez aquele conto de fadas<br />

e antes que o Bento pedisse para lermos<br />

6


ideias<br />

Tempo...<br />

... é uma coisa que faz a gente demorar.<br />

(Juliana Bedoya, 7 anos)<br />

... algo que acontece para lembrar.<br />

(Jorge Armando, 8 anos)<br />

novamente ou fosse pegar outro livro da<br />

mesma coleção, falei para ele que iria<br />

contar uma história da minha infância. Uma<br />

das histórias que ele adora envolve uma<br />

aventura da minha pré-adolescência em que<br />

eu estava de bicicleta com meus amigos. A<br />

bicicleta que eu uso na história eu ganhei<br />

dos meus pais em um Natal já distante<br />

no tempo, mas a surpresa do presente, as<br />

brincadeiras, os tombos e passeios vividos<br />

com ela continuam vivos comigo. No ano<br />

passado, no Dia dos Pais, me dei o presente<br />

de comprar uma cadeirinha para levar o<br />

Bento de carona comigo. E é na mesma<br />

bicicleta que tenho há 23 anos que vivemos<br />

novas histórias. (Rafael - pai do Bento, G1e2)<br />

Sempre que vejo uma jabuticabeira<br />

florescer e dar frutos, lembro da minha<br />

infância na fazenda dos meus avós, lugar<br />

onde cresci rodeada de muito amor e<br />

brincadeiras com os pés descalços. Lá, eu<br />

subia no pé e ficava por um bom tempo<br />

comendo essas frutinhas. Admirando a<br />

paisagem. Brincando com meus primos.<br />

Sentindo o cheiro de mato. Essas memórias<br />

carregam uma das melhores lembranças<br />

que tenho da minha vida. (Thatiany - mãe<br />

do Miguel, G2, da Maria Luiza, 9 anos, e<br />

professora)<br />

A lembrança boa do cheiro e sabor<br />

da comida libanesa feita pela minha mãe,<br />

Terezinha. (Paulo Nassar - avô do Miguel)<br />

Alegria...<br />

... a força de ser e de sentir.<br />

(Catalina Sanín, 9 anos)<br />

(Casa das estrelas – o universo contado pelas crianças,<br />

Javier Naranjo, RJ: Foz, 2013)<br />

SOL DE GIZ DE CERA<br />

EMIICIDA<br />

*O Museu da Pessoa é um museu virtual<br />

e colaborativo de histórias de vida, onde<br />

qualquer pessoa pode contar sua história.<br />

O acervo reúne quase vinte mil delas, sem<br />

contar as fotografias, documentos e vídeos.<br />

Podemos usar as palavras chaves que quisermos<br />

na busca, como infância, ou brincar.<br />

https: /www.museudapessoa.net<br />

7


trocand<br />

A voz das crianças<br />

O que é o tempo? Você se<br />

lembra de coisas que já<br />

aconteceram, lembranças<br />

de quando era menor?<br />

A voz dos<br />

funcionários<br />

Você tem alguma memória<br />

afetiva de infância?<br />

O tempo às vezes é frio, às vezes é calor. É<br />

primavera e eu lembro de uma coisa que aconteceu<br />

na primavera: nasceu flor nas plantas da minha<br />

casa. (Mathias, 5 anos)<br />

Amanhã é meu aniversário e eu vou fazer 6<br />

anos. (Noah, quase 6 anos)<br />

Eu lembro de uma vez que eu tive caxumba e<br />

doeu muitíssimo. Eu gosto de lembrar de um hotel<br />

que eu fui e que era muitíssimo legal, eu tinha 3<br />

ou 4 anos. Lá tinha uma piscina com tobogã de<br />

dinossauro e eu não podia ir porque era para<br />

criança maior. Ah! Eu sei o que é o tempo: passou.<br />

