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E por mais que faça eu, que sou<br />
uma mãe liberal e sem preconceitos,<br />
quando minha filha tiver quinze annos,<br />
hade ser também um pouco hypocrita,<br />
e não me hade dizer todos os seus<br />
pensamentos.<br />
E os pedagogos, por mais que se<br />
ponham a quatro, não poderám nun<br />
ca comprehender o que se passa no<br />
cerebro duma garota...<br />
Ah! Sim, como sou sceptica a res<br />
peito dos famosos resultados da educação<br />
!...<br />
Quanto á liberdade de ensino prefiro<br />
não responder.<br />
Diria naturalmente tolices e d'aqui<br />
até ao primeiro de Junho tenho que<br />
fazer um monte de coisas mais importantes<br />
do que pensar na lei Falloux,<br />
Mas, apezar de tudo, já que a liberdade<br />
de ensino parece perigosa a<br />
pessoas melhor informadas que eu.<br />
não ha outras liberdades, que não sám<br />
menos perigosas, a da imprensa, por<br />
exemplo... E a da embriaguês?... E<br />
a da prostituição ?...<br />
Se se suprimem todas as liberdades,<br />
que podem constituir um perigo,<br />
onde fica a liberdade?<br />
Não, é um problema muito complicado,<br />
para eu ter a pretensão de o resolver<br />
em algumas linhas.<br />
Um nosso collega da capital publi<br />
cou a nota do movimento de consultas<br />
havidas no dispensário anti-tuberculoso<br />
de Lisboa, na sexta feira, nota que<br />
transcrevemos:<br />
«Consulta de manhã — (dr. Alfredo<br />
Luiz Lopes), homens''i:74o, mulheres<br />
1:998, creanças 886.— Total 4:624 !<br />
Consulta de tarde —(dr. Henrique<br />
Monteiro), homens 336, mulheres 55o,<br />
creanças 900—Total 1:796!»<br />
Mesmo que Briareu fosse medico e<br />
vivesse, não poderia fázer conscienciosamente<br />
tal serviço, quanto mais dois<br />
simples mortaes!<br />
Verdade é que sám tuberculosos,<br />
coitados, de vida perdida; mais valle<br />
abrevial-a.<br />
Ou então o reclame é mal feito.<br />
Deve ser isto.<br />
Partiu no domingo para o Gerez,<br />
com demora de poucos dias, o nosso<br />
estimado assignante sr. José de Sousa<br />
Gonzaga.<br />
Diz-se que brevemente será publicada<br />
a reforma de instrucção primaria<br />
e a collocação do pessoal das escolas<br />
normaes de Lisboa, Porto e Coimbra,<br />
as quaes só poderám ter 7 professores<br />
cada uma.<br />
Os discípulos dos três annos do<br />
curso serám distribuídos pelos professores<br />
e no caso de ser necessário desdobrarem-se<br />
algumas por serem muito<br />
frequentadas, os respectivos professores<br />
é que téem de reger as disciplinas,<br />
acabando-se portanto com os professores<br />
auxiliares e em commissão.<br />
Continua bastante incommodado o<br />
nosso estimável assignante e amigo sr.<br />
José Augusto Correia de Brito, a quem<br />
desejamos completas melhoras.<br />
Com destino ás pontes do rio Mondego,<br />
na Figueira da Foz, encontramse<br />
na alfandega de Lisboa gò3 volumes<br />
de material, vindos do Havre.<br />
Consórcio<br />
Realizou-se ontem, na igreja de S.<br />
Bartholomeu, o enlace da sr. a D. Maria<br />
da Glória Costa, irmã do industrial<br />
sr. Alfredo Fernandes Costa, com o<br />
sr. António Augusto Neves, camarista<br />
e conceituado commerciante desta cidade.<br />
Foram paranymphos o distincto ourives<br />
sr. Manuel Martins Ribeiro, e sua<br />
esposa.<br />
Aos recem casados desejamos um<br />
futuro venturoso.<br />
Os srs. J. Santos Monteiro e Fausto<br />
