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OPINIÃO
Descarbonização é o novo desafio
para a indústria sucroenergética
País deu um passo gigantesco com a criação do Proálcool;
com o Renovabio, Brasil avança rumo à mobilidade sustentável
Evandro Gussi (*)
Em um mundo globalizado,
estar na vanguarda
é primordial em
qualquer área, mas
principalmente se a questão for
relativa aos pilares do ESG (governança
ambiental, social e
corporativa).
No campo ambiental, o país deu
um passo gigantesco quando
decidiu introduzir o etanol em
sua matriz energética com a
criação do ambicioso programa
Proálcool, em plena crise do petróleo,
em 14 de novembro de
1975. Com esse passo, o Brasil
conseguiu desenvolver o primeiro
biocombustível comercial
do mundo.
As montadoras lançaram os primeiros
carros movidos exclusivamente
à álcool no fim da década
de 1970. Era uma aposta
e uma resposta visando reduzir
a dependência de combustíveis
fósseis importados. Em 2003,
assistimos a mais uma inovação
que potencializou o uso do
etanol combustível no país: o
lançamento dos veículos flexfuel.
Desde então, os avanços do
setor sucroenergético não cessaram.
De maneira voluntária, a
cadeia praticamente estabeleceu
o fim das queimadas da
palha na colheita da cana-deaçúcar.
A mecanização ampliou
o uso de tecnologia nos canaviais
e, se não bastasse, estabeleceu
um dos maiores processos
de requalificação profissional
que o Brasil já conheceu:
o antigo cortador de cana ocupa
outras funções, e as modernas
e eficientes usinas continuam
como geradoras de emprego.
São 360 unidades produtoras
em atividade hoje no país, gerando
mais de 700 mil empregos
formais apenas no setor
produtivo. Somados os empregos
indiretos, temos cerca de 2
milhões de pessoas empregadas
na cadeia da cana-de-açúcar.
E isso utilizando apenas
1,2% do território brasileiro.
O setor é pujante e gerou US$
6,2 bilhões (R$ 34 bilhões) em
divisas externas em 2019 com
as exportações de açúcar e de
etanol. O valor bruto movimentado
pela cadeia sucroenergética
supera US$ 100 bilhões,
com um PIB de aproximadamente
US$ 40 bilhões (R$ 219
bilhões) (montante equivalente
a cerca de 2% do PIB brasileiro).
A cana, como a primeira fonte
de energia renovável do país, é
responsável por 18% da matriz
nacional ou 39% de toda a energia
renovável ofertada no país.
Esse percentual já posiciona o
Brasil acima da média mundial
(13,9%) e dos países desenvolvidos
da OCDE (10,8%) no uso
de energias limpas e renováveis.
Com o comprometimento absoluto do setor nas questões
socioambientais, queremos avançar mais naquilo que
fazemos de melhor: contribuir para que o Brasil seja
o líder global em mobilidade sustentável.
Os benefícios do uso do etanol
associados à saúde pública impressionam:
trabalho desenvolvido
por pesquisadores da
Universidade de São Paulo concluiu
que o uso do biocombustível
nas oito principais regiões
metropolitanas do Brasil tem
sido responsável pela redução
de quase 1.400 mortes e mais
de 9.000 internações anuais
ocasionadas por problemas
respiratórios e cardiovasculares
associados a queima de combustíveis
fósseis.
Quando avaliadas as emissões
de gases causadores de efeito
estufa (GEE) no ciclo de vida
dos combustíveis, o etanol proporciona
uma redução de até
90% da emissão de GEE em relação
à gasolina.
Nesse ano estamos novamente
na vanguarda com o maior programa
de descarbonização já
lançado: o Renovabio. O programa
visa reduzir as emissões
no setor brasileiro de transporte,
ampliando o uso de biocombustíveis.
