REVISTA TERENA 2a EDIÇÃO
Vukápanavo tem o objetivo de reunir e de dar visibilidade às pesquisas realizadas por pesquisadores indígenas e não-indígenas e que se refiram ao povo Terena, disponibilizando assim um conjunto de trabalhos produzidos em diversas áreas do conhecimento.
Vukápanavo tem o objetivo de reunir e de dar visibilidade às pesquisas realizadas por pesquisadores indígenas e não-indígenas e que se refiram ao povo Terena, disponibilizando assim um conjunto de trabalhos produzidos em diversas áreas do conhecimento.
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Assim, as diversas funções que os Terena desempenharam serviam, também, para
a estratégia de conhecer e dominar os códigos de conduta dos purutuya. De certa forma, a
invisibilidade étnica que a política indigenista tentava impor, transformando-os em
trabalhadores nacionais, foi ressignificada pelos Terena e possibilitou a sua reorganização nas
Reservas.
No contexto do trabalho nas fazendas emerge uma relação importante entre os
fazendeiros e os Terena, o compadrio:
Vários são os registros nos Relatórios de atividades do SPI que apontam para a
exploração do trabalho indígena nas fazendas. Cardoso de Oliveira (1968) evidencia
que entre as estratégias usadas pelos fazendeiros para obter o trabalho indígena,
constavam as relações de “compadrio”, estabelecidas entre eles e os Terena. Essa
relação era formalizada quando fazendeiros batizavam os filhos dos índios e
tornavam-se os seus padrinhos. Na maioria das vezes, eram os padrinhos que
escolhiam os nomes para as crianças Terena. Muitos adotavam inclusive seu
sobrenome. Tais relações consistiam na lealdade e na obediência dos índios aos seus
patrões, que passavam à condição de compadres e de padrinhos, enquanto esses
últimos proporcionavam aos Terena ferramentas para o desenvolvimento do trabalho
agrícola, roupas, remédios e outros utensílios que esses julgavam necessários. Essa
também foi uma das formas que os Terena estabeleceram políticas de alianças com os
não índios para obterem possíveis vantagens, apesar da exploração de seu trabalho
(VARGAS, 2011, p. 126).
Portanto, o compadrio, embora envolvesse relações assimétricas e possibilitasse a
exploração da mão de obra terena, também era vislumbrado pelos indígenas como possibilidade
de acessar espaços e obter alguns benefícios. Vargas (2011) transcreve e analisa relatos de
alguns Terena sobre essas relações evidenciando que em alguns casos o apadrinhamento
possibilitou acesso a tratamentos de saúde e oportunidades de instrução formal (elementos que
na teoria, deveriam ser garantidos pelo SPI).
Se, por um lado a existência dessas relações revela a fragilidade da política
supostamente protetora do Estado brasileiro e a estratégia da sociedade regional para camuflar
a exploração da mão de obra indígena, por outro, demonstra que os Terena viam nesse tipo de
aliança possibilidades de obter melhorias nas suas condições de vida.
Nas Reservas, as roças continuaram sendo a atividade principal dos Terena.
Conhecedores da habilidade e do gosto terena pela agricultura, os agentes do SPI incentivavam
essa atividade, vislumbrando a possibilidade de sustentação financeira dos Postos e a mais
rápida assimilação dos indígenas pela sociedade nacional.
As informações sobre o trabalho terena apontam primeiramente para a sua
organização familiar e para a formação de suas redes por meio de seus parentes e de
outros que se submetiam à liderança do grupo. A forma de organização do trabalho
era realizada pelos Terena, organizada de tal forma que os agentes do SPI não se
intrometiam, afirmando que era assim que os índios desejavam. Obviamente esse