Passou com o tempo. (Antonio, 5 anos)<br />

Eu tinha 3 ou 4 anos... não, eu tinha 5. Eu tava<br />

no sítio e tinha uma rampa; o meu tio queria que<br />

eu escorregasse no papelão, soltou a corda e eu<br />

caí e machuquei. Eu não queria lembrar disso, mas<br />

eu lembro. (E o que vc quer lembrar?) Eu gosto de<br />

lembrar de quando eu entrei na escola Jacarandá,<br />

eu era bebezinha, tinha zero aninhos. (Helena,<br />

quase 6 anos)<br />

Quando eu nasci, eu dei um fusca para o meu<br />

irmão. Ele me pegou no colo e me deu um beijo.<br />

(Mas você se lembra de quando nasceu?) Não, mas<br />

tem uma foto. (Marina, 5 anos)<br />

Faz tempo. (Clara, quase 4 anos)<br />

A natureza morreu. (Beatriz, 3 anos)<br />

Por que você não fala as horas pra mim? 1, 2,<br />

3, 4... (Dá para contar o tempo?) Não... 1 tempo, 2<br />

tempos, 3 tempos... (Gabriel, 2 anos)<br />

Eu lembro que eu comia papinha de morango.<br />

Agora eu como só morango, puro. (Stella, 4 anos)<br />

Eu lembro do meu ratinho, que tinha roupa de<br />

bailarina. Eu já dei para outra pessoa. (Por quê?)<br />

Porque eu já cresci. (Rafaela, 5 anos)<br />

A gente vai para a praia de trem e demora pra<br />

chegar. Demora muito tempo. Pronto, chegamos!<br />

Lá tem onda. (João, 4 anos, Martín, quase 4, Pedro,<br />

Tales e Michel, 3 anos)<br />

Na minha infância, tive um grande privilégio de brincar<br />

muito com várias brincadeiras, como pau de fita, sapo,<br />

cair no poço, dona cotia, lado esquerdo, lagarta pintada,<br />

vender toucinho, passar anel... A lista é grande e ainda<br />

tinha as brincadeiras que aprendi na escola, como pular<br />

corda, vivo-morto, queimada... Brincar de cair no poço<br />

era assim: minha mãe juntava os filhos e vizinhos para<br />

brincar no terreiro, no claro da lua. Escolhia uma pessoa<br />

para “cair no poço”, que ia para frente, sem olhar para<br />

trás, e dava um pulo gritando, como se estivesse caindo:<br />

caí no poço! O restante falava: quem te tira? A criança<br />

falava o nome de um amigo e minha mãe ia passando<br />

de um em um, perguntando: é esse? é esse?, até que<br />

a criança respondesse é! Ela perguntava: pera, uva ou<br />

maçã? Se fosse pera, era um aperto de mão; se fosse<br />

uva, era um abraço e, maçã, um beijo no rosto. E, assim,<br />

todos tinham que esperar sua vez de cair no poço. Essas<br />

brincadeiras eu recordo muito, parece que nem tem<br />

tanto tempo. O pior é que já faz muito, muito tempo...<br />

(Maria, auxiliar de classe)<br />

Descer a rua numa motoca com a minha mãe era<br />

emocionante e me dava alegria de estar com ela! Brincar<br />

de rouba-bandeira com os amigos à noite também<br />

era momento de risos e alegrias na rua e tenho essas<br />

amizades até hoje. (Daniela, auxiliar de classe)<br />

Quero trazer à memória<br />

aquilo que me dá esperança.<br />

Jeremias 3: 21-24<br />

[...]E pequenas lembranças se agruparam<br />

Como retalhos de uma colcha antiga<br />

Que os anos não levem a verdade<br />

E a voz empunho, com coragem<br />

Sejam crianças por mais um dia!<br />

8<br />

Luanna Blanc (irmã do David, G5)