Assim, com o comprometimento
absoluto do setor nas
questões socioambientais, queremos
avançar ainda mais naquilo
que fazemos de melhor:
contribuir, mesmo quando o sol
se põe, para que o Brasil seja o
líder global em mobilidade sustentável.
Evandro Gussi é diretor-presidente
da União da Indústria
de Cana-de-Açúcar (Única)
2
Jornal Paraná
SAFRA 2020/21
Começa a entressafra no PR
A maior parte das usinas encerrou suas atividades em novembro, ficando
em operação, em dezembro, só a Usina Melhoramentos, de Nova Londrina
Até meados de dezembro
todas as
unidades industriais
do setor sucroenergético
no Paraná paralisaram
suas atividades dando
início ao período de entressafra,
normalmente aproveitado
pelas usinas para manutenção
de suas instalações e
maquinários, segundo o presidente
da Alcopar, Miguel
Tranin. A maior parte das usinas
encerrou suas atividades
ainda em novembro, ficando
somente uma unidade em
operação em dezembro, a
Usina Melhoramentos, de
Nova Londrina.
Conforme levantamento da Alcopar,
a safra acabou sendo
antecipada em 15 dias em
média. “O clima mais seco
desde o início da colheita acelerou
o processo. Isso favoreceu
o ritmo da colheita,
permitindo um maior aproveitamento
de tempo, que ficou
acima da média histórica. Os
volumes de matéria-prima esmagados
nas quinzenas foram
superiores às médias
normais”, comenta Tranin.
No acumulado da safra, até o
dia 1 de dezembro, já tinham
sido esmagadas 32,179 milhões
de toneladas de canade-açúcar,
95,9% das 33,543
milhões de toneladas de cana
estimadas para processamento
nesta safra. O volume moído
é 3% inferior aos 33,189
milhões de toneladas de cana
processadas no mesmo período
do ano safra 2019/20.
A expectativa é de fechar a
safra 2020/21 com números
semelhantes aos do período
anterior. Como normalmente a
colheita é retomada no Paraná
antes do período computado
como da nova safra, a partir
de 1 de abril de cada ano, a
Alcopar calcula que a safra
deve encerrar dentro dos números
previstos.
Com 2,513 milhões de toneladas
de açúcar produzidas
até o dia 1 de dezembro,
28,1% a mais que no mesmo
período da safra passada
quando tinham sido fabricados
1,961 milhão de toneladas,
o Paraná retoma sua
tradição de produção com mix
mais açucareiro. A previsão
inicial é de que seriam produzidas
2,414 milhões de toneladas
de açúcar, mas os
números já foram superados
em 4,1%.
Dos 1,312 bilhão de litros esperados
de etanol total, sendo
791 milhões de litros de etanol
hidratado e 521,2 milhões
de litros de anidro, até o momento
foram produzidos
1,129 bilhão de litros de etanol
total, 28% a menos do que
no mesmo período do ano
passado (1,569 bilhão de litros).
Desse total, 623,5 milhões
de litros são de etanol
hidratado, 39,5% a menos
(1,030 bilhão de litros) e
505,8 milhões de anidro,
6,2% a menos (539,3 milhões
de litros).
A quantidade de Açúcares Totais
Recuperáveis (ATR) por
tonelada de cana, também no
acumulado da safra 2020/21
ficou 0,6% abaixo do valor observado
na safra 2019/20, totalizando
142,14 kg de ATR/t
de cana, contra 142,95 kg
ATR observados na safra passada.
Pelo terceiro ano consecutivo
houve perdas nas lavouras no
Paraná por conta do clima adverso,
comenta Tranin. Diante
da crescente renovação dos
canaviais paranaenses, no início
da safra a expectativa era
de que a safra 2020/21 seria
maior, mas novamente, as
longas estiagens aos longo do
ano prejudicaram o desenvolvimento
dos canaviais, apesar
de favorecer uma maior concentração
de ATR por tonelada
de cana e um melhor
aproveitamento industrial com
menos dias parados.