„ Quadros, andam tratando de activar a<br />
construcção do jazigo de Benjamin No<br />
bre, fallecido no anno lectivo passado.<br />
Ha todo o empenho e esperança de<br />
estar concluido o jazigo para outubro,<br />
occasião que os condiscípulos escolhe<br />
ram para uma sentida manifestação ao<br />
companheiro de trabalho que deixam<br />
inorto em Coimbra.<br />
DeclcÉctcão<br />
Recebemos dos srs. Fausto<br />
Quadros e J. Santos Monteiro<br />
uma declaração que se refere á seguinte<br />
passagem do relatorio do<br />
sr. reitor da Universidade:<br />
«Tinha recusado a licença, que no<br />
dia 27 se me pedira, para reuniões políticas<br />
no páteo da Universidade, e declárado<br />
que não consentiria também<br />
que este servisse de refúgio a desordeiros,<br />
que de lá desacatassem as ordens<br />
da auctoridade superior do districto<br />
provocassem e offendessem a fôr<br />
ça pública, como, por mais de uma vez<br />
succedera, em tempos ainda não remotos.<br />
Apesar desta recusa e da soltura de<br />
tres académicos. que eu na i'éspera<br />
conseguira, sob a condição do restabe<br />
lecimento da ordem e tranquilidade pública,<br />
promettida e afiançada na presença<br />
do sr. secretário geral do districto,<br />
no dia immediato, 28, se reuniram<br />
no dito páteo cerca de 200 estudantes,<br />
para fatiarem e lerem urna carta do sr.<br />
Paiva Couceiro, visto não poderem reunir-se<br />
noutro local, em virtude das ordens<br />
prohibitivas da auctoridade policial.»<br />
Publicando, como nos é pedido<br />
pelos nossos amigos, a declaração<br />
que nos enviaram, deixamos mais<br />
uma vez consignada aqui a necessidade<br />
de terminar de vez com tam<br />
desagradavel incidente, levantado<br />
no defêsa da ideia mais nobre e<br />
mais patriótica.<br />
Tendo lido no Diário do Governo<br />
e em vários periódicos do pais o offi<br />
cio relatório que o sr. reitor da Univer<br />
sidade dirigiu ao sr. mininistro do Reino,<br />
em que se fazem apreciações mais<br />
au menos veladas, que menoscabam os<br />
abaixo assignados, vêem estes, salvo o<br />
devido respeito que tributam ao digno<br />
prelado da Universidade, declarar:<br />
— Que não assumiram perante<br />
s. ex. a o encargo do restabelecimento<br />
da ordem e tranqu lidade pública pro<br />
mettida e ajfiançada, na phras do relatório,<br />
porque isso equivaleria a con<br />
fessarem-se chefes do movimento, o<br />
que não foram, e sei ia uma prova de<br />
blasoneria ridícula, pois ninguém pode<br />
garantir a quietação duma multidão,<br />
de pensar diverso a cada individuo, de<br />
modo de vêr variavel segundo o intender<br />
consciente e reflectido de cada um.<br />
2. 0 —Que o sr. reitor da Universidade<br />
não podia acceitar semelhante<br />
declaração,, caso fosse feita, o que se<br />
não deu, porque isso equivaleria a um<br />
attestado deprimente que o critério alevantado<br />
de sua ex. a certamente repel<br />
liria.<br />
Portanto, affirmam tal não terem<br />
promettido nem affiançado, mas simplesmente<br />
aventado a ideia de que a<br />
libertação dos seus camaradas presos,<br />
talvez serenasse o tumulto, pois medidas<br />
violentas sempre promovem reacção.<br />
A interferencia dos signatarios apenas<br />
prova o desejo bem louvável de<br />
term nar uma contenda desagradavel.<br />
Um, como estudante e jornalista, e o<br />
outro, como presidente da Associação<br />
