Folha Jacaranda N27-2019
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trocando<br />
TEMPO E MEMÓRIA<br />
DEPOIMENTOS<br />
A criança nos faz olhar o tempo com<br />
seus olhos: calmo, sem pressa, simples. Elas<br />
têm o tempo a seu favor e a memória muito<br />
recente. Por vezes, ignoramos o quanto a<br />
infância é impregnada de eternidade.<br />
A memória é contrária ao tempo. Nós<br />
temos pressa (o coelho da Alice já nos dizia,<br />
insistindo em nos mostrar que ele passa),<br />
mas é preciso entender que a memória<br />
obedece o próprio compasso e traz de volta<br />
o que realmente importou, eternizando<br />
momentos.<br />
Para a educadora Lydia Hortélio, as<br />
crianças têm a “alma em frente”. Com o<br />
tempo é que ela se esconde lá dentro. Diz<br />
que o tempo presente esqueceu a infância,<br />
que falta pé no chão, espaço para correr,<br />
natureza... mas tem esperança e sente no ar<br />
um desejo coletivo de mudança. Junto com<br />
ela, convidamos a todos a entrar na roda da<br />
memória.<br />
O que é o TEMPO?<br />
É algo que todos pensamos conhecer<br />
muito bem, mas, logo que nos pedem para<br />
explicar, nos atrapalhamos. O vivenciamos<br />
como o fluxo de acontecimentos que se<br />
sucedem. Mas, o que ele é mesmo é aquele<br />
tantinho de fôlego que separa os domingos<br />
das quintas, e a mim do abraço da Renata e<br />
do Rafi quando estou em Porto Alegre. (Eno<br />
- pai do Rafi, Berçário)<br />
Para nós, o tempo tem duas virtudes<br />
inigualáveis, a primeira é que com ele<br />
podemos guardar as melhores memórias e<br />
lembranças. A segunda é que ele pode curar<br />
qualquer dor. (Bruno - pai do Gabriel O.,G1)<br />
É o que queremos mais e buscamos<br />
menos. É preciso enxergar a riqueza do<br />
tempo que ainda temos com as pessoas que<br />
amamos. (Thatiany - mãe do Miguel, G2, da<br />
Maria Luiza, 9 anos, e professora)<br />
Um movimento que só ganha algum<br />
sentido quando é humanizado por nossas<br />
histórias de vida. (Paulo Nassar - avô do<br />
Miguel, G1)<br />
O que é MEMÓRIA?<br />
A memória? Não lembro bem… (Eno - pai<br />
do Rafi, Berçário)<br />
É a nossa caixinha de identidade. (Laura<br />
- mãe da Dora, G3, e do Bento, Berçário)<br />
É um momento de tempo preso na<br />
lembrança. (Heloisa - mãe do Pedro L., G1)<br />
É algo precioso e muito bem guardado,<br />
que pode ser ativada por um cheiro, sabor,<br />
imagem… uma música que te faz voltar no<br />
tempo e ficar saboreando aquele momento<br />
repetidas vezes. (Thatiany - mãe do Miguel,<br />
G2, da Maria Luiza, 9 anos, e professora)<br />
Aquilo que evocamos em nossas<br />
narrativas. (Paulo Nassar - avô do Miguel,<br />
G1)<br />
MEMÓRIA AFETIVA<br />
Minha irmã me consolando e distraindo,<br />
indo comigo no cinema para ver Star Wars<br />
quando eu tinha 15 anos e estava de coração<br />
partido por ter terminado meu primeiro<br />
namoro. (Eno - pai do Rafi, Berçário)<br />
O perfume da Dama da Noite nas noites<br />
de Botucatu. Minha avó sentada no banco<br />
da frente de sua casa, dizendo: “sinta esse<br />
perfume maravilhoso! Ele só vem durante a<br />
noite. Amanhã de manhã você já não poderá<br />
senti-lo”. (Laura - mãe da Dora, G3, e do<br />
Bento, Berçário)<br />
Certa noite no sofá, ao terminarmos<br />
de ler mais uma vez aquele conto de fadas<br />
e antes que o Bento pedisse para lermos<br />
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