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Por Joacenira Oliveira
São Pedro
do Sul
R. G. DO SUL
BRASIL
ESPIRITISMO
NO BRASIL
Graduada em Ciências Econômicas (UFSM), Especialização em Ciências da Religião (UFS) e Mestrado em Sociologia (UFS).
Palestrante espírita e monitora de estudos espíritas vinculados à Federação Espírita Brasileira. Acadêmica da Academia de
Letras Espíritas do Estado de Sergipe (ALEESE).
O Espiritismo, ao penetrar no Brasil a partir da segunda
metade do século XIX, seguiu as mesmas tendências
do Espiritismo francês, apresentando-se como uma
religião científico-filosófica. Sua expansão iniciou com
a adesão, sobretudo, de pessoas oriundas das classes
dominantes. Entretanto, a propósito de sua análise a respeito
da construção das identidades religiosas, Brandão
chama a atenção para o fato de que, aos poucos, “uma
identidade intelectualmente militante do espiritismo dos
‘primeiros anos’ foi sendo substituída por uma outra,
regida por uma dimensão mais popular de caridade assistencial,
ampla tolerância religiosa e um relativo alheamento
de questões políticas” (BRANDÃO, 1988, p. 43).
Se de um lado atenuou-se a ênfase no aspecto
científico dessa doutrina, do outro foi visível o seu crescimento
a partir de uma compreensão e uma vivência do
seu aspecto religioso.
Para os espíritas brasileiros, o aspecto religioso, é encontrado
no conjunto das obras básicas. O próprio Kardec
reintroduz e sincretiza alguns princípios fundamentais
a todas as religiões identificadas à matriz cristã, sobretudo
n’O Evangelho Segundo o Espiritismo: a existência
de Deus, a imortalidade da alma, o destino do homem
após a morte, a prática da oração e a revalorização de
noções cristãs como caridade, tolerância e compaixão.
Neste contexto, o Espiritismo não só ressemantiza aspectos
do Cristianismo como introduz o mundo dos espíritos
de uma forma mais ampla.
A ênfase na configuração religiosa do Espiritismo no
Brasil está também vinculado à pessoa de Francisco Cândido
Xavier (1910-2002), conhecido popularmente como
Chico Xavier. A figura proeminente do médium mineiro
influenciando a cultura e a sociedade brasileira, bem
como difundindo um Espiritismo brasileiro, com caracte-
rísticas religiosas, através de sua vida e obras psicografadas,
é de grande significação ao movimento espírita.
A elaboração sincrética com a “cultura brasileira” foi
um traço marcante na sua proposta religiosa, que foi a
responsável pela popularização do Espiritismo no Brasil,
a partir de 1940, época em que passa a sofrer a concorrência
de outras crenças mediúnicas como a Umbanda.
O Espiritismo absorverá do Catolicismo popular a articulação
da intercessão e da graça, prática típica do culto aos
santos dentro das concepções católicas. A literatura de
Chico Xavier contém abundantes referências aos “benfeitores
espirituais” que, a pedido, intercedem em favor de
um irmão e que conquistam graça. A figura do intercessor
relativiza e muda o perfil da dívida, fazendo transitar
da lógica impessoal e absoluta da dívida cármica para a
lógica personalizada e mediadora da dádiva, sincretizando
suas posições com a cultura católica brasileira, na qual
encontramos seus anjos, santos e benfeitores.
Percebemos, neste ponto, um sistema de dádivas estranho
a uma concepção mais linear, impessoal da Lei
do Karma, presente no Espiritismo de Kardec. A obra de
Chico Xavier evidencia uma religião das letras, que difunde
a literatura, incentiva o hábito de ler, transmite respeito
ao saber científico e, através dela, ocorre a difusão
espírita como veículo de uma religiosidade.
Hoje, o Espiritismo ocupa uma posição de destaque
no cenário religioso no Brasil e vem se desenvolvendo
há mais de cento e sessenta anos no campo religioso do
país, de forma singular, contínua e duradoura.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Religião e identidade nacional. xx. ed. Rio de Janeiro:
Graal, 1988.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. xx. ed. São Paulo: FEESP, 1993.
24 Atração_ outubro de 2021