Académica, julgaram cumprir um dever<br />
interferindo pacifica e lealmente<br />
nos acontecimentos académicos d'abril.<br />
E' esta a rectificação que entendem<br />
dever f^zer ao officio relatório do sr.<br />
reitor da Universidade.<br />
Coimbra, 3i de juího de 1902.<br />
Faustol Quadros<br />
J. SantosJMonteiro<br />
Um p pagai ) macabro<br />
Lê-se num collega portuense:<br />
«Ha poucos dias, quando o sud<br />
express ia entrar na gare de New-<br />
Haven o encarregado das ba agens<br />
ouviu subitamente uma voz humana,<br />
que exclamava:<br />
«Abram a porta e tragam-me<br />
água ! Tenho sêde, sede !<br />
«Tomado de terror, o emprega<br />
do chamou o seu chefe e mais dois<br />
camaradas, dirigindo-se depois para<br />
o sítio donde haviam partido os<br />
gritos e parando perto duma mala,<br />
que tinha por cima um embrulho<br />
amarello:<br />
«—Quem está aí? — perguntou,<br />
elle.<br />
«Respondeu lhe um silvo vibrante.<br />
O medo gcnet>lisou-se e. tomo<br />
' 1<br />
EEBISTINOIA - Domingo, 3 de Agosto de 1902<br />
o conductor désse vários pontapés<br />
no embrulho, alguém disse angustiosamente:<br />
«—Piedade 1<br />
«Os personagens da aventura<br />
fugiram immediatamente, menos o<br />
conductor que, desfazendo o em-<br />
. brulho, encontrou uma gaiolla de<br />
arame,— com um belio papagaio!»<br />
O que o jornal não diz é se o conductor,<br />
vendo o louro bicho, lhe pediu<br />
o pé. *<br />
Scenas da vida<br />
Joaquim da Silva, cabouqueiro e<br />
Eleutherio Rodrigues, sapateiro amador<br />
e gatuno de golpe de profissão, sam<br />
dois amigos de Peniche, que ás duas<br />
por tres ,ogam as cristas, por varias<br />
partes desta pacata cidade.<br />
. Na noite de «exta feira, os dois sugeitos<br />
desavieram-se no jogo da bisca<br />
sueca, que estavam a jogar na casa de<br />
pasto do sr. Ruivo, á Sophia, e desafiaram-se<br />
para combate singular, no Choupal,<br />
au clair de la lune.<br />
Dito e feito e ahi veem os dois<br />
duellistas para se baterem no poético<br />
campo da honra.<br />
• Ao chegarem porem, ao cimo da<br />
rua da Louça (que volta que elles deram<br />
para ,rem para o Choupal), o Sil<br />
va declarou que não ia mais para diante<br />
e com um grosso bengalão que tra<br />
zia, descarregou taes pancadas no<br />
Kodngues; que este caiu por terra sem<br />
puder fazer uso dum rewolver que levava,<br />
talvez com o fito de atirar ao<br />
alvo, quando chegasse ao sítio destinado.<br />
O Silva, que mais parecia um martello,<br />
pois em lugar de arranhar o contendor,<br />
lhe partiu a cabeça em dois<br />
lados e contundiu fortemente um braço<br />
depois da façanha, deu ás de Villa<br />
Uogo e foi-se metter em casa.<br />
A policia, que o seguia de perto,<br />
cercou ihe o covil e intimou-o para elle<br />
se dar á prisão. E elle, vendo a im<br />
possibilidade de fugir, caiu nos braços<br />
dos mantenedores da ordem, que o<br />
conduziram para a esquadra.<br />
E agora a justiça ensinará ao cabouqueiro<br />
que o corpo dum chnstão,<br />
apezar de gatuno de golpe, não ê nenhuma<br />
pedreira, do qual se tiram blocos,<br />
como quem vae de caminho.<br />
O ferido, que foi levado em braços<br />
para casa, recolheu ontem ao hospital,<br />
por nao ter quem o tratasse.<br />
Já é abandono para um homem honrado<br />
.,.<br />
Maria da Assumpção, não gostando<br />
que seu marido tivesse os seus dares<br />
e tomares com Margarida do Carmo,<br />
