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Museu da Existência - Criação da Amarelo Silvestre

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ISTO NÃO É MEU<br />

Frasquinho com ar expirado por uma mulher<br />

Valor do objecto: Lembra-me a relação feliz com a<br />

Emília (o que não é, necessariamente, bom).<br />

Proprietário: <strong>Museu</strong> <strong>da</strong> <strong>Existência</strong> (doação minha, de<br />

meu nome Melo).<br />

Origem: Vila Nova de Gaia.<br />

Método e <strong>da</strong>ta de recolha: Em mão, por mim próprio, de<br />

meu nome Melo, a 31 de Agosto de 2015.<br />

ERA A BRINCAR<br />

Forno de brincar a sério<br />

Valor do objecto: Forno de brincar que dá para cozinhar<br />

a sério.<br />

Proprietária: Dona Graça (empréstimo ao <strong>Museu</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Existência</strong>).<br />

Origem: Canas de Senhorim.<br />

Método e <strong>da</strong>ta de recolha: Em mão, por mim próprio, de<br />

meu nome Melo, a 18 de Dezembro de 2015.<br />

Esta é uma história minha que me custa partilhar<br />

de viva voz com as visitas do <strong>Museu</strong> <strong>da</strong> <strong>Existência</strong>.<br />

Por escrito dói menos. Este frasquinho foi-me<br />

oferecido pela Emília. Ela subiu a um telhado sem<br />

medo de cair, inspirou o ar alto, deixou-o transmutar-se<br />

pelo corpo cheio de amor e de felici<strong>da</strong>de e<br />

expirou-o para dentro deste frasquinho. Quando<br />

ela foi, digamos, respirar outros ares que não os<br />

respirados por mim, não reclamou devolução do<br />

frasquinho. Eu ain<strong>da</strong> hoje tenho dúvi<strong>da</strong>s sobre<br />

a ver<strong>da</strong>deira proprie<strong>da</strong>de deste objecto. Será<br />

mesmo meu? Ou <strong>da</strong> Emília? Ou dos dois? Eu<br />

sempre fui incapaz de deitar fora o frasquinho ou<br />

de o devolver à Emília. Ou, até, de devolver apenas<br />

o ar à Emília e ficar com o frasquinho, como sugeriu,<br />

jocoso, um amigo meu. Este objecto tornou-se<br />

num embaraço para mim, sobretudo quando novas<br />

relações se sucederam na minha vi<strong>da</strong>.<br />

“Este forno deve ter uns 65 anos” – disse-me a<br />

Dona Graça que tem pouco mais anos de i<strong>da</strong>de.<br />

“Foi-me oferecido por um tio que tem 92 anos.<br />

Eu era criança e vi o forno numa montra, em<br />

Viseu. Fiquei completamente apaixona<strong>da</strong>. Mas<br />

era domingo, a loja estava fecha<strong>da</strong>. Naquele<br />

tempo não era fácil ir a Viseu [a partir de Canas<br />

de Senhorim] e poucas pessoas tinham carro.<br />

Mas o meu tio tinha. Então, durante a semana,<br />

ele saiu do emprego e foi a Viseu comprar o<br />

brinquedo. Para mim. Eu cozinhava neste fogão,<br />

que funciona a lenha como os fogões a lenha em<br />

tamanho de adulto. Punha-lhe umas panelinhas<br />

em cima e cozinhava. Fiz bolachas e maçã assa<strong>da</strong>,<br />

por exemplo. Mandei restaurá-lo há pouco<br />

tempo, porque o fogão estava todo ferrugento.”

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