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Jornal Paraná Fevereiro 2021

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OPINIÃO

É tempo de investir em resiliência no setor

Um novo mundo de oportunidades

está se abrindo. Quem sair

na frente terá o privilégio

de colher os frutos primeiro

Por Giovana Araújo

e Martiniano Lopes

No início do ano passado,

o cenário que se

desenhava para o setor

sucroalcooleiro era de

recuperação de rentabilidade em

um contexto de retomada dos

preços do açúcar no mercado internacional

e de redução da taxa

de juros básica da economia,

particularmente relevante para

um segmento intensivo em capital

com um contingente não desprezível

de empresas ainda com

elevado nível de alavancagem. A

única nuvem que persistia no horizonte

do setor era o preço do

petróleo no mercado internacional

e o impacto de uma eventual

apreciação do real frente ao dólar

na paridade de importação da gasolina

e, consequentemente, nos

preços do etanol no mercado interno.

A pandemia da covid-19 não

trouxe apenas uma reversão de

expectativas como pegou o setor

sucroalcooleiro em um momento

particularmente delicado, no início

da moagem da safra 2020/

21 na região Centro-Sul. Os preços

do etanol chegaram a cair

quase 40% no início da pandemia,

entre final de março e início

de abril, motivados pela retração

da demanda e preocupações

com capacidade de armazenagem

do etanol, assim como, pela

forte queda dos preços do petróleo

no mercado internacional, que

balizam a formação de preços da

gasolina no Brasil. E não menos

importante, a aversão a risco

pautou o mercado de crédito e foi

precificada no custo das operações

de financiamento junto a

empresas do setor.

A tormenta passou, mas o mar é

revolto. A demanda de etanol no

país ainda acumula retração em

relação ao mesmo período do

ano passado, mas essa retração

foi mais do que compensada pelo

aumento da demanda de açúcar

na safra 2020/21, 2,2 vezes

maior em volume, medido em

Açúcar Total Recuperável (ATR).

A forte desvalorização do real

frente ao dólar reforçou a competividade

do açúcar do Brasil no

mercado internacional e favorece

a recuperação da participação de

mercado do país no mercado

global. As exportações de açúcar

seguem atrativas e os mercados

futuros têm gerado oportunidades

de fixação acima de R$

1.700/tonelada. O preço do petróleo

WTI (referência para o mercado

norte-americano) ficou

abaixo do mesmo período do ano

anterior, mas a desvalorização

cambial amorteceu, substancialmente,

o impacto dessa queda

sobre os preços da gasolina na

refinaria no Brasil, balizado pela

paridade de importação. Os custos

de captação das operações

de crédito com menor risco estão

convergindo para os níveis précrise,

enquanto operações com

maior risco seguem com custos

mais altos.

Dito isso, algumas empresas do

setor de açúcar e etanol conseguiram

acessar o mercado de

crédito em plena pandemia, atrelando

taxas de juros a metas socioambientais

e de governança.

Persiste o impacto negativo da

desvalorização cambial sobre o

endividamento em dólar (que representa

cerca de 35% do endividamento

do setor), particularmente,

para as empresas com

compromissos a vencer no curto

prazo.

Passada a fase de adaptação e

ajustes à nova realidade trazida

pela pandemia, é tempo de acelerar

a transformação e a inovação

das organizações do setor

sucroalcooleiro. A pandemia não

só amplificou os sinais de ruptura

que vinham se formando no mercado

de combustíveis para fins

de transportes no mundo inteiro,

como trouxe mudanças estruturais

e desafios, entre os quais, os

preços de equilíbrio a médio prazo,

mas também oportunidades

para o setor sucroalcooleiro no

país. E para enfrentar os desafios

será necessária uma mudança

radical na forma de produzir em

direção à transformação digital

das operações e na cultura das

organizações frente à inovação

nos modelos de negócios.

Quanto mais avançada a organização

estiver nessa jornada de

transformação digital e inovação,

maior a resiliência e maior o potencial

de crescimento no futuro

(orgânico e inorgânico). Essa

transformação se dará tanto no

campo, como no processamento

e no backoffice, portanto, estamos

falando da Agrícola 4.0, Indústria

4.0 e Backoffice 4.0. No

primeiro momento, essa transformação

está se concentrando na

Quanto mais avançada a organização estiver nessa

jornada de transformação digital e inovação, maior a

resiliência e maior o potencial de crescimento no futuro

melhoria da eficiência operacional,

redução de custos e melhoria

do nível de compliance das usinas,

mas as oportunidades não

pararam aqui e o movimento seguinte

se dará na monetização de

dados através de ecossistemas

próprios ou compartilhados e,

por fim, na gestão de plataformas

digitais colaborativas, alavancando

novos modelos de negócios

e abrindo um novo horizonte

para o crescimento.

Em outras palavras, um novo

mundo de oportunidades está se

abrindo para o agronegócio e

para o setor sucroalcooleiro.

Quem sair na frente terá o privilégio

de colher os frutos primeiro,

tornando-se referência para o

mercado. Não estamos falando

de uma corrida de 100 metros,

mas sim de uma maratona, que

exigirá não só domínio de novas

tecnologia digitais, mas uma mudança

no modelo mental. Tratase

de uma transformação cultural

digital profunda nas empresas do

setor nos próximos anos

(*) Giovana Araújo é sócia líder

de agronegócio da KPMG e

Martiniano Lopes é sócio de

consulting da KPMG

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