chamou esta á falia e disse-lhe que era<br />
a " dar a desinquietar o seu mais<br />
que tudo.<br />
A Carmo, julgando-se também Trindade,<br />
desabou, armada com um pe<br />
uregulho, em cima da Assumpção, par<br />
tindo-lhe a cabeça em vários sítios.<br />
A scena deu se no alto do Pio, pelas_<br />
10 horas da manhã de ontem, indo<br />
a tenda queixar se á esquadra da Baixa,<br />
sendo acompanhada por um poli<br />
cia, curada na pharmácia Neves, da<br />
rua do Visconde da Luz.<br />
A_Assumpção tinha razão; e talvez<br />
lhe nao falte a justiça..,<br />
Caça<br />
Ha queixas fundamentadas de caçadores<br />
de Coimbra, contra os de aiéu<br />
mas localidades, sobretudo os de Arada,<br />
que exterminam tudo sem cuidado<br />
pela conservação da caça, que tanto<br />
tem diminuído.<br />
O antigo Club dos Caçadores foi<br />
de uma nobre iniciativa protegendo a<br />
conservação da caça pela exacta observância<br />
d is leis em tempo defezo, e<br />
comprando casaes de perdizes que soltava<br />
de modo a augmentar o número<br />
destas aves que Iam escasseando mais<br />
e mais.<br />
Pena e ter cessado da actividade<br />
tam excellente instituição.<br />
Pela direcção dos serviços fluviaes<br />
e marítimos foi mandado proce<br />
der á reparação da serventia do povo<br />
da Arzilla que iiga a estrada real 43,<br />
com a valia real do Norte, deste districto.<br />
Foi promovido a aspirante a official<br />
e cmlocado no regimento de infanteria<br />
aquartellado nesta cidade, o sr, Jose da<br />
Motta.<br />
Foi muito cumprimentado.<br />
LITTERATURA & ARTE<br />
UM LIVRO<br />
O dia d'ontem, um domingo da minha<br />
terra, apresentou um aspecto borrascoso<br />
e mal humorado. Pesadas nuvens<br />
enfarruscavam indelicadamente o<br />
setim puríssimo e calmo dum céo de<br />
Nápoles — êsse céo immaculado da minha<br />
Beira, dum azul homogéneo de<br />
saphira, muito liso, muito macio, muito<br />
avelludado. E eu, que ando sempre<br />
com o tempo, escoava mé por essas<br />
ruas, mal disposto, meditabundo, alheio<br />
a tudo, torturado por um aborrecimento<br />
intolerável e brutal. Especava-me de<br />
vez em quando á porta duma botica—<br />
na artéria principal da cavaqueira —<br />
lançava, burocraticamente, mão de um<br />
jornal, e encarcerava a paciência nas<br />
columnas do diário, entre historiações<br />
de crime, e sueltos de política. Um horror<br />
!<br />
Sem saber como, achei me num<br />
quarto acanhado d'hotel. em conversa<br />
com um rapaz de talento, contemporâneo<br />
das minhas lides académicas, cheio<br />
de conhecimentos scientificos, com uma<br />
)á longa peregrinação pelas páginas dos<br />
periódicos, baixo e loiro, d'óculos co<br />
brindo uns olhinhos prespicazes de<br />
myope, e um delicado e franzino arcaboiço,<br />
que faz pasmar como lá den<br />
tro paira uma alma d'artista, um espí<br />
rito eivado de sabedoria. Viera aqui<br />
passar uns dias. Conversámos sobre<br />
tanta coisa, que, áparte o exaggero,<br />
pudera dizer que fallámos em tudo!...<br />
Refenmo nos á necessidade duma<br />
Revista puramente de feição académica,<br />
que firmasse mais uma vez o espí<br />
rito dos estudantes de Coimbra, numa<br />
nota sério folgasã, mas che a de vico,<br />
e cheia de talento! Alguma coisa que<br />
obstasse ao desprendimento, ao desalinho,<br />
ao délaisement actual — uma Re<br />
vista que fôsse simultaneamente, uma<br />
fusão d espfritos, e uma amalgama de<br />
