UnicaPhoto - Edição 16
Revista do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)
Revista do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)
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como “potenciais traficantes” ou criminosos, em geral.
Isso é alfabetização visual, somos treinados todos os dias
e não o percebemos, porque nosso treinamento diz que
“é natural” que seja assim.
Por outro lado, é possível alfabetizar visualmente para fins
de emancipação social, Nego Bispo escreve lindamente
sobre o assunto e recomendo a todos a leitura de seus
textos. É possível fotografar com as pessoas, respeitando
o retratado como coautor na realização da fotografia.
Afinal, a fotografia acontece no encontro entre o fotógrafo
e o fotografado. Ela é o resultado desse encontro e se
uma pessoa aceitou ter sua imagem capturada pela
câmera é porque, por algum motivo, aquilo é importante
para ela. Uma foto carrega em si muitos desejos. Sempre
é possível usar a fotografia para valorizar o outro, para
humanizar o mundo e a nós mesmos, para colocá-la a
serviço da diversidade dos modos de existir no planeta.
Com isso, posso agora responder a questão, os limites
da fotografia estão nas escolhas políticas e éticas, nos
posicionamentos que assumimos no mundo, ao longo do
processo de produção e circulação das imagens.
Fale um pouco sobre as disciplinas que você irá
lecionar no MBA “Cultura Visual: fotografia & arte
latino-americana”
Vou lecionar a disciplina Cultura Visual: imagem e
fotografia. Essa disciplina parte das questões “o que
é cultura visual?” e “qual o papel das imagens e da
fotografia nas sociedades contemporâneas?” para dar
início às reflexões críticas coletivas que serão propostas,
abordando temas como: a construção de sentidos e
afetos por meio de imagens; o usos políticos e sociais das
imagens; o papel das tecnologias do ver; imagens técnicas;
imagens do sonho; imagem, imaginário e imaginação;
representações do outro e do mundo; regimes da
visualidade colonial; racionalismo, etnocentrismo,
antropologia; imagem e antropoceno; reflexões críticas
sobre o pensamento fotográfico; o pensamento por
imagens; e teorias da fotografia (fotográficas: efeitos
sociais e limitações teóricas).
E também vou lecionar a disciplina Memória, arquivo e
documento. Qual o papel do arquivo? E da Fotografia
como documento? Esta disciplina visa introduzir o aluno
aos estudos das relações entre memória, arquivo e
fotografia a partir da prática artística contemporânea.
Serão abordados questões como: memória e
temporalidades; temporalidades da imagem; leitura
dos tempos; a fotografia como mediação de memórias;
ressignificação imagens do passado; a visualidade
colonial; a descolonização de imagens coloniais.
Qual é a proposta do grupo de estudos “Narrativas
anticoloniais”?
É um grupo de estudos público e gratuito em que lemos
e discutimos autores que pensam todo-o-mundo se
posicionando criticamente contra todas as formas de
colonização ainda vigentes, seja a colonização de nossa
subjetividade, do nosso pensamento, do território, etc. O
outro lado da modernidade ocidental é a colonização que
organiza as relações humanas em escala planetária. Para
compreender as imagens e a fotografia, em particular, é
preciso mais do que nunca estudar sobre colonização e
sobre aqueles que lutam contra a colonização há mais
de 500 anos. Para que o futuro possa ser benéfico aos
seres viventes, é necessário reaprender a imaginar, a
sonhar e a tornar nossos sonhos realidade. Descolonizar
nossa mente é talvez o primeiro passo. Esse grupo de
estudo tem essa missão, ajudar a mim e aos outros nesse
processo de cura e de libertação de nossa mente.
Qual é a importância do fotolivro no mundo
contemporâneo?
Gostaria de falar não da importância dos fotolivros,
mas da importância dos fotozines (sejam eles físicos ou
virtuais). Fotolivro é um produto caro, de produção pouco
acessível, economicamente falando, para a maioria
dos fotógrafos e artistas visuais, voltado mais para o
mercado colecionador da classe média e média-alta que
se interessa por fotografia e não para o grande público.
O fotozine é economicamente mais viável e é igualmente
um excelente lugar para compor narrativas visuais. No
zine, você pode se expressar verbo-visualmente e fazer
seu trabalho circular nas redes físicas e virtuais a um
custo mais viável. Em termos gerais, o que diferencia um
produto do outro é a qualidade de impressão, o papel
usado, a editora de nome que, muitas vezes, assume da
edição das fotos à circulação.
Zine dá pra fazer em casa com uma impressora jato
de tinta, uma copiadora, etc. Além do que existem
plataformas de publicações on-line. É muito mais
interessante ter os discursos, as narrativas diversas, os
pontos-de-vista, as narrativas fotográficas circulando
aos montes em todos os espaços, em comunidades, em
redes sociais, em escolas, no museu, na livraria, galeria,
etc. do que o artista/fotógrafo ficar esperando anos até
conseguir ser contemplado em um edital e publicar seu
fotolivro, ou até conseguir se capitalizar e ter o dinheiro
sobrando para fazê-lo. Se você puder fazer um fotolivro,
faça. Mas se não, não perca tempo esperando, faça
um zine, se expresse, bote seu discurso no mundo da
forma que lhe for possível. Creio que os fotozines são
importantes porque possibilitam que mais e mais
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