Com uma produção mais açucareira,
como é tradição no
Paraná, 57,42% da cana foram
utilizadas para a produção
de açúcar e 42,58% para
o etanol. No mesmo período
do ano passado, 56,79% da
matéria-prima disponível tinham
sido destinadas à fabricação
de etanol e 43,21%
para o açúcar.Nas duas últimas
safras, devido aos baixos
preços do açúcar no mercado
internacional, ante os superávits
repetidos de produção no
mundo, o perfil de produção
no Paraná foi mais alcooleiro,
seguindo uma tendência nacional.
4
Jornal Paraná
Centro-Sul esmaga
594,88 milhões de toneladas
Moagem é praticamente a mesma verificada na safra 2019/20. Aumento de volume
será definido pelo que for processado antes do início da próxima safra em abril
Aquantidade de canade-açúcar
processada
pelas usinas do
Centro-Sul totalizou
no acumulado desde o início
da safra até 1º de dezembro
deste ano, 594,88 milhões de
toneladas, crescimento de
3,32% no comparativo com o
mesmo período do último ciclo
agrícola.
“A moagem observada até o
momento é praticamente a
mesma verificada no final da
safra 2019/20. Portanto, o aumento
de volume na safra
2020/21 será definido pela
quantidade de cana-de-açúcar
a ser processada entre dezembro
e março de 2021”, analisa
o diretor técnico da União da
Indústria de Cana-de-Açúcar
(Única), Antonio de Padua Rodrigues.
A qualidade da matéria-prima
processada no acumulado até
1º de dezembro permanece
em patamar superior ao observado
no ciclo 2019/20: aumento
de 4,24%, atingindo
145,13 kg de Açúcares Totais
Recuperáveis (ATR) por tonelada
de cana.
Em relação ao número de usinas
em operação, 61 empresas
encerraram a moagem na
segunda quinzena de novembro.
No acumulado desde o
início da safra até 1º de dezembro,
já são 214 unidades
com a safra 2020/21 encerrada,
ante 206 verificadas no
mesmo período de 2019. Para
a próxima quinzena, outras 32
empresas devem finalizar as
operações.
A produção acumulada de
açúcar na safra 2020/21 atingiu
a marca de 38,09 milhões
de toneladas, com elevação
de 44,16% em relação ao
ciclo 2019/20. O índice representa
um recorde histórico da
quantidade de adoçante produzido.
Como reflexo, 46,30% da
cana-de-açúcar foram destinados
à produção de açúcar
até o 1º de dezembro, ante
34,59% registrados na mesma
data de 2019. A despeito
desse fato, na safra 2020/21
a maior par-te da cana-deaçúcar
processada (53,70%)
continua a ser direcionada
para a fabricação de etanol.
No acumulado desde o início
da safra até 1º de dezembro,
a produção de etanol alcançou
28,91 bilhões de litros,
dos quais 19,51 bilhões de litros
de etanol hidratado e 9,41
bilhões de litros de etanol anidro.
Na segunda quinzena de
novembro, 176,27 milhões de
litros de etanol hidratado
foram convertidos em etanol
anidro, aumentando a oferta
do biocombustível. “A fraca
demanda por hidratado estimulou
a desidratação do produto
e a conversão em etanol
anidro, que deve ter oferta garantida
na entressafra. A produção
interna é suficiente para
garantir a mistura obrigatória
durante o período de pausa na
moagem sem a necessidade
de importação de produto”,
explicou o executivo da Unica.
Em relação ao etanol de
milho, desde o início da safra
2020/21 até 1º de dezembro,
a produção somou 1,64 bilhão
de litros, com um aumento
de 84,85% sobre o
volume apurado para o
mesmo período de 2019. Rodrigues
esclarece que “se
mantido o ritmo de produção
observado até o momento, a
fabricação de etanol de milho
pode quase dobrar na comparação
do ciclo 2020/2021
com o volume ofertado em
2019/2020”.
