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tora. A cantar, a gravar discos. Faltavam-me
novos bons originais de
qualidade e foi o que aconteceu
agora neste ano de 2019 com a
edição do meu novo álbum, Desalmadamente.
Mas deu para viver só da música?
- Sim, com maior ou menor dificuldade,
lá vamos gerindo as coisas.
Mas há dois anos chegou a escrever-se
que a Lena d’Água estava
na miséria
- Isso foi um exagero que começou
com um desabafo que fiz no Facebook.
Mas estava muito zangada e desencantada.
Escreveu mesmo
que precisava de vender o colchão
da cama!
- Sim, o colchão e umas botas…
E houve quem tenha levado isso
à letra! O que aconteceu é que eu
estava mesmo muito zangada por
causa de uma operação stop em
que duas alminhas que me trataram
como se eu fosse uma bandida.
Mas porquê?
- Porque uma pessoa não está habituada
a fazer 60 anos e eu esqueci-
-me de que estava obrigada a fazer
a renovação da carta de condução.
Aqueles dois polícias que me mandaram
parar trataram-me mesmo
muito mal. Estávamos em novembro,
às 6 e meia da tarde já era noite
cerrada, e para além da apreensão
da carta e da multa, eles ainda
queriam obrigar-me a voltar a pé
para casa. O primeiro sentimento
que me veio à cabeça foi: “Caramba,
é assim que Portugal me está a
tratar?!” E eu estava de facto numa
fase preocupante em termos
de trabalho. Mas logo a seguir
confirmou-se o fim do ano no Terreiro
do Paço, com um belíssimo
cachet e também o casino de Espinho
com o meu ‘Voz e Piano’. É
assim a vida de artista!
Sabendo que esta vida da música
é cheia de altos e baixos, nunca
pensou em desistir?
- Não. Nunca.
Nem nunca teve um plano B?
- Não. Nunca.
Sentiu muito a questão da idade,
a menina bonitinha que de
repente tem 60 anos?
- Foi de repente, foi. Mas eu nunca
fui apenas ‘a menina bonitinha’...
A minha velha professora
de canto disse-me um dia que a vida
passa num estalar de dedos. E
passou mesmo. Para nós mulheres
de palco (e não só) é mais difícil.
Os homens da minha idade estão
aí todos. Já as mulheres se vão
retirando ou perdendo visibilidade.
Há ainda algumas resistentes.
A Lena d’Água mudou muito?
- Não. No fundo, pouco mudamos.
No tema que dá nome ao
meu novo álbum, Desalmadamente,
eu canto ‘agora só o espelho
é que envelhece’.
Trinta anos para voltar a gravar
inéditos. Porquê tanto tempo?
- Porque finalmente chegou a pessoa
certa para escrever novas e belas
canções para mim, o genial autor
e compositor Pedro da Silva
Martins. ••
Biografia
Lena d’Água, cujo nome de nascimento
é Helena Maria de Jesus
Águas, nasceu em Lisboa no dia
16 de junho de 1956. Foi a primeira
filha de José Águas, o famoso
avançado-centro e capitão
do Benfica e irmã do igualmente
ex-futebolista do clube encarnado,
Rui Águas. Fez o curso do Magistério
Primário e ainda diversas
formações na área do teatro. Possui
uma vasta e relevante carreira
musical que despontou nos anos
oitenta, tendo sido uma das primeiras
mulheres em Portugal a integrar,
como vocalista, uma banda
de rock, no caso, os Beatnicks.
Integrou o coro do grupo Gemini
na sua participação no Festival
RTP da Canção que foi à Eurovisão
em 1978 com a canção Dai Li
Dou. Foi uma das fundadoras do
grupo Salada de Frutas que tantos
e boas canções deu ao cancioneiro
nacional. Em 2017, participou
no Festival RTP da Canção. Em
2019, Lena d’Água regressa aos
inéditos com o disco Desalmadamente.
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