corações, e, até, a prophecia do futuro<br />
intellectual de muitos, como já outrora<br />
o foram os jornaes de João de Deus<br />
do Anthero, do Eça, e de tantos outros,<br />
que iniciaram as suas reputações<br />
htterárias 110 rectângulo apertado duma<br />
7Revista.<br />
Despedimo-nos. Vim para casa, e<br />
tentei escrever; colloquei a caneta, freneticamente,<br />
entre os dedos, ensaiei<br />
uma poesia: saíu-me prosa chata; um<br />
artigo de^ revolta: consegui uma catili<br />
nána anemica; um trecho de politicasurgiu<br />
me um necrológio!... Abóbora'<br />
Descoroçoei; atirei fóra a penna, e tomei<br />
dum livro. Mirei lhe a capa, o ti<br />
tulo, o nome do auctor, o recorte das<br />
lettras, —agradou me. A capa era de<br />
um azul cinzento; o livro era o Entre<br />
a multidão do poeta estudante João de<br />
Barros. Puzmealêr...<br />
... Eu conheci o João em Coimbra,<br />
no anno passado. Era eu caloiro.<br />
Um amigo, que me acompanhava, indi<br />
cou-m'o: «Olhe v., o João de Barros.»—«Qual!<br />
o das Décadas!?» inquiri<br />
eu, pasmado, espevitando a minha<br />
erudição... O João cruzava se en<br />
tao, comnosco: baixo, farfalhudo, quási<br />
imberbe, olhar vivo, figura insinuante,<br />
de monoculo pendente, e capa descaída,<br />
num desapego... era elle que passava,<br />
e que eu fitava insistente, com a<br />
minha vista ávida de impressões e co<br />
nhecimentos.<br />
—«Que asneira fez elle?...» _jnterpellei<br />
eu.<br />
— «Publicou um livro!)) satisfez o<br />
meu companheiro.<br />
Depois, contou me que João de Barros<br />
lançára já no mercado o seu primeiro<br />
trabalho em verso o — oAlgas —<br />
que agradára, cheio de envergadura e<br />
promessas. O titulo deixou-me uma<br />
impressão accentuada e bôa. Algas!...<br />
como elle descera fundo!... E parecia-rne<br />
original, aquêlle rapaz, que contradizia<br />
flagrantemente a popular asserção<br />
de que os poetas andam na lua...<br />
Eu continuei, rua da Trindade arriba,<br />
meditando em mil pequeninas coisas,<br />
imaginando versos, esboçando planos<br />
de trabalho, talhando chimeras tufadas<br />
d'ideal... enquanto o. céo lá em<br />
cima, nutria nesga, escurecia aos poucos,<br />
nos últimos lampejos da refracção!<br />
Pouco depois anoitecia... e a lua, que<br />
começara de brilhar, arrancou me á<br />
minha funda abstracção, e feg-toe poisar<br />
os olhos no &eu'disco pra^âdo e<br />
luminoso! Eu já tinha ido còm o João,<br />
ao fundo do mar...<br />
No fim desse anno, núma tarde linda<br />
de véspera de feriado, depois dura<br />
jantar de República mal cainhado, fui<br />
até á pasmaceira da Baixa, e envoivi-<br />
me, semsaborão, num labyrintho <br />
capas negras, embaraçado, de quando<br />
' c nUm ! ' ndo olhar de r ""lher<br />
pállida e fana, delgadinha e nervos<br />
tamanqueando no asphalto, e namor<br />
cando os srs. doutores, com deneuic<br />
e palavrinhas adocicadas como confe<br />
tos, na sua vozinha melada duma plan<br />
gencia de fado 1<br />
Olhei as vitrines dos livreiros e<br />
entre a chusma dos livros vários, des<br />
tacava se, numa profusão mais repara,<br />
vel, uma novidade litterária! Percorri<br />
lhe a capa: era um outro livro do João<br />
de Barros, o Pomar dos Senhos, em<br />
damei ereS legíveis'~' CásPÍté!» ex<br />
Desde então o poeta emmudeceu<br />
Passaram as férias; passou a abertura<br />
das aulas-que é quando se despenha<br />
