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46ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por Joacenira Oliveira

São Pedro

do Sul

R. G. DO SUL

BRASIL

ESPIRITISMO

NO BRASIL

Graduada em Ciências Econômicas (UFSM), Especialização em Ciências da Religião (UFS) e Mestrado em Sociologia (UFS).

Palestrante espírita e monitora de estudos espíritas vinculados à Federação Espírita Brasileira. Acadêmica da Academia de

Letras Espíritas do Estado de Sergipe (ALEESE).

O Espiritismo, ao penetrar no Brasil a partir da segunda

metade do século XIX, seguiu as mesmas tendências

do Espiritismo francês, apresentando-se como uma

religião científico-filosófica. Sua expansão iniciou com

a adesão, sobretudo, de pessoas oriundas das classes

dominantes. Entretanto, a propósito de sua análise a respeito

da construção das identidades religiosas, Brandão

chama a atenção para o fato de que, aos poucos, “uma

identidade intelectualmente militante do espiritismo dos

‘primeiros anos’ foi sendo substituída por uma outra,

regida por uma dimensão mais popular de caridade assistencial,

ampla tolerância religiosa e um relativo alheamento

de questões políticas” (BRANDÃO, 1988, p. 43).

Se de um lado atenuou-se a ênfase no aspecto

científico dessa doutrina, do outro foi visível o seu crescimento

a partir de uma compreensão e uma vivência do

seu aspecto religioso.

Para os espíritas brasileiros, o aspecto religioso, é encontrado

no conjunto das obras básicas. O próprio Kardec

reintroduz e sincretiza alguns princípios fundamentais

a todas as religiões identificadas à matriz cristã, sobretudo

n’O Evangelho Segundo o Espiritismo: a existência

de Deus, a imortalidade da alma, o destino do homem

após a morte, a prática da oração e a revalorização de

noções cristãs como caridade, tolerância e compaixão.

Neste contexto, o Espiritismo não só ressemantiza aspectos

do Cristianismo como introduz o mundo dos espíritos

de uma forma mais ampla.

A ênfase na configuração religiosa do Espiritismo no

Brasil está também vinculado à pessoa de Francisco Cândido

Xavier (1910-2002), conhecido popularmente como

Chico Xavier. A figura proeminente do médium mineiro

influenciando a cultura e a sociedade brasileira, bem

como difundindo um Espiritismo brasileiro, com caracte-

rísticas religiosas, através de sua vida e obras psicografadas,

é de grande significação ao movimento espírita.

A elaboração sincrética com a “cultura brasileira” foi

um traço marcante na sua proposta religiosa, que foi a

responsável pela popularização do Espiritismo no Brasil,

a partir de 1940, época em que passa a sofrer a concorrência

de outras crenças mediúnicas como a Umbanda.

O Espiritismo absorverá do Catolicismo popular a articulação

da intercessão e da graça, prática típica do culto aos

santos dentro das concepções católicas. A literatura de

Chico Xavier contém abundantes referências aos “benfeitores

espirituais” que, a pedido, intercedem em favor de

um irmão e que conquistam graça. A figura do intercessor

relativiza e muda o perfil da dívida, fazendo transitar

da lógica impessoal e absoluta da dívida cármica para a

lógica personalizada e mediadora da dádiva, sincretizando

suas posições com a cultura católica brasileira, na qual

encontramos seus anjos, santos e benfeitores.

Percebemos, neste ponto, um sistema de dádivas estranho

a uma concepção mais linear, impessoal da Lei

do Karma, presente no Espiritismo de Kardec. A obra de

Chico Xavier evidencia uma religião das letras, que difunde

a literatura, incentiva o hábito de ler, transmite respeito

ao saber científico e, através dela, ocorre a difusão

espírita como veículo de uma religiosidade.

Hoje, o Espiritismo ocupa uma posição de destaque

no cenário religioso no Brasil e vem se desenvolvendo

há mais de cento e sessenta anos no campo religioso do

país, de forma singular, contínua e duradoura.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Religião e identidade nacional. xx. ed. Rio de Janeiro:

Graal, 1988.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. xx. ed. São Paulo: FEESP, 1993.

24 Atração_ outubro de 2021

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