o ideias<br />

Em 1994<br />

... a Jacarandá abria suas portas!<br />

Do que você brincava<br />

quando criança?<br />

Pausa, feche os olhos por favor e lembre!<br />

Ao buscar por essa recordação, talvez você tenha<br />

voltado lá atrás em uma imagem mental e tenha<br />

percebido uma sensação no agora, uma energia que<br />

correu pela sua pele ou qualquer outro sentido que<br />

tenha se acendido dentro do seu corpo, e uma emoção<br />

pode ter surgido e tomado totalmente o momento<br />

presente no qual nada ocorreu de fato.<br />

Essa é a memória da sua experiência: ela é concreta,<br />

viva e atemporal. É o seu saber mais profundo,<br />

conhecimento ancorado no movimento, o que faz<br />

o seu “Ser” único. Talvez, por isso, o homem dance,<br />

desde sempre, por instinto de aprender, intuindo que<br />

no corpo tudo fica como arquivo, disponível, vivo ...<br />

Basta se mover e permitir ao corpo falar.<br />

Deise Alves - professora de dança<br />

... Brasil tetra campeão na Copa do Mundo de<br />

futebol<br />

... Brasil campeão mundial seleção feminina<br />

de basquete<br />

... eleição de Nelson Mandela como presidente<br />

da África do Sul<br />

... a moeda nacional passa a ser o Real<br />

... partiram Tom Jobim, Ayrton Senna, Mário<br />

Quintana, Mussum, dentre outras pessoas<br />

queridas... mas também nasceu muita gente<br />

boa!<br />

25 anos de escola Jacarandá e de...<br />

... Rei Leão<br />

... Castelo Rá-tim-bum<br />

... Jurassic Park<br />

... Palavra Cantada<br />

... As Choronas<br />

9


“Mãos à Obra” é uma seção dedicada a brinquedos e<br />

brincadeiras que os pais podem fazer em casa com os filhos. Vamos publicar<br />

objetos feitos de materiais simples, que todos costumam ter em casa. É uma<br />

seção pensada para que as crianças comecem a se apropriar do jornal de um<br />

jeito gostoso e criativo. Novas ideias serão muito bem-vindas. O importante é ter<br />

disposição para, literalmente, pôr “mãos à obra”!<br />

Dica: caso escape o círculo de papel do palitinho e seu pião não<br />

gire, basta prendê-lo embaixo com uma fita adesiva.<br />

A receita desta edição do jornal também traz uma<br />

memória. A Heloisa, mãe do Pedro Lucena – G1,<br />

conta em detalhes:<br />

Os aromas e sabores... Lembro com muito carinho,<br />

quando criança, do cheiro de bolo assando e do<br />

sabor do kasutera* que minha batian (avó) costumava<br />

fazer sempre que eu ia passar as férias do mês de<br />

julho em sua casa. Num sobrado em Guaíra, interior<br />

de São Paulo, aquele aroma impregnava toda a<br />

casa. Do primeiro andar, assim que acordava, eu já<br />

sabia que teria aquela porção de alegria no café da<br />

manhã.<br />

*Kasutera é o nome de um pão de ló popular no<br />

Japão e seu nome deriva de Castela. A receita,<br />

levada por missionários portugueses no século<br />

16, foi disseminada inicialmente na região de<br />

Nagasaki. Seu sabor é suave e a massa, apesar de<br />

esponjosa, é macia.<br />

GOSTOSURAS E<br />

TRAVESSURAS<br />

10<br />

Kasutera<br />

Ingredientes<br />

140 g de açúcar; 130 g de farinha de trigo; 80 ml de<br />

óleo; 80 m de leite; 8 ovos; água quente.<br />

Modo de preparo<br />

1. Preaqueça o forno a 180˚C. Forre uma forma<br />

quadrada com papel manteiga.<br />

2. Aqueça o óleo por 30 segundos em uma panela<br />

pequena, em fogo médio.<br />

3. Despeje o óleo em uma tigela média e peneire a<br />

farinha, mexendo bem. Adicione o leite e misture bem.<br />

4. Coloque as gemas em uma tigela grande e adicione<br />

a mistura de farinha, até ficar homogênea.<br />

5. Em uma tigela grande, bata as claras até atingir<br />

ponto de neve (firme) e acrescente o açúcar aos poucos<br />

enquanto continua a bater.<br />

6. Misture cerca de ¼ das claras na mistura de gema de<br />

ovo. Use uma espátula para que a consistência aerada<br />

não se perca. Incorpore delicadamente o restante da<br />

clara em neve.<br />

7. Despeje a massa na assadeira forrada com papel<br />

manteiga e dê “batidinhas” para liberar quaisquer<br />

bolhas grandes de ar.<br />

8. Coloque um pano de prato em uma assadeira<br />

grande. Coloque a assadeira do bolo dentro desta<br />

e despeje a água quente na assadeira externa até a<br />

metade de suas laterais.<br />

9. Leve ao forno por 1h, até dourar.<br />

10. Retire o bolo do forno e bata no fundo da forma.<br />

Segure no papel manteiga para tirar o bolo da<br />

assadeira, e então retire o papel.<br />

Pronto, agora é só cortar e servir! Uma xícara de chá<br />

verde é um ótimo acompanhamento!