O volume comercializado na
segunda metade de novembro
de 2020 somou 1,40 bilhão
de litros (-3,19% em relação
ao mesmo período de 2019).
Desse total, as exportações
representam 102,43 milhões
de litros (+26,06%) e 1,29
bilhão de litros (-4,93%) foram
negociados dentro do território
nacional.
A quantidade comercializada
de etanol anidro na quinzena
registrou aumento de 4,85%,
o que equivale a 449,23 milhões
de litros, contra 428,46
milhões de litros em 2019.
As vendas de etanol hidratado,
por outro lado, retraíram
6,58% na segunda metade
de novembro, com total
de 948 milhões de litros entregues
pelas unidades produtoras.
O etanol destinado a outros
fins permanece em trajetória
ascendente, com 55,01 milhões
de litros comercializados,
alta de 36,71% frente a
mesma quinzena de 2019. No
acumulado da safra, o crescimento
é de 33,33%, com 908
milhões de litros vendidos até
1º de dezembro.
A despeito da alta no consumo
de etanol não carburante,
o volume total de etanol
comercializado até o término
de novembro do atual
ano safra apresenta queda de
11,75% em relação ao ciclo
agrícola anterior. No total, são
20,47 bilhões de litros vendidos,
dos quais 13,78 bilhões
referem-se a etanol hidratado
(-15,10%) e 6,69 bilhões a
etanol anidro (-3,96%).
“Essa maior venda de etanol
não carburante no mercado
interno e o aumento das exportações
não foram suficientes
para reverter a queda
nas vendas totais de etanol
na atual safra. O impacto da
Covid-19 na demanda por
combustíveis no início da safra
foi severo e repercutiu no
total comercializado pelas
usinas do ciclo 2020/2021”,
destacou Rodrigues.
Jornal Paraná 5
HOMENAGEM
Morre Serafim Meneghel,
um dos fundadores da Alcopar
Também esteve à frente da Usina de Açúcar e Álcool Bandeirantes S.A
por cerca de três décadas, deixando a administração da usina em 2003
Um dos fundadores e
ex-diretor da Alcopar,
Serafim Meneghel,
morreu no último
dia 22 de novembro,
aos 88 anos, em São Paulo,
após ficar internado no hospital
Albert Einstein por alguns
dias. O motivo do falecimento
foi causas naturais.
Seu corpo foi cremado
dia 23 de novembro, em crematório
da capital paulista.
Ele deixou a esposa, Carlota
Meneghel, e três filhos: Luiz
Meneghel Neto, Serafim Meneghel
Filho e Karla Meneghel.
Dono da Agropecuária Santa
Catarina S.A., Serafim Meneghel
– paulista de Piracicaba,
sempre se destacou
como liderança política na região
e esteve à frente da Usiban,
Usina de Açúcar e Álcool
Bandeirantes S.A por
cerca de três décadas, deixando
a administração da
Usiban em 2003. Atualmente,
a usina, fundada em 1966
por seu pai, Luiz Meneghel, é
presidida por um dos irmãos
de Serafim, Daniel Meneghel.
O ex-diretor da Alcopar também
foi dirigente do União
Bandeirante Futebol Clube,
fundado em 1964 por seu
pai, Luiz Meneghel, sendo
considerado um dos dirigentes
mais folclóricos do futebol
paranaense. O clube foi
cinco vezes vice-campeão
paranaense (1966, 1969,
1971, 1989 e 1992) e por diversas
vezes campeão do interior,
entre as décadas de
1960 e 1970. Patrocinado
pela usina de açúcar da família,
o time parou suas atividades
em 2006, após o afastamento
do patrono Serafim
Meneghel por problemas de
saúde. O mandatário esteve à
frente do clube por quatro décadas.
