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Lena d’Água Trinta anos depois da gravação dos últimos inéditos, Lena d’Água está de volta com Desalmadamente. O disco, cujo lançamento ocorreu em meados deste ano de 2019, foi escrito na íntegra para a artista pelo autor e compositor Pedro da Silva Martins. Neste novo álbum cheio de boas canções, podemos ouvir Grande Festa, um tema que, atrevemo-nos a dizer, remete para a atual fase da vida da artista que apesar da passagem dos anos, continua igual a si própria: talentosa e genuína. Como ela própria canta no disco: “estou pronta para a grande festa”. Lena d’Água, muito gentilmente, respondeu-nos por escrito a esta entrevista. • Dulcina Branco • Fotos: gentilmente enviadas por Lena d’Água. “Eu nunca fui apenas ‘a menina bonitinha’” 4
Qual é a memória mais viva que tem do seu início na música? - Lembro-me da viola que o meu pai me ofereceu por eu ter conseguido dispensa do exame do 5º ano. Aprendi a tocar com o João Lisboa, meu amigo lá do bairro. Subi ao palco pela primeira vez em 74 a convite desse amigo, numa reunião de moradores, para assobiar a parte da flauta numa música do Sérgio Godinho. A seguir ele passou-me a guitarra e fez-me cantar o ‘Ne Me Quitte Pas’ do Brel. Nem sei como é que consegui, pois era muito tímida. Mas não podia recusar. E não falhei letra nem acordes. E como é que aprendeu a enfrentar a exposição pública? - Bem, acho que ajudou muito o facto de o meu pai (José Águas) ter sido um ídolo de multidões. Ele era o famosíssimo avançado- -centro do Benfica que levantou aquelas duas taças dos Campeões Europeus. O meu nascimento foi notícia de jornal. Quando ele terminou a carreira de futebolista eu já tinha 7 anos e, portanto, lembro-me de muita coisa, sobretudo de sair à rua e de as pessoas nos saudarem muito efusivamente. Começou por cantar nos Beatnicks, fundou a Salada de Frutas e a Banda Atlântida. Tem saudades desses tempos? - Não sou muito saudosista, mas há episódios muito engraçados que recordo com carinho. Como sejam as viagens com os Beatnicks, feitas numa carrinha Ford que era usada para distribuição de leite... viajávamos agarrados aos instrumentos com um cheiro a leite que não se podia. Uma vez, em Alcains, tivemos de passar a noite num celeiro e quando acordámos tinham-nos roubado a roupa toda. Foram tempos épicos. Fez 43 anos que subi ao palco pela primeira vez como vocalista da banda. É a idade da minha filha. Eu tinha casado com o viola-baixo, o Ramiro Martins. Sabendo que nunca deixou de cantar as canções que já vêm consigo dos anos 80, nunca se cansou delas? - Não. Ao longo dos anos, fui tocando com músicos de várias áreas e as canções foram ganhando outras vidas. Além do mais, as boas canções não cansam. Quais são os temas que não podem faltar? - Sempre que o Amor me Quiser, Demagogia, Perto de Ti, Nuclear não, obrigado… E a que gosta menos, aquela que virou quase um ódio estimação? - A que eu gosto menos é talvez a mais famosa: o Robot! Porquê? - Para uma cantora não é uma canção muito desafiante. Mas a verdade é que caiu no goto. A primeira vez em que tocámos essa música ao vivo percebemos logo que aquilo ia ser um sucesso. Curiosamente, passados 30 anos, o OLX decidiu pegar nela para um jingle e as crianças voltaram a cantá-la. Por onde andou nestes 30 anos? - Andei a fazer o que faz uma can- 5
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