Revista Dr Plinio 271
Outubro 2020
Outubro 2020
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A sociedade analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
R.M.N. / R.-G. Ojéda (CC3.0)<br />
nha até o poder de dispensar do costume<br />
determinadas pessoas em certos<br />
casos excepcionais.<br />
Por exemplo: há num determinado<br />
lugar um costume, mas ali se assinala,<br />
pelos seus serviços à pátria, pela elevação<br />
de sua cultura, pela sua grandeza<br />
financeira, pelo seu poder, pelo<br />
esplendor de sua tradição, uma determinada<br />
família. Nesta família floresce,<br />
em certo momento, um ministro<br />
de Estado ou um general. A família<br />
adquire uma tal ilustração que para<br />
ela passa a ser vergonhoso continuar<br />
a obedecer a esse costume.<br />
Isto porque a honra tinha um sentido<br />
mais importante do que o dinheiro,<br />
situação que se transformou singularmente<br />
depois. Havia uma porção<br />
de costumes que obrigavam juridicamente<br />
a atos de caráter honorífico.<br />
Por exemplo, todas as famílias da<br />
redondeza de um determinado caste-<br />
Além dos privilégios do rei, existiam<br />
no Direito francês les établissements<br />
nouveaux – os novos estabelecimentos.<br />
Estabelecimentos porque<br />
eram decretos do monarca que valiam<br />
para todo o reino, os quais ele<br />
promulgava apoiado em seus altos<br />
barões e senhores feudais.<br />
São, em geral, corretos, muito bonitos,<br />
nos quais o rei declara, por exemplo,<br />
que “ouvidos os seus fiéis vassalo,<br />
todos os anos, no aniversário do<br />
senhor daquele castelo, deviam oferecer-lhe<br />
três rosas, cinco pães, quatro<br />
peixes ou quaisquer outras coisas<br />
assim, como uma homenagem.<br />
Suponhamos que uma das famílias<br />
do lugar, obrigada a isso pelo costume,<br />
adquirisse uma ilustração muito<br />
maior que a família à qual essa homenagem<br />
era tributada. O rei tinha<br />
o direito de, por meio de um privilégio,<br />
dispensar aquela família daquele<br />
costume. Não porque fosse constituir<br />
uma situação odiosa, imerecida para<br />
aquela família, mas pelo contrário,<br />
para restabelecer a equidade lesada.<br />
O costume não tinha tomado em<br />
consideração uma situação nova que<br />
se impôs depois. Para compensar a<br />
iniquidade da aplicação do costume<br />
antigo a um fato novo e diferente, o<br />
rei podia intervir para constituir um<br />
privilégio.<br />
O cultivo do campo: Março, Les Très Riches Heures du Duc de<br />
Berry - Coleção do Museu Condé, Castelo de Chantilly, França<br />
Os privilégios: um modo<br />
de restabelecer a justiça<br />
Notem bem que a palavra “privilégio”<br />
teve depois um sentido odioso<br />
por causa da demagogia dos revolucionários.<br />
Eles começaram a apontar<br />
o privilégio como sendo uma coisa<br />
gratuitamente dada pelo rei a uma pessoa<br />
que não o merecia. Não existe nada<br />
mais estúpido do que isso. É o contrário.<br />
O privilégio é um modo de restabelecer<br />
a justiça. Como a lei é cega, sendo<br />
uma regra geral que comporta uma<br />
porção de situações excepcionais, o rei,<br />
no seu alto arbítrio, nos seus elevados<br />
desígnios de equidade e sabedoria, pode<br />
acomodar a lei às situações concretas,<br />
constituindo privilégios.<br />
Esta é uma das mais altas atribuições<br />
do rei. Privilégios a favor de<br />
igrejas, por exemplo. Em certo lugar<br />
existe o costume de pagar a balsa ou<br />
o pedágio de uma estrada que conduz<br />
a uma igreja, em favor de um determinado<br />
senhor feudal. Mas nesta<br />
igreja se opera um milagre insigne;<br />
torna-se um lugar de romaria.<br />
É justo que todos os romeiros<br />
continuem a pagar este imposto?<br />
Não, por causa do milagre que houve<br />
ali, e da veneração popular. O rei<br />
constitui um privilégio em favor daquela<br />
igreja com base no costume.<br />
Ato de justiça, de equidade, nunca<br />
de iniquidade.<br />
Imprecisões e erros<br />
cometidos por tratadistas<br />
de Direito medieval<br />
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