Como dirigente, Serafim Meneghel
era polêmico e colecionou
histórias – sejam elas
verídicas ou não. O fato é que
ele várias vezes entrou no
gramado para reclamar com
a arbitragem. Uma vez teria
feito o árbitro mudar um pênalti
já marcado e dar impedimento
para outro time. Entre
as lendas, a mais famosa
é que Meneghel um dia teria
atirado na bola em um jogo
para evitar que um pênalti
fosse cobrado.
O extinto clube foi responsável
por revelar grandes jogadores
para o futebol brasileiro, como
Paquito e Tião Abatiá, que se
consagraram jogando pelo
Coritiba, e o goleiro Fábio, ídolo
no Cruzeiro. Em 1964, o
clube se chamava Usina Bandeirantes
Futebol Clube, mas
depois veio a fusão com o
Guarani e foi sugerido o nome
de União Bandeirante.
Juntamente com familiares,
Serafim investiu também em
agricultura e pecuária, com
propriedades em Santa Catarina,
Mato Grosso do Sul e
Paraná, onde se consolidou
como um dos principais selecionadores
nacionais da
raça Limousin à frente da Estância
3M, em Marilândia do
Sul. Também foi criador de
Nelore, Guzerá e equinos.
6
Jornal Paraná
PROJETO
Etanol em carro elétrico
une montadoras e usinas
Ideia é transformar o álcool em alternativa
para os carros híbridos e também para os
movidos a células de combustível
Uma frente formada por
montadoras de veículos
e usinas de álcool
iniciou discussões
com governo federal sobre um
projeto para colocar o etanol
como uma das soluções globais
para mover carros elétricos sem
gerar poluentes, segundo reportagem
O Estado de S.Paulo. A
ideia do grupo é acelerar pesquisas
e desenvolvimento para uso
do etanol em carros híbridos e
também movidos à célula de
combustível, por meio da retirada
do seu hidrogênio para movimentar
o motor elétrico, o que
seria uma opção mais barata e
menos poluente. Os dois setores
dizem estar dispostos a investir
na empreitada.
A tecnologia, que ainda não
tem produção em escala comercial,
consiste em separar o
hidrogênio do etanol e produzir
eletricidade por meio de um
processo químico realizado
dentro do próprio veículo ou em
postos de gasolina, com uma
pegada de carbono muito baixa.
O setor defende que o modelo
reduz a necessidade de
grandes e caras baterias e evita
a geração de energia por fontes
fósseis para carregar os veículos.
Também poderia usar um
combustível abundante no País
e a infraestrutura de distribuição
de combustíveis já instalada,
sem necessidade de
aportes em pontos de carregamento
e na rede de distribuição
de eletricidade, segundo reportagem
da Folha de São Paulo.
Além disso, as energias hidrelétrica,
eólica e solar ficariam
para o abastecimento industrial
e residencial.
Só para desmobilizar toda a infraestrutura
de abastecimento
de líquidos e transformar em
fornecimento de energia elétrica
seriam gastos cerca de R$ 1,5
trilhão, segundo estudos da
Empresa de Pesquisa Energética
(EPE). Já há países interessados
no projeto brasileiro,
entre os quais Índia, Indonésia,
Tailândia e África do Sul, segundo
o presidente da União da
Indústria de Cana de Açúcar
(Unica), Evandro Gussi. "A mobilidade
desse século vai ser
plural, com uma pluralidade de
rotas tecnológicas", diz Gussi.
"E nesse aspecto, consideramos
o etanol um combustível
não só do presente, mas do futuro".
A sugestão de formar essa
frente partiu do presidente da
Volkswagen América do Sul e
Brasil, Pablo Di Si, para quem a
nova tecnologia “poderia dar ao
Brasil outra dimensão a nível
global” para o projeto de eletrificação
veicular. A proposta já
teve a adesão das 150 associadas
da Unica e de algumas
montadoras, mas a ideia é que
a Associação Nacional dos Fabricantes
de Veículos Automotores
(Anfavea) assuma o tema.