a avalanche das obras Htterárias..<br />
Nada! Indubitavelmente, que o João<br />
se esquecera!... Um dia, quási no fim<br />
deste anno, rompe me de súbito pela<br />
casa dentro o João de Barros! Havia<br />
coisa... Nao me enganei: apparecia,<br />
afinal, um novo livro -Entre a Multidão,<br />
— com o promettimento de ser o<br />
primeiro duma série que elle intitulou,<br />
lindamente,—Palavras vãs.<br />
E, agora que aqui cheguei, cumpre-me<br />
fallar do livro:<br />
Entre a multidão, é uma obra, no<br />
seu todo, bem feita. Dum raro preciosismo<br />
de fórma, muitas vezes o auctor<br />
consegue revestir uma ideia vã de uma<br />
trama fana e rendada, que a faz sobresair.<br />
João de Barros é, sobre tudo<br />
um completo e hábil cinzelador do'<br />
verso: molda o, frisa o, perfuma-o, põearrebiques<br />
salerosos, dá-lhe tons de<br />
esmeralda e relampagos de diamante,<br />
e faz sair da sua pena, um rendilhado<br />
e poeirado soneto, como o é, por exemtolo<br />
o quinto da página 77, e beilos<br />
trechos, como essa admiravel poesia—<br />
os Collégios composta na maneira de<br />
Cezário Verde, e aquella-a Uma mulher<br />
casada—cm que cada estância é<br />
um látego, e em que cada verso vibra<br />
como uma lâmina d'aço. . . Essa outra<br />
sensual e quente -Uma creada de servir—<br />
e tantas, e quási todas, com versos<br />
palpitantes d'arrojo, e trementes de<br />
revolta!... E, embora se lhe notem,<br />
aqui e álem, pequenos desleixos de<br />
forma,^ como, por exemplo, aauella<br />
obsessão dos gg, em toda a terceira<br />
quadra da página 40, o seu livro é,<br />
todo elle, um valioso trabalho!<br />
Quando acabei de ler, quedei-me<br />
cheio de admiração e de tristeza!...<br />
A alguém, que então me visitou,<br />
iembra-me ter dito:<br />
—«Aqui está um rapaz que não devia<br />
fazer versos...»<br />
— ?!...<br />
bidõT ''' Para passar des Perce-<br />
Guarda —1902.<br />
LADISLAU PATRÍCIO.<br />
Museu ^antiguidades<br />
Foram collocados no museu dantiguidades<br />
do Instituto mais alguns padrões<br />
de azulejo polychrómico, português,<br />
(século XVII), exempl.res, em<br />
que se acha bem exemplificada a funcçao<br />
decorativa dos azulejos, de que<br />
os caprichos do século XVIII e a falta<br />
de orientação do século XIX trouxeram<br />
tanto tempo afastados os pintores.<br />
*<br />
Anda-se restaurando, no mesmo museu,<br />
um bahú, forrado de velludo, exemplar<br />
de mobiliário do século XVIII<br />
com ferragens interessantes.<br />
Na primeira sala do mesmo museu,<br />
e sobre os armários, em que estám expostos<br />
fragmentos de cerâmica, e de<br />
obras de ferro, bronze, mármore, marfim<br />
e vidro, encontrados em várias explorações<br />
de antigas povoações romanas,<br />
vai ser collocado um grande quadro<br />
com o plano do oppidum romano<br />
de Londeixa-a-Velha (Conimbrica), tendo<br />
indicadas as explorações feitas nesta<br />
região em 1889 sob a direcção de secção<br />
de Archeologia do Instituto, e a expensas<br />
de S. M. a Rainha D. Amélia.<br />
Por se não conformarem com a decisão<br />
da junta sanitaria de recrutamento,<br />
requereram nova inspecção, em<br />
Viseu, 7 mancebos da freguesia de<br />
Sernache, 2 da Sé Nova, 3 de Santa<br />
Cruz, 1 de S. Bartholomeu, 1 de Ta<br />
veiro. 3 de Santo Antonio dos O.ivaes,<br />
x de S. Ma rtinho de Bispo.<br />
A inspecção deve ter-se realizado<br />
ontem naquelia cidade,<br />
p