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REVISTA TERENA 2a EDIÇÃO

Vukápanavo tem o objetivo de reunir e de dar visibilidade às pesquisas realizadas por pesquisadores indígenas e não-indígenas e que se refiram ao povo Terena, disponibilizando assim um conjunto de trabalhos produzidos em diversas áreas do conhecimento.

Vukápanavo tem o objetivo de reunir e de dar visibilidade às pesquisas realizadas por pesquisadores indígenas e não-indígenas e que se refiram ao povo Terena, disponibilizando assim um conjunto de trabalhos produzidos em diversas áreas do conhecimento.

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Garcia (2008, p. 68), destaca que “no período que antecedeu à Guerra da Tríplice

Aliança (1864-1870), a produção agrícola excedente dos Guaná (Terena) já era vendida para a

sociedade dominante, no Forte Coimbra, e/ou permutada por aguardente, panos, armas de fogo,

animais e instrumentos de trabalho”.

A prática da agricultura, considerada característica importante da cultura terena e

dos grupos Aruák de forma geral, também foi fundamental para os moradores não indígenas do

sul do Mato Grosso no período da Guerra da Tríplice. Vargas (2011) salienta:

Os Terena tornaram-se conhecidos pelas autoridades brasileiras, como “dóceis” e

“pacíficos”, como foram classificados durante o Império, prestadores de várias formas

de serviço, tais como: a plantação de gêneros alimentícios para abastecimento do

exército, ensino da prática da agricultura para índios que dela não faziam uso, buscar

índios para conduzi-los à “civilização”, entre outras atividades por eles desenvolvidas

(VARGAS, 2011, p. 122).

Entretanto, após a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), com a intensificação

das levas migratórias para o sul do Mato Grosso, não só as terras dos Terena passaram a ser

alvo das novas propriedades, mas também sua mão de obra, dessa vez recrutada de forma

compulsória.

O recrutamento dos Terena como trabalhadores nas fazendas se deu nos parâmetros

das relações trabalhistas arcaicas que foram estabelecidas no campo, agravado pela condição

de desrespeito aos indígenas, que de certa forma continuou presente nos discursos e práticas de

muitos empregadores. Na tradição oral dos Terena, esse período é chamado Tempos de

Servidão, ou ainda Tempos de Cativeiro.

A expressão Tempos de Camaradagem também é usada pelos Terena, e remete aos

camaradas de conta, pois os peões das fazendas eram obrigados a comprar alimentos e demais

artigos nas vendas ou bolichos do próprio patrão. Contraiam, dessa forma, dívidas infindáveis

e não conseguiam se desvencilhar do vínculo nas fazendas. Essa prática, que foi bastante

comum no interior do Brasil, é também chamada de sistema de barracão.

O trabalho que os Terena desempenhavam nos imóveis rurais ia desde a derrubada

da mata e a formação das pastagens e lavouras até a manutenção, plantio das roças, manejo do

gado, além da construção da infraestrutura das propriedades. A criação das Reservas embora

em espaços muito menores que as terras indígenas, possibilitou que os Terena se

reorganizassem em parte do seu território e tivessem alternativa às condições de vida e trabalho

nas fazendas, como apontam Moura (2001), Eremites de Oliveira e Pereira (2003) e Vargas

(2003).

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