XXXVII Revista PET Farmácia - Heranças da Colonização
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Posteriormente, com o
estabelecimento de um
comércio sólido de cana-deaçúcar,
implementou-se o
sistema de escravidão africana
que perdurou por mais de 300
anos, permanecendo nos
demais ciclos econômicos do
café e da mineração. Tal qual
os indígenas, os africanos
sequestrados de suas terras
natais passaram a ser
escravizados e sujeitos a
condições desumanas.
A pluralidade e riqueza que a
cultura brasileira possui é fruto
do encontro e do choque dos
diferentes grupos étnicos, que
se mesclaram ao decorrer da
história do país, tendo como
legado desigualdade, opressão
e outras mazelas às
populações não europeias. A
colonização, impôs como
cultura aos negros e indígenas
inúmeras
tradições
portuguesas, como o idioma,
religião católica, arquitetura e
outros componentes europeus
que visavam suprimir e retirar a
identidade de suas tradições.
Entretanto, sempre houve
resistência à marginalização e
supressão das culturas, o que
se conhece como identidade
brasileira, expressa na música,
culinária, tradições festivas e
folclore, é resultado da
transformação e sinergismo
das tradições e elementos
culturais tanto dos povos
indígenas quanto dos povos
africanos.
Os povos indígenas habitavam
o território brasileiro muito
antes da chegada dos
colonizadores europeus, e por
estarem familiarizados com o
território, muitos nomes de
lugares, rios, montanhas e
cidades são de origem
indígena, preservando a
memória desses povos.
Assim como o valioso legado
deixado pela medicina nativa,
que introduziu plantas
medicinais e práticas
terapêuticas que influenciaram
a medicina popular, a culinária
brasileira também é
fortemente influenciada pelos
ingredientes e técnicas
culinárias indígenas. Alimentos
como mandioca, milho, batata-
...
doce, pimentas e frutas
tropicais são exemplos.
Já a influência africana é
notável na música, na dança,
na religião e na culinária. Os
ritmos africanos, como o
samba, a capoeira e o
maracatu, tornaram-se
símbolos do Brasil. Além disso,
as religiões afro-brasileiras,
como o candomblé e a
umbanda,
preservam
elementos das religiões
africanas e combinam
elementos do catolicismo e de
religiões indígenas, resultando
em práticas ricas em
simbolismo. A culinária afrobrasileira,
com pratos como o
acarajé, o vatapá e o feijão
tropeiro, também são heranças
inestimáveis provindas da
cultura Africana.
No âmbito educacional, sabese
que a estrutura vista no
período colonial articulava-se
às esferas econômicas,
políticas e culturais do regime,
reproduzindo vínculos de
exploração, poder e alienação
da natureza do seu povo. A
herança colonial é tida como
uma perspectiva geral no
âmbito epistêmico, político e
pedagógico, que por anos
omitiu os modos de ser de
outros, propagando-se o
sIstema de conteúdo curricular
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nas injustiças normalizadas,
como sendo uma das
obrigações da própria escola
moderna a naturalização das
violências exercidas pelo
eurocentrismo que, no fim,
resultam de ações civilizatórias.
O pensamento decolonial, que
se desatrela das lógicas
capitalistas e se compõe de
diversidade de vozes, como um
sistema que reestrutura o
currículo colonial, exemplifica
uma pluralidade de saberes,
relacionando com escolas no
campo, mas também, com as
indígenas, quilombolas, e de
matrizes africanas, que
considera que as mesmas se
baseiam de ensinos escolares e
não de uma estrutura
fundamentada em uma
pedagogia estabelecida,
diferente e intercultural. Esta
concepção de currículo dialoga
entre as convivências, tanto
translocais, quanto interlocais,
tornando a ancestralidade um
recurso fundamental da
epistemologia dos povos
anteriormente citados, e que
direcionam para o
desenvolvimento da vida
escolar dos indivíduos. Dessa
forma, a temporalidade
curricular utilizada na
ancestralidade estrutura-se
em diferentes tempos, na qual
irá dialogar com o moderno e
os desafios presentes —
considerando a trajetória dos
currículos explicitados pelo
pensamento decolonial, que
necessitam de técnicas iniciais
e de professores que ampliam
a comunicação dos saberes e
práticas relacionados aos
territórios dos grupos
historicamente silenciados.