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Revista Dr Plinio 271

Outubro 2020

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Editorial<br />

Um holocausto que comprou<br />

a realização das promessas!<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

Lendo a autobiografia de Santa Teresinha do Menino Jesus, pareceu-me que seria muito mais<br />

útil para a Causa Católica se eu me oferecesse como vítima expiatória, a exemplo dela. Oferecer<br />

um sacrifício imediato que, enquanto tal, fosse de utilidade também imediata para a Igreja,<br />

e por efeito do qual, em poucos anos, a Contra-Revolução estaria senhora do terreno. Eu jazeria no<br />

Cemitério da Consolação 1 , quiçá inteiramente ignorado pelas gerações seguintes, mas sobre a minha<br />

sepultura teria brotado a árvore grandiosa do Reino de Maria e da Civilização Cristã.<br />

Nessa perspectiva, eu me punha a questão de se isso não valeria mais do que todo o esforço que estava<br />

fazendo. Não seria melhor eu silenciar completamente as vozes interiores que me falavam de grandes lutas<br />

por Deus, por Nossa Senhora, pela Igreja, não dar atenção a elas, oferecer-me e caminhar para morte?<br />

Pareceu-me que, estando em dúvida entre os dois caminhos, deveria preferir o mais desagradável.<br />

Ora, eu admirava profundamente a via de Santa Teresinha, mas tinha horror de segui-la. Todo o meu<br />

feitio se opunha a isso, sobretudo porque implicava na renúncia às vozes interiores nas quais eu encontrava<br />

o meu gáudio, meu amparo, minha consolação. Bastava me colocar na perspectiva da vítima<br />

expiatória, que tudo secava. Eu pensava: “Está bem, você deve trilhar o caminho de Santa Teresinha.<br />

Se tiver coragem, ofereça-se como vítima expiatória e vamos ver no que dá.”<br />

De outro lado, o apelo das vozes interiores se fazia ainda mais premente, atraente e acariciante.<br />

Donde concluí: “Pois é isso mesmo que eu não escolho. Quero o caminho pior, mais triste, mais horroroso,<br />

porém mais fecundo. Eu prefiro este.”<br />

Resolvi então entrar por uma via, ensinada por Santa Teresinha, de nunca pedir e nunca negar nada<br />

a Deus nosso Senhor, aceitar tudo o que acontecesse sem fazer sequer o pedido divino: “Pai, se<br />

for possível, afaste-se de Mim este cálice…” (Mt 26, 39). Não teria “se for possível”, o cálice não se<br />

afastaria; eu o beberia até o fim, logo que ele se apresentasse, e consumaria o meu sacrifício.<br />

Essa resolução me produzia um efeito tão prodigiosamente antinatural que<br />

era um verdadeiro tormento. Entretanto, cessei de pedir a Nosso Senhor e<br />

a Nossa Senhora qualquer coisa para mim, a não ser a santidade.<br />

Em certa ocasião, eu estava na Igreja de Santa Cecília e o coro paroquial<br />

entoou um cântico em latim que, em determinado momento,<br />

continha esta frase: “Sanctifica nos in veritate”. Sem entender<br />

bem o latim, eu pensei: “É esse o meu único pedido! Que Nossa<br />

Senhora me santifique de verdade! Que eu fique um santo no<br />

sentido próprio da palavra. O resto não me incomoda.”<br />

Algum tempo depois, fui a uma exposição de obras católicas<br />

e encontrei O Livro da Confiança. Qual não foi a minha<br />

surpresa ao me deparar com as palavras iniciais 2 e descobrir<br />

nelas uma espécie de justificação teórica a uma via que, embora<br />

não fosse contrária à de Santa Teresinha, sob certo ângulo<br />

lhe era simetricamente oposta.<br />

Mantive minha posição de não pedir nem recusar nada,<br />

mas surgiu no horizonte uma luz que me levava a esperar que<br />

algum dia Nossa Senhora me faria adotar outro caminho.<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> durante a ação de graças E, assim, andei por vales e montes até o momento em que so-<br />

de uma Missa na Igreja de fri a crise de diabetes, com sério perigo de morte. Eu estava pron-<br />

Santa Cecília, em 13 de to para morrer quando houve a graça de Genazzano 3 , a qual como<br />

dezembro de 1992 que me dizia: “Siga as vozes interiores!” Essa graça infundiu em mim a<br />

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