nossa gente<br />

Quando a fome encontra<br />

uma mulher de apetite!<br />

“Lembro direitinho da cena: entrei na escola no<br />

dia que fui visitar, as crianças estavam brincando<br />

no pátio e estavam seguindo umas folhas que<br />

rodavam em redemoinho… as crianças correndo<br />

ali no quintal da casa…”.<br />

Uma foto da Jacarandá, não parece?<br />

Mas essa, na verdade, é a descrição da querida<br />

Tânia, diretora e fundadora da Jacarandá, aquela<br />

que criou tudo isso que conhecemos hoje, quando<br />

há 26 anos foi visitar a Associação Espaço Livre,<br />

creche da PUC, em busca da escola certa para os<br />

seus filhos.<br />

Daí veio a inspiração para a Jacarandá, aliada a<br />

uma reviravolta, a um desejo antigo de ter uma<br />

escola, a muito preparo e a um apetite que, como<br />

ela, poucos têm.<br />

“Pensando bem, sempre pensei em ter uma<br />

escola!”, disse a Tânia.<br />

Decidida, desde cedo, resolveu trilhar o seu<br />

caminho voltado para esse desejo. Fez magistério<br />

no Mackenzie, cursos de educação Montessori<br />

e estágio em escolas montessorianas. Optou<br />

por fazer faculdade de psicologia na PUC,<br />

já que também era uma área de interesse e<br />

que complementaria seus conhecimentos de<br />

formação no magistério.<br />

Curiosa, durante a faculdade fez um curso de<br />

pedagogia Waldorf e trabalhou numa escola com<br />

esse método. Dinâmica, fez cursos de Orientação<br />

para amamentação, Psicoprofilaxia do parto,<br />

puerpério e foi trabalhar com gestantes depois de<br />

formada.<br />

Mas e a Jacarandá, quando surgiu?<br />

A Isabel, filha mais velha da Tânia, nasceu<br />

enquanto ela ainda cursava a faculdade. Casada há<br />

30 anos com Antonio, eles têm três filhos, também<br />

o Rodrigo e o Felipe. Todos próximos de idade e<br />

muito amigos.<br />

E foi pensando na educação deles, que ela<br />

buscou uma escola bacana para seus filhos<br />

estudarem. A busca foi intensa, imaginem<br />

vocês, com um curriculum desses achar uma<br />

escola não foi tarefa fácil.<br />

Encontrou, então, a Espaço Livre, onde<br />

matriculou sua filha e… em setembro…<br />

anunciaram que a escola iria fechar!<br />

Começar uma nova busca não parecia uma<br />

jornada nada animadora. Foi então que<br />

Tânia, com o apoio do seu marido, parceiro,<br />

resolveu desengavetar o sonho de ter sua<br />

escola e colocou as mãos na massa.<br />

“Eu não quero a faca nem o queijo,<br />

Eu quero a fome.”<br />

(Adelia Prado)<br />

Algo super tranquilo e descomplicado como<br />

abrir uma escola - do zero - e em 4 meses,<br />

foi o catalizador necessário. Em dezembro<br />

daquele mesmo ano a Tânia encontrou<br />

a casa certa (esta que conhecemos) e<br />

começou as entrevistas com as pessoas que<br />

ali trabalhariam. A Vitória, essa Vitória que<br />

vocês estão pensando e hoje sócia da Tânia,<br />

foi entrevistada e contratada nesse mesmo<br />

dezembro, há 25 anos.<br />

Super preocupada em fazer tudo<br />

corretamente, assim ela abriu e assim<br />

administra a Jacarandá até hoje, sendo a sua<br />

maior realização acompanhar e participar<br />

da infância dos alunos.<br />

“É gratificante depois de tantos anos poder<br />

reencontrar alunos e pais e pensar que eles<br />

tiveram uma boa experiência na primeira<br />

infância. São experiências que ficam<br />

numa memória que às vezes a gente não<br />

consegue acionar racionalmente, mas está<br />

ali: tá no corpo, na nossa base! E isso é super<br />