Técnicos dos ministérios da
Agricultura, Infraestrutura e Minas
e Energia que ouviram a
proposta demonstraram interesse,
informa Di Si. Para desenvolver
o projeto, o executivo
tem apoio do presidente mundial
da Volkswagen, Herbert
Diess. Em recente entrevista,
ele disse que “o etanol é adequado
para a etapa intermediária
de um acionamento totalmente
elétrico” e que “existe
uma indústria no Brasil para
isso”.
No caso da Europa, afirma
Diess, não há suporte político
para biocombustíveis. Vários governos
da região incentivam a
compra de carros elétricos com
subsídios que chegam a 10 mil,
mas, conforme lembra Gussi, há
locais em que o fornecimento da
energia vem de fontes fósseis.
“O carro não emite poluentes,
mas a eletricidade que ele usa
vem de uma usina a diesel ou
carvão”, diz. “A eletrificação é
importante, ajuda, mas sozinha
não é capaz de resolver o problema
das emissões.”
Segundo Di Si, além de montadoras,
usinas e governo, o projeto
vai envolver diversas universidades
para o desenvolvimento
da tecnologia que permita ao
etanol ser mais uma alternativa
para abastecer carros elétricos.
“Já se consegue captar energia
do sol e do vento, por que não
fazer o mesmo com o etanol?”,
questiona o executivo, para
quem o Brasil poderá inclusive
exportar conhecimento e inovação.
A nova investida de colocar o
etanol como um dos protagonistas
do “combustível verde” ocorre
num momento em que todo o
mundo discute formas de reduzir
emissões. “Com todas as tormentas
da pandemia da covid-
19, uma das coisas que ficou de
pé foi a demanda por uma mobilidade
sustentável”, ressalta
Gussi. De acordo com ele, estudos
mostram que um veículo rodando
a etanol tem emissões
menores do que o melhor elétrico
rodando na Europa hoje,
principalmente quando se leva
em consideração todo o processo
produtivo - no caso do
etanol, desde o plantio da cana.
“Teríamos uma fonte energética
de baixíssima pegada de carbono
aliada à eletrificação, que
traz ainda mais eficiência para
o processo”, diz o presidente da
Unica. Ele lembra que o Brasil já
tem experiências e cita os casos
da Toyota, fabricante no
Brasil do Corolla híbrido flex,
que permite o uso de gasolina
ou etanol para gerar a energia
da bateria; estudos da Nissan
para uso do etanol de segunda
geração como fonte de energia
de veículos a célula de combustível;
e o projeto da Fiat de
um motor só a etanol, que vai
reduzir a diferença de consumo
do combustível da cana de açúcar,
hoje 30% maior que o da
gasolina.
"O Brasil tem todas as perspectivas
para se transformar no
grande centro de pesquisa e
desenvolvimento de eletrificação
a partir de célula combustível
a etanol", diz Gussi, lembrando
que o incentivo dado
pelo programa Proálcool levou
o país ao pioneirismo na difusão
dos carros bicombustíveis.
Pablo Di Si, presidente da Volkswagen
na América do Sul e Caribe
Gussi afirma ainda que, em
breve, o etanol será neutro em
emissões, pois, para certificarse
no programa RenovaBio –
programa do governo federal
que tem objetivo de elevar a
produção de biocombustíveis
no País, toda usina precisa
medir o nível de emissão em
cada um dos processos produtivos
- por exemplo, o do trator
a diesel usado na plantação da
cana - e buscar formas de neutralizá-la.
“É a primeira vez que, provavelmente,
se tem uma demanda
por descarbonização
tão forte, tão evidente, sem
ponto de retorno como essa
que estamos experimentando.
Ou seja, há uma demanda fortíssima
por redução de emissões
e há uma corrida por
alternativas que ofereçam esse
processo, e nós temos uma
das grandes soluções para o
mundo”, diz Gussi.
