Revista Dr Plinio 314
Maio de 2024
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Hagiografia<br />
O sacerdote deve ser<br />
um homem íntegro<br />
Trata-se aqui de um fato digno<br />
de nossa atenção: um arcebispo da<br />
Igreja, sendo antes um grande homem<br />
do século, teve depois as qualidades<br />
opostas aos defeitos tão frequentes<br />
nos homens eclesiásticos.<br />
Eu sustento a tese – hoje se tornou<br />
uma verdade esquecida – que<br />
para ocupar um cargo eclesiástico,<br />
seja ele grande ou pequeno, é preciso<br />
ter todas as qualidades distintivas<br />
de um homem capaz de se realçar na<br />
vida temporal. Um grande bispo ou<br />
abade, um cônego ilustre, um pároco<br />
zeloso, o mínimo coadjutor de aldeia,<br />
deve ter as qualidades à altura<br />
de seu sacerdócio, deve colocar a<br />
serviço dele a capacidade de trabalho<br />
igual à que o comerciante mais<br />
ganancioso emprega para ganhar dinheiro.<br />
Ele deve ser zeloso<br />
pela glória de Deus como<br />
o político mais vaidoso<br />
de sua própria glória.<br />
Deve ser arguto pelos interesses<br />
da Igreja como o<br />
diplomata mais esperto é<br />
arguto no exercício de sua<br />
missão; ou um policial<br />
mais destro, mais habituado<br />
ao seu ofício, é arguto<br />
na missão de polícia.<br />
O clérigo não deve ser<br />
considerado um homem<br />
com algo a menos do que<br />
os outros, mas deve ser de<br />
uma estatura maior, do<br />
ponto de vista da hombridade<br />
de espírito, do que<br />
o comum dos homens do<br />
ambiente no qual ele se<br />
move.<br />
Essa é a verdadeira fisionomia<br />
do verdadeiro<br />
sacerdote. Eu compreendo<br />
que inclusive as imagens<br />
sulpicianas deformam<br />
essa visão, mas nós<br />
temos aqui o exemplo de<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
um grande arcebispo, um grande<br />
Santo que realizou essa figura, como<br />
tantos outros arcebispos, bispos,<br />
abades e sacerdotes canonizados pela<br />
Igreja. Esse Santo foi um grande<br />
guerreiro que, naquela época de<br />
guerra, tornou-se célebre por cima<br />
de todos os outros guerreiros de seu<br />
tempo e mereceu do Imperador uma<br />
honraria especial, da qual precisaríamos<br />
calcular bem o alcance debaixo<br />
de dois pontos de vista: o simbólico<br />
e o prático.<br />
Naquela época, havia uma espécie<br />
de terrorismo à arma branca; as<br />
lutas entre famílias e feudos eram<br />
muito numerosas, pois era o resto<br />
da selvageria bárbara que a Igreja<br />
ainda não tinha conseguido amansar<br />
por completo. Nestas condições,<br />
o Imperador e os grandes do mundo<br />
viviam sempre cercados de guardas<br />
que não tinham a missão protocolar<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> durante uma conferência em 1971<br />
dos guardas da Rainha da Inglaterra,<br />
por exemplo, mas tinham, de fato,<br />
de proteger o rei, o imperador, o nobre,<br />
contra um atentado que, a qualquer<br />
momento, poderia se dar.<br />
Para essa missão, os soberanos<br />
não escolhiam só os mais eficazes,<br />
mas, dentre os mais eficazes, escolhiam<br />
os que queriam honrá-lo, porque<br />
era uma honra servir o soberano.<br />
E então, numa ocasião muito<br />
honrosa, quando Oto I, Imperador<br />
do Sacro Império, estava venerando<br />
a sepultura dos Apóstolos em Roma,<br />
quis que Santo Ansfredo ficasse junto<br />
dele de espada na mão. Era uma<br />
honra conferida a um guerreiro insigne.<br />
Ele era realmente um homem<br />
virtuoso.<br />
Despretensão e aceitação<br />
inteira da vontade de Deus<br />
Por outro lado, Santo<br />
Ansfredo não quis ficar<br />
arcebispo, mas ele era<br />
tão piedoso, tão devoto,<br />
que os seus súditos – era<br />
senhor feudal – achavam<br />
que ele vivia como monge;<br />
e o Imperador, tendo<br />
vagado uma importante<br />
diocese, conferiu-lhe o<br />
governo desta. Era o tempo<br />
em que os imperadores<br />
indicavam, propunham<br />
os nomes aos Papas<br />
e estes nomeavam sempre<br />
que o candidato era digno,<br />
de maneira que a designação<br />
daquele homem<br />
pelo Imperador já equivalia<br />
a uma nomeação, apesar<br />
de não jurídica.<br />
Santo Ansfredo recusou-se<br />
dizendo ser indigno,<br />
mas, a partir do momento<br />
em que aceitou,<br />
ele se transformou num<br />
homem de Igreja, que<br />
não amoleceu nem se desengomou<br />
de repente,<br />
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