importante, então fico muito contente!”<br />

disse a Tânia. E nós, pais, também ficamos!<br />

Mas, e a Tânia criança, será que ela gostaria<br />

de ter estudado na Jacarandá?<br />

Uma menina levada e sapeca! Irmã mais<br />

nova e que adorava brincar de tudo: “Eu<br />

era a criança que explorava, brincava, caía<br />

e até um tanto distraída…”, assim a Tânia<br />

relembrou. A sua irmã dizia que ela brincava<br />

até com o lápis de cor!<br />

Por que parar? Nunca! A Tânia e a Vitória<br />

arrumaram um tempinho de 3 anos para<br />

realizar um outro projeto: o livro. Infância,<br />

Liberdade e Acolhimento, que foi lançado em<br />

2018 e conta as suas vivências na Jacarandá,<br />

com relatos do que desenvolveram ao longo<br />

dos anos sobre educação infantil. Mais um<br />

projeto bem cuidado!<br />

E, como nosso jornal está falando de<br />

memórias, porque memórias são nossas<br />

para sempre, pedi para a Tânia compartilhar<br />

algumas delas conosco:<br />

Uma memória afetiva:<br />

“Carnaval! De fevereiro, aquariana, ainda<br />

me lembro dos bailes de carnaval no Clube<br />

Pinheiros, quando me fantasiava. Porque na<br />

minha infância nos fantasiávamos apenas no<br />

Carnaval.”<br />

Uma memória afetiva sobre a Jacarandá?<br />

“Difícil… 300 milhões de memórias para<br />

escolher… memórias sendo feitas todos<br />

os dias…” (longa pausa). “O CD da Rádio<br />

Jacarandá foi uma conquista bacana. Mas<br />

uma memória que eu acho que é legal e que<br />

a gente até pensou em resgatar é fazer roda<br />

de música com a escola toda. No começo<br />

da escola, a gente conseguia fazer roda de<br />

música com todos os alunos. Sentávamos lá<br />

embaixo, no pátio, todo mundo, crianças e<br />

professores e cantávamos!”<br />

O que você lembrou de lembrar?<br />

“Da minha infância, porque é ter a<br />

consciência do quão sério é a vida das<br />

crianças. Cada pequena experiência é<br />

muito verdadeira, é muito intensa. É muito<br />

importante! “<br />

Depois de longos e importantes 25 anos de<br />

Jacarandá, ela ainda enxerga as crianças<br />

correndo atrás das folhas. Pois nós também<br />

enxergamos. E é por isso que confiamos<br />

parte das memórias da primeira infância<br />

dos nossos filhos à Jacarandá. Porque serão<br />

memórias incríveis!<br />

Brincamos no começo da entrevista que<br />

casada há tanto tempo, a Tânia estava fora de<br />

moda. Concluo essa aula de vida (porque não<br />

foi uma entrevista, mas uma aula!), dizendo<br />

que não há nada mais na moda do que uma<br />

mãe dedicada, uma profissional brilhante,<br />

uma empresária corajosa, uma pessoa<br />

sensível, determinada e que não tem medo<br />

de dividir conhecimento. Você, Tânia, é ultra<br />

fashion!<br />

11


pegada<br />

nossa sessão do carona a pé!<br />

Quem pode participar do carona?<br />

Essa é uma pergunta recorrente por aqui! E a resposta é<br />

simples: todos!<br />

Desde os bebês no carrinho, crianças no canguru, andantes<br />

e até cachorros acompanham nossa caminhada.<br />

Os caroneiros “experientes” do Grupo 5 vão ensinando aos<br />

menores os segredos do nosso percurso, como o murinho<br />

para descansar após a subida da escada para a Praça<br />

do coco. Ali é uma parada oficial, onde algumas crianças<br />

se despedem para ir para casa e outras continuam a<br />

caminhada.<br />

Todos ganham ao andar: conhecem novos lugares e<br />

pessoas, os estabelecimentos do caminho, encontram<br />

plantas e bichinhos, além de ser um meio mais seguro,<br />