Procurada pelo jornal O Estado
de S.Paulo para comentar o assunto,
a Anfavea informou que o
tema ainda está sendo debatido
com as associadas da entidade
dentro da segunda fase do programa
Rota 2030 (que estabelece
metas para eficiência energética)
e ainda não há um alinhamento
das empresas.
Foto: Werther |Santana/ Estadão
Jornal Paraná 7
DOIS
PONTOS
Bioeletricidade
No outubro mais seco dos últimos
90 anos, a geração de
bioeletricidade ajudou a amenizar
o impacto da falta de
chuva nos reservatórios das
hidrelétricas. A energia produzida
a partir de biomassa forneceu
mais de 3 mil GWh ao
Sistema Interligado Nacional
(SIN), equivalente a mais que
o dobro da geração a carvão
em outubro. O baixo volume
de chuva tem obrigado também
o SIN a aumentar a produção
nas termoelétricas fósseis,
mais caras, como forma
de economizar água dos reservatórios
das hidrelétricas,
principalmente as instaladas
nos submercados Sudeste/
Centro-Oeste e Sul.
Eleição
Oferta
A Frente Parlamentar da Agropecuária
elegeu um novo presidente
para os próximos dois
anos. O deputado Sérgio Souza
(MDB-PR) vai estar à frente
do grupo a partir do próximo
ano e até o fim de 2022. Entre
as conquistas do setor, Souza
destacou a aprovação da MP
do Agronegócio, que se transformou
na Lei 13.986/2020.
A medida desburocratiza o
acesso do produtor rural ao
Balanço
crédito e pode ampliar em
R$ 5 bilhões as receitas de financiamento
para o agronegócio
no Brasil. Sérgio Souza
afirmou que, para os próximos
anos, o trabalho vai ser
de estreitamento das relações
da Frente Parlamentar com o
Poder Judiciário. Outro ponto
que vai merecer a atenção
dos parlamentares ligados ao
agronegócio é a regularização
fundiária.
No acumulado – de janeiro
a outubro deste ano – a
oferta de bioeletricidade
para o sistema nacional foi
de 23.764 GWh, representando
um aumento de 2%
em relação ao mesmo período
em 2019. Volume
equivalente a atender 14,2%
do consumo industrial de
energia elétrica do país durante
todo o ano passado ou
12,3 milhões de unidades
residenciais, segundo a Unica.
Com relação específica
à geração de energia elétrica
pelo setor sucroenergético,
de janeiro a setembro de
2020, a bioeletricidade ofertada
ao SIN foi 17.014 GWh
(alta de 3% em relação à
igual período em 2019), representando
82% da geração
da bioeletricidade em
geral no período. Estima-se
que essa energia renovável
tenha evitado a emissão direta
de 5,3 milhões de toneladas
de CO 2 , marca que
somente seria atingida com
o cultivo de 37 milhões de
árvores nativas ao longo de
20 anos.
Um levantamento do Itaú
BBA junto ao balanço financeiro
de 59 usinas de açúcar
e etanol do Centro-Sul
responsáveis por 59% do
processamento da safra
2019/20 de cana apontou
que, embora os resultados
da última temporada tenham
proporcionado retomada
dos investimentos,
mais de 13% delas terão dificuldades
para manter a
operação em 2021.Tratamse
de oito empresas com
maior nível de endividamento
em relação à receita
e que, independentemente
do cenário de preços, têm
apresentado maior dificuldade
para equilibrar as contas.
Economia de água
Dos 17.014 GWh gerados pelo
setor sucroenergético para a
rede, entre janeiro e setembro
deste ano, 82% foram ofertados
entre maio e setembro
(período seco no setor elétrico).
Trata-se de uma geração
equivalente a ter poupado 12%
da água disponível associada
à energia máxima que pode
ser gerada nos reservatórios
das hidrelétricas do submercado
Sudeste/Centro-Oeste, pela
maior previsibilidade e disponibilidade
da bioeletricidade no
período seco.
