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OPINIÃO
É tempo de investir em resiliência no setor
Um novo mundo de oportunidades
está se abrindo. Quem sair
na frente terá o privilégio
de colher os frutos primeiro
Por Giovana Araújo
e Martiniano Lopes
No início do ano passado,
o cenário que se
desenhava para o setor
sucroalcooleiro era de
recuperação de rentabilidade em
um contexto de retomada dos
preços do açúcar no mercado internacional
e de redução da taxa
de juros básica da economia,
particularmente relevante para
um segmento intensivo em capital
com um contingente não desprezível
de empresas ainda com
elevado nível de alavancagem. A
única nuvem que persistia no horizonte
do setor era o preço do
petróleo no mercado internacional
e o impacto de uma eventual
apreciação do real frente ao dólar
na paridade de importação da gasolina
e, consequentemente, nos
preços do etanol no mercado interno.
A pandemia da covid-19 não
trouxe apenas uma reversão de
expectativas como pegou o setor
sucroalcooleiro em um momento
particularmente delicado, no início
da moagem da safra 2020/
21 na região Centro-Sul. Os preços
do etanol chegaram a cair
quase 40% no início da pandemia,
entre final de março e início
de abril, motivados pela retração
da demanda e preocupações
com capacidade de armazenagem
do etanol, assim como, pela
forte queda dos preços do petróleo
no mercado internacional, que
balizam a formação de preços da
gasolina no Brasil. E não menos
importante, a aversão a risco
pautou o mercado de crédito e foi
precificada no custo das operações
de financiamento junto a
empresas do setor.
A tormenta passou, mas o mar é
revolto. A demanda de etanol no
país ainda acumula retração em
relação ao mesmo período do
ano passado, mas essa retração
foi mais do que compensada pelo
aumento da demanda de açúcar
na safra 2020/21, 2,2 vezes
maior em volume, medido em
Açúcar Total Recuperável (ATR).
A forte desvalorização do real
frente ao dólar reforçou a competividade
do açúcar do Brasil no
mercado internacional e favorece
a recuperação da participação de
mercado do país no mercado
global. As exportações de açúcar
seguem atrativas e os mercados
futuros têm gerado oportunidades
de fixação acima de R$
1.700/tonelada. O preço do petróleo
WTI (referência para o mercado
norte-americano) ficou
abaixo do mesmo período do ano
anterior, mas a desvalorização
cambial amorteceu, substancialmente,
o impacto dessa queda
sobre os preços da gasolina na
refinaria no Brasil, balizado pela
paridade de importação. Os custos
de captação das operações
de crédito com menor risco estão
convergindo para os níveis précrise,
enquanto operações com
maior risco seguem com custos
mais altos.
Dito isso, algumas empresas do
setor de açúcar e etanol conseguiram
acessar o mercado de
crédito em plena pandemia, atrelando
taxas de juros a metas socioambientais
e de governança.
Persiste o impacto negativo da
desvalorização cambial sobre o
endividamento em dólar (que representa
cerca de 35% do endividamento
do setor), particularmente,
para as empresas com
compromissos a vencer no curto
prazo.
Passada a fase de adaptação e
ajustes à nova realidade trazida
pela pandemia, é tempo de acelerar
a transformação e a inovação
das organizações do setor
sucroalcooleiro. A pandemia não
só amplificou os sinais de ruptura
que vinham se formando no mercado
de combustíveis para fins
de transportes no mundo inteiro,
como trouxe mudanças estruturais
e desafios, entre os quais, os
preços de equilíbrio a médio prazo,
mas também oportunidades
para o setor sucroalcooleiro no
país. E para enfrentar os desafios
será necessária uma mudança
radical na forma de produzir em
direção à transformação digital
das operações e na cultura das
organizações frente à inovação
nos modelos de negócios.
Quanto mais avançada a organização
estiver nessa jornada de
transformação digital e inovação,
maior a resiliência e maior o potencial
de crescimento no futuro
(orgânico e inorgânico). Essa
transformação se dará tanto no
campo, como no processamento
e no backoffice, portanto, estamos
falando da Agrícola 4.0, Indústria
4.0 e Backoffice 4.0. No
primeiro momento, essa transformação
está se concentrando na
Quanto mais avançada a organização estiver nessa
jornada de transformação digital e inovação, maior a
resiliência e maior o potencial de crescimento no futuro
melhoria da eficiência operacional,
redução de custos e melhoria
do nível de compliance das usinas,
mas as oportunidades não
pararam aqui e o movimento seguinte
se dará na monetização de
dados através de ecossistemas
próprios ou compartilhados e,
por fim, na gestão de plataformas
digitais colaborativas, alavancando
novos modelos de negócios
e abrindo um novo horizonte
para o crescimento.
Em outras palavras, um novo
mundo de oportunidades está se
abrindo para o agronegócio e
para o setor sucroalcooleiro.
Quem sair na frente terá o privilégio
de colher os frutos primeiro,
tornando-se referência para o
mercado. Não estamos falando
de uma corrida de 100 metros,
mas sim de uma maratona, que
exigirá não só domínio de novas
tecnologia digitais, mas uma mudança
no modelo mental. Tratase
de uma transformação cultural
digital profunda nas empresas do
setor nos próximos anos
(*) Giovana Araújo é sócia líder
de agronegócio da KPMG e
Martiniano Lopes é sócio de
consulting da KPMG
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Jornal Paraná