saudável e divertido para as crianças de fazer o trajeto<br />

casa-escola.<br />

Brincantes no trânsito<br />

Com a experiência do Carona a Pé, as crianças vão<br />

ganhando consciência de seu papel no trânsito e<br />

aprendem a andar corretamente pela cidade, ao mesmo<br />

tempo em que mantêm sua imaginação e seu espírito<br />

brincante. Nossa turminha reconhece os semáforos e<br />

sabe esperar o sinal abrir, sempre com mais brincadeiras:<br />

“Sim salabim, farol vermelho fica verde pra mim... plim!”.<br />

Uma boa dica para divertir adultos e crianças é a história<br />

Infâncias – aqui e além-mar, é um livro com poemas que<br />

do Menino Maluquinho, que vem atravessando gerações<br />

contam lembranças da meninice de seus autores: José<br />

Santos, brasileiro e um dos fundadores do Museu da Pessoa,<br />

com uma panela na cabeça e fazendo muitas maluquices.<br />

curta!<br />

Essa história do Ziraldo, em livro e filme, relata a passagem<br />

do tempo: de menino a homem. Esse caminho é percorrido<br />

em meio a sustos dados em seus pais, tardes na casa da<br />

avó, futebol com sua turma, namoros, tristeza, segredos...<br />

até chegar na vida adulta, tornando-se um cara legal,<br />

legal mesmo.<br />

e José Jorge Letria, nascido em Portugal. Separados<br />

pela geografia, mas unidos pela língua portuguesa e<br />

experiências de infância, os autores falam de temas que<br />

iam surgindo num processo de criação transatlântico, que<br />

inclui as ilustrações de Guazzeli e da portuguesa Cátia<br />

Vidinhas.<br />

O livro pode ser encontrado nas livrarias ou em versão<br />

on-line, no site: http:/meninomaluquinho.educacional.com.br/<br />

Online/<br />

Infâncias – aqui e além-mar, São Paulo: SESI-SP editora, 2017<br />

O filme, produzido em 95 com direção de Helvécio Ratton,<br />

está disponível em plataformas digitais, como Netflix.<br />

datas especiais<br />

Anotem na agenda e reservem a manhã de sábado: dia 19 de outubro,<br />

festa das crianças, e em 14 de dezembro, festa de encerramento do<br />

ano letivo.<br />

expediente outubro <strong>2019</strong><br />

Jacarandá: Alessandra Nogueira, Tânia Rezende e<br />

Vitória Sá<br />

Participaram desta edição:<br />

Ana Nassar (mãe do Miguel)<br />

Lilian Grinberg (mãe do David)<br />

Maria Cecília Dias (mãe do Pedro e João)<br />

Maria Leopoldina Rosenthal (mãe do Vittorio e José)<br />

Mariana Vieira (mãe da Elena e do Ulisses)<br />

Paula Corrêa (mãe do Pedro)<br />

Formatura do G5: para celebrar a conclusão da Educação Infantil,<br />

realizaremos no dia 7 de dezembro uma cerimônia gostosa e<br />

exclusiva para os alunos do Grupo 5 e suas famílias.<br />

nascimentos:<br />

Muita saúde e alegria para os bebês que chegaram! Em junho, dia 16,<br />

nasceu o Martín, filho da professora Natália e do Fernando e irmão<br />

da Sophia, e nasceu também a Beatriz, irmã da Sofia (G2). No dia<br />

19, foi a vez da Clara, irmã da Catarina O. (G4) e filha da professora<br />

Gabriela e do Rodrigo. Em agosto, dia 06, nasceu a Duna, irmã da<br />

Madu (G1e2); no dia 16, nasceu o irmão da Antonia (G1e2), Guido.<br />

Ainda em agosto, no dia 27, nasceu José Carlos, imãozinho do<br />

João (G4). Em outubro, dia 08, nasceu Francisco, irmão do Rafael.<br />

Parabéns!<br />

BOAS VINDAS<br />

CAETANO VELOSO<br />

12<br />

ANO XXIII • N.27 • OUTUBRO <strong>2019</strong>• RUA ITAGUABA, 154 • PACAEMBU • SÃO PAULO • SP • WWW.ESCOLAJACARANDA.COM.BR

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