8
Jornal Paraná
A Circular System SPC (Social
Purpose Corporation),
pioneira da moda sustentável
nos Estados Unidos – está
sendo pioneira também na
tecnologia transformadora de
resíduos em fibra de grau têxtil.
O rejeito desses alimentos
Açúcar
Bioeconomia
A maior produção de açúcar
no Brasil deve levar a um
avanço na oferta global do
adoçante, afirma o Departamento
de Agricultura dos Estados
Unidos (USDA). O
órgão projeta que a produção
da safra global 2020/21,
que começou em outubro,
aumentará em 16 milhões de
toneladas, para 182 milhões
de toneladas. O Brasil será
responsável por 75% desse
crescimento.
está virando roupas. Atualmente
a empresa transforma
folhas e cascas de cana, abacaxi
e banana, além de cânhamo
e caule de linho, mas
novos resíduos e outras biomassas
estão sendo pesquisados.
A tecnologia regenerativa
empregada na biorrefinaria
usa a química vegetal e
energia vegetal para transformação
em fibras e avança
para um novo modelo econômico
que, segundo a empresa,
pode se expandir para
outros lugares.
Começa a sair do papel a
ideia de criar um polo sucroalcooleiro
no oeste da Bahia,
nas cidades de Barra, Xique-
Xique e Muquém do São
Francisco. O objetivo é tornar
a Bahia autossuficiente
na produção de etanol e
açúcar. Hoje, o estado precisa
adquirir 85% do etanol
que utiliza de usinas instaladas
em outros estados, principalmente
em São Paulo. O
Bahia
grupo Sergio Paranhos deve
inaugurar a primeira usina
do novo polo industrial. As
obras estão avançadas. A
estimativa é que a unidade
comece a operar em meados
do ano que vem. De
acordo com o governo da
Bahia, outra grande empresa
do setor deve se instalar no
local em breve. O polo deverá
contar com 11 unidades
industriais até 2025.
Hidrogênio verde
O Programa Cana IAC desenvolveu
o inédito Indicador de
Investimentos em Ações de
Prevenção e Combate de Incêndios
em Canaviais. O objetivo
foi mensurar o investimento
estimado na prevenção
e controle de incêndios e o número
de funcionários envolvidos
em áreas de cana, usando
para isso uma amostra de
2020. A pesquisa do Instituto
Incêndio
Agronômico, da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento
de São Paulo, levantou informações
junto a 93 unidades
produtoras de açúcar, etanol e
energia na região Centro-Sul
do Brasil. No total, foram
amostrados 3,3 milhões de
hectares de área cultivada, isto
é, um terço da área total de
cana no país. Para a área pesquisada,
foram investidos R$
228 milhões na prevenção e
combate a incêndios. Extrapolando
para todo o Brasil o investimento
seria de R$ 690
milhões e o uso de 16.000
funcionários nessa atividade;
as informações levantadas demonstram
o enorme esforço
realizado pelas unidades produtoras
na prevenção e controle
de incêndios nos seus
canaviais.
Investidores apoiados pela
União Europeia lançaram um
programa que irá buscar investimento
privado, incluindo
do fundo Breakthrough
Energy Ventures de Bill Gates,
para impulsionar a indústria
de hidrogênio verde
da região. A EIT InnoEnergy
apresentou o Centro de Aceleração
Europeu para o Hidrogênio
Verde com a meta
de impulsionar o desenvolvimento
de uma “economia”
para o combustível limpo,
que pode movimentar 100
bilhões de euros (US$ 116
bilhões) por ano até 2025 e
criar 500 mil empregos. A
Europa tem como alvo o hidrogênio
verde, um combustível
de baixo carbono
criado com energia renovável,
como solução para reduzir
as emissões no setor
de transportes e em indústrias
como a de aço, cimento
e produtos químicos.
A UE quer destinar 470 bilhões
de euros para infraestrutura
de hidrogênio até
2050.